Senna, 30 anos - Capítulo final: evolução na segurança foi maior legado do acidente

Na última parte da série especial sobre a morte do maior ídolo do automobilismo brasileiro, Lívio Oricchio lista as diversas mudanças nos procedimentosbetsport7 apostaproteção aos pilotos na F1

Por Lívio Oricchio,betsport7 apostaespecial para o ge — São Paulo


As tragédiasbetsport7 apostaÍmola provocaram uma revolução na segurança não apenas da Fórmula 1, mas do automobilismo.

Mencionei nos capítulos anteriores que as mortesbetsport7 apostaAyrton Senna e Roland Ratzenberger,betsport7 apostaÍmola,betsport7 aposta1994, não forambetsport7 apostavão. A revolução provocada na segurança da F1, com repasse dos avanços, frutobetsport7 apostapesquisas, às demais categorias permitiu que centenasbetsport7 apostapilotos, nesses 30 anos, não perdessem a vidabetsport7 apostaacidentes.

Ayrton Senna, concentrado antes da largada no GPbetsport7 apostaSan Marino 1994:betsport7 apostamorte forçou o automobilismo a rever suas medidasbetsport7 apostasegurança — Foto: Dario Mitidieri/Getty Images

Tem sido comum assistirmos a acidentes assustadores nas pistas sem que o piloto saia ferido gravemente e,betsport7 apostavários casos, sem sofrer lesão alguma. Chegamos a nos perguntar como é possível. Tenha a certezabetsport7 apostaque todas as medidas adotadas na era pós GPbetsport7 apostaSan Marinobetsport7 aposta1994 têm muito a ver com essa mudança radical no rumo da segurança na competição.

O neurocirurgião inglês Sid Watkins, médico-chefe da F1betsport7 aposta1978 a 2005, gostavabetsport7 apostaconversar com os jornalistas sobre o seu trabalho na coordenação do FIA Institute, criado por ele, depoisbetsport7 apostaÍmola, para combetsport7 apostaequipebetsport7 apostaestudos pesquisar todas as áreas que envolvem a segurança. Eu fazia parte do grupo que, regularmente, batia esclarecedores bate-papos com ele. Faleceubetsport7 aposta2012, aos 84 anos.

Autódromobetsport7 apostaInterlagos recebe homenagem a Ayrton Senna

Até o início dos anos 90 as medidasbetsport7 apostasegurança ebetsport7 apostarevisão surgiam, basicamente, da experiência do pessoal técnico da FIA e da F1. Era algo empírico ebetsport7 apostaresultado, por vezes, questionável, por não haver experimentação científica préviabetsport7 apostasua adoção.

O doutor Watkins criou um grupo formado por engenheiros, técnicos, médicos, bombeiros, pilotos, dentre outros profissionais, para pesquisar formasbetsport7 apostaelevar a segurança da F1 como um todo e integrar cada área que a compõe. Substituir a intuição pela garantia experimental.

Além disso, o Instituto FIA credenciou sofisticados laboratóriosbetsport7 apostadiferentes países para a realização dos experimentos das soluções pensadas.

betsport7 aposta Comprometimentobetsport7 apostatodos

Veja teaser do documentário "Senna por Ayrton"

Não é tudo: o Instituto encaminha para empresas especializadas projetos do que deseja melhorar ou rever e estas os estudam, pesquisam, realizam experimentos, com a participação do timebetsport7 apostaWatkins, até atingir uma soluçãobetsport7 apostacomprovada eficácia.

Além disso, as próprias equipes da F1 colocarambetsport7 apostasuperestrutura técnica para junto do Instituto levar adiante o desenvolvimento do que julgam ser necessário ser revisto ou mesmo criado. Não se esqueça, Mercedes, Ferrari-Fiat, Aston Martin, Alpine-Renault, Honda, Audi, envolvidas na F1, são montadoras.

Esse é o tal do cientificismo que abordei ao longo desta série. A adiçãobetsport7 apostauma medidabetsport7 apostasegurança passou a ser o resultadobetsport7 apostaextensos e caros testes práticos, após abrangente estudo teórico.

Claro que tudo isso custa muito dinheiro. Pois a FIA não mede esforços para levar adiante seu desejobetsport7 apostatornar o automobilismo um exemplo, também com a importantíssima funçãobetsport7 apostaalgumas das soluções comprovadamente eficazes poderem ser repassadas para as montadoras a fimbetsport7 apostamelhorar a segurança dos carrosbetsport7 apostasérie.

Repare a mobilização provocada pelas tragédias no Circuito Enzo e Dino Ferrari naquele fimbetsport7 apostasemanabetsport7 aposta1994. E, tão importante quanto, como cada solução se integrava com asbetsport7 apostaoutras áreas da segurança global, elevando substancialmente o seu nível.

Dessa forma, participavam das discussões responsáveis pelos circuitos, técnicosbetsport7 apostaempresas que produzem componentes para a segurança das pistas, como barreirasbetsport7 apostaproteção destinadas a absorver a energia dos impactos, as equipesbetsport7 apostaresgate, destinadas à extração do pilotobetsport7 apostadentro do veículo, fabricantesbetsport7 apostapeças, fornecedoresbetsport7 apostamaterial da indumentária dos pilotos, engenheiros, mecânicos etc.

Capítulos mais recentes da série Senna, 30 anos:

betsport7 aposta Metodologia para tudo

Na prática, métodos foram criados, junto do corpo médico, para a extração do pilotobetsport7 apostadentro do cockpit, com a adoçãobetsport7 apostamodelosbetsport7 apostabancos obrigatórios, times foram treinadosbetsport7 apostatodos os autódromos para seguir o modelobetsport7 apostaimobilização e retirada, com especial atenção à preservação da coluna cervical, a mais sensível nessas horas.

Os laboratórios nos circuitos são, hoje, mini-hospitais, com vários especialistasbetsport7 apostaplantão durante o evento. Médicos na pista e nos hospitais para onde devem ser levados os acidentados mais graves se comunicam, agora, muito mais. Formam um time único. Os próprios helicópteros estão bem mais equipados.

Muitos autódromos elevaram, dentro do possível, as áreasbetsport7 apostaescape para evitar a maior preocupação, atualmente, nos acidentes, as desacelerações súbitas. Essas áreas foram, na maioria, asfaltadas, possibilitando ao piloto frear e reduzir a velocidade do choque contra a barreirabetsport7 apostaproteção.

Os responsáveis pelos novos autódromos, concebidos por nações como Bahrein, China, Emirados Árabes Unidos, Qatar, dentre outros, tiverambetsport7 apostaobedecer a uma extensa e rigorosa listabetsport7 apostacomo projetar tudo, do traçado às dimensões das áreasbetsport7 apostaescape, passando pelas características do hospital.

Os ensinamentos dos últimos anos orientaram os cuidados a serem tomados já no projeto dos autódromos.

betsport7 aposta Superequipamentos para os pilotos

Carros atuais da Fórmula 1, com o halo e outras novas medidasbetsport7 apostasegurança, são frutobetsport7 apostaevolução nos estudos conduzidos pela equipebetsport7 apostaSid Watkins — Foto: Lars Baron/Getty Images

Podemos falar da revolução na indumentária do piloto, com capacetes tendobetsport7 apostapassar por testesbetsport7 apostaresistência a impactos e fogo cada vez mais exigentes. As microcâmeras instaladas neles ajudam a compreender melhor os acidentes e, a partir daí, estudar o que pode evoluir ainda mais.

O Hans, aquela estrutura apoiada no ombro dos pilotos, ébetsport7 apostagrande importância para reduzir o riscobetsport7 apostafratura das vértebras cervicais nos impactos frontais,betsport7 apostaespecial. Os mesmos cuidados se estenderam para a evoluçãobetsport7 apostamacacões, luvas, sapatilhas. Nada ficabetsport7 apostafora. Há regras mais rígidasbetsport7 apostaantigamente para tudo.

Em um estágio mais avançado dessa segurança, pense que cada piloto tem junto do fonebetsport7 apostaouvido, usado para o contato constante com a equipe por rádio, um acelerômetro, com três milímetrosbetsport7 apostaespessura, apenas. Ele se destina a medir as acelerações a que o piloto se submete na pista, com maior atenção no casobetsport7 apostaacidentes, dadobetsport7 apostarelevância para a classe médica.

Temos as luvas biométricas,betsport7 apostaque os médicos no atendimento, ainda na pista, podem receber, no seu celular, informações, atravésbetsport7 apostasensores instalados nelas, sobre o pulso e nívelbetsport7 apostaoxigênio no sangue do piloto.

Há casosbetsport7 apostaque o carro “se esconde” dentre os componentes da barreirabetsport7 apostaproteção semidestruída e os médicos têmbetsport7 apostaesperar a equipebetsport7 apostaresgate acessar o veículo, retirá-lobetsport7 apostalá e só então poder fazer a extração do piloto do cockpit. Enquanto tudo isso acontece, os médicos já têm uma prévia do seu quadro através das luvas biométricas dos pilotos.

Acredite, o halo, grosseiramente aquela gaiola que envolve o cockpit, representou um aumento importante na segurança da cabeça do piloto, antes totalmente exposta nas competiçõesbetsport7 apostamonopostos, carros tipo fórmula, com rodasbetsport7 apostafora. Várias categorias o adotam.

Por falarbetsport7 apostacockpit, dê uma olhada como eles erambetsport7 aposta1994. Atente para quão expostos estavam os pilotos. As paredes laterais do cockpit, por exemplo, sequer envolviam os ombros dos pilotos. A não ser que fossem muito baixos.

Ayrton Senna no cockpit da McLarenbetsport7 aposta1993: piloto ficava mais exposto — Foto: Getty Images

Veja como é hoje. Quase não vemos mais o piloto. Ele está cercado pelo cockpit e este, por dentro, é forrado,betsport7 apostaáreas específicas, com material concebido para absorçãobetsport7 apostaenergia nos choques. Você já deve ter visto o piloto deixar o cockpit e com ele uma estruturabetsport7 apostaformabetsport7 apostaU sair junto. Ela envolve as laterais dabetsport7 apostacabeça. Atrás há também uma superfíciebetsport7 apostaapoio.

betsport7 aposta Testesbetsport7 apostaresistência severíssimos

O mais importante é que os testesbetsport7 apostaresistência, ou crash tests, realizados pela FIA, são impressionantemente exigentes. As cargas aplicadas por pistões hidráulicos nos laboratórios credenciados para a execução dos testes, sempre acompanhados por representantes da FIA, são elevadíssimas, acima das que um carro irá experimentar mesmobetsport7 apostasérios acidentes.

Não apenas o cockpit, mas o monocoque inteiro, a estrutura central do veículo, deve suportar a aplicaçãobetsport7 apostaforças muito altas, com os pistões hidráulicos variando o seu ângulo. Se não passar, apresentar deformações, as peças não são homologadas e não podem ser usadas. A FIA simplesmente proíbe a equipebetsport7 apostacompetir.

Outra: se houvesse no modelo FW16 da Williamsbetsport7 apostaSenna uma central eletrônica não tão rudimentar com a existente, destinada a armazenar os dados do comportamento dinâmicobetsport7 apostavários sistemas do carro, os técnicos poderiam ter concluído com precisão o que gerou abetsport7 apostasaídabetsport7 apostapista na Curva Tamburello. Hoje o que está valendo é o apurado pela investigação do Institutobetsport7 apostaAeronáutica Italiano, a quebra da colunabetsport7 apostadireção.

Mais da série Senna, 30 anos:

Com o passar dos anos a FIA desenvolveu com as equipes e os laboratórios contratados a caixa preta da F1, exatamente como nos aviões. Hoje os engenheiros dos times e profissionais da FIA dispõembetsport7 apostaampla margembetsport7 apostadados para estudar os acidentes, essencial para reduzir as chancesbetsport7 apostaque se repitam.

As regras também foram revistas. Em 1994, a Williams retirou os sensores do carrobetsport7 apostaSenna depois do acidente, ainda que rudimentares se comparados ao que existe hoje, e os devolveu à FIA somente dois dias depois.

Agora quem primeiro recebe a caixa preta são os comissários, evitando o riscobetsport7 apostaa equipe poder mascarar algum dado,betsport7 apostadefesa dos seus interesses.

Lembra que mencionei que na largada do GPbetsport7 apostaSan Marino uma roda da Lotusbetsport7 apostaPedro Lamy voou na direção da arquibancada depoisbetsport7 apostacolidir contra a Benettonbetsport7 apostaJirky Jarvilehto parada no grid? Os carrosbetsport7 apostaF1 passaram a ter um cabo confeccionadobetsport7 apostakevlar a fimbetsport7 apostareduzir bastante a possibilidadebetsport7 apostauma roda solta atingir algum espectador, comissáriobetsport7 apostapista ou outro piloto.

betsport7 aposta Novos procedimentos do safety car

Safety car lidera o pelotão no GP do Canadá com o alemão Bernd Mäylander ao volante — Foto: Mert Alper Dervis/Anadolu Agency via Getty Images

Depois da perdabetsport7 apostaSenna e Ratzenberger, a F1 viu ainda o francês Jules Bianchi sofrer um acidente fatal no GP do Japãobetsport7 aposta2014,betsport7 apostaSuzuka. Ele saiu da pistabetsport7 apostaalta velocidade, sob chuva, e colidiu o carro da Marussia contra uma grua móvel que retirava a Sauberbetsport7 apostaAdrian Sutil, estacionada na áreabetsport7 apostaescape da Curva Dunlop.

A nova tragédia serviu para modificar os procedimentosbetsport7 apostatreinos e corridas nos casosbetsport7 apostaque um carro está parado fora do asfalto. Nos treinos, a sessão é interrompida. Nas corridas, a direçãobetsport7 apostaprova aciona o safety car, real ou virtual. Até então, as bandeiras amarelas agitadas eram expostas, apenas. É um bom exemplobetsport7 apostacomo a segurança evolui com os aprendizados, ainda que por vezes nefastos.

Só para mencionar: o númerobetsport7 apostadetritos existente na pista depois da colisão na largada do GPbetsport7 apostaSan Marinobetsport7 aposta1994 jamais, hoje, geraria apenas a entrada do safety car. A direçãobetsport7 apostaprova certamente ordenaria bandeira vermelha, interrompendo a competição. Outra lição que custou caro.

Tudo o que descrevi aqui não passabetsport7 apostauma ideia bem generalizadabetsport7 apostacomo a segurança é encarada, hoje, nesse complexo universo da F1. Mas creio oferecer um painelbetsport7 apostaquão abrangente se tornou a questão e por que nos últimos tempos, felizmente, ninguém se feriu com gravidade, apesarbetsport7 apostaverificarmos acidentesbetsport7 apostagrandes proporções.

A vida passou a ser muito mais valorizada na F1 depois do GPbetsport7 apostaSan Marinobetsport7 aposta1994, esse o legadobetsport7 apostaum dos mais tristes finsbetsport7 apostasemana da história do automobilismo e da minha carreirabetsport7 apostajornalista na competição, do altobetsport7 apostameus 500 GPs. Obrigado a todos e um forte abraço!