Senna, 30 anos - Capítulo 3: talentofoto de roleta de cassinoSchumacher e malandragem da Benetton pressionam o brasileiro

No terceiro texto da série especial sobre os 30 anos do acidente fatal, Livio Oricchio conta como o piloto alemão efoto de roleta de cassinoequipe fizeram aumentar a tensão nas pistas

Por Livio Oricchio,foto de roleta de cassinoespecial para o ge — São Paulo


Em Interlagos, na primeira corrida, Senna descobre que a principal força da F1 era, agora, a Benetton,foto de roleta de cassinoSchumacher.

Vou me estender propositalmente na descrição do andamento do GP Brasilfoto de roleta de cassino1994 para depois discutirmos melhor os sérios problemasfoto de roleta de cassinoSenna e da Williams, no início da temporada, e que colaborariam para o desfecho da história, o acidente fatalfoto de roleta de cassinoÍmola.

Senna volta aos boxes triste após abandono no GP do Brasilfoto de roleta de cassino1994 — Foto: Getty Images

Faltavam 16 voltas para o encerramento do GP Brasil, provafoto de roleta de cassinoabertura do campeonato, quando Senna, sobre a zebra, acelerou um pouco mais do normal, na saída da curva Junção,foto de roleta de cassinoInterlagos, como reconheceu, efoto de roleta de cassinoWilliams FW16-Renault lançou a traseira para fora, fazendo-o rodar na pista e abandonar a competição.

Lembre-sefoto de roleta de cassinoque aquela era a primeira provafoto de roleta de cassinoque o controlefoto de roleta de cassinotração estava proibido. Bem, ao menos para a maioria. Você entenderá logo mais.

Quem foi Ayrton Senna, último brasileiro tricampeãofoto de roleta de cassinoF1

Volta 56. Michael Schumacher, com a Benetton B194-Ford, liderava com Senna um pouco atrás. Apesarfoto de roleta de cassinotodas as dificuldades já descritas com o carro, graças ao seu talento, Senna estabelecera a pole position do GP Brasil, nafoto de roleta de cassinoestreia na Williams, 328 milésimos mais veloz que Schumacher.

Não há dúvidafoto de roleta de cassinoque a maior potência do motor Renault V-10 da Williams, diante do Ford V-8 da Benettonfoto de roleta de cassinoSchumacher, o ajudou, num circuitofoto de roleta de cassinoretas longas e subidas íngremes, a conquistar o resultado no treinofoto de roleta de cassinoclassificação. Senna fez 1min15s962 e o alemão, 1min16s290.

Schumacher com a Benetton-Ford no GP do Brasilfoto de roleta de cassino1994 — Foto: Getty Images

Desafio bem mais complexo, no entanto, seria Senna fazer o modelo FW16 manter aquele ritmo extremo da volta lançada na classificação ao longo dos 305 quilômetros da corrida.

Desde a largada Senna manteve-sefoto de roleta de cassinoprimeiro, com Schumacher sempre muito próximo. Os dois entraram juntos no pit stop para trocafoto de roleta de cassinopneus e reabastecer o carro, outra grande novidade na F1 naquele ano.

A multidão que lotou as arquibancadasfoto de roleta de cassinoInterlagos acompanhou com apreensão a paradafoto de roleta de cassinoSenna nos boxes, líder, e Schumacher, segundo, na 21.ª volta do GP Brasil, que teve 71 no total. Dali, talvez, pudesse sair o vencedor da prova.

Largada do GP do Brasilfoto de roleta de cassino1994,foto de roleta de cassinoInterlagos — Foto: Getty Images

foto de roleta de cassino A vitória ou nada

A Benetton foi mais “eficiente” e o alemão saiu na frente, com Senna imediatamente atrás. Com um carro difícilfoto de roleta de cassinoguiar, que pulava a cada ondulação do pisofoto de roleta de cassinoInterlagos, e elas eram muitas, Senna foi obrigado a buscar o seu elevado limite para tentar ganhar a posição perdida.

- Corri para vencer, o segundo lugar não interessava, a mim e a essa gente toda nas arquibancadas - revelou.

Na tentativafoto de roleta de cassinocolocarfoto de roleta de cassinoWilliams o mais próximo possível da Benettonfoto de roleta de cassinoSchumacher na saída da Junção, Senna ultrapassou o limite do FW16 da Williams e rodou.

Ele sabia quefoto de roleta de cassinovelocidade no final daquele longo trechofoto de roleta de cassinoaceleração plena até a freada do S do Senna, com 1.200 metrosfoto de roleta de cassinoextensão, era mais elevada que afoto de roleta de cassinoSchumacher, daí a manobra arriscada. Precisaria sair da Junção encostado ao câmbio da Benetton para tentar a manobrafoto de roleta de cassinoultrapassagem na freada do S do Senna. Não havia DRS, bem lembrado, hein? Mas não deu certo.

Ayrton Senna ao ladofoto de roleta de cassinoMichael Schumacher no GP do Brasilfoto de roleta de cassinoF1foto de roleta de cassino1994 — Foto: Paul-Henri Cahier/Getty Images

Oito corridas mais tarde, explodiria um episódio que acabou por provavelmente justificar afoto de roleta de cassinoperda da liderança, nos boxes, na corridafoto de roleta de cassinoInterlagos. A Benetton do companheirofoto de roleta de cassinoSchumacher, o holandês Jos Verstappen, parou para o seu primeiro pit stop no GP da Alemanha, na 15.ª volta, efoto de roleta de cassinorepente viu-se envolvido pelas chamasfoto de roleta de cassinocercafoto de roleta de cassino70 litrosfoto de roleta de cassinogasolina que queimavam.

A válvulafoto de roleta de cassinofechamento da mangueirafoto de roleta de cassinoalta pressão usada pela equipe manteve-se aberta, espalhando combustível para todo o lado. Ao encostar nos canosfoto de roleta de cassinoescape, cujos gases fluem a cercafoto de roleta de cassino700 graus Celsius, a Benetton se transformou numa bolafoto de roleta de cassinofogo.

Carrofoto de roleta de cassinoJos Verstappen pegou fogo durante pit stopfoto de roleta de cassinoHockenheim,foto de roleta de cassino1994 — Foto: Divulgação

foto de roleta de cassino Pegos na malandragem

O que foi apurado pela investigação da FIA surpreendeu: os técnicos da Benetton haviam retirado um filtro do sistemafoto de roleta de cassinoreabastecimento, a fimfoto de roleta de cassinoaumentar a velocidadefoto de roleta de cassinofluxo da gasolina e tornar os pit stops mais rápidos. Burlaram a regra, portanto.

Uma impureza, que seria facilmente retida pelo filtro, manteve a válvula aberta, jorrando a gasolina para fora. Estava explicada aquela “eficiência” dos mecânicos da Benetton no GP Brasil, para que Schumacher saísse à frentefoto de roleta de cassinoSenna no pit stop conjunto na volta 21.

O equipamento para reabastecer na Fórmula 1 era produzido por uma empresa francesa, Intertechnique, e todas as escuderias deveriam usá-lo, sempre sob regras rígidas determinadas pela FIA, sem alterá-lo.

Pit stop da Benetton no GP do Brasil da F1foto de roleta de cassino1994 — Foto: Pascal Rondeau/Getty Images

Essa perda do primeiro lugar da corrida do Brasil, nos boxes, foi a causa básica do errofoto de roleta de cassinoSenna na Junção, já que ele queriafoto de roleta de cassinotodas as formas a vitória diante dafoto de roleta de cassinotorcida. Ao longo daquele campeonato, também cresceram muito as suspeitasfoto de roleta de cassinoque a Benetton utilizava um tão complexo quanto enrustido sistemafoto de roleta de cassinocontrolefoto de roleta de cassinotração, proibido a partirfoto de roleta de cassino1994.

foto de roleta de cassino FIA sabia da falcatrua

Max Mosley, presidente da FIA, reconheceu, anos mais tarde, a impossibilidadefoto de roleta de cassinoa entidade controlar, com os recursos técnicos da época, a existência ou não do controlefoto de roleta de cassinotração na F1. Em 2001, oficialmente o liberou por essa razão. Mas afirmou saber que uma escuderia o tinha já no começofoto de roleta de cassino1994. Não citou o nome.

O controlefoto de roleta de cassinotração justificariafoto de roleta de cassinoparte o excepcional desempenho do modelo B194, dotado com um motor V-8, capazfoto de roleta de cassinodesenvolver cercafoto de roleta de cassino40 cavalos a menos que o V- 10 Renault da Williams, no mínimo. Só a extraordinária competênciafoto de roleta de cassinoSchumacher como piloto, inegável, não era suficiente para explicar suas seis vitórias e uma segunda colocação seguidas no começo do ano.

Para você ter uma ideia da real condição da Williams com o FW16 no primeiro GP do ano, Damon Hill, o companheirofoto de roleta de cassinoSenna, terminou a provafoto de roleta de cassinosegundo, mas impressionantemente uma volta atrásfoto de roleta de cassinoSchumacher, o vencedor. Apenas os dotesfoto de roleta de cassinovelocistafoto de roleta de cassinoSenna justificavam acompanhar o ritmo do alemão até abandonar a 16 voltas da bandeirada por errar na saída da Junção.

Hill e Schumacher no pódiofoto de roleta de cassinoInterlagosfoto de roleta de cassino1994 — Foto: Getty Images

Veremos que a frustraçãofoto de roleta de cassinoSenna efoto de roleta de cassinomilhõesfoto de roleta de cassinotorcedores se elevaria ainda mais na etapa seguinte a do Brasil no Mundial, o GP do Pacífico, no circuitofoto de roleta de cassinoAida, no Japão, disputado três semanas depois do eventofoto de roleta de cassinoInterlagos.

Com o gostinho amargofoto de roleta de cassinonão ter somado nenhum ponto nafoto de roleta de cassinoestreia na equipe do “carrofoto de roleta de cassinooutro planeta”,foto de roleta de cassinoInterlagos, Senna encarava a vitória na corridafoto de roleta de cassinoAida como uma obrigação.

foto de roleta de cassino Piloto resignado

Já sem esconderfoto de roleta de cassinopreocupação com o modelo FW16 da Williams, Senna disparou:

- Todo mundo imaginava que a Williams iria arrebentarfoto de roleta de cassinonovo, ganhando tudo, mas essa não era a minha opinião.

As suas 65 poles, ao longo dos 161 GPs disputados, fazemfoto de roleta de cassinoSenna, para muita gente, o maior velocistafoto de roleta de cassinotodos os tempos na F1. Essafoto de roleta de cassinocapacidadefoto de roleta de cassinotirar tudo e mais um pouco do carro,foto de roleta de cassinouma única volta lançada, assumindo riscos que poucos ousariam, deram a ele a pole no GP do Pacífico, como já ocorrera no Brasil.

Ayrton Senna durante os treinos para o GP do Pacíficofoto de roleta de cassino1994 — Foto: Getty Images

Na etapafoto de roleta de cassinoSão Paulo, a Benettonfoto de roleta de cassinoSchumacher tinha, possivelmente, como citei, o controlefoto de roleta de cassinotração. Além disso, o equipamentofoto de roleta de cassinoreabastecer do seu time, sem o filtrofoto de roleta de cassinogasolina, contribuiu, também (e pode, inclusive, ter sido determinante), para o resultado final da corrida.

foto de roleta de cassino Combinaçãofoto de roleta de cassinofatores

Costuma-se dizer nos acidentes aéreos que a quedafoto de roleta de cassinouma aeronave decorre da combinaçãofoto de roleta de cassinovários fatores. É preciso, segundo os especialistas, maisfoto de roleta de cassinouma causa primária para ocorrer o acidente, como por exemplo, a não observação correta dos procedimentos a serem tomados, por parte do piloto,foto de roleta de cassinosituaçõesfoto de roleta de cassinopane.

Ou, ainda, uma pane seguidafoto de roleta de cassinooutra, o que é muito raro, anulando os recursosfoto de roleta de cassinodefesa do avião contra a condição difícilfoto de roleta de cassinoque se encontra no ar.

A mortefoto de roleta de cassinoSenna segue o mesmo modelo. Veja só o que aconteceu no GP do Pacífico. Também colaborou para elevar o climafoto de roleta de cassinotensão e a necessidadefoto de roleta de cassinoa Williams fazer algo rápido para reduzir a diferençafoto de roleta de cassinoperformance para a Benetton, do agora bicho-papão Schumacher.

Schumacher durante o GP do Pacíficofoto de roleta de cassino1994 — Foto: Getty Images

Sem que ninguém até hoje compreendesse bem o porquê, o diretorfoto de roleta de cassinoprova, o belga Roland Bruynseraede, impôs que, na voltafoto de roleta de cassinoapresentação, os carros seguissem o safety car. Não chovia. Senna qualificou a decisãofoto de roleta de cassino“absurda”. Normalmente, o piloto que larga na pole dita o ritmo da voltafoto de roleta de cassinoapresentação.

Os seus interesses são os mesmos dos que estão atrás dele, e por esse motivo, nessa hora, exige dos freios, para aquecê-los, procura também elevar a temperatura dos pneus, tudo sob velocidade compatível com as exigênciasfoto de roleta de cassinoum monopostofoto de roleta de cassinoF1.

Naquele dia, 17foto de roleta de cassinoabrilfoto de roleta de cassino1994, o safety car liderou o pelotão dos 26 que iriam largar na segunda etapa do Mundial a uma velocidade muito reduzida. Resultado: quando os carros alinharam para a largada, nada estavafoto de roleta de cassinoacordo com as necessidades desses veículos,foto de roleta de cassinoespecial a temperatura dos freios e dos pneus. Senna e Schumacher dividiam a primeira fila, a exemplo do GP Brasil.

foto de roleta de cassino Incidentes previsíveis

Senna abandonou GP do Pacíficofoto de roleta de cassino1994 depoisfoto de roleta de cassinoser tocado na primeira curva — Foto: Getty Images

Pouco maisfoto de roleta de cassino200 metros depois da largada,foto de roleta de cassinoque Schumacher, com a ajuda do possível controlefoto de roleta de cassinotração pulara à frentefoto de roleta de cassinoSenna, o finlandês Mika Hakkinen freou e nadafoto de roleta de cassinosua McLaren MP4/9-Peugeot parar como deveriafoto de roleta de cassinocondições normais. Foi a traseira da Williamsfoto de roleta de cassinoSenna que o segurou.

Hakkinen bateu no carrofoto de roleta de cassinoSenna, lançando-o para a caixafoto de roleta de cassinobrita. Nicola Larini, que na Ferrari substituía Jean Alesi, convalescentefoto de roleta de cassinofraturafoto de roleta de cassinouma vértebra cervical num acidente durante testefoto de roleta de cassinoMugello, completou o serviçofoto de roleta de cassinocolocar Senna para fora da prova ao bater nafoto de roleta de cassinoWilliamsfoto de roleta de cassinoplena brita. O italiano também ficoufoto de roleta de cassinofora do GP.

foto de roleta de cassino Williams, muito para trás

Sem adversários, Schumacher passeou na pista e impôs,foto de roleta de cassinonovo, quase uma voltafoto de roleta de cassinovantagem para o segundo colocado, Gerhard Berger, com a Ferrari 412T1. Hill abandonou por quebra da transmissão.

Em resumo: Senna tinha agora nenhum ponto, contra 20foto de roleta de cassinoSchumacher. Mais: enquanto a Benetton haviafoto de roleta de cassinofato evoluído bastantefoto de roleta de cassinouma temporada para a outra, a Williams tomara rumo oposto.

Parte da torcida não enxergava os imensos problemasfoto de roleta de cassinoSenna com o carro e não levavafoto de roleta de cassinoconta o segundo desgaste do piloto com o experimentado na largadafoto de roleta de cassinoAida. O que importava era que Senna estava finalmente na Williams, seu tão sonhado time, e não vencera nenhuma vez diantefoto de roleta de cassinoduas vitóriasfoto de roleta de cassinoSchumacher, àquela altura, com o abandonofoto de roleta de cassinoAlain Prost da F1, no fim do campeonato anterior, o maior rival do brasileiro.

Ayrton Senna após o abandono na primeira volta do GP do Pacíficofoto de roleta de cassino1994 — Foto: Getty Images

A pressãofoto de roleta de cassinocima da equipe Williams também começava a aumentar assustadoramente. Tudo o que Frank Williams desejara da Renault e dos patrocinadores da equipe, havia obtido. Senna custava muito caro para a época, estimados US$ 18 milhões por temporada. Na pista, contudo, a organizaçãofoto de roleta de cassinoFrank Williams não estava correspondendo.

O GPfoto de roleta de cassinoSan Marino,foto de roleta de cassinoÍmola, apenas 15 dias mais tarde, seria a grande oportunidade para que todos esquecessem os pesadelos dos GPs Brasil e do Pacífico. Desta vez, não poderia existir falhas. De ninguém.