Jogadores denunciam rotinabet esatrasos salariais no Santos e-Sports

Atletasbet esLoL, Rainbow Six, CS:GO e Free Fire, streamers e outros profissionais relatam queixas sobre salários atrasados e pagosbet esparcelas, problemasbet esinfraestrutura e pressões internas; reclamações começam a chegar à Justiça

Por Gabriel Oliveira — São Paulo


Reclamações trabalhistas e sobre infraestrutura não são exclusividade dos jogadores que processam o Santos e-Sports na Justiça. Atletasbet esdiversas modalidades, streamers e outros profissionais têm uma sériebet esqueixas contra a Select, a empresa responsável por administrar a divisãobet esesportes eletrônicos do Santos. Os problemas, principalmente os constantes atrasosbet essalários, mancharam a imagem da equipe nos bastidores dos esports no Brasil e estão detalhados abaixo, conforme apuração do ge.

A faltabet esdinheiro para pagar as remuneraçõesbet esdia era admitida abertamente aos contratados por Leonardo Di Prado, o dono e CEO da Select, que assinou,bet es2018, contratobet eslicenciamentobet esmarca para administrar o Santos nos esports. O contrato está sendo encerrado, conforme revelou o Blog do Chandy.

A Select não nega as dificuldades financeiras,bet esresposta ao ge, como principal justificativa para os atrasos e diz estar trabalhando para "solucionar pendências", mas sustenta que "existem distorções da realidade que objetivam apenas prejudicar a imagem da empresa". Já o Santos informa ter ciência das acusações e estar reavaliando a parceria com a Select. As respostas completas estão no fim da reportagem.

Escudo do Santos e-Sports — Foto: Reprodução/YouTube

Um dos processos que o ge já revelou estarbet esandamento na Justiça do Trabalho ébet esGabriel "Hawk", que jogou pelo Peixe na temporada 2020bet esLeague of Legends e que cobra, entre outras coisas, R$ 3 milbet essalário que deixoubet esser pago quando da saída dele do clube. Mas há muitos outros casos.

Um ex-jogador do timebet esLoL, que pediu anonimato, conta que tinha salários e prêmiosbet esuma competiçãobet esatraso quando saiu. Ele abriu mãobet esparte desse dinheiro para ser liberado e negociado, recebendo o que lhe era devido tempos depois.

— Na época, eu aceitei receber menos do que deveria para me livrar dessa dorbet escabeça logo, pelo medobet esjustamente ficar sem time — relata o atleta.

— O Leonardo era honesto conosco: "estamos sem caixa". Nas primeiras vezes, dava para entender. Mas ele sempre falava: "tal dia vai entrar dinheiro e vocês vão receber". Foram meses assim, sem recebermos salário, porque chegava o dia e o Leonardo dava outra data.

Outro atletabet esLoL narra, também sob anonimato, que saiu do Santos com três salários e bonificaçõesbet esaberto e só recebeu o dinheiro a partirbet esdois meses depois.

Tem contratados que passaram bem mais tempo sem salário. O caso mais emblemático é o dos sul-coreanos Jin-soo "Jackpot" e Soo-gi "Rainbow", que jogaram pelo timebet esLoL do Santos na temporada 2020. Eles não tinham conta bancária no Brasil por questões burocráticas e recebiam a remuneraçãobet esdinheiro vivo, conforme pediam à direção da Select. Mas o dinheiro deixoubet esser pagobet escerto momento,bet esuma inadimplência com mesesbet esduração, segundo duas fontes com conhecimento do assunto.

Jackpot disse ao ge que não poderia comentar o tema por questões contratuais. Já Rainbow não respondeu. O agente deles não quis se manifestar, limitando-se a informar que o assunto estava sendo tratado por um advogado.

bet es Salários picotados e cobrança por gaming house

Além dos atrasos constantes, os salários eram pagosbet esparcelas, segundo contaram jogadoresbet esRainbow Six.

— Desde o primeiro mês não recebíamos o saláriobet esdia. Eram sempre 50%, masbet esnenhum dos meses era no dia certo ou 100% do salário na conta. Geralmente os 50% eram pagos com dez diasbet esatraso e os outros 50% no dia do vencimento do próximo salário, ou seja, cercabet es30 dias do salário vencido — relata um atleta que passou pelo Santos entre 2020 e 2021 e pediu anonimato, acrescentando que,bet estodos os meses, os contratados precisavam cobrar a direção, o que causava desgaste interno.

Os atletas também reivindicavam uma gaming house onde pudessem morar e treinar,bet esSão Paulo. Eles eram contra trabalharbet esgaming office, disponibilizada pela Select, alegando problemas nesse modelobet esequipes anteriores e incerteza quanto à moradia, já que, trabalhandobet esescritório, eles teriambet esdormirbet eshotel ou hostel no auge da pandemia. E precisariam se bancar sem estarem recebendo os saláriosbet esdia.

Competindo a partirbet esdiferentes cidades, os jogadores só foram reunidos por ordem da Ubisoft, a desenvolvedora do Rainbow Six e organizadora do cenário competitivo, depoisbet esum dos atletas ter quedas na internet durante uma partida no Brasileirão que, por conta do problema, precisou ser reiniciada diversas vezes. Eles foram enviados para o escritório da Redemption na época, porque os computadores do escritório do Santos, segundo o jogador, não rodariam o Rainbow Six para jogosbet esalto nível.

— Foram duas semanas reunidosbet esSão Paulo, e esse tempo no escritório foi a melhor fase que tivemos dentro da organização, mesmo que ainda existissem atrasos salariais todos os meses — aponta outro ex-jogador, que igualmente pediu anonimato. O time se hospedoubet esum apartamento próximo ao escritório.

Em nota ao ge, a Ubisoft confirmou que cobrou providências do Santos e-Sports quanto à infraestrutura disponibilizada à equipebet esRainbow Six:

— Após acontecerem sucessivos contratempos com a infraestrutura dos jogadores do Santos e-Sports, que prejudicavam o time e a própria competição, recomendamos que a organização tomasse providências para solucionar estes problemas. É importante destacar que o contrato do R6 Share prevê,bet esacordo com o tier das competições que a equipe disputa, uma sériebet escuidados com os jogadores. Se esses cuidados não forem cumpridos, a organização pode perder o benefício. Por isso alertamos o Santos naquela oportunidade, com o objetivobet esevitar mais problemas para os atletas e a organização — explicou a desenvolvedora e organizadora dos campeonatos oficiais.

Na janelabet estransferências para 2021, a equipe desejava ser negociada com a Team One, que estavabet esbuscabet esnovo elenco, mas o negócio não aconteceu. Depois disso, o CEO da Select, segundo relatobet esum ex-jogador, fez reuniões com os atletas para dizer que, por conta do episódio, haveria demissões, mas que o distrato seriabet es"comum acordo", sem pagamentobet esnenhuma verba rescisória. Na ocasião, havia dinheirobet essalários e premiaçõesbet esaberto.

— Falamos com a Ubisoft tudo o que passamos: perseguições, chantagens e problemas que afetavam diretamente nosso desempenho. A Ubisoft pediu um dossiêbet estudo que falamosbet esseis horas. Viramos a madrugada fazendo e provando tudo no documento. Mas, a Ubisoft ficou a favor do Santos, eu acho que por motivos contratuais. Fomos retirados da equipe.

— Só tivemos os pagamentos totalmente quitados já fora da organização, no mêsbet esmaiobet es2021 — relata um dos jogadores entrevistados.

Ao ge, a Ubisoft declarou que, ao tomar conhecimento dos problemas que aconteciam entre jogadores e organização, contatou os atletas e o CEO do Santos e-Sports para solicitar informações e auxiliar na busca por soluções "que fossem satisfatórias para todos os envolvidos".

— Permanecemosbet escontato até o momentobet esque foi estabelecido um acordo entre as partes para o pagamentobet estodas as dívidas que a organização tinha com os atletas — disse a empresa.

bet es Dermatitebet esalojamento

Depois da saída desse time,bet esmarçobet es2021, o Santos e-Sports contratou novos jogadoresbet esRainbow Six, entre eles Nicolas "destiny", que também está processando a Select e o clube na Justiça do Trabalho. Logo que entraram, os atletas ficarambet esum alojamento onde destiny diz ter adquirido dermatite, uma doençabet espele que o incomoda até hoje e para a qual precisabet estratamento. Na ação judicial, o jogador pede a reintegração à organização para ter as despesas médicas com a dermatite bancadas pela Select e pelo Santos, alémbet esindenização por danos morais e pensão vitalíciabet esrazãobet esuma suposta incapacidade para o trabalho causado pela enfermidade.

Segundo relataram ex-jogadores, a estrutura no hotel seria provisória, mas acabou perdurando por maisbet esdois meses pela dificuldadebet esse conseguir um apartamento durante a pandemia. O local era simples e longe da gaming office. Todos os dias, os jogadores pagavam Uber com o próprio dinheiro e depois esperavam pelo reembolso. Eles dizem que os reembolsos eram pagos, mas que havia um limitebet eschamadasbet esUber por dia.

Com a nova equipe, os atrasosbet essalário continuaram ao longobet es2021. Um ex-jogador sustenta que o time chegou a passar quatro meses sem remuneração, o que, na visão dele, prejudicou a performance no Brasileirãobet esRainbow Six.

— A maioria tinha contas para pagarbet escasa para ajudar a família, e morarbet esSão Paulo não é nada barato. Jogar uma temporada inteira [split do Brasileirão] sem receber nada dá uma desmotivada, mesmo que seja inconscientemente — disse o atleta, que requisitou ter a identidade preservada.

bet es Perdão da dívidabet estrocabet esliberação

Os atrasosbet essalário erambet espraxe na organização ebet esconhecimentobet esjogadores e treinadores nos bastidores do cenário brasileirobet esesports.

— Entrei no time muito pela line, pois eu sabia que era muito boa. Fiquei com pé atrás com relação à organização, que tem uma fama bem ruim, mas entrei pensando na oportunidadebet esmostrar meu trabalho e crescer no cenário. No começo estava até tranquilo, o salário sempre atrasou, mas eram no máximo 15 dias, depois começou ficar muito ruim. Meu salário atrasou três meses e vencemos diversos campeonatos, mas não pagaram as premiações — relata um ex-jogadorbet esCounter-Strike: Global Offensive (CS:GO) do Santos e-Sports que pediu para não ter a identidade revelada.

— No iníciobet esjulho nos mandaram para casa. Neste momento eu já não estava aguentando mais pela situação do time, pelos atrasos e pelo abandono da organização, sem nenhuma motivação para continuar. Fui pedir para o Leonardo me pagar e rescindir o contrato. Obviamente ele não queria me pagar. Como eu assinei o contrato, estava amarrado. Então fizemos um acordobet esque eu deixavabet esreceber salários e premiações — conta o atleta.

Outro ex-jogador do timebet esCS:GO relata anonimamente que, ao receber uma propostabet esuma equipe, também abriu mãobet esum mêsbet essalário ebet esreembolsobet esalimentação para ter uma negociação facilitada. Esse expediente era praxe no Santos e-Sports: os jogadores acumulavam atrasosbet essalário e, se quisessem deixar a equipe, a organização usava essas pendências como compensação pela saída.

— Vi que isso aconteceubet estodos os casosbet essaída do Santos, os jogadores que queriam sair abriam mãobet esreceber o que estava pendente. Como eu queria sair, eu procurei fazer o que podia pra sair o mais rápido possível — relata esse jogador.

Um outro atletabet esCS:GO conta que a rescisão, com valoresbet essalário e premiações, demorou a ser paga.

bet es Streamers e técnicobet esFree Fire na Justiça

Até streamers contratados pela Selectbet es2021 acusam a empresabet esinadimplência. Dois deles, representados pelo mesmo advogado, entraram na Justiça do Trabalho contra a companhia e o próprio Santos. Os detalhes foram obtidos pelo ge com exclusividade.

Victor "felixzera" alega,bet esprocesso judicial, nunca ter recebido os R$ 4 milbet essalários supostamente prometidos durante três mesesbet esque trabalhou no Santos e-Sports e quer que seja reconhecido o vínculo empregatício dele com a equipe nesse período. Ele assinou contrato com a Selectbet essetembro e saiubet esnovembrobet es2021. O valor da causa no processo ébet esR$ 27.411,88 - correspondentes a todas as verbas requisitadas pelo streamer, mas que não necessariamente serão concedidas pela Justiça quando houver a sentença no processo.

Jhonatan "Jhonatank3" entroubet esjunhobet es2021 para ser streamer do Santos e-Sports e aponta, tambémbet esação judicial, que igualmente está com remuneraçõesbet esaberto. Ele alega que só recebeu R$ 260,66bet essetembro e nada mais, tendo direito, portanto, a R$ 19.793,34bet essalários até a saída da equipe,bet esnovembro. O valor total da causa, que inclui outros pedidos, inclusivebet esreconhecimentobet esvínculo empregatício, ébet esR$ 37.266,88.

Segundo contou uma fonte anônima, a Select viu, na contrataçãobet esstreamers para um contrato com a plataformabet esstreaming Booyah, a oportunidadebet esfazer dinheiro, já que a remuneração à organização era por hora assistida. Por isso, o Santos e-Sports precisava do maior número possívelbet esstreamers fazendo lives. A Select seria remunerada por isso pela Booyah, mas deveria repassar parte da renda para os profissionais.

Os contratos oferecidos aos streamers estipulavam que, por 120 horas mensaisbet eslive, os influenciadores nada receberiam da Select e seriam remunerados somente com "receitasbet esempresas parceiras" da organização. De acordo com a fonte, os streamers não eram regularmente pagos.

— A maioria dos streamers ficou com medobet esprocessar porque o contrato tinha uma multa abusiva. O Leonardo colocava essa multabet espropósito para assustar. O contrato tinha essa multa para caso que eles saíssem antes do tempo. Como tinham medo, os streamers só iam atrás da rescisão. O mais seguro era só rescindir e vazar — conta a fonte.

Em cinco contratos que o ge viu, a multa prevista erabet esR$ 20 mil ou 30 vezes o valor dos "frutos recebidos" caso o streamer quisesse sair. Para transferência internacional, seriam US$ 20 mil (correspondentes a cercabet esR$ 100 mil). Mas a Select, se decidisse rescindir com o influenciador, não precisaria pagar multa compensatória alguma, segundo descrito nos contratos.

Em outra ação na Justiça do Trabalho contra a Select e o Santos, o treinadorbet esFree Fire Felipe "LIPÃO" cobra o pagamento do último salário, no valorbet esR$ 2 mil, e o reconhecimentobet esvínculo empregatício pelo períodobet esque comandou a equipe,bet esjulhobet es2021 a janeirobet es2022. Ele requer a assinatura da Carteirabet esTrabalho e o pagamentobet esverbas rescisórias totalizando R$ 6,8 mil.

bet es Pressão interna

Funcionáriosbet esoutras áreas do Santos e-Sports, como administrativos ebet esconteúdo, também tinham constantes atrasos nos salários, conforme profissionais contaram ao ge sob condiçãobet esanonimato. Eles, assim como todos os jogadores entrevistados para esta reportagem, relataram o receiobet esterem as identidades expostas não apenas por eventual prejuízo profissional, mas principalmente por medobet esrepresálias da organização, já que, segundo eles alegam, havia pressão interna e ameaçasbet esprocesso judicial contra quem se manifestasse sobre os problemas.

Pelo menos dois entrevistados relataram,bet esdiferentes momentos da apuração desta reportagem, que o CEO da Select pressionou os funcionários a não dar informações para a imprensa, pois não poderiam prejudicar a empresabet esque trabalham.

Os atrasos salariais eram tão frequentes que os funcionários tinham um grupobet esWhatsApp onde avisavam quando algum deles recebia o salário, para que os outros soubessem e pudessem cobrar os pagamentosbet esaberto. Eles trabalhavam sem contrato, seja CLT oubet esprestaçãobet esserviço.

— Foi muito complicado. Foi uma experiência horrível. Eu quase pareibet estrabalhar com esports, porque tinha desistido — lamenta um ex-funcionário.

— Rodava muito funcionário, entrava e saía. E o Santos devendo para todo mundo. Eu fazia minhas contas do mês não contando com o salário do Santos, porque eu sabia que iria atrasar.

bet es Respostas

Procurada pelo ge, a Select se manifestou da seguinte maneira:

— A Select não se pronunciará contra acusações anônimas. Esclarecemos que nossos parceiros conhecem a dificuldade financeira que tivemos ao longo do tempo e que já ébet esconhecimento público, mas existem distorções da realidade que objetivam apenas prejudicar a imagem da empresa. Ademais, reservaremos no anonimato as operações da empresa a fimbet esresguardarmos a exposição das pessoas que colaboraram conoscobet esalguma forma,bet esalgum momento. Seguimos trabalhando para solucionar as pendências financeiras existentes, seja judicial ou extrajudicialmente, ressaltando que tomaremos as providências legais contra qualquer abuso ou exposiçãobet esfatos caluniosos, difamatórios e injuriosos contra a Select.

O Santos enviou a seguinte nota:

— O Departamento Jurídico do Santos FC está ciente dos fatos e tomando as devidas providências. O clube está reavaliando a parceria com a empresa responsável pelos e-sports.