Por Rafael Lopes

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Segurança na F1: sobre circuitos, isotônicos, brincos e piercings

Desde o fatídico fimcasa mais cassinosemanacasa mais cassinoImolacasa mais cassino1994, item virou prioridade na Fórmula 1. Mas medidas e atitudes recentes da FIA levantam questionamentos sobre intenções da entidade

Voando Baixo — Riocasa mais cassinoJaneiro


A segurança na Fórmula 1 foi um tema negligenciado por décadas. Desde os anos 1950, quando a categoria foi criada, nada menos que 46 pilotos morreramcasa mais cassinocorridas e testes. 98% dos acidentes fatais na categoria, contudo, aconteceram até o fatídico fimcasa mais cassinosemanacasa mais cassinoImola,casa mais cassino1994. A única vítima depois deste período foi o francês Jules Bianchi, no famoso acidente com a gruacasa mais cassinoSuzuka-2014 - morreria nove meses depois,casa mais cassinodecorrência dos graves ferimentos na cabeça. A F1 sofreu uma revoluçãocasa mais cassinotermoscasa mais cassinosegurança nos últimos 28 anos. Mas,casa mais cassinouns anos para cá, parece ter regredidocasa mais cassinovários aspectos, principalmente na homologaçãocasa mais cassinocircuitos. Por isso me causa espanto o endurecimento da políticacasa mais cassinousocasa mais cassinojoias estabelecido pela Federação Internacionalcasa mais cassinoAutomobilismo (FIA) na temporada 2022. Não à toa está gerando muita polêmica.

Esteban Ocon bateu forte no último treino livre e não participou da classificaçãocasa mais cassinoMiami — Foto: Jared C. Tilton/Getty Images

Desde 1994, tivemos várias medidascasa mais cassinosegurança adotadas nos circuitos. A mais visível delas foi a ampliação das áreascasa mais cassinoescape, que chegaram a ser comparadas a estacionamentoscasa mais cassinosupermercado, pelo enorme tamanho. As barreirascasa mais cassinopneus foram alteradas, novas tecnologias adotadas nos muros (as barreiras TecPro) e as zebras deixaramcasa mais cassinoser rampascasa mais cassinolançamento. Só que esses padrões parecem ter sido abandonadoscasa mais cassinoalguns anos para cá. E acho que o exemplo mais emblemático foi a homologação do Jeddah Corniche Circuit para a Fórmula 1, aquele que foi vendido como o mais rápido circuitocasa mais cassinorua. E também o mais inseguro, recheadocasa mais cassinopontos cegos e quase sem áreascasa mais cassinoescape. Outra polêmica:casa mais cassinoMiami, no último fimcasa mais cassinosemana, Carlos Sainz e Esteban Ocon bateram forte no muro das curvas 14 e 15, com impactoscasa mais cassino47G e 51G, respectivamente. Os pilotos pediram a colocaçãocasa mais cassinouma TecPro no trecho e foram solenemente ignorados pela FIA.

Carlos Sainz bateu forte no segundo treino livrecasa mais cassinoMiami e ficou com dores no pescoço — Foto: Mark Thompson/Getty Images

Outra questão: com o novo regulamento, a adoção do efeito-solo na temporada 2022 e do limitecasa mais cassinogastos na Fórmula 1, várias equipes estão com seus carros acima do peso mínimocasa mais cassino798 kg. E estão fazendocasa mais cassinotudo para "emagrecer" os modelos. Já vimos a retirada da pintura das carenagens, deixando apenas a fibracasa mais cassinocarbono crua exposta. Até aí, tudo bem. Não compromete os carros, os times apenas arrumam problemas com seus patrocinadores. Mas, como já era esperado, a reduçãocasa mais cassinopeso foi além. Ecasa mais cassinoMiami, passou a afetar a segurança dos pilotos. Após a corrida, Daniel Ricciardo confirmou que correu sem os três litroscasa mais cassinobebida isotônica que normalmente são colocados para hidratar os pilotos. Preocupação da McLaren com o peso do carro. E para isso, expôs seus pilotos ao riscocasa mais cassinodesidrataçãocasa mais cassinouma corridacasa mais cassinoum ambiente quente e úmido. Sobre isso, nenhuma palavra da FIA.

Daniel Ricciardo revelou que disputou o GPcasa mais cassinoMiami sem a bebida isotônica no carro para diminuir peso — Foto: Mark Thompson/Getty Images

E dá para falarcasa mais cassinopreocupação com a segurançacasa mais cassino2022 na Fórmula 1? Anocasa mais cassinoque a categoria correu a dez quilômetroscasa mais cassinoum ataque terrorista na sexta-feiracasa mais cassinotreinos livres para o GP da Arábia Saudita,casa mais cassinoJeddah. As atividades não foram paradas, no máximo atrasadascasa mais cassino20 minutos por causacasa mais cassinouma reunião com chefescasa mais cassinoequipe e pilotos. Depois, após uma longa reunião, todos foram "convencidos" a correr, sob penacasa mais cassino"terem dificuldadescasa mais cassinodeixar o país"casa mais cassinocasocasa mais cassinocancelamento do evento. Em um circuitocasa mais cassinorua já inseguro por si só, correr sob o riscocasa mais cassinoserem alvoscasa mais cassinobombas não despertou nenhuma preocupaçãocasa mais cassinosegurança na FIA. Os pilotos tiveramcasa mais cassinose mexer para tentar algo, ainda que sem sucesso.

Fumaçacasa mais cassinoatentado na Arábia Saudita vista do Circuitocasa mais cassinoJeddah durante o primeiro treino livre — Foto: Intel Omarion

casa mais cassino A hipocrisia na regra das joias

Lewis Hamilton ao ladocasa mais cassinoPierre Gasly na coletivacasa mais cassinosexta-feira do GPcasa mais cassinoMiamicasa mais cassinoFórmula 1 — Foto: Jared C. Tilton/Getty Images

Por tudo isso, colocar tolerância zero no usocasa mais cassinojoias pelos pilotos é uma enorme hipocrisia da FIA. Uma regra que existe desde 2005 e que nunca foi colocadacasa mais cassinoprática. O que mudoucasa mais cassinotrês meses para cá? Como bem disse Sebastian Vettel na coletiva da última sexta-feiracasa mais cassinoMiami, parece algo endereçado para afetar Lewis Hamilton que sempre usou brincos e um piercing no nariz que não pode ser removido. Ambos feitoscasa mais cassinoplatina, que não é um metal magnético, e que nunca representaram problemascasa mais cassinosegurança para o heptacampeão nos poucos acidentes que sofreu.

Por isso, na coletiva da última sextacasa mais cassinoMiami, Hamilton apareceu com várias correntes, anéiscasa mais cassinoquase todos os dedos e três relógios. Um protesto contra a medida da FIA, que deu um prazo até o GPcasa mais cassinoMônaco para que o inglês retirasse o piercing do nariz. Coisa que o heptacampeão já disse que não fará. Para completar a hipocrisia da medida, a entidade liberou que os pilotos usassem aliançascasa mais cassinocasamento dentro dos carros, durante as corridas. Oras, por que então proibir brincos e piercings e permitir alianças? Não seria um riscocasa mais cassinosegurança da mesma forma?

Romain Grosjean escapou praticamente ilesocasa mais cassinoacidente assustador no GP do Bahreincasa mais cassino2020 — Foto: Reprodução/FOM

"Ah, mas imagina se Romain Grosjean estivesse usando joias no acidente do Bahreincasa mais cassino2020? Quais seriam as consequências?", foi um argumento muito usado na semana passada. A FIA até teria descoberto issocasa mais cassinoum estudo conduzido sobre o incêndio. Pois é. O próprio piloto deu uma entrevista dizendo que estava usando relógio e a aliançacasa mais cassinocasamento dentro do carro da Haas. E, pasmem, as joias não pioraram as queimaduras. Pelo contrário: foram lugares do corpocasa mais cassinoGrosjean que não foram afetadas pelas chamas. Ou seja: argumento furadíssimo.

O que me parece é que esta é mais uma medida alinhada àquela da proibição dos protestos políticos no pódio. Depois que Hamilton no GP da Toscanacasa mais cassino2020,casa mais cassinoMugello, usou uma camisetacasa mais cassinoprotesto contra a mortecasa mais cassinoBreonna Taylor nos Estados Unidos - com a anuência da Mercedes, diga-secasa mais cassinopassagem - a FIA resolveu proibir que os pilotos usassem qualquer coisa diferente do macacão na cerimôniacasa mais cassinopremiação. Tudo para cercear a liberdadecasa mais cassinoexpressão dos artistas do espetáculo. Dois pilotos seguem batendocasa mais cassinofrente com a entidade: justamente Hamilton e Sebastian Vettel, que continuam a fazer seus protestos nos GPs sem muito medo das possíveis consequências.

Lewis Hamilton levanta o troféu no pódiocasa mais cassinoMugello com a camisetacasa mais cassinoprotesto contra a mortecasa mais cassinoBreonna Taylor — Foto: Jenifer Lorenzini - Pool/Getty Images

E, para encerrar, qual a moral da FIA para falar sobre cumprimento estritocasa mais cassinoregras depois do absurdo visto no GPcasa mais cassinoAbu Dhabi do ano passado? O regulamento esportivo foi rasgado por Michael Masi, que teve interferência direta no resultado da corrida e do campeonato. Tudo isso admitido pela entidade após uma longa investigação que só teve seus resultados anunciadoscasa mais cassinofevereiro deste ano. Outra consequência: o australiano diretorcasa mais cassinoprovas da F1 foi afastado do cargo depoiscasa mais cassinotoda a patacoada ocorrida na decisão do último campeonato.

Repito: que moral tem a FIAcasa mais cassinocobrar o cumprimentocasa mais cassinouma regra tão desnecessária depoiscasa mais cassinorasgar o próprio regulamento da categoria na decisão do campeonatocasa mais cassino2021? Enfim, a hipocrisia.

Sebastian Vettel e Lewis Hamilton com suas camisetascasa mais cassinoprotesto antes do GP da Arábia Sauditacasa mais cassino2021 — Foto: Andrej Isakovic - Pool/Getty Images
Perfil Rafael Lopes — Foto: Editoriacasa mais cassinoArte/GloboEsporte.com