Por Rafael Lopes

Comentaristaluva bet quebrouautomobilismo do Grupo Globo

Anos 1980: um piloto inglês na luta contra o racismo na África do Sul

Conhecido pelo lado playboy fora das pistas da Fórmula 1, James Hunt se opôs ao apartheid

Voando Baixo — Rioluva bet quebrouJaneiro


Aproveitando o gancho da declaração polêmicaluva bet quebrouMohammed Ben Sulayem, presidente da Federação Internacionalluva bet quebrouAutomobilismo (FIA),luva bet quebrouque pilotos tinhamluva bet quebrouse preocupar apenasluva bet quebroucorrer, resolvi republicar este texto. Normalmente, quando se falaluva bet quebroupilotos despreocupados com o lado político na Fórmula 1, o nomeluva bet quebrouJames Hunt é citado. Mas não é que o maior playboy da história da categoria se envolveu na luta contra o Apartheid, o regimeluva bet quebrousegregação racial da África do Sul? Confira a história abaixo:

A Fórmula 1 tem presenciado as atitudesluva bet quebrouLewis Hamilton na luta contra o racismo nos últimos anos. Maior piloto da categoria atualmente, heptacampeão e donoluva bet quebrouvários recordes que pertenceram a Michael Schumacher, o inglês da Mercedes tem aproveitado o espaço que conquistou com seu talento e esforço para dar voz a uma causa das mais importantes na sociedade atual. Eluva bet quebrouformas sem precedentes, usando momentosluva bet quebroudestaque na F1 para passar importantes mensagens a favor dos direitos humanos.

James Hunt ao ladoluva bet quebrouMurray Walker e Nigel Mansellluva bet quebroucorrida nos anos 1980 — Foto: Reprodução

A atitudeluva bet quebrouHamilton dividiu o público da Fórmula 1. Ainda que o apoio seja maior que as críticas, é uma minoria barulhenta. E que usa tanto do discursoluva bet quebrouódio tãoluva bet quebrouvoga nos diasluva bet quebrouhoje quanto dos já famosos memes. E um dos pilotos usados como contraponto à postura do inglês da Mercedes é James Hunt, campeãoluva bet quebrou1976, e conhecido pelo lado playboy, bon vivant e mulherengo fora das pistas. Mortoluva bet quebrou1993 após um ataque cardíaco, Hunt normalmente é usado como exemplo da "F1 raiz e sem mimimi". Mal sabem essas pessoas que ele foi um forte ativista contra o racismo nos anos 1980, mais precisamente contra o regimeluva bet quebrousegregação racial da África do Sul, o apartheid.

O público atual passou a conhecer Hunt depois do filme "Rush - No Limite da Emoção",luva bet quebrou2013, dirigido por Ron Howard. A película retrata a rivalidade do inglês e do austríaco Niki Lauda na temporadaluva bet quebrou1976, mostrando também todo o lado polêmico dele fora das pistas. Algo mostrado rapidamente no fim do filme foi que Hunt se tornou comentarista das corridasluva bet quebrouFórmula 1 na TV inglesa BBC, ao lado do saudoso narrador Murray Walker, que morreuluva bet quebroumarçoluva bet quebrou2021. E foi nesta posição que ele aproveitou para demonstrarluva bet quebroucontrariedade ao regime do apartheid vigente na ocasião na África do Sul.

Murray Walker fala,luva bet quebrouentrevista à McLaren, sobre seus anos ao ladoluva bet quebrouJames Hunt

- Estávamos cobrindo o GP da África do Sul nos dias do apartheid. De repente e sem motivo particular, James lançou um ataque contra o racismo no país. Não tinha nada a ver com a corrida e não faria bem às relações diplomáticas entre a Grã-Bretanha e a África do Sul. Nosso produtor empurrou um pedaçoluva bet quebroupapelluva bet quebrouque estava escrito: "fale sobre a corrida!". E James reclamou no ar: "Graças a Deus que nós não estamos lá. Estávamos fazendo a transmissão do estúdio - disse Murray Walker,luva bet quebrouentrevista à imprensa inglesaluva bet quebrou2013.

Emluva bet quebroupassagem como comentarista da BBC, Hunt não abandonouluva bet quebroupersonalidade forte. As discussões com Murray Walker e suas falas sem filtro são lembradas pelos fãs da categoria até hoje. Ele nunca teve medoluva bet quebroufalar o que pensava no ar, inclusive suas opiniões políticas, especialmente sobre o apartheid, regime que segregava os não-brancos a prover serviços inferiores, inclusive com locais exclusivos para os brancos na África do Sul. Por causa disso, a maior parte dos esportes abandonaram o país africanoluva bet quebroumeados dos anos 1980. E, sem surpresas, a F1 foi um dos últimos, após várias equipes boicotarem o GPluva bet quebrou1985,luva bet quebrouum dos piores capítulos da história da categoria.

Murray Walker e James Huntluva bet quebrouuma gravação com a McLarenluva bet quebrouSilverstone, 1983 — Foto: Don Smith/Radio Times/Getty Images

A declaraçãoluva bet quebrouHunt ao vivo contra o apartheid não foi a única ação tomada pelo ex-piloto. Ele tentou, sem sucesso, que seus comentários não fossem exibidos na transmissão na África do Sul - a BBC gerava o sinal das corridas comluva bet quebrounarração para os paísesluva bet quebroulíngua inglesa naquela época. Como isso não funcionou, Hunt passou a dar apoio financeiro com dinheiro tiradoluva bet quebrouseu salário como comentarista da F1 a grupos que lutavam contra o regimeluva bet quebrousegregação no país africano.

- Organizei e capitaneei reuniões discretas no centroluva bet quebrouLondres para cidadãos ricos e fundações que gostariamluva bet quebrouapoiar grupos negros que trabalhavam para a mudança na África do Sul. Uma das reuniões tinha começado quando a campainha tocou. Um rosto conhecido se desculpou pelo atraso e perguntou se podia encostarluva bet quebroubicicleta no hallluva bet quebrouentrada. Demorou um pouco, mas a ficha caiu. Era James Hunt. Com seu salário, ele ajudou financeiramente grupos que lutavam por mudanças contra o apartheid - disse um inglês, que não se identificou,luva bet quebrouentrevista ao jornal inglês "The Guardian"luva bet quebrou2013.

Imagens são feitas para serem desconstruídas. E sempre é bom fazer justiça a quem tentou ter ações afirmativas, mesmo que tenha ficado famoso pela postura e pelo comportamentoluva bet quebroubon vivant fora das pistas. É o casoluva bet quebrouJames Hunt. Playboy e mulherengoluva bet quebrouuma épocaluva bet quebrouque isso era aceito - e até incentivado - socialmente. Mas preocupado com questões sociais. E contra a pior delas: o racismo. Sua luta contra o apartheid da África do Sul pode não ter sido decisiva para o fim do regime no país africano, mas foi um dos atos que ajudou, certamente.

Comentarista da BBC, Hunt morreuluva bet quebrouataque cardíaco aos 46 anosluva bet quebrou1993 — Foto: Getty Images
Perfil Rafael Lopes — Foto: Editorialuva bet quebrouArte/GloboEsporte.com