Viagens, lixo e propaganda: como o futebol contribui para a crise do clima

Futebol tem pesostarbet303país médio da Europa, emissõesstarbet303clubes europeus podem subir 30% na próxima temporada, e Fifa não cumpre promessasstarbet303sustentabilidade; veja iniciativas positivas

Por Rodrigo Lois — Riostarbet303Janeiro


Gol contra o planeta. A elite do futebol internacional contribui significativamente para o aquecimento global e até agora tem feito muito pouco para combater a crise do clima. As emissõesstarbet303gases do efeito estufa dos grandes clubes da Europa podem subir até 30% na próxima temporada. Por outro lado, há iniciativas que, embora não na escala necessária, geram otimismo.

Conheça iniciativas inovadoras no futebol para enfrentar a crise do clima

O futebol é o principal esporte do mundo. O mais praticado, o mais assistido e o que mais movimenta dinheiro. Astarbet303"indústria" contribui por ano com algo entre 0,8% e 0,9% das emissõesstarbet303gases do efeito estufa do planeta, segundo estimativasstarbet303especialistas consultados pelo ge. É o equivalente à uma nação como a Espanha ou a Polônia.

Essa medição é complexa, mas há consensostarbet303que a contribuição é significativa. Como o ge explicoustarbet303reportagem publicada na última quinta-feira, os gases do efeito estufa provocam o aquecimento global e pioram os eventos extremos do clima.

O futebol como conhecemos hoje gera esses gases pela queimastarbet303combustíveis fósseis com viagensstarbet303equipes e, principalmente, torcedores, pelo usostarbet303energia elétricastarbet303determinados países com fontes "sujas" e a construçãostarbet303estádios. Além disso, há a produçãostarbet303itens descartáveis e a moda esportiva, como por exemplo vários modelosstarbet303uniforme, que saem rapidamente do mercado.

O lixo diante do estádiostarbet303Wembley, após a final da Eurocopa entre Itália e Inglaterra,starbet3032021 — Foto: Getty Images

E a tendência é que isso piore, já que o calendário não parastarbet303crescer, principalmente na elite do futebol. Na próxima temporada, serão mais 177 partidas nas três competiçõesstarbet303clubes da Uefa, segundo a BBC. As emissões podem subir maisstarbet30330%starbet3032024/25. A próxima Copa do Mundo,starbet3032026, terá 40 jogos a mais do que a do Catar.

Como podemos falar sobre sustentabilidade ambiental com credibilidade, e reduzir o nosso impacto, se estamos crescendo? Há muita coisa positiva no futebol. Mas quando você pergunta se é o suficiente, a escala necessária não está lá. Queremos que as pessoas tenham esperança. Mas temos que instalar urgência. Não temos mais tempo — comentou Claire Pool, fundadora e CEO da Sport Positive, iniciativa que ajuda a comunidade do esporte a aumentar suas ambições climáticas.

19 clubes da Premier League emitiram durante a pré-temporadastarbet3032022/23 uma quantidadestarbet303dióxidostarbet303carbono (CO2), principal gás do efeito estufa, equivalente ao consumostarbet303energiastarbet3032400 casas por um ano. A "pegadastarbet303carbono" é pior quando se tratamstarbet303voos particulares.

Manchester Citystarbet303Pep Guardiola fez parte da pré-temporada na Coreia do Sul — Foto: Getty Images

starbet303 Propaganda perigosa

Outro ponto sensível é o patrocíniostarbet303grandes empresas ou governos produtoresstarbet303petróleo e combustíveis fósseisstarbet303grandes clubes da Europa — os mais ricos do mundo —, federações e confederações.

Se eles querem organizar eventos sustentáveis, devem se aliar apenas a empresas que são sustentáveis. É como ser um evento que se alega pacífico, e tem o patrocíniostarbet303fabricantestarbet303arma. Isso estabelece uma contradiçãostarbet303mensagem e princípios. Se eles escolherem os patrocinadores corretamente, podem estimular a mudança — afirmou Khaled Diab, diretorstarbet303comunicação da Carbon Market Watch, organização que fiscaliza políticas climáticasstarbet303governos e empresas.

Crise no clima atinge o futebol mundial

A Fifa incorporou critériosstarbet303sustentabilidade no processostarbet303candidatura para as Copasstarbet3032018 e 2022. No final, Rússia e Catar ganharam. A promessa era que o torneio do ano passado seria 100% neutrastarbet303emissõesstarbet303carbono, ou seja, anularia o impacto da produçãostarbet303gases do efeito estufa, principalmente o gás carbônico. A Comissão Suíça para a Justiça considerou essa promessa falsa.

A comissão concluiu que a Fifa violou regras, ao fazer alegações que não puderam ser comprovadas, e utilizou medidas "controversas" para compensar as emissõesstarbet303carbono. Uma ação seria a comprastarbet303créditosstarbet303carbono, mecanismostarbet303que uma instituição paga outra por neutralizar o que já foi emitidostarbet303gases do efeito estufa.

Especialista ouvidos pelo ge reforçam que procedimento é ruim, porque transfere responsabilidade e não leva à redução efetiva das emissões. Além disso, projetos naturais que rendem crédito correm riscostarbet303serem destruídos antes do carbono ser compensado ou até irregulares.

ONU alerta para necessidadestarbet303ação para evitar crise climática

starbet303 Pouco engajamento dos atletas

Organizações que atuam na ligação entre o esporte e o movimentostarbet303prol do meio ambiente acreditam que os jogadores e jogadoras profissionais, principalmente as grandes estrelas, deveriam ter maior engajamento sobre o tema e, com isso, procurar conscientizar a populaçãostarbet303geral sobre a crise do clima.

Um nome que se destaca nesse sentido é Morten Thorsby, meia do Genoa com passagem pela seleção da Noruega. Ele fundoustarbet3032020 a iniciativa "We Play Green", que se dedica a mobilizar atletas e fãs na causa por um mundo mais sustentável. Desde 2012/22, ele usa o número 2 na camisa,starbet303referência ao limitestarbet3032°C estabelecido no Acordostarbet303Paris.

— Infelizmente, muitos jogadoresstarbet303elite não se posicionam abertamente. Muitos gostariam, mas têm medostarbet303potenciais críticas públicasstarbet303torcedores, clubes e federações, ou medostarbet303falar porque não vivem um estilostarbet303vida sustentável, ou não têm conhecimento no assunto — comentou Morten Thorsby.

Morten Thorsby, ao centro da foto,starbet303ação pelo Genoa; ele usa a camisa 2 por um motivo nobre — Foto: Getty Images

Diversas instituições do futebol assinaram,starbet303novembro 2021, o Quadro Esporte pela Ação Climática , da ONU, com o objetivostarbet303reduzir as suas emissõesstarbet303gasesstarbet303efeito estufastarbet30350% até 2030, e zerar as emissões líquidas até 2040. Muitos signatários começaram a medir suas emissões e prometem lutar pelo limitestarbet3031,5°Cstarbet303aquecimento global até 2100.

Porém, o Quadro é alvostarbet303críticas pela faltastarbet303metas específicas e mecanismosstarbet303controle. Além disso, quase não há representantesstarbet303países do Sul Global.

— Precisamos ouvir essas vozes, elas precisam assinar. Não é para dizer que as mudanças têm que ser feitas no Sul Global. Ao contrário, a conversa precisa ser sobre como canalizar o dinheiro do Norte para o Sul através do esporte. Mas isso não vai acontecer se as pessoas não aparecerem e fazerem suas vozes serem ouvidas, enquanto africanos e latino-americanos não sentarem na mesa — comentou o acadêmico David Goldenblatt, que pesquisa os impactos da crise do clima no futebol.

starbet303 Iniciativa inovadoras pelo clima no futebol

A fundação "We Play Green",starbet303Morten Thorsby, criou um programa que fornece informações para jogadores sobre a crise do clima e presta assistência aqueles que querem se manifestar sobre o assunto. A iniciativa também tem o planostarbet303desenvolver projetosstarbet303reflorestamento e proteção da natureza no Brasil.

— O futebol é o mais poderoso e o mais seguido esporte no planeta, e os jogadores são líderes. Maisstarbet3035 bilhõesstarbet303pessoas assistiram a última Copa. Mobilizar a família global do futebol é importante porque atinge mais da metade do planta. O futebol é poderoso não só pelastarbet303audiência, mas porque conecta pessoas apesar das diferenças geográficas, culturais e sociais — disse Morten Thorsby.

O time do Barcelona passou a viajarstarbet303trem pela Espanha para os jogosstarbet303LaLiga — Foto: German Parga / Barcelona FC

Ainda dá tempo para combater a emergência climática e reduzir as emissões dos gasesstarbet303efeito estufa. Há casosstarbet303sucesso no futebol internacional, mas é preciso que haja mais. A organização "Football For Future", por exemplo, desenvolve projetos com clubes e federaçõesstarbet303prol da culturastarbet303sustentabilidade.

— Educação ambiental não tem feito parte da agenda, e isso é muito básico e fácil. Além disso,starbet303relação aos clubes, falta o entendimento dastarbet303marca para o meio ambiente. Vemos clubes começando a fazer isso, e procurando medir emissões, usostarbet303água, produçãostarbet303resíduo. Não dá para manejar o que você não mede. Acho que ainda está tudo muito pouco. Ainda há muita margem para crescimento — contou Elliot Arthur-Worsop, fundador e co-diretor da ONG.

A FFF elaborou com o Wolverhampton neste ano a campanha "One Pack, One Planet" (Uma Alcateia, Um Planeta), visando a neutralidadestarbet303emissões até 2040. Funcionários do clube inglês passaram por treinamento, as instalações receberam melhorias, dados sobre emissãostarbet303carbono foram levantados, e os torcedores participaramstarbet303tudo.

Consultada pelo ge, a Premier League informou que deve lançarstarbet303breve astarbet303estratégia ambiental e relatou medidas como programasstarbet303educação sobre o temastarbet303escolas da Inglaterra e regrasstarbet303reduçãostarbet303emissãostarbet303carbono para transmissõesstarbet303diasstarbet303jogo.

Matheus Cunha, atacante da seleção brasileira e do Wolverhampton, com faixa verde pelo clima — Foto: Getty Images

Um dos clubes mais envolvidos com a causa ambiental, o Betis transformou redesstarbet303pesca e plástico encontrados no mar estarbet303portos da Espanhastarbet303assentos para as arquibancadas do estádio Benito Villamarín. Essas redesstarbet303pesca também viraram redes para as instalações do clube, dos esportes olímpicos ao futebol profissional.

O Betis também instalou sistemastarbet303limpeza com água ozonizada para desinfecção, dispensando produtos químicos. O novo centrostarbet303treinamento conta com um grande sistemastarbet303reutilização da água. O Betis já realizou maisstarbet303100 ações nos últimos anos e se tornou o primeiro clube autossuficiente da Espanha.

— Para o Betis, a emergência social e comunitária mais importante, a nível global, é a crise climática. Sem planeta não temos futebol. É algo urgente para os clubes, vão ser cobrados por isso — disse Rafael Muela, diretor geral da Fundação Real Betis Balompié.

LaLiga explicou o seu plano estratégico ambiental e detalhou o trabalho feito há cinco anos com os clubes para incorporarem o assuntostarbet303suas estruturas e gestões. Há a exigência do cálculo da pegadastarbet303carbono. Segundo a liga, 90% dos clubes se tornaram mais eficientesstarbet303energia. Em tornostarbet30312 milhõesstarbet303euros serão investidosstarbet303energias renováveis, por 13 clubes. A maioria dos times usa veículos elétricos.

Projeto do novo estádio Benito Villamarín, que promete ser referênciastarbet303sustentabilidade — Foto: Divulgação / Real Betis Balompié

Atual líder da Bundesliga, o Bayer Leverkusen foi elogiado pela ONU pelas políticas adotadasstarbet303usostarbet303energia limpa, o sistemastarbet303irrigação e a redução do usostarbet303plásticos. O clube alemão ampliou a áreastarbet303sustentabilidade, desde setembro do ano passado.

— Temos uma estação climática automática, que ajuda na economia da água estarbet303energia. Ela sabe quanto cada parte do campo precisastarbet303irrigaçãostarbet303cada momento. Também temos painéis fotovoltáicos, não no topo do estádio por causa da estrutura. Reduzimos o consumostarbet303energiastarbet30330% desde 2015, e a cada ano evoluindo. Oferecemos tremstarbet303graça para os torcedores com ingresso. É nossa responsabilidade fazer algo — contou Matthias Adler, chefestarbet303sustentabilidade do clube.

A Bundesliga não deu retorno sobre medidas adotadas pela liga e regrasstarbet303sustentabilidade para os clubes.

Bayer Leverkusen conta com sistema bem sucedidostarbet303captação da água para irrigação do estádio — Foto: Divulgação / Bayer Leverkusen

Liga organizadora do Campeonato Italiano, a Serie A tem a Estratégiastarbet303Sustentabilidade para 2030, com quatro políticas específicas para proteção ambiental, como o incentivo à redução da pegadastarbet303carbono dos clubes e o incentivo à economia circular. Porém, não detalhou metas.

A Ligue 1, do Campeonato Francês, segue desde o finalstarbet3032022 o plano nacionalstarbet303reduzir o consumostarbet303energiastarbet30310% até 2024. A liga adotou medidas como limitar as temperaturasstarbet303aquecedores e ar-condicionados, reduzir o tempostarbet303iluminação pré e pós-jogo e diminuir o usostarbet303luz artificial para tratar os gramados dos estádios.

Dois meses após a aplicação das exigências, mais da metade dos clubes não usou essa terapia da grama com luz, e 70% deles completaram o registrostarbet303suas pegadasstarbet303carbono. A Ligue 1 também modificou os critériosstarbet303licenciamento e incluiu pontosstarbet303sustentabilidade, como uso racional da água e reciclagemstarbet303lixo.

Outro exemplo virá na Eurocopa do ano que vem, na Alemanha. A Uefa vai disponibilizar transporte públicostarbet303graça para quem tiver ingressos, durante 36 horas mais próximasstarbet303cada jogo.

Uefa disponibilizará transporte público "verde" para quem tiver ingresso na Eurocopastarbet3032024 — Foto: Divulgação / Uefa

starbet303 Inovação fora do centro do poder do futebol

A discussão sobre como combater o aquecimento global ainda não está no panorama do futebol fora da elite da Europa. Até porque clubes e federaçõesstarbet303países como da América Latina, África e Ásia vivem realidades bem diferentes,starbet303termos culturais, sociais e econômicos. Mas há iniciativas simples e ao mesmo tempo inovadoras nesse sentido.

— Nossos programas focam principalmente no desenvolvimentostarbet303valores pessoais, antes da sustentabilidade, e do ambiental. Temos oito escolinhasstarbet303que,starbet303todas elas, se conecta o ensinamento do futebol com um valor específico. Entre eles está o cuidado o ambiental — disse Pablo Andrieu, coordenadorstarbet303pesquisa, monitoramento e difusão da Fundação River Plate.

River Plate desenvolve trabalhostarbet303educação ambiental com escolinhasstarbet303sua fundação — Foto: Getty Images

Outro dos cinco grandes clubes da Argentina, o Racing começoustarbet3032015 a fazer atividadesstarbet303cunho ambiental. A primeira ação foi gerir e separar os resíduos sólidos gerados no Estádio Presidente Perónstarbet303diasstarbet303jogo, para reciclar. Foi o primeiro estádio declarado como sustentável no país. O clube reduziustarbet303duas horas o trabalhostarbet303limpeza, após conscientizar os torcedores sobre essa separação.

— A sustentabilidade abarca todo o clube, é transversal a todas as áreas . São pequenos passos para converter o clubestarbet303um lugar mais confortável e eficiente. Passo a passo vamos fazendo — comentou Ramiro Pazos, da consultoria "Proyecto Sustentable", que atua como parte técnica dentro da áreastarbet303sustentabilidade do Racing.

O Racing também trocou toda a iluminação do seu estádio, para LEDstarbet303baixo consumo. O clube é signatário do Pacto Global das Nações Unidas, maior iniciativastarbet303sustentabilidade corporativo do mundo. Estástarbet303andamento desde abril o projeto "Free Kicks",starbet303que o Racing estuda os seus níveisstarbet303consumo e medidasstarbet303gestão ambiental a tomar.

Racing conseguiu promover mudançasstarbet303diasstarbet303jogo após conscientizar a torcida sobre o lixo — Foto: Divulgação / Proyecto Sustentable

Os mais vulneráveis, que menos contribuíram para o aquecimento global, serão os que mais sofrerão com as mudanças do clima e eventos extremos. Isso pode parecer desencorajador, principalmente para o cidadão comum. Mas há muito o que torcedores, por exemplo, podem fazer contra esse problema. É o que prega o movimento Pledgeball, com base na força mobilizadora da paixão pelo futebol.

— A infraestrutura do futebol estarbet303influência não têm paralelostarbet303potencial sobre a mudança que precisamos ver. Temos que ter engajamento público e ações para atacar as mudanças climáticas. Há tantas pessoas que podem fazer algo. Todas as grandes transformações vieram das pessoas, da pressão delas. Só assim veremos a mudança necessária — disse Katie Cross, fundadora e CEO da Pledgeball.

Protesto na Holanda contra a pouca açãostarbet303governo para enfrentar o aquecimento global — Foto: Getty Images

A reportagem do ge procurou a Fifa durante o último mês para essa reportagem. A entidade máxima do futebol não respondeu se vai participar da atual Conferência das Partes (COP), encontro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima,starbet303Dubai.

A Fifa não explicoustarbet303detalhes como vai cumprir a promessastarbet303reduzir suas emissõesstarbet303carbonostarbet30350% até 2030 e zerá-las até 2040. Também não respondeu quando questionada sobre o compromissostarbet303publicar a cada dois anos um relatóriostarbet303suas ações pelo clima e o progresso do mundo do futebol (que deveria ter saídostarbet303novembro).


Por outro lado, a Fifa informou que tem um departamento responsável por estimar e monitorar suas emissõesstarbet303gases do efeito estufa, com base na metodologia GHG Protocol, e que informa anualmente à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) as suas ações pelo clima.

A entidade também adiantou que a estratégiastarbet303sustentabilidade para a Copa do Mundostarbet3032026 deverá ser publicada no primeiro semestrestarbet3032024. A Fifa disponibiliza recursos para as federações que tiverem infraestrutura ou operações afetadas por desastres naturais,starbet303consequência do aquecimento global.