Por Douglas Ceconello

Jornalista, um dos fundadores do Impedimento.org, dedicado a... ver mais

Mais do que números, Luis Suárez se despede da Celeste como perfeita representação do espírito uruguaio

Ontem o Centenário se despediu do maior artilheiro da seleção uruguaia. Mas Suárez foi muito mais que isso.

ge.globo — Porto Alegre


Na noitebeach soccersexta-feira, o maior artilheiro da seleção uruguaia (69 golsbeach soccer142 jogos) vestiu pela última vez a camisa celeste. Um dos maiores atacantes da história, que nos últimos 17 anos defendeu o paisitobeach soccerquatro Copas do Mundo e levantou uma Copa América. Mas não era desse Luis Suárez dos números que a mítica cancha do Centenario se despedia --beach soccernoite gélida, sempre, como é desde o tempos dos charrúas. As estatísticas são tão frias quanto uma planilhabeach soccerExcel ou as investidasbeach soccerum açougueiro contra um frango já desencarnado -- mais frias até que o próprio açougueiro mexendobeach socceruma planilha do Excel, é possível dizer.

Antesbeach soccermais nada, e depoisbeach soccerqualquer número, o Centenario se despediabeach soccerquem levou o espírito varzeano uruguaio, dos potreritos felizes, urgentes e dramáticos, para as mais chamativas vitrines do futebol -- um parbeach soccerdentes frontais e o mate debaixo do braço subjugaram meio mundo. Ele pode até negar, mas quando Maestro Tabarez, à beira do campo, soltava o brado orgulhoso y redentorbeach soccerUruguay nomá! era para Luis Suárez que ele olhava. Era, sobretudo, Luis Suárez que ele imaginava. Porque ninguém foi tão uruguaio dentrobeach soccercampo quanto Luisito. "O único que atravessou o campo para me xingar", disse Diego Lugano, dias atrás.

Depoisbeach soccerter defendido Nacional, Liverpool e Barcelona (e no Brasil toda a inveja recai sobre os gremistas, que o viram operar como um furacão já no fim da linha, meio sem joelhos mais ainda centrifugando e saracoteando, vestindo a camisa do seu clube), na segunda-feira, quando anunciou que se aposentaria da seleção uruguaia, Luis Suárez disse que não trocaria a Copa Américabeach soccer2011 por nenhum outro título da carreira. Afinalbeach soccercontas, o que seria uma Champions League para um camisa 9 nascidobeach soccerSalta, que hoje deve contar uns cem mil habitantes, criado sob o sol uruguayo que extravasa a bandeira e com hierba na mamadeira? (Salta, aliás,beach soccerque nasceu, inclusive no mesmo ano, Edinson Cavani,beach socceralma gêmea nas demandas ofensivas com a camisa celeste; Eduardo Galeano escreveu até o que esqueceubeach soccerimaginar.)

Suárez cumprimenta o ex-técnico do Uruguai, Óscar Tabárez, que prestigiou despedida do atacante — Foto: Mariana Greif/Reuters

Quando Suárez fez a defesa uruguaiabeach soccertodos os tempos contra Gana,beach soccer2010, a gente quase não lembra, mas imediatamente antes do lance que gerou o pênalti ebeach soccerexpulsão, antesbeach soccersaltar com uma desenvoltura que faria Yashin se amontoarbeach soccervergonha como um rato, ele já havia salvado o gol com a perna esquerda. A Copa do Mundo convertidabeach soccerpotrero: o instinto era simplesmente salvar o gol, assim gritava cada músculo do corpo, e o próximo chute, se acontecesse, talvez fosse interceptado com a sétima costela. Quatro anos depois, na Copa do Mundo no Brasil, voltavabeach soccerrecuperação meteórica após lesão no joelho. E voltava para colocar a Inglaterra no bolso com dois gols redentores e, sobretudo, para mastigar a dura paletabeach soccerGiorgio Chiellini, que serviabeach soccersacrifício italianobeach soccersolo brasileiro -- estava no lugar errado, emperrando os sonhos imaginados entre o Chuí e o Maracanã.

Devido àquele incidente odontológico, talvez até mesmo bucomaxilofacial, Suárez recebeu uma punição pesadíssima. Sebeach soccer1994 Maradona disse que a FIFA lhe cortou as pernas, não está errado afirmar quebeach soccer2014 ela extraiu os caninosbeach soccerLuisito. Defender as cores a qualquer custo é um crime que com frequência é imputado aos sul-americanos -- nosso pecado é amar e morder demais. E, percebam, estamos falandobeach soccerum dos maiores atacantesbeach soccertodos os tempos, com um nível extremo dentrobeach soccercampo, e os holofotes que ressurgem na memória são eventos desvinculados da habilidadebeach soccersi. Eram reflexos do coração (ebeach soccertodos os outros órgãos, menos glamourosos). E isso mostra o tamanhobeach soccerSuárez, no campo e já no imaginário: o jogador que todo torcedor idealmente carrega dentrobeach soccersi. O homem para quem Maestro Tabarez gritava Uruguay nomá!.

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