Por Ricardo Gonzalez

Comentarista dos canais sportv

Campeão na bola e na vergonha

Racismo e transfobia dos jogadores argentinos choca e merece punição. Apoio do atual governo não surpreende


É no momentowolfcasinoque está relaxado ouwolfcasinoalgum tipowolfcasinoêxtase que o ser humano mais corre o riscowolfcasinose expor,wolfcasinose desnudar e mostrar quemwolfcasinofato é. Os jogadores da seleção argentina, após um feito dignowolfcasinoefusivos aplausos ao completarem a quarta conquista consecutiva (Copa América 2021, Finalíssima, Copa do Mundo e Copa América 2024), relaxaram e não pensaram duas vezeswolfcasinorepetir um cântico terrível entoado por parte dos torcedores na final da Copa do Mundo do Catar, entre Argentina e França. Mas esse relaxamento não fezwolfcasinonenhum deles pessoas ingênuas, e a gravação por celular e a difusão desse ato repugnante nas redes sociais não foi casual. E chocante porque quem gravou foi Enzo Fernandes, que joga na Inglaterra ao ladowolfcasinovários atletas negros e/ou franceses. Poderia piorar? Poderia, e aí entra a participação do atual ocupante do governo do país, Javier Milei, que com uma pedra alimentou dois pássaros (o racismo e a transfobia): colocou para fora todo o seu conservadorismo e alinhamento com o que dizia a "música", mas tirou disso o foco e jogou-o para uma suposta e absolutamente falsa independência ou autodeterminação argentina. Por tudo o que fez emwolfcasinocampanha e já no atual cargo, não surpreende.

Javier Milei demite subsecretáriowolfcasinoEsportes que cobrou retratação da seleção argentina

No campo esportivo,wolfcasinonada adianta mais um pedidowolfcasinodesculpas feito protocolarmente por Enzo Fernandez - e se algum outro companheiro dele eventualmente tenha demonstrado também algum arrependimento por essa demonstração explícitawolfcasinoselvageria. Desculpas eu escuto desde que nasci, e os povos preto e trans felizmente já não aceitam mais esse "me engana que eu gosto". Racismo e transfobia têmwolfcasinoser exemplarmente punidos. Se quiserem dar uma resposta à altura, os clubes onde jogam os atletas flagrados vomitando impropérios deveriam aplicar-lhes pesadas multas e até alguma suspensão por um tempo qualquer.

Com relação à Fifa, que soltou uma notawolfcasinorepúdio e disse que vai "investigar " o episódio (investigar o que? O vídeo deixa algum tipowolfcasinodúvida?), também não adianta absolutamente nada notas e posicionamentos protocolares. Já disse neste Fórum que o racismo demonstrado pelos torcedores espanhóis contra Vinícius Júnior - ou contra qualquer um - só seria punido à altura se a Espanha fosse punida com a não ida à próxima Copa do Mundo, sumariamente. E isso por contawolfcasinoofensas (no Brasil crimes) que vêmwolfcasinouma arquibancada muitas vezes amorfa, anônima, ou não uniforme. No caso da Argentina, são jogadores! Esses mesmos que estarão lépidos e fagueiros nos próximos jogos da seleção. Se a Fifa quer comprar briga contra o racismo e a transfobia, deveria excluir a atual campeã do mundo da próxima Copa. Vale para a Espanha, para a Argentina, Brasil, ou qualquer país que não combata as mazelas humanas.

Forawolfcasinocampo, é compreensível, embora injustificável, que as pautas antirracistas e anti-transfóbicas não estejam na ordem do dia na Argentina. Um dado: no último censo, apenas 0,7% da população do país se autodeclarou afrodescendente. Outro: o ex-presidente Alberto Fernandez, ainda no exercício do cargo, declarou-se "europeísta" porque, segundo ele, os primeiros argentinos chegaram ao paíswolfcasinobarco (em referência à colonização espanhola), enquanto "os mexicanos vieram dos índios" e os brasileiros "vieram da selva". É algo que infelizmente está enraizadowolfcasinopartewolfcasinouma nação que deu tantas lições belíssimaswolfcasinoluta contra a opressão,wolfcasinovalorizaçãowolfcasinovalores culturais ewolfcasinoeducação.

Quanto a Milei, a estratégia é rasa, tirar o foco da barbárie explícita no racismo e transfobia e criar um suposto confronto com a França. Mais: ao demitir (ou seja, executar um ato oficialwolfcasinogoverno) o subsecretáriowolfcasinoEsportes, Júlio Garro, que pedira a Messi (pelo peso que tem) e à AFA (por ser o órgão oficial do futebol argentino) que se desculpassem publicamente, Milei chancelouwolfcasinogênero, número e grau o cântico dos jogadores. Claro e óbvio está que os franceses têm todo motivo para estarem ofendidos com o vídeo que Enzo Fernandez "produziu". Mas, afastando um pouco a lupa, o problema maior não é a referência à França, o escândalo é com relação a negros e transexuais - e aí pouco importa onde esses atacados nasceram. Ter independência e auto-determinação não dá a qualquer dirigente o direitowolfcasinoatacar países ou gruposwolfcasinoqualquer raça ou gênero. É algo como o governo brasileiro anterior, que bancou o quanto pode a ideiawolfcasinoRicardo Salleswolfcasino"passar a boiada", como se a Amazônia não fosse a garantiawolfcasinovida no planeta inteiro, e sim uma propriedade privadawolfcasinoum presidente qualquer.

A vice-presidente argentina, Victoria Villarruel, sem citar nominalmente a França, falouwolfcasinopaíses colonialistas. Ora, admitamos que a questão fosse a França. Se o país errou no passado, e errou feio no colonialismo, isso justifica erros do ladowolfcasinocá do Atlântico, décadas depois? A Françawolfcasinohoje tem vários problemas, mas alémwolfcasinoter dado uma enfática demonstração recentewolfcasinoque não aceita mais extremismos na política, é um dos países com políticas mais receptivas a refugiados e à populaçãowolfcasinoÁfrica e Ásia que busca recomeçar a vida no país. Mas, insisto: essa é uma falsa briga com os franceses. Os pontos são racismo e transfobia, e disso as autoridades argentinas não falam.

Se eu acho que os temaswolfcasinoinclusão vão ganhar peso na Argentina? Sim, um dia, porque tenho pelo país e por seu povo enormes carinho e confiança. O que é preciso é ficar mais atento às urnas - não se tratawolfcasinodireita ou esquerda, ambas são legítimas e podem abrigar temas caros aos seres humanos justos, mas não se pode transigir com extremismos. Se eu acho que clubes e Fifa vão responder à altura e marcar posição exemplar contra atos racistas e transfóbicos? Sinceramente acho que, neste momento, não. Mas tenho mais certeza aindawolfcasinoque um dia o futebol, como espelho da sociedade, vai mudar, e que até lá a luta temwolfcasinoser a cada dia, a cada hora, a cada minuto, a cada post.