Ok, estamos no dia da corrida no circuito Enzo e Dino Ferrari. Se você acha que o pior já passou, está enganado. A ondacbet opinionestragédias não chegou à praia, segue se deslocando e com desenvoltura, ainda. Prepare-se para as fortes emoções que vêm a seguir.

O domingo amanheceu ensolarado, apesarcbet opinionesnão fazer calor. Desde 1992 instalava-me numa pequena cidade chamada Riolo Terme. De lá até Imola, onde encontra-se o autódromo, cruzamos as montanhas dos Apeninos,cbet opinionescujas colinas são cultivadas uvas que dão origem ao vinho Sangiovese, típico da região. Há plantações tambémcbet opiniones“plune”, que são aquelas cerejas vermelhas grandes, e kiwi.

+ Siga o canalcbet opinionesautomobilismo do ge no whatsapp!

Logo na saída do Albergo Serena, onde eu ficava, está o acesso a essa bucólica e sinuosa estradinha. Quando acaba, 11 quilômetros adiante, damoscbet opinionescara com o muro da pista na altura da curva Rivazza. Depois contornamos parte do perímetro do autódromo para chegar à entrada.

O difícil é dirigircbet opinionesmeio à multidão que se aglutina para acessar o circuito. Na época, não havia uma divisória que nos separasse dos pedestres. O tempo perdido era enorme.

Confira os demais capítulos da série Senna, 30 Anos:

• Capítulo 1: chega a eletrônica. E a Williams do brasileiro piora
• Capítulo 2: os desafioscbet opinionespilotar a inigualável Williamscbet opiniones1994
• Capítulo 3: talentocbet opinionesSchumacher e malandragem da Benetton pressionam o brasileiro
• Capítulo 4: contorcionismo dentro do carro da Williams e altas dosescbet opinionesestresse
• Capítulo 5: acidente gravecbet opinionesRubinho causa apreensão
• Capítulo 6: mortecbet opinionesRatzenberger abala Ayrton

Confesso que estava bastante sensibilizado com tudo o que ocorrera naquele fimcbet opinionessemana. Primeiro, o acidentecbet opinionesRubens Barrichello, na sexta-feira. Depois, a mortecbet opinionesRoland Ratzenberger, no sábado. Tinha a certezacbet opinionesque a proibiçãocbet opinionesquase todos os recursos eletrônicos, naquele ano, sem diminuir a potência dos carros, os deixara perigosos, como afirmara Barnard.

Não é tudo. Na etapa anterior,cbet opinionesAida, no Japão, na quarta-feira, eu estava no autódromo japonês quando vi um carrocbet opinionespasseio prestes a deixar a área dos boxes. Como sempre façocbet opinionestodas as pistas, desejava conhecer o traçado com um veículo, movendo-me a passoscbet opinionestartaruga.

Com o tempo você aprende a entender muitas coisas, características do traçado, do asfalto, das zebras, da entrada e saída dos boxes, dentre outros. Tudo te ajuda a compor melhor o cenário da competição. Você dispõecbet opinionesmais elementos para montar o seu quebra-cabeça.

Eu me aproximei daquele carro e vi que era Nick Wirth, o diretor técnico da Simtek. Já havíamos conversado profissionalmente. Perguntei se me daria uma carona na volta pelos 3.703 metros da pista e ele acenou para entrar no carro.

Havia outra pessoa com Wirth: seu piloto, Roland Ratzenberger. O austríaco disputou maiscbet opinionesuma temporada no automobilismo japonês, com carros esporte-protótipos, e já tinha corridocbet opinionesAidacbet opinionesalgumas ocasiões. Conhecia, portanto, a pista.

Com simpatia, me colocaram na conversa como se me conhecessem, eu fizesse parte do staff. Os dois falavam sobre como acertar o carro da Simtek para o circuito. Depoiscbet opinionescompletar algumas voltas, Wirth e Ratzenberger pararam o carro no paddock e, por outros 15 ou 20 minutos, seguimos conversando.

Entre os temas estava Senna. O austríaco se impressionou com a forma como o viam no Brasil, “um deus, não um semideus”. Havíamos estado há pouco no país para a provacbet opinionesInterlagos.

Pois bem, aquela pessoa afável, cortês, simples, estava agora morta. Aquilo gerou um impactocbet opinionesmim. Meu primeiro GP como jornalista fora o do Brasilcbet opiniones1987 e, desde então, ninguém havia morrido na F1. Era uma novidade. E o piloto não era mais um total desconhecido para mim.

A iminênciacbet opinionesnovos acidentes naquela F1 instável ficara nítida. Jamais pensei, contudo, que Senna pudesse estar envolvidocbet opinionesum deles. Isso não passava pela minha cabeça. Creio que nacbet opinionesninguém. Cheguei no autódromo pouco antes do warm up, próximo das 9h.

Sabia, desde o dia anterior, que Niki Lauda estava programando uma reunião com os pilotos para discutir a segurança na F1.

Lauda trabalhava como conselheiro da Ferrari e assessor especial do presidente da empresa, Luca di Montezemolo. Os dois são amigos desde que Luca era diretor esportivo do time,cbet opiniones1975, e o austríaco ganhou o primeiro dos dois campeonatos com a equipe italiana. O outro foicbet opiniones1977.

Lauda disse a um grupocbet opinionesjornalistascbet opinionesque eu estava presente:

- Acho que apenas Senna pode liderar um movimento desses. Só ele tem autoridade para falar, ser ouvido e respeitado.

Senna foi para a pista no warm up.

Eu estava tenso. Mas não na mesma intensidadecbet opinionesque fiqueicbet opinionesMônaco, na corrida seguinte, depois que, já na primeira sessão livrecbet opinionesquinta-feira, Karl Wendlinger, da Sauber, bateu forte na saída do túnel e entroucbet opinionescoma.

Nunca imaginei que passaria por algo semelhante. Expôs uma fraqueza que não imaginava existircbet opinionesmim. Não podia ouvir o barulho daqueles carros. Achava que outros iriam morrer. Afinal, na sexta-feira, lácbet opinionesÍmola, Rubinho quase se mata e, no sábado, Ratzenberger morreu.

No domingo, foi a vezcbet opinionesSenna. E já no primeiro treino da corrida seguinte,cbet opinionesMônaco, mais um piloto era dado como morto. Quer dizer: que esporte é esse? Ganha quem sobrevive? A Roma antiga dos gladiadores, embora fisicamente perto dali, estava dois mil anos no passado.

Voltemos ao domingocbet opinionesÍmola. Vi Lauda conversar com Senna,cbet opinionespleno paddock do circuito Enzo e Dino Ferrari, a respeito do seu planocbet opinionesrecriar a Grand Prix Drivers Association (GPDA), entidade criada e dirigida pelos pilotos a fimcbet opinionesdefender os seus interesses,cbet opinionesespecial os relativos à segurança.

Com o abandono das pistascbet opinionesJackie Stewart,cbet opiniones1973, seu principal líder, a GPDA acabou deixandocbet opinionesexistir.

Agora, 20 anos mais tarde, era horacbet opinionesretomá-la.

- Combinamoscbet opinionesnos encontrar na quarta-feira - revelou Niki Lauda, sobre a conversa com Senna. Contou mais: - Discutiremos não só a revisão do regulamento técnico, mas, principalmente, a segurança das pistas. Alguns muros têmcbet opinionesficar mais distantes do asfalto. Reconheço que nem sempre é possível, como no caso aquicbet opinionesÍmola,cbet opinionesque o muro da Villeneuve, onde se acidentou Roland (Ratzenberger), está no limite do terreno do autódromo, a saída então é mexer nos traçados - disse o austríaco.

Schumacher, o líder do Mundial, com duas vitórias, no Brasil e no GP do Pacífico, no Japão, também estaria presente ao encontro, segundo Lauda.

Enclausurado na área da equipe no paddock, Senna não conversou com nenhum jornalista no domingo, ao menos que eu saiba. Evitou a imprensa visivelmente. Tinha a expressão fechada, mas um pouco melhor que acbet opinionessábado à tarde. Nos raros momentoscbet opinionesaparição pública, era assim que o via.

Ele ficou a maior parte do tempo daquela manhã reunido com Newey e seu engenheirocbet opinionespista, o inglês David Brown. Já que não dava para não disputar a corrida, como lhe sugeriu o doutor Sid Watkins, médico da F1, por tudo o que o atormentava, o jeito, então, era fazer da melhor forma possível.

Nos anos 90, nós jornalistas tínhamos liberdade para nos aproximar dos pilotos e lhes fazer perguntas, solicitar um comentário, praticamente a qualquer momento. Cabia ao piloto atender ou não a imprensa. Já nos últimos 20 anos, algo assim, o controle da informação tornou-se doentio.

A mídia pode falar com os protagonistas do espetáculo na quinta-feira,cbet opinionesentrevistas coletivascbet opinionesdez minutos, no sábado e no domingo. Com sorte você tem direito a uma pergunta. Na sexta-feira, só as TVs têm essa prerrogativa. É insano, não profissional e contraproducente, ao contrário do que pensam.

Essa nova realidade da comunicação - ou falta dela - teve muito a ver, junto das redefinições do mercado, com a minha decisão, no fimcbet opiniones2020,cbet opinionespararcbet opinionesviajar com a F1 pelo mundo depoiscbet opiniones30 anos. O verdadeiro jornalismo praticamente acabou.

De volta ao GPcbet opinionesSan Marinocbet opiniones1994, uma nova vitóriacbet opinionesSchumacher deixaria a situação insustentável. O alemão já tinha 20 pontos e Senna, nenhum. O vencedor levava 10 pontos naquela época.

Eu vi Senna pela última vez quando se dirigia do motorhome da Williams para o box da equipe, cercacbet opiniones40 minutos antes da largada. De novo, trazia na expressão corporal a tensão do fimcbet opinionessemana e dacbet opinionesvida pessoal. Normalmente, eu caminho pelo grid naquela meia horacbet opinionesque os pilotos estacionam seus carros na posiçãocbet opinionesque irão largar.

Naquele dia, fui direto para a salacbet opinionesimprensa, situada sobre os boxes, àquela época a mais apertada da F1, ao lado da existente até então no circuito Gilles Villeneuve,cbet opinionesMontreal.

Minha posição na sala era próxima da paredecbet opinionesvidrocbet opinionesque se podia ver a passagem dos carros na pista. Eu os via da saída da chicane que antecede a linhacbet opinioneschegada até pouco antes do local onde Senna perdeu o controle do carro, na Tamburello.

A maior parte do tempo, contudo, acompanhamos a prova pelas imagenscbet opinionesTV disponíveis na salacbet opinionesimprensa. Dispúnhamoscbet opinionesmais ângulos que o selecionado para chegar às casas. Atualmente há uma riquezacbet opinionesimagens sem precedentes para todos. Ótimo. Assisto a tudo pelo streaming da própria F1.

Até hoje, não me sinto muito à vontade nas largadas. É o instantecbet opinionesmaior riscocbet opinionesacidente na F1.

Mesmo sabendo que os pilotos são homens fazendo o que desejam e têm consciência dos riscos, confesso que temocbet opinionesalgumas pistas por uma pancada violenta envolvendo vários desses profissionais.

No caso do GPcbet opinionesSan Marino, havia o agravante do histórico daquele ano. Primeiro, o finlandês Jyrki Jarvilehto, da Benetton,cbet opinionesjaneiro, se acidentou na curva Stowe,cbet opinionesSilverstone, e teve fraturacbet opinionesvértebra cervical. Não correu as duas primeiras etapas do Mundial e estavacbet opinionesvolta exatamentecbet opinionesÍmola.

Depois, foi a vezcbet opinionesocorrer o mesmo com Jean Alesi, da Ferrari,cbet opinionesMugello. Nicola Larini o estava substituindo. Alémcbet opinionesRubinho, que se acidentou na sexta, e Ratzenberger, morto no sábado. O que não aconteceria, então, nas 58 voltas do GPcbet opinionesSan Marino, cujo circuito tinha pontoscbet opinionesaltíssima velocidade,cbet opinionescurva, como a Villeneuve e a Tamburello, com reduzida áreacbet opinionesescape?

Pairava no ar, e olha que não sou nada místico, a sensaçãocbet opinionesque as bruxas estavam soltas. Na realidade, essas bruxas tinham nome, o novo regulamento técnico da F1 aprovado relativamente pouco tempo antes e com o agravantecbet opinionester sido radical.

Os testescbet opinionespré-temporada foram poucos, momentocbet opinionesque se poderia entender melhor que a proibição total dos auxílios à pilotagem - suspensão ativa, controlecbet opinionestração, freio ABS, dentre outros -, como fizeram, precisassecbet opinionesmedidas complementares para funcionar, garantir segurança.

A verdade é que a F1 foi para a largada conscientecbet opinionesque novas tragédias poderiam acontecer. A causa do acidentecbet opinionesSenna, segundo a perícia técnica, a quebra da colunacbet opinionesdireção, responsável por conectar o volante à caixacbet opinionesdireção, relaciona-se, também, à revisão conceitual do regulamento.

Você viu nos capítulos anteriores que na busca por eficiência aerodinâmica o projetista da Williams, Adrian Newey, adotou soluções extremas no modelo FW16. E foi para dar alguns centímetros a maiscbet opinionesespaço para as mãoscbet opinionesSenna, no cockpit, que a coluna foi reconstruída, utilizando-se de, grosseiramente falando, dois canoscbet opinionesdiâmetros distintos, conectados por solda.

E a inspeção detectou que a colunacbet opinionesdireção da Williamscbet opinionesSenna rompeu-se exatamente no pontocbet opinionessolda, fazendo com que as rodas deixassemcbet opinionesseguir esterçadas, lançando o carro na trajetóriacbet opinionesfrente, na direção do muro da Tamburello.