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Por Douglas Ceconello

Jornalista, um dos fundadores do Impedimento.org, dedicado ao futebol sul-americano

ge.globo — Porto Alegre

Juan Vargas / AFP / Getty

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Pouco depoisa bola deixarrolar, um trecho próximo à Avenida del Libertador estava transformadopraçaguerra. Dezenascomércios haviam sido depredados e saqueados, bem como estavam destroçados maiscem veículos particulares. Também foram danificadas residências e entradasedifícios. Muitos envolvidos acabaram feridos, outros tantos foram presos. Parecia alguma cotundente mobilização popular, mas era muito mais que um cacerolazo porteño: no lugar da economia falida e da poupança perdida, a ruína do orgulho. E a bola não havia deixadorolar por vontade própria, pois a partida havia sido encerrada antes do tempo normal devido à faltasegurança. Ao fundo do cenário, o MonumentalNúñez ainda fumegava devido às chamas ateadas pela própria torcida. Algumas horas depois, já madrugada, um desnorteado e embriagado jovem23 anos cometia suicídio ao se lançar nos trilhos da estação Martín Coronado, na Grande Buenos Aires. À tarde, ele havia testemunhado, na arquibancada, o rebaixamento do River Plate.

A história da retumbante queda do River Plate, que hoje completa dez anos, começou com um título. No Clausura2008, o River treinado por Cholo Simeone conquistava o campeonato e, seis meses depois, pela primeira vezmaisum século, acabariaúltimo na tabela. O técnico pediu demissão, mas a terrível campanha teria consequências macabras -- a queda na Argentina já se definia pelo sistemaPromedios, que considera a somapontos nas últimas três temporadas. Como se não bastasse, o presidente que chegava, o ídolo Daniel Passarella, levando mais fé no sobrenome do que na realidade, resolvera comprar briga com ninguém menos que Julio Grondona. O fiasco estava desenhado, mas ninguém ousava acreditar: o River Plate na segunda divisão era uma utopia que nem os mais fanáticos torcedores do Boca se permitiam imaginar.

Mas os fracassos se acumularam nos campeonatos seguintes e eis que chegou aquele confronto contra o Lanús,18junho2011. Ao serem derrotados pelos granates por 2 a 1,pleno MonumentalNúñez, os millonarios se viam obrigados a disputar a Promoción contra o Belgrano, um dos destaques da segunda divisão. Aos grandes, sempre uma última chance: mesmo17º, o River Plate tinha a chancese manter na elite, e ainda contava com a vantagemdois placares iguais. Por desesperada ironia, a partida contra o Lanús teve como árbitro Pablo Lunati, que é torcedor assumido do River Plate, hoje com tatuagem e tudo. Logo após apitar o fim do jogo, ele desabafou com um amigo, ainda nos corredores do Monumental: "Nos estamos yendo a la B!".

Se um torcedor que tem o podercarregar o apito estava desesperado, o que dizer dos simples mortais. A primeira partida do duelo crucial contra o PirataCórdoba, no GiganteAlberdi, reservou a quase determinante derrota2 a 0, com direito a torcedores do River Plate invadindo o campo para intimidar seus próprios jogadores, mas, sobretudo, permitiu ao mundo conhecer Santiago "Tano" Pasman, que pode muito bem receber a alcunhaTorcedor do Século. A família decidiu gravá-lo enquanto assistia ao jogo com a intençãomostrar-lhe que aquela desmesura era um perigo: qualquer dia o amoroso pai e pacífico vizinhoBella Vista capotaria morto pelo River Plate. Mas eis que um amigo muy amigo resolveu subir o vídeo no YouTube e estava feito o estrago: quase sete minutosimprecações contra tudo e contra todos, com uma enxurradapalavrões que não poupava nem o desgraçado do pai "que me fez torcedor do River" ealgum momentotranstorno gritava por "Isabel!", que até hoje ninguém na família sabequem se trata. "Noooooooooooooooooo! Estamos en la B!", gritava o porta-voztodos os millonarios no momento mais dramático da película caseira.

Nenhum dos cinco filhos tomou a iniciativagravar as reações do pacífico ainda que furibundo Tano Pasman no jogo da volta, no MonumentalNúñez, mas depois revelaram que ele passou grande parte da tarde chorando. E não era pra menos. Quem não nasceu da pedra entende. Mesmo com os nervos fritos, o time do River Plate esmagou o Belgrano no primeiro tempo. Marcou o primeiro gol, atravésMariano Pavone, logo aos cinco minutos, e fez do arqueiro Juan Carlos Olave praticamente um mártir cordobês. Era tudo questãotempo, pensavam os millonarios e também algum diabo vestidoazul y oro. No intervalo, o juiz Sergio Pezzotta, conforme ele mesmo relatou na súmula, acabou embretado por integrantes dos Borrachos del Tablón, a barra-brava do River Plate. "Se não marcar um pênalti pra gente, vamos te matar." Depois, algumas imagens mostrariam pessoas ligadas à dirigência do River,confiança do próprio Passarella, facilitando o acesso dos barras ao vestiário da arbitragem.

Estrangulado pela iminência do fiasco histórico, o River Plate não foi o mesmo no segundo tempo, tanto que aos 16 minutos sofreu o golempate do Belgrano, com o meio-campista Guillermo Farré aproveitando o delírio da zaga millonaria. Talvez por instintosobrevivência, após ignorar um pênalti claro para os locais na primeira etapa, o árbitro Sergio Pezzotta apontou a marca da cal para o River, pouco depois do empate cordobês, mas Pavone cobrou com a convicçãoum cavalo cego para consagrar novamente o arqueiro Olave. Eram 25 mintos do segundo tempo, o timeNúñez continuava precisandodois gols para evitar o maior vexamesua secular trajetória e a ampulheta da desgraça corria pelo norteBuenos Aires como se fosse Juan Manuel Fangio. Não havia mais escapatória e, aos poucos, o Monumental começou a pegar fogo. Os ritosdesapego mais traumáticos às vezes têm disso.

Transformadoalgoz da tradição, o ex-ídolo e presidente Daniel Passarella recebeu ameçasmorte, mas afirmou que só deixaria o River "con los pies para adelante". Ou morto, no caso. Não há orgulho maior do que o do perdedor. Como no casoum grupotorcedores, que dias depois lançou a ideiaque o River Plate deveria disputar a segunda divisão não com a tradicional banda roja atravessada no peito, mas com uma faixa negra,sinalluto, porque "la camiseta no desciende". Uma bobagem, é claro, mas uma bobagem comovente. O veterano atacante César "Picante" Pereyra, aliás, é especialistadesmontar o orgulho alheio: era atacante do Belgrano que rebaixou o River, fez até gol no primeiro jogo, e depois também fez sucumbir o Danubio, no Uruguai, meses atrás, episódio menos midiático mas bastante expressivo. "El Picante" não despreza a chancefutricar na almaNúñez: é torcedor do Boca, logo jogou a vida para rebaixar o River. A curiosa nota cromática é que, se a ideia dos torcedores negacionistasNúñez tivesse sido levada adiante, a camiseta teria ficado igual à do Danubio, rebaixado uma década depois. A história sempre lhes espera, muchachos.

Dos considerados clubes grandes argentinos, apenas o Boca Juniors nunca foi rebaixado -- além do River Plate, também San Lorenzo, Racing e Independiente já excursionaram pelos mais nobres recantos do país. Depoisjunho2011,Buenos Aires era comum olharlonge uma camisa xeneize com o número ZERO estampado. Aproximando-se, ficava possível pecerber que abaixo do dígito, jamais escolhido por nenhum jogador, estava a palavra descensos. Uma questãoorgulho revanchista. Depois da queda, o River Plate passou a viver talvez o melhor momentosua história. Conquistou maisdez títulos, inclusive duas Libertadores, e fez o Boca Juniorsgato e sapato. Na semifinal da Sul-Americana,2015, o admirável Tano Pasman sofreu uma isquemia cerebral, ficou um dia internado, e antes da insólita contenda libertadoraMadrid, três anos depois, fez questãorealizar um exame completo para ver se o millonario coração estava na ponta dos cascos, ou se pelo menos aguentava um trote a mais.

Houve muita felicidade no lado riverplatense da vida depois daquela tardeMonumental incendiado, mas que os médicosTano Pasman não se descuidem, pois uma evidência jamais poderá ser apagada: o River pode voltar a ganhar mais catorze Libertadores, pode jogar e vencer outra decisão continental contra o maior rival, sejaLa Boca ouZurique, mas nunca mais deixaráter sido rebaixado. É dessas coisas que não se desfazem. Que levamos para a vida, como a própria sombra.

Footer blog Meia Encarnada Douglas Ceconello — Foto: Arte

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