Andropausa: sintomas, prevenção e tratamento da "menopausa" masculina

Também conhecido como Deficiência Androgênica do Envelhecimento Masculino, o hipogonadismo pode afetar alguns homens a partir dos 50 anos e causa cansaço e redução na libido, entre outros sinais. Médicos urologista e endocrinologista explicam

Por Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Aberystwyth, PaísGales


Em uma associação à menopausa, que atinge as mulheres ao fimseu período reprodutivo, a condição que afeta homens com o avançar da idade ficou conhecida popularmente como andropausa. Mas o problema atende por outros nomes. O hipogonadismo masculino ou Deficiência Androgênica do Envelhecimento Masculino (Daem) é a condiçãoque a redução dos níveis do hormônio masculino, a testosterona, é acompanhadasintomas. Os sinais vãoalteraçõeshumor a aumento da circunferência abdominal, passando também pela perdalibido. Não são todos os homens que experimentarão esse quadro com a idade. Como não dá para prever quem apresentará a andropausa, é essencial adotar um estilovida saudável e manter acompanhamento médico regular, especialmente quando se chega aos 40 anos e as alterações hormonais podem aumentar. Assim, quando chegar aos 60 anos, quando há uma redução mais intensa dos níveistestosterona, o homem estará mais preparado para as mudanças no corpo. A atividade física é parte fundamental desse preparo.

Como não dá para prever quais homens terão hipogonadismo ou Daem, é preciso manter hábitos saudáveis e acompanhamento médico — Foto: Istock Getty Images

Médica endocrinologista da Sociedade BrasileiraEndocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP), Dolores Pardini afirma que é essencial mudar a forma como se refere a essa condição. Tratar como andropausa,associação à menopausa, é um erro. Afinal, ao contrário das mulheres, que tem a entrada nessa fase da vida marcada pela interrupção da menstruação, não há um evento que sinalize o hipogonadismo entre os homens. Sem contar que, embora haja uma redução mais intensa dos níveistestosterona aos 60 anos, nem todos os homens apresentarão sintomas.

– A mulher tem a interrupção da menstruação, mas, no homem, não há interrupçãonada. Para ser hipogonadismo, alémredução nos níveistestosterona, o homem apresenta queixas clínicas como cansaço, desânimo, mau-humor e reduçãolibido – salienta a médica.

Secretário-geral da Sociedade BrasileiraUrologia (SBU), o médico Alfredo Canalini reitera que, para ser diagnosticado o quadro, é preciso haver sintomas e confirmação da redução dos níveistestosterona por meiopelo menos dois exames laboratoriaissangue. Muitos homens podem apresentar quedatestosterona sem manifestar os sinais característicos da Daem. Há ainda casosque, apesar da idade avançada, os níveis mantêm-se dentro do limite da normalidade.

– Não existe uma faixa etária fixa e essa disfunção não acontece necessariamentetodos os homens. Mas esse fenômeno pode ser observado a partir dos 50 anos e vai aumentando conforme a idade avança. Dos 50 aos 60 anos, 10% da população masculina pode ter essa disfunção. A incidência é25% entre homens acima 60 anos e essa prevalência tende a aumentar conforme eles envelhecem – explica o urologista.

Considerando que apenas a baixa dosagemtestosterona não é indicativohipogonadismo, Pardini afirma que o paciente precisa ser avaliado por um médico endocrinologista ou urologista ou até mesmo um clínico. Quadrosobesidade e apneia do sono, por exemplo, podem levar a distúrbios metabólicos e diminuição do hormônio masculino. Portanto, o médico precisa avaliar todos os fatores que podem influenciar na ocorrênciasintomas ou na redução do testosterona para prescrever o tratamento mais adequado.

– O homem, quando está com sintomas como cansaço e dificuldades na relação sexual, precisa procurar um médico para avaliar o contexto geral. Se ele tem algum distúrbio metabólico ou hipertensão, é preciso tratar esses problemas. O paciente também pode ser diabético e ter disfunção erétil e não adianta tratar com testosterona. É preciso procurar um médico, pois há tratamento, incluindo mudanças no estilovida, como perder peso, fazer atividade física e dormir bem – explana a endocrinologista.

Canalini acrescenta que,alguns casos, a reposição hormonal pode ser contraindicada. Alémpacientes com apneia do sono, esse tratamento não é indicado para aqueles que apresentem câncerpróstata ainda não tratado ou policitemia, um tipodoença no sangue. Nessas situações, a reposiçãotestosterona pode agravar esses problemas. Isso reforça a importância do acompanhamento médico para diagnóstico e enfrentamento da Daem, considerando as particularidadescada homem. No entanto, independente da presençadoença ou não, o urologista diz que o tratamento passa necessariamente pela práticaatividades físicas e adoçãoum estilovida saudável.

– Primeiro, é preciso convencer a pessoaque deve ter uma ação positivarelação à própria saúde. Não adianta esperar injeção, gel ou comprimido resolver tudo. É preciso sair da inércia por meioatividade física regular, ter uma alimentação saudável e evitar hábitosvida como tabagismo e consumo excessivoálcool – completa, lembrando que há riscos no usotestosterona quando não prescrito pelo médico, incluindo por homens jovens adeptosmusculação que visam melhorar performance e estética.

Com o apoio da endocrinologista e do urologista, listamos informações sobre sintomas, riscos, formasprevenção e tratamento para ajudar a entender o hipogonadismo masculino ou Daem, popularmente chamadosandropausa.

Sintomas

Cansaço e desânimo são alguns dos sinais do problema chamado hipogonadismo ou Daem, mas que ficou conhecido como andropausa — Foto: Unsplash

  • Cansaço;
  • Desânimo;
  • Insônia;
  • Alteraçãohumor, especialmente irritabilidade;
  • Redução da libido;
  • Mudanças na performance sexual;
  • Aumento da gordura central e circunferência abdominal;
  • Elevação dos níveistriglicerídeos, colesterol e glicose no sangue.

Outros riscos relacionados

Como prevenir

Prevenção do hipogonadismo passa necessariamente pela práticaatividades físicas, incluindo exercícios aeróbicos eforça — Foto: Unsplash

  • Mantenha um acompanhamento médico regular e realize check-ups anuais;
  • Abandonevez o sedentarismo e inclua a práticaatividades físicas no seu dia a dia:

  1. A recomendação é realizar pelo menos 150 minutos semanaisexercícios aeróbicos;
  2. É preciso fazer ainda um trabalhoforça, que pode ser tanto musculação quanto pilates, para ajudar a aumentar a massa magra e a evitar a perda óssea emúsculos.

  • Adote uma alimentação saudável. Para tanto, reduza o consumogordura animal e prefira o consumofrutas, legumes, verduras e carnes magras. Uma opção é optar por peixes, como sardinha e salmão, que são ricosômega 3. Além disso, aposte na combinação feijão com arroz, que é ricanutrientes e proporciona o consumoaminoácidos essenciaisforma completa;
  • Abandone o hábitofumar, que é altamente deletério para o organismo;
  • Reduza o consumoálcool;
  • Mantenha o peso sob controle. Para tanto, converse com o seu médico para ter mais orientações e o suporte necessário para alcançarmeta individual.

Tratamento

Alimentação saudável que inclua frutas, legumes, verduras e carnes magras e reduza gordura animal também previne agravos do hipogonadismo — Foto: iStock Getty Images

  1. Mudança no estilovida. Esse é o primeiro passo. Pacientes que estejam obesos e apresentem apneia do sono, por exemplo, precisam passar por reeducação alimentar e praticar atividades físicas regularmente. Uma vez que alcancem um patamar mais baixopeso e gordura, é possível começar o tratamento medicamentoso. Mesmo quando não há presençadoenças, os hábitos saudáveis são essenciais para enfrentamento da disfunçãotestosterona e sintomas;
  2. Reposição hormonal. O médico fará a avaliação do quadro do paciente para então prescrever o tratamento com testosterona, que pode ser feito por meioinjeções, gel e comprimidos.

Notou sintomas? Procure um médico

Homens demoram a buscar médico para diagnóstico da Daem mesmo quando notam problemas sexuais, que muitas vezes associam a estresse — Foto: Getty Images

Segundo a endocrinologista Pardini, geralmente os homens buscam ajuda médica quando começam a notar problemas sexuais. Mesmo assim, acabam levando um tempo para procurar esse apoio profissional. Isso porque, inicialmente, associam a perdalibido, por exemplo, a problemas financeiros e dificuldades no emprego, entre outros fatores.

– Em geral, eles relevam no início. A maioria acha que a perdalibido eperformance sexual é decorrente do estresse e não dá muita importância. Mas o problema pode evoluir associando-se a cansaço, desânimo, mau-humor e faltavontade para realizar os afazeres. Como essas queixas podem estar associadas a uma sérieproblemas, é preciso consultar o médico para verificar se há deficiênciahormônio ou outras causas. Alguns sintomas podem até esconder um problema mais sério. Não se pode atribuir tudo ao estresse. Deixe que o profissional avalie e faça o diagnóstico – discorre.

Além disso, há homens que não se dão contaalguns sintomas da Daem. O urologista comenta que,geral, eles percebem apenas aqueles sinais relacionados à sexualidade. Nesse contexto,acordo com o médico, a família tem papel fundamental. São as pessoas que estão próximas a eles que começam a perceber os sintomas comportamentais, como a mudançahumor. Nessas situações, é preciso conversar com o homem para ajudá-lo a buscar a ajuda médica necessária.

Porém, outro fator contribui para piorar esse quadro. O urologista explica que muitos homens se preocupam com a próstata e apresentam receiosrelação à reposição hormonal. Com isso, baseadostemores como esses,uma forma geral, eles deixamconsultar um médico quando observam sintomas. Dados epidemiológicos corroboram os impactos dessa conduta. Conforme destaca o urologista, os homens apresentam uma expectativavida até dez anos menor do que as mulheres. O fatoelas procurarem médico regularmente, incluindo o ginecologista, permite que tenham um diagnóstico precocedoenças silenciosas, que, quando manifestam sintomas, já estãoum estado avançado e grave.

Portanto, Canalini sustenta que a medicina permite medir riscos e benefícios dos tratamentos considerando as particularidadescada indivíduo. Não há justificativas para não buscar atendimento médico ao notar sintomas da Daem, por exemplo.

– Hoje, com o aumento da expectativavida, um conceito é nítido: é preciso buscar qualidadevida. Não é para acrescentar tempo, apenas. Deve-se adicionar qualidadevida a esse tempo que se tem a mais mantendo acompanhamento médico, fazendo exames e adotando hábitos saudáveis – encerra Canalini.