Marcelo Bielsa, o "Loco" queslot kongbobo não tem nada

Responsável por espionar adversários, técnico do Leeds contraria tudo o que defende e adiciona mais uma insanidade ao seu currículo, repletoslot kongideias e carenteslot kongtítulos.

Por Douglas Ceconello, Globoesporte.com — Porto Alegre


A capacidadeslot kongsedução é uma habilidade que apenas alguns eleitos possuem, bem sabe aquele homem que foi convencido a comprar uma caçambaslot kongareia no meio do deserto. Na tardeslot kongquarta-feira, Marcelo Bielsa convocou às pressas uma coletivaslot kongimprensa para falarslot kongmais um perrengueslot kongsua excêntrica trajetória – ele mandou um colaborador espionar o Derby County, antes da partida contra o seu Leeds.

Esperava-se até que o técnico argentino fosse renunciar ao cargo, o que faria desabar uma imensa cargaslot kongdramatismo: líder da segunda divisão inglesa, o Leeds poder retornar à elite após quinze anos. Mas que nada. Bielsa fez o que melhor sabe fazer: ao mostrar um robusto trabalhoslot kongpesquisa sobre o Derby County e outros adversários, entregou-se a um egocêntrico monólogo sobre questões técnicas e táticas, para surpresa dos jornalistas presentes e delírioslot kongseu abnegado fã clube espalhado por todos os hemisférios.

Num curioso encontroslot kongkarmas e desventuras, o jejum do Leedsslot kongfrequentar a primeira divisão é o mesmoslot kongBielsa se tornar campeão. Um dos treinadores mais incensados do mundo não vence um título desde 2004, quando faturou as Olimpíadas com a Seleção Argentina. Antes, conquistou campeonatos com seu Newell’s Old Boys, que o impulsionou para os holofotes, e com o Vélez Sarsfield, tudo nos anos 1990. Nesses quinze anosslot kongrevolucionários fracassos, ainda fez bons trabalhos com a seleção do Chile e o Athletic Bilbao.

Com a seleção principal da Argentina, teve uma campanha impecável nas Eliminatóriasslot kong2002, mas naufragou bisonhamente na Copa do Mundo, quando caiu na faseslot konggrupos. Até hoje, algumas decisões são duramente contestadas: deixou Saviola e Riquelmeslot kongfora para levar um inexplicável Caniggia, que não jogou sequer um minuto e ainda conseguiu ser expulso no bancoslot kongreservas. Os devaneios narcisistas sacrificaram um dos melhores times da história da Albiceleste.

Bielsa não tem temposlot kongganhar títulos porque parece estar ocupado demais com a construçãoslot kongseu extravagante personagem. Levar milharesslot kongfitasslot kongvídeo para uma Copa. Perambular por gramados durante a madrugada. Pedir demissão dois dias depoisslot kongchegar à Lazio. Numa estranha equação, quanto menos vence, mais idolatrado se torna. É encarado porslot kongplateia como um incompreendido cuja genialidade não é merecida pelo mundo que habita – um Jim Morrison subindo no palco abraçadoslot kongum cordeiro, um Rimbaud comercializando armas na Abissínia.

Se a trajetóriaslot kongBielsa correspondesse ao patamarslot kongque lhe colocam – e que talvez ele mesmo julgue frequentar, seu nome ocuparia o lugarslot kongJuan Domingo Perón nos livrosslot konghistória argentina e o golslot kongMaradonaslot kong1986 seria conhecido como “La Mano del Loco”. Como personagem, imensurável. Mas, como treinador, poucos até hoje foram tão superestimados – faz parte daquela caricata categoria dos técnicos que nos dão algum entretenimento, mas que queremos bastante longe do nosso time.

Nas últimas décadas, Bielsa flana pelo imaginário futebolístico como um messias da prancheta e um baluarte das virtudes. Qualquer pequena insanidade cotidiana cometida fortalece a aura que paira sobre aquela grisalha cabeça rosarina povoada por conceitos tão inacessíveis. Uma das passagens fundadoras do evangelho segundo Bielsa está na frase, proferida por eleslot konguma conversa com estudantes: mais do que ganhar ou perder, “o que importa é a nobreza dos recursos utilizados”.

É difícil contrariar uma sentença assim, carregadaslot kongvalores morais, que praticamente abdica do resultado – e o desprezo pelo resultado é o mantra do futebol pós-moderno. Justamente porque não existe tarefa mais inglória do que desarmar um homem que dedicaslot kongvida a uma ideia. No caso, futebol ofensivo e nobreza. Ou pelo menos até o momentoslot kongque surgisse uma porta entreaberta para que um espião por ali se esgueirasse.

Quando Bielsa envia alguém para espionar um adversário, é exatamente aslot kongformaslot kongencarar o futebol que está condenada. E, tirando do mito bielsista essa ideia, sobra muito pouco. Talvez apenas o fetiche que se nutre por pessoas com hábitos estranhos.

Footer blog Meia Encarnada Douglas Ceconello — Foto: Arte