Por Carlos Eduardo Mansur

Jornalista. No futebol, beleza é fundamental

A Seleção já esteve nesse lugar antes, com muito mais frequência do que imaginamos

Reações a derrotas obedecem a padrões, e Vinicius Junior não deve ser a vítima da vez


Jornal O Globo, 25betnacional limite de saquejulhobetnacional limite de saque2001. Dois dias antes, o Brasil perdera para Honduras, partida que decretou a eliminação na Copa América. A seçãobetnacional limite de saqueesportes do jornal tinha, no altobetnacional limite de saquecada página dedicada à cobertura da derrota, um subtópico chamado “Caos no Futebol”. Ex-jogadores, como Vavá, falavambetnacional limite de saque“humilhação” e “faltabetnacional limite de saquerespeito com a Seleção”.

Artigos condenavam a geraçãobetnacional limite de saquejogadores, muitos deles futuros pentacampeões mundiais menosbetnacional limite de saqueum ano depois, entre eles Roque Júnior, Denílson e até Alex, que não foi à Copa mas hoje é lembrado como o grande jogador que foi.

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Embetnacional limite de saquecoluna, o brilhante mestre Fernando Calazans fazia um questionamento que começava a brotar no futebol da época: por que os “dois Juninhos”, Paulista e Pernambucano, não jogavam pela seleção comobetnacional limite de saqueseus clubes?

Nas matérias que pretendiam olhar para o futuro, o maior destaque era a forma como a esperançabetnacional limite de saquesalvação era totalmente depositada na recuperaçãobetnacional limite de saqueRonaldo. O maior astro do futebol do país se recuperavabetnacional limite de saquelesão. Em outra página, uma matéria dizia que “Cotado para voltar, Zagallo apoia Felipão mas não fecha as portas”. Enquanto isso, analistas internacionais garantiam que o mundo “não respeitava mais a Seleção” – campeã sete anos antes, finalista da Copa havia três anos.

Vinicius Juniorbetnacional limite de saqueação contra o Paraguai pelo Brasil — Foto: Daniel DUARTE / AFP

Naquele mesmo diabetnacional limite de saque2001, o Jornal do Brasil convocou ex-jogadores e técnicos para analisar “a tragédia da Seleção”. Até o argentino Carlos Bilardo opinou: “Começo a temer pela classificação do Brasil à Copa”, afirmou. Não faltavam previsões, inclusivebetnacional limite de saquegente do futebol,betnacional limite de saqueque estávamos perto do “fundo do poço”.

Claro que aquela equipe tinha desfalques importantes. Mas é interessante notar como as abordagens à Seleção são cíclicas, repetem-se a cada derrota: a desqualificaçãobetnacional limite de saqueuma geraçãobetnacional limite de saquejogadores, as críticas durasbetnacional limite de saqueex-atletas, o questionamento ao treinador e a tentação para substituí-lo, sem falar na crençabetnacional limite de saqueque um jogador lesionado pode ser o salvador.

Tudo isso para mostrar que já estivemos nesse lugar antes. A sensaçãobetnacional limite de saqueum caos jamais vivido mistura uma justa preocupação com as atuações da Seleção, mas também os exagerosbetnacional limite de saquequem se vêbetnacional limite de saquemeio ao vendaval. A sensaçãobetnacional limite de saquefundo do poço visita o futebol brasileiro com certa frequência, o que mostra que há lições a tirar. Quase nunca a formabetnacional limite de saquesair das crises foi com seguidas revoluções. Quase sempre, era necessário trabalho, mas os diagnósticos eram mais catastrofistas do que o mundo real.

Veja a entrevistabetnacional limite de saqueVini Jr, da Seleção, depois da derrota para o Paraguai

Se voltarmos às avaliações pós-derrota para Hondurasbetnacional limite de saque2001 e aos caminhos que a imprensa visitou à época, Vinicius Junior é o Juninho da vezbetnacional limite de saque2024; Dorival é o Felipãobetnacional limite de saquehoje; e, guardadas todas as proporções, Neymar é o Ronaldo atual.

Vale a pena nos determos na avaliação que se faz dos jogadores atuais. Há um risco sempre que traçamos um cenáriobetnacional limite de saquefalência do futebol brasileiro: a tendência a desqualificar alguns nomes,betnacional limite de saqueespecial aquelesbetnacional limite de saquequem mais se espera. O Brasil tem talentos para construir um time vitorioso, mas é justo admitir que não é a geração com mais extraclasses da história do país. Sendo assim, merece especial atenção Vinicius Junior. O Brasil não estábetnacional limite de saquesituaçãobetnacional limite de saquese dar ao luxobetnacional limite de saquedesprezar o melhor jogador do mundo na última temporada.

Seria repetitivo, e cansativo, elencar novamente argumentos sobre as diferenças estruturais do futebolbetnacional limite de saqueclubes ebetnacional limite de saqueseleções. Mas a volta ao passado permite pensarbetnacional limite de saquecomo seleções coletivamente pouco estruturadas conduziram ao massacre a jogadores talentosos. E, na imensa maioria dos ciclos entre Copas, a seleção brasileira chegou à metade do caminho com pouca estrutura. No caso atual, o problema é agravado pela péssima gestão da CBF desde o Mundial do Catar, o que não elimina a sensaçãobetnacional limite de saqueque, no tempo que teve à frente do time, Dorival Júnior poderia ter construído uma Seleção mais sólida.

O fato é que, no cenário atual, mais do que pensar no contexto favorável que Vinicius tem no Real Madrid, o que se impõe é notar o que ele não tem na Seleção. O maior dos sintomas das carências coletivas atuais tem se manifestado justamente sobre os pontas, isolados perto da linha lateral, quase sempre obrigados a enfrentar um lateral, um volante que venha na cobertura ou um ponta que dobre a marcação. As bolas enviadas a eles são quase uma aposta na solução individual, porque há raríssimos apoios, movimentosbetnacional limite de saqueinfiltraçãobetnacional limite de saqueum lateral que puxe a marcação ou possibilidadesbetnacional limite de saquetriangulações.

Não é um fenômeno exclusivobetnacional limite de saqueVinicius ou da Seleção. Esta mesma discussão já teve o nomebetnacional limite de saqueMessi, por exemplo. É típica do futebolbetnacional limite de saqueseleções atual.

É claro que Vinicius tembetnacional limite de saqueparte, seu deverbetnacional limite de saquecasa por fazer. Há algo intrigantebetnacional limite de saquealgumasbetnacional limite de saquesuas atuações recentes. Este é um jogador que tratou a estreia no Flamengo, aos 16 anos, como um jogo no quintalbetnacional limite de saquecasa; que driblou a desconfiança no Real Madrid pedindo todos os passesbetnacional limite de saqueseu pé e assumindo todas as responsabilidades; que decidiu enfrentar uma sociedade desacostumada a ver um jovem preto contestar os privilégios e a opressão. Mas que parece ansioso para fazer as coisas acontecerem pela Seleção com a frequência com que ocorrem no clube.

E, neste aspecto, a seleção brasileira atual tem outro problema. Aos 24 anos recém-completados, Vinicius Junior é o mais renomado, o mais calejado jogadorbetnacional limite de saqueum ataque extremamente jovem. Na derrotabetnacional limite de saqueAssunção, a Seleção usou, entre titulares e reservas, sete jogadores com menosbetnacional limite de saque25 anos, seis deles no setor ofensivo. Dois, Endrick e Estêvão, nem saíram da adolescência.

Não é verdade que a trajetóriabetnacional limite de saqueVinicius pela Seleção seja apagada. Há atuações muito boas, inclusive na Copa do Mundo do Catar e num jogo contra o Paraguai na última Copa América. Se algo precisa ser feito sobre ele, é criar um ambiente mais propício ao melhor rendimento. Não uma pressão que faça da Seleção um lugar hostil, sufocante. O futebol brasileiro não estábetnacional limite de saquecondiçõesbetnacional limite de saqueesnobar um dos melhores jogadores do mundo.