O presidente da UEFA, Aleksander Čeferin, parece mesmo interessadoaposta menos de 1.5 golsser um ator decisivo na reestruturação do futebol. No final do mêsaposta menos de 1.5 golsmarço já havia sugerido uma revisão nas regras que impedem que clubesaposta menos de 1.5 golsum mesmo dono possam disputar a mesma competição continental – fato que motivou outro texto dessa coluna.
Agora, revelou que a federação europeia está se preparando para apresentar uma nova regraaposta menos de 1.5 gols“teto salarial”, limitando o valor da remuneração dos jogadores.
A declaração foi dadaaposta menos de 1.5 golsentrevista ao canal britânico “Men in Blazers” e publicada no dia 25aposta menos de 1.5 golsabril passado: “Eu acho que no futuro nós temos que pensar seriamente sobre teto salarial, porque se os orçamentos estão crescendo muito, então o balanço competitivo é um problema. Isso não é sobre os donos, é sobre o valor da competição, porque se apenas cinco clubes vão sempre vencer, então não faz mais sentido”, afirmou.
Čeferin estava sendo provocado sobre a tentativa frustradaaposta menos de 1.5 golscriação da European Super League (ESL), sobre a influênciaaposta menos de 1.5 golsdonosaposta menos de 1.5 golsclubes norte-americanos no futebol atual e sobre as reações da UEFA a esses investidas, com novas regulações. “Surpreendentemente, todo mundo concorda [com o teto salarial]. Clubes grandes, clubes pequenos, clubes controlados por estados, clubesaposta menos de 1.5 golsbilionários, todo mundo concorda”, revelou o presidente da UEFA.
Na realidade, a criação um limite salarial intenciona resguardar alguma sustentabilidade financeira, e por isso se mostra como uma resposta direta aos anseios por trás da ESL. Uma das principais motivações para a criaçãoaposta menos de 1.5 golsuma nova competição independente era exatamente a dificuldade histórica encontrada por clubes (de todos os níveis)aposta menos de 1.5 golsequalizar os ganhos “ainda-que-sempre-crescentes” com os custos sempre superiores, para a montagemaposta menos de 1.5 golselencos competitivos.
Apesaraposta menos de 1.5 golsachar que essa mudança deve acontecer “o mais rápido o possível”, Čeferin reconhece os muitos desafios à frente: “Já conversei com algumas pessoas da Comissão Européia. Estamos tentando impulsionar isso, mas isso deve ser um “acordo coletivo”: todas as ligas e a UEFA. Porque se fizermos isso e as outras ligas não, então não faz sentido”.
A grande pergunta que fica é a viabilidade política e mesmo técnicaaposta menos de 1.5 golsaplicaçãoaposta menos de 1.5 golsuma regulação internacionalaposta menos de 1.5 golsum tema tão delicado. Há precedentes, mas também há regulações recentes,aposta menos de 1.5 golsoutros contexto, que geram reticências sobre as pretensões da UEFA.
Ainda na entrevista, Čeferin lembrou que uma mudança importante já está prevista para começar a funcionar plenamenteaposta menos de 1.5 gols2024. Uma nova regulação aprovada pelo Comitê Executivo da UEFAaposta menos de 1.5 golsabrilaposta menos de 1.5 gols2022 criou a chamada “squad cost rule” (regraaposta menos de 1.5 golscustoaposta menos de 1.5 golselenco). A partir do ano que vem, clubes só poderão usar 70% da receita para salários, transferências e comissõesaposta menos de 1.5 golsagentes.
Anunciada pela federação como a maior reformaaposta menos de 1.5 golsregulação financeira desde 2010 – ano do lançamento do fair play financeiro, norma que define o limiteaposta menos de 1.5 golsgastos do clubeaposta menos de 1.5 golsacordo comaposta menos de 1.5 golsarrecadação –, a “squad cost rule”, no entanto, já é entendida como limitada pelo presidente da UEFA: “Não é suficiente porque se a receita éaposta menos de 1.5 gols5 bilhões, então 70% ainda é muita coisa. Por isso que esse [teto salarial] é o futuro”.
Com tantos clubes europeus passando a pertencer a gupos norte-americanos – inclusive diversos deles inseridosaposta menos de 1.5 golsuma mesma redeaposta menos de 1.5 gols“multi-club ownership” –, é compreensível o fatoaposta menos de 1.5 golsuma regulamentação como teto salarial ter se tornado um assunto comum no futebol europeu.
Acostumados com modelos muito distinto, esses grupos norte-americanos acreditam que é possível transformar o “soccer”aposta menos de 1.5 golsalgo lucrativo, como ocorre nos principais esportes dos Estados Unidos. Parte dessa crença precisa passa por limitar os gastos com remuneração, transferência e comissão; eaposta menos de 1.5 golsoutro sentido, por diminuir os riscos gerados pelo sistemaaposta menos de 1.5 golscompetitivoaposta menos de 1.5 golsclassificação, desclassificação, promoção ou rebaixamento.
Os esportes norte-americanos constituídos como grandes corporações fechadas, onde os times são apenas franquias. Os proprietários estão sempre submetidos a regras rígidasaposta menos de 1.5 golsregulação que interferem na distribuição equilibradaaposta menos de 1.5 golstalentos oriundos do sistema universiário, limitam saláriosaposta menos de 1.5 golsdiferentes classificações por idade e desempenho e redistribuem receitas “excedentes”aposta menos de 1.5 golsuma time para outro.
Os donos das franquias acabam abrindo mãoaposta menos de 1.5 golsuma “liberdadeaposta menos de 1.5 golsempreender” (e mesmoaposta menos de 1.5 golsse beneficiar do diferencial financeiro que uma franquia mais popular pode ter), mas sabem que estão sujeitos a um sistema minimamente sustentável, onde os custos são planificadosaposta menos de 1.5 golsacordo com a capacidadeaposta menos de 1.5 golsgeraçãoaposta menos de 1.5 golsreceitasaposta menos de 1.5 golstoda a liga/empresa – e sem rebaixamentos.
Já no futebol “de modelo europeu”, sistematizadoaposta menos de 1.5 golsdivisões e com um grauaposta menos de 1.5 golsautonomia muito maior dos clubes, faltam mesmo estruturas administrativas capazesaposta menos de 1.5 golsatacar o problema da insustentabilidade financeira e da instabilidade esportiva.
O agravante nesse problema é outro fator ainda pior: muitos clubes são propriedadesaposta menos de 1.5 golsindivíduos ou grupos queaposta menos de 1.5 golsnunca estiveram preocupadosaposta menos de 1.5 golsfato com o assunto viabilidade financeira – assim como nos seus primórdios, clubesaposta menos de 1.5 golsfutebol ainda são vistos como instrumentosaposta menos de 1.5 golspoder, não como negócios a serem desenvolvidos para dar retorno financeiro.
Apesar da Champions League ser responsável pela geraçãoaposta menos de 1.5 golsum desequilíbirio financeiro preocupanteaposta menos de 1.5 golsdiversos países – o que levou os holandeses a acordarem que parte do valor recebido pelo classificado seria destinado à liga e repartido com os demais clubes – as ligas europeias tem,aposta menos de 1.5 golsgeral, sistemasaposta menos de 1.5 golsdivisãoaposta menos de 1.5 golsdireitosaposta menos de 1.5 golstransmissão bastante justos.
O que gera disparidade entre os clubes está na linhaaposta menos de 1.5 golsreceita que os analistasaposta menos de 1.5 golsnegócios do futebol geralmente classificam como “commercial”. É o quesito que reúne todas as receitas que não são direitosaposta menos de 1.5 golstransmissão (“broadcasting”) ou aquelas geradas com estádio e torcedores presenciais (“matchday”).
É geralmente ali que se observa a diferença brutal entre os chamados “super-clubes” e os demais. E há duas razões principais para essa diferença tão grande.
Por um lado está a complexa questão histórica que estabeleceu um resumido quadroaposta menos de 1.5 golsclubes muito populares fora do paísaposta menos de 1.5 golsorigem, capazesaposta menos de 1.5 golsgerar receitas com públicos consumidoresaposta menos de 1.5 golstodos os continentes, mobilizando parceiros comerciais exclusivos ou específicos nessas localidades.
Mas por outro lado está um fator obscuro que a própria UEFA já deu sinalaposta menos de 1.5 golsque é incapazaposta menos de 1.5 golscontrolar. Muitos clubes conseguem driblar o fair play financeiro através do registroaposta menos de 1.5 golsvaloresaposta menos de 1.5 golspatrocínio bem acima do praticado no mercado, geralmenteaposta menos de 1.5 golscontratos firmados com empresas com relações diretas ou indiretas com os grupos econômicos que possuem essas propriedades.
Com a arrecadação inflada artificialmente, esses clubes conseguem se encaixar nas normasaposta menos de 1.5 golssustentabilidade financeira enquanto investem valores altíssimos na atração das estrelas – é como surgem os “novos super-ricos” que tratamosaposta menos de 1.5 golsoutro texto dessa coluna (leia clicando aqui).
Se a própria dinâmicaaposta menos de 1.5 golsconcorrênciaaposta menos de 1.5 golsclubes pelo escasso “mercadoaposta menos de 1.5 golspé-de-obra altamente qualificado” já se encarregariaaposta menos de 1.5 golsprovocar uma inflação salarial consecutivaaposta menos de 1.5 golsdifícil controle eaposta menos de 1.5 golsconsequências danosas, a existênciaaposta menos de 1.5 gols“super-clubes”capazesaposta menos de 1.5 golsoferecer valores que beiram o surreal agrava sobremaneira esse problema.
Assim descreve a situação o último relatório “The European Club Footballing Landscape”, elaborado anualmente pela própria UEFA:
“Os custos ainda estão crescendoaposta menos de 1.5 golsum patamar insustentável. Apesar das receitas retornarem depois da pandemia e cresceremaposta menos de 1.5 golsum nível recorde, os saláriosaposta menos de 1.5 golsjogadores tomaram 54% da receita dos clubes, com os custos líquidosaposta menos de 1.5 golstransferênciaaposta menos de 1.5 golsjogadores significando algo como 13% da receita. Uma vez adicionados os saláriosaposta menos de 1.5 golsnão-jogadores, que absorvem 16% da receita, clubes usaram maisaposta menos de 1.5 gols83% das suas receitas antesaposta menos de 1.5 golsqualquer outra receita operacional ou custo operacional ser levadoaposta menos de 1.5 golsconta”.
Aindaaposta menos de 1.5 golsacordo com o relatório da UEFA, o salários cresceramaposta menos de 1.5 golsuma ordemaposta menos de 1.5 gols108%aposta menos de 1.5 golsdez anos. Isso significa que a remuneração dos jogadores mais que dobrou enquanto a arrecadação dos clubes não cresceu muito alémaposta menos de 1.5 gols50%. Mesmo com os danos causados pela Covid-19, os salários cresceram 16% no comparativo da atual temporadaaposta menos de 1.5 golsrelação ao que foi registrado antes da pandemia (veja imagem com gráfico adiante).
A inflação salarial é um problema histórico no futebol contemporâneo e tem um fator decisivo mais recente. Em 1995, o famoso Caso Bosman provocou uma mudança abrupta na legislação europeia que regulava os contratos dos jogadores profissionaisaposta menos de 1.5 golsfutebol, encerrando aquilo que no Brasil se chamavaaposta menos de 1.5 gols“passe”.
A partir disso, com contratos com duração determinada, o movimento dos jogadoresaposta menos de 1.5 golsfutebol e o mercadoaposta menos de 1.5 golstransferências cresceramaposta menos de 1.5 golsforma considerável. Clubes tinham a necessidade constanteaposta menos de 1.5 golsrenovar contratosaposta menos de 1.5 golscondições atrativas para que jogadores não buscassem um novo clube ou fossem alvoaposta menos de 1.5 golspropostasaposta menos de 1.5 golsvalor abaixo do ideal.
Mas é curioso observar que mesmo antes da Lei Bosman (na realidade, muito antes disso), a preocupação com essa disputa caótica pelos melhores jogadores um dia existiu no futebol inglês. No longíquo anoaposta menos de 1.5 gols1901, os clubes estabeleceram um teto salarial e regras que limitavam transferências, exatamente por causa dos prejuízos já registrados pelos clubes – que à altura já estavam quase todos estabelecidos como sociedades limitadas.
Essa regra só vai cairaposta menos de 1.5 gols1960,aposta menos de 1.5 golsum contexto muito diferente. A Champions League estava apenas no seu quinto anoaposta menos de 1.5 golsexistência; países relevantes como Espanha e Itália ainda limitavam a contrataçãoaposta menos de 1.5 golsjogadores estrangeiros apenas aos “oriundos” (filhosaposta menos de 1.5 golsnativos); e a Alemanha ainda começava a discutir a profissionalização. Mas a mudança simbolizou uma viradaaposta menos de 1.5 golschave no futebol europeu.
De lá para cá, pouco se falou sobre regras mais firmes para controlar esses gastos e,aposta menos de 1.5 golscerta forma, as novas geraçõesaposta menos de 1.5 golsproprietários dos clubes já eram tão preocupadas com esse problema. Entendimento que passou a mudar com as preocupações da UEFA com relação à grande quantidadeaposta menos de 1.5 golsclubes indo à falência nos países centrais, pela ameaça da Super League e, talvez, pela chegadaaposta menos de 1.5 golsuma nova ondaaposta menos de 1.5 golsproprietários norte-americanos.
Crescimento acelerado dos salários ná última década. Fonte: UEFA.
Quando a Premier League assinou um contrato recordeaposta menos de 1.5 gols£5,1 bilhões para venda dos seus direitosaposta menos de 1.5 golstransmissãoaposta menos de 1.5 gols2015, a BBC foi atrás do bilionário britânico Alan Sugar para coletar aaposta menos de 1.5 golsopinião: “Quanto mais dinheiro é dado aos clubes, mais dinheiro é gastoaposta menos de 1.5 golsjogadores. Se alguém sabe o efeitoaposta menos de 1.5 golsum sucoaposta menos de 1.5 golsameixa (prune juice), é muito simples: entraaposta menos de 1.5 golsuma ponta e sai pela outra”.
Sugar brincava com o fato do sucoaposta menos de 1.5 golsameixa ter propriedades laxantes, usando a desagradável figuraaposta menos de 1.5 golslinguagem para ilustrar como opera o futebol na atualidade. Ex-presidente e ex-co-proprietário do Tottenham entre 1991 e 2001,aposta menos de 1.5 golssugestão foi que esse contrato viesse amarrado com a criaçãoaposta menos de 1.5 golsfundos com objetivos pré-determinados, como a reestruturaçãoaposta menos de 1.5 golsestádios, o saneamento financeiro dos clubes ou para o investimento nas categoriasaposta menos de 1.5 golsformaçãoaposta menos de 1.5 golsatletas.
Sem regulação, acredita Sugar, esse montante pode crescer o quanto for, que será sempre destinado aos jogadores e seus agentes e deixará muito pouco como legado aos clubes. Como presidente Tottenham entre 1991 e 2001, Sugar foi ativo na criação da Premier League (1992) e testemunhou os efeitos da Lei Bosman (1995). Em 2021,aposta menos de 1.5 golsentrevista ao programa “60 Minutes Australia”, declarou: “o maior erro da minha vida foi dar dez anos da minha vida para esse clubeaposta menos de 1.5 golsfutebol”.
A UEFA tem um grande desafio para tornar a ideiaaposta menos de 1.5 golsAleksander Čeferin uma realidade. Teráaposta menos de 1.5 golsconvencer ligas mais fortes a abrir mãoaposta menos de 1.5 golssua superioridade financeira; terá que impor mais limites aos proprietários-mecenas dos “super-clubes”; e muito provavelmente encontrará uma resistência feroz dos agentesaposta menos de 1.5 golsjogadores, o mesmo segmento que no Caso Bosman elaborou os argumentos jurídicos exitosos na esfera da União Europeia.
Talvez o argumento para essa nova iniciativa já estejaaposta menos de 1.5 golsmãoes. Em 2021, a Comissão Federalaposta menos de 1.5 golsCompetência Econômica do México, autoridade antitruste local, aplicou multa sobre 17 clubes da Liga MX, e mais a Federação Mexicanaaposta menos de 1.5 golsFutebol pelo auxílio prestado, por “práticasaposta menos de 1.5 golsmonopólio absolutas”.
Segundo o órgão, os clubes impuseram teto máximos nos salários das jogadoras, entre 2016 e 2019, aprofundando a disparidade salarial entre homens e mulheres, no que foi configurado como atoaposta menos de 1.5 gols“manipulação dos preços”. Em outro sentido, acusou os clubesaposta menos de 1.5 golssegmentar o mercadoaposta menos de 1.5 golsatletas ao estabelecer um mecanismo que os impediaaposta menos de 1.5 golsnegociar livremente com outras equipes, adotando um “direitoaposta menos de 1.5 golsretenção”.
Um argumento que parece facilmente apropriável pelos principais agentesaposta menos de 1.5 golsjogadores do mundo e suas assessorias jurídicas,aposta menos de 1.5 golsum provável e iminente debate na Europa.
Em outro sentido, a reflexão do Lorde Alan Sugar também merece atenção especial no Brasil. A discussãoaposta menos de 1.5 golsuma nova ligaaposta menos de 1.5 golsclubes se desenrolaaposta menos de 1.5 golsforma conflituosa com foco no modelo a ser adotado para a distrubuição dos direitosaposta menos de 1.5 golstransmissão, mas ainda não atentou para o “efeito sucoaposta menos de 1.5 golsameixa” que essa tão festejada entradaaposta menos de 1.5 golsrecursos pode apresentar. Tema para uma próxima análise.
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