Senna, 30 anos - Capítulo 4: contorcionismo dentro do carro da Williams e altas dosesbet 77 apostaestresse

No quarto texto da série especial sobre os 30 anos do acidente fatal, Livio Oricchio conta como o piloto alemão ebet 77 apostaequipe fizeram aumentar a tensão nas pistas

Por Livio Oricchio,bet 77 apostaespecial para o ge — São Paulo


Zero pontos no mundial, grandes responsabilidades empresariais e os horrores dos acidentesbet 77 apostaRubinho e Ratzenberger. Senna estava sob elevado estresse.

Pronto, nos encontramos na Europa novamente, sedebet 77 apostatodas as equipesbet 77 apostaF1. Várias tinham novidades nos seus carros depoisbet 77 apostase deslocarem pela América do Sul, para o GP Brasil, e Ásia, o do Pacífico, no Japão.

Ayrton Senna - Imola 1994 — Foto: Pascal Rondeau/Getty Images

Na quinta-feira anterior ao GPbet 77 apostaSan Marino, terceira etapa do Mundialbet 77 aposta1994, vários jornalistas aguardavam a chegadabet 77 apostaSenna ao autódromo Enzo e Dino Ferrari,bet 77 apostaÍmola. Dentre eles, eu. Já passava das 15 horas, horário marcado para a coletiva, e nadabet 77 apostaele aparecer na pista.

Estava numa cidade próxima, Ferrara, para o lançamentobet 77 apostauma bicicleta com a marca Senna. Ela reunia, claro, o quebet 77 apostamais avançado existiabet 77 apostatermosbet 77 apostatecnologia. Senna procurava associar seu nome apenas a produtosbet 77 apostaexcelência.

De repente, uma pequena multidão começou a se deslocar dentro do paddock, sinal característico da aproximação dos protagonistas do evento, como Senna. Com ele era sempre assim. Onde estivesse, no mundo todo, seu carisma,bet 77 apostaformabet 77 apostainstalar-se no coração das pessoas o tornava íntimobet 77 apostabrasileiros, japoneses, malaios, hondurenhos e australianos, dentre outros.

Quem foi Ayrton Senna, último brasileiro tricampeãobet 77 apostaF1

Milhões o transportavam consigo onde estivessem. Na maioria das vezes Senna convivia bem com isso e certamente apreciava. Em outras, evitava o público e isso levou alguns torcedores a se decepcionarem.

Senna nem sempre conseguia se isolar dos desafios do fimbet 77 apostasemanabet 77 apostacompetição e falar com os fãs sem se afetar com a pressão que ele próprio, principalmente, colocava sobre si.

Para Senna, parecia que o real sentido da vida estava na competição, tal a importância absoluta que lhe dedicava. Isso quer dizer quebet 77 apostacertas ocasiões uma multidão que lhe pedia autógrafo não o sensibilizava. Estava pensandobet 77 apostao que fazer para ser mais veloz. Presenciei cenas das duas naturezas,bet 77 apostaatenção, carinho com a torcida e, também, simplesmente ignorá-la.

bet 77 aposta Almoço com o piloto

Voltando à quinta-feira da provabet 77 apostaÍmola, depoisbet 77 apostafalar com jornalistasbet 77 apostalíngua inglesa e italiana, Senna comunicou a nós brasileiros quebet 77 apostaseguida conversaria conosco. Esperamos alguns minutos e ele entrou no motorhome da Williams. Conversou rapidamente com Frank Williams e sentou-se para comer.

Ayrton Senna, no treino classificatório do GPbet 77 apostaSan Marino,bet 77 aposta1994 — Foto: Dario Mitidieri/Getty Images

Estava numa das mesas da área coberta, ao lado do ônibus da equipe. Os milionários motorhomesbet 77 apostahoje não existiam. As equipes se limitavam a seus ônibus e lonas estendidas, onde sob elas tudo acontecia.

Senna nos convidou para sentar também e, enquanto saboreava um pratobet 77 apostamacarrão, com molho branco, bateu um papo conosco, não tinha os rigores formaisbet 77 apostauma entrevista. Não havia maisbet 77 apostaquatro ou cinco jornalistas na nossa mesa. Tinha os cabelos longos, uma camisa xadrez. Brincamos, entre nós jornalistas, que aquela camisa se assemelhava às das duplas sertanejas. As autênticas.

Senna sempre foi muito discreto com suas roupas. Naquele dia fugira um pouco ao seu padrão.

Sempre com o olhar distante, como se algo o incomodasse profundamente, respondia às questões visivelmente com a cabeçabet 77 apostaoutro lugar.

- O carro deve melhorar aqui, nós o estamos entendendo melhor, a pista não é das mais onduladas e terei um pouco maisbet 77 apostaconforto.

bet 77 aposta Mais espaço no cockpit

A seu pedido, Adrian Newey e Patrick Head promoveram alterações no cockpit do modelo FW16. Senna batia com as mãos nas paredes internas do cockpit quando pilotava.

Mais para a frente veremos que esse fato acabou por ser determinante para o acidente que o matou apenas três dias depois. Segundo a perícia técnica.

Ayrton Senna pouco antes da largada do GPbet 77 apostaSan Marinobet 77 aposta1994 — Foto: Getty Images

A porção dianteira do cockpit era impensavelmente estreita. O regulamento da F1 na época não impunha as mesmas dimensões mínimasbet 77 apostahoje, mais humanas. E Newey foi, como sempre, no limite. Ao virar o volante, Senna esbarrava com a parte superior da mão nas laterais internas do cockpit. Ao longobet 77 apostaquase duas horasbet 77 apostacorrida aquilo era um problema. Sua mão acabava ferida. Ele nos mostrou as marcas.

bet 77 aposta Piloto contorcionista

De novo conversei com Ivan Capelli, piloto do Leyton Housebet 77 aposta1990, também projetado por Newey. Contei a história nos capítulos anteriores, lembra? “Para entrar no carro eu tinhabet 77 apostaficarbet 77 apostapé no banco, apoiar o pé esquerdo sobre o direito e somente depoisbet 77 apostasentar deslocar o pé esquerdo para abet 77 apostaposição normal. Não havia espaço para entrar com as pernas lado a lado.”

Os mesmos princípiosbet 77 apostareduzir ao máximo a área frontal do carro, a fimbet 77 apostadiminuir o arrasto aerodinâmico, ou resistência ao ar, Newey aplicava também no FW16 da Williams. Todos os projetistas fazem isso, verdade, mas sem levar a coisa ao limite do insuportável para o piloto, como Newey sempre optava.

bet 77 aposta Visivelmente perturbado

Ayrton Senna confere resultados da classificação do GPbet 77 apostaSan Marino da F1bet 77 aposta1994 — Foto: Steve Etherington/EMPICS via Getty Images

Primeiro havia a questão do duplo abandono nas duas primeiras etapas do Mundial, Interlagos e Aida, no Japão. Contra todas as previsões. E a consciênciabet 77 apostauma dura realidade: Schumacher e a Benetton eram adversários muito fortes ebet 77 apostaWilliams, FW16, “um desastre”.

Não é tudo. Fora das pistas as coisas exigiam tambémbet 77 apostaSenna muita dedicação, ajudando a compor o quadrobet 77 apostaextrema apreensão que vivia. Ele estava investindo pesadobet 77 apostaalguns negócios e, naturalmente, isso o preocupava.

Assinara, pouco tempo antes, um contrato com o fabricante alemãobet 77 apostaautomóveis Audi para representar a marca no mercado brasileiro. Era coisabet 77 apostamilhões e milhõesbet 77 apostadólares e muita responsabilidade. Ao mesmo tempo adquirira a concessionária Ford Frei Canecabet 77 apostaSão Paulo. Seu sócio, o Bira, estavabet 77 apostaÍmola. Havia ainda muito o que acertar sobre essas transações.

Ayrton Senna no GPbet 77 apostaSan Marino da F1bet 77 aposta1994 — Foto: Dario Mitidieri/Getty Images

Durante o almoçobet 77 apostaSenna no motorhome da Williams, já próximo das quatro horas da tarde, chegou Riccardo Patrese, que abandonara as pistas no fim da temporada anterior. A forma alegre, expansiva com que o italiano falava com Senna, ali do nosso lado, contrastava com a postura fria, distante do brasileiro, apesar do seu esforçobet 77 apostadesejar expor a Patrese seu contentamentobet 77 apostavê-lo.

bet 77 aposta “Não corra”

O climabet 77 apostatensão para Senna cresceu tanto depois do grave acidentebet 77 apostaRubens Barrichello, da Jordan, no dia seguinte, sexta-feira, e da mortebet 77 apostaRoland Ratzenberger, da Simtek, no sábado, que o médico da F1, doutor Sid Watkins, chegou a conversar com o piloto, no sábado à noite, orientando-o a não disputar o GPbet 77 apostaSan Marino.

- Ele me disse, o que é que eu vou alegar para a equipe, nessa situaçãobet 77 apostaque estamos, 20 pontos atrásbet 77 apostaSchumacher na classificação? Apenas que não estou bem? - respondeu Senna ao doutor Watkins, segundo o médico nos relatou.

Exploro o tema nos próximos capítulos.

Carrobet 77 apostaRoland Ratzenberger volta destruído aos boxes após o acidente na Curva Villeneuvebet 77 aposta1994 — Foto: Paul-Henri Cahier/Getty Images

O doutor Watkins era um homem notável. Neurocirurgião, criou depois da mortebet 77 apostaSenna o FIA Institute para cuidar da segurança da F1, dentre outros interesses. E realizou uma obra gigantesca. É o tema do último capítulo. Recomendo a leitura. O doutor Watkins morreubet 77 aposta2012, aos 84 anos, mas deixou um legado extraordinário.

Senna estava no Hospital Maggiore,bet 77 apostaBolonha, na sexta-feira à noite,bet 77 apostavisita ao Rubinho, quando eu lá cheguei para saber dele, embora já havíamos sido informadosbet 77 apostaque não sofrera nadabet 77 apostamais sério. E fui também para ter mais notícias. Precisava redigir um texto. De Bolonha ao Autódromo Enzo e Dino Ferrari,bet 77 apostaÍmola, são cercabet 77 aposta50 quilômetros, apenas.

Antesbet 77 apostao campeonato começar Senna e Rubinho estiveram juntos passeando pelo Japão, foram a Disney, estreitaram o relacionamento.

Senna conversa com Barrichello no paddockbet 77 apostaImola — Foto: Reprodução

Você verá no próximo capítulo a apreensão do doutor Watkins com relação a Senna, abet 77 apostaexpressão já abatida ao visitar Rubinho no hospital, e o choro sentido, no dia seguinte, ao saber da mortebet 77 apostaRatzenberger. Tudo somado levava o piloto a um quadrobet 77 apostagrande estresse.

Para complicar, Senna demonstrou grande inconformismo com a reprimenda recebida dos comissários desportivos. O diretorbet 77 apostaprova, o belga Roland Bruynseraede, reportou “indisciplina”bet 77 apostaSenna ao se dirigir até a Curva Villeneuve, local do acidentebet 77 apostaRatzenberger, pouco tempo antes.

Há mais elementos para colocar no prato da balançabet 77 apostafavor da desestabilização emocionalbet 77 apostaSenna que se sentia pressionado para começar a reverter a situação no campeonato, com o maior adversário tendo vencido as duas primeiras etapas e ele, franco favorito para ser campeão, sem ponto algum na classificação. Falemos.