Investigação expõe ambiente tóxico e crimesbolao quinaódiobolao quinatorneios infantisbolao quinafutsal no Rio

Durante quatro meses, o ge mergulhou nesse universo, marcado por competitividadebolao quinaexcesso, agressividade e frustrações pessoaisbolao quinaadultos depositadasbolao quinameninos

Por Carlos Eduardo Mansur e Mariana Fontes


Crianças ameaçadasbolao quinaagressão por adultos; ofensas racistas contra meninosbolao quina9 anos; uma cascabolao quinabanana atirada num árbitro negro. Uma investigação do ge revela que os torneios infantisbolao quinafutsal do Riobolao quinaJaneiro são disputados num ambiente tóxico, quase sempre criado por pais e mães dos candidatos a atletas.

Ao longo dos últimos quatro meses, a reportagem mergulhou nesse universo, marcado por competitividadebolao quinaexcesso, agressividade e frustrações pessoaisbolao quinaadultos depositadasbolao quinameninos. Tudo isso resultandobolao quinaofensas, violência verbal e física, racismo, homofobia, misoginia, ameaças a crianças, violência psicológica e crimesbolao quinaódiobolao quinatoda ordem.

A viagembolao quinatorno dos jogos disputados por crianças também permite encontrar familiares dispostos a apoiar seus filhos, treinadores dedicados a educar e adultos que, ao fim dos jogos, atiram doces e balas na quadra, iniciando uma corrida que junta as crianças vencedoras e vencidas, minimizando os efeitos do resultado para jovens numa etapabolao quinaformação. No entanto, os bons exemplos parecem sufocados.

Investigação expõe ambiente tóxico e crimesbolao quinaódiobolao quinatorneios infantisbolao quinafutsal no Rio

A quantidade e gravidade dos casos chamou a atençãobolao quinaautoridades e entidades que atuambolao quinadefesa dos direitosbolao quinacrianças e adolescentes. O Secretário Municipalbolao quinaAssistência Social do Riobolao quinaJaneiro, Adilson Pires, afirma que se tratabolao quinaalgo "grave, absurdo".

- São pais despejando nas crianças preconceitos, ódio – disse o secretário, que promete procurar a Federaçãobolao quinaFutsal do Riobolao quinaJaneiro para propor ações educativas conjuntas.

Torneios infantisbolao quinafutsal são marcados por violência e ambiente tóxico no Riobolao quinaJaneiro — Foto: matimix

Cristiane Santana, do Conselho Tutelar do Rio, lembra que submeter crianças a constrangimentos "é uma violaçãobolao quinadireitos". Já Priscila Pereira, do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, faz um alerta:

– Os relatos refletem a dinâmica social brasileira. Estamos vindobolao quinaum processo pesadobolao quinadiscursosbolao quinaódio,bolao quinanaturalizaçãobolao quinaracismo, homofobia. Estes casos ensinam a crianças que comportamentos violentos são aceitáveis. Os regulamentos precisam ser revistos, a Federação precisa criar regras clarasbolao quinacomportamento parental, educar preventivamente crianças e famílias. E talvez a segurança pública precise passar a estar presente.

Procurado pelo ge, o presidente da Federaçãobolao quinaFutsal do Rio, Denilton Cymbron, alegou problemasbolao quinasaúde para desmarcar uma entrevista presencial agendada. Em seguida, ele aceitou responder por mensagem a perguntas, que foram enviadas no dia 23bolao quinaoutubro. No entanto, informou que por problemas particulares não teve tempobolao quinaelaborar as respostas.

A reportagem documentou cercabolao quina20 incidentes graves. A seguir, alguns deles serão relatados. Por questões legais e para evitar a exposiçãobolao quinacrianças, os nomes delas serão omitidos. Assim como os nomes dos responsáveis, sejam eles agressores ou paisbolao quinavítimas, porque a simples menção permitiria que os menores fossem identificados dentro do ambientebolao quinaseus campeonatos.

bolao quina RACISMO

Manhãbolao quinadomingo, 28bolao quinamaio. A Ascaer, clube social da Associação dos Servidores Civis da Aeronáutica, localizada na Ilha do Governador, zona norte do Riobolao quinaJaneiro, era apenas um dentre os tantos ginásios cariocas a receber as dezenas partidasbolao quinafutsal realizadas a cada fimbolao quinasemana. Mas o 4 a 4 entre o time da casa e o Madureira seria o episódio menos importante daquele dia.

De acordo com a súmula redigida pelo árbitro principal, Rômulo da Conceição Mendes, logo após o jogo uma torcedora do Madureira invadiu a quadra e jogou uma cascabolao quinabanana no árbitro auxiliar, Carlos Aquilla Lima da Conceição. Carlos Aquilla é negro. Já seria um relato grave o bastante, não fosse pelo fatobolao quinaque a cena ocorreu numa partida da categoria sub-9 do campeonato organizado pela Federaçãobolao quinaFutsal do Rio. Estavambolao quinaquadra crianças de, no máximo, 9 anos. A mulher acusadabolao quinaracismo é a mãebolao quinauma delas.

O episódio que vitimou Aquilla revela uma dificuldadebolao quinareação a um ato violento praticado na frentebolao quinacrianças. Quando a polícia chegou ao local, a mãe que havia atirado a cascabolao quinabanana no árbitro já havia se retirado. O companheiro dela, segundo o relato da súmula, teria se posicionado num dos portões para evitar que a mulher fosse alcançada. Uma testemunha, que pediu anonimato, disse ter visto coordenadores do Madureira orientando a autora do ato racista a se retirar rapidamente. Pais que filmavam o jogo não quiseram ceder as imagens, por medobolao quinapunição ao clube da casa.

Súmula da arbitragem com o relatobolao quinaracismobolao quinaum jogo sub-9 — Foto: Reprodução/Site do TJD do Futsal

Aquilla registrou a ocorrência na delegacia da Ilha do Governador. Em nota a Polícia Civil informou que o processo estábolao quinafasebolao quinainvestigação e é acompanhado pelo Ministério Público. Ainda segundo a nota, "testemunhas estão sendo ouvidas e outras diligências seguem para esclarecer o caso". A mulher acusadabolao quinaracismo alega que carregava uma sacola plástica com frutas para que seu filho comesse antes e após o jogo. E que a cascabolao quinabanana teria caído por acidente.

Foi o mesmo relato feito pela defesa do Madureirabolao quinajulgamento no Tribunalbolao quinaJustiça Desportiva do Futsal. A sessão foi transmitida ao vivo pelo YouTube, mas alguns depoimentos não foram ao ar também para preservar a identidade das crianças. No entanto, quando a transmissão foi retomada, o subprocurador do TJD, Zoser Hardman, mostrava indignação.

- É inadmissível o representante do clube (Madureira) dizer que atirar uma cascabolao quinabanana não configura racismo – afirmou.

- Diria que 99% dos incidentes envolvem pais. No início, vinham muitas questões corriqueiras, inerentes ao jogo. Mas aí veio o racismo, começaram alguns casos graves. Eles constrangem crianças. Daqui a pouco, vamos precisar acionar a Vara da Infância e da Juventude – disse Hardman ao ge.

Outro obstáculo é o vínculo frágil entre alguns clubes e suas equipesbolao quinafutsal. Há casosbolao quinaque os times são terceirizados. No caso do Madureira, o presidente Elias Duba diz ter entregado a condução do departamento a ex-jogadores do clube.

- O futsal acabou ficando nas mãosbolao quinapessoas sem comprometimento. Eu soube do caso, é terrível para criança, ruim para a imagem do clube. Já reuni pais e disse que, se continuar, vou acabar com o futsal – afirmou Duba.

O TJD puniu o Madureira com multabolao quinaR$ 3.500,00, alémbolao quinaperdabolao quinamandobolao quinacampo por cinco jogos. A mãe acusadabolao quinaracismo está proibidabolao quinafrequentar ginásios por 720 dias.

No entanto, o ato racista ocorrido na Ilha do Governador não foi o único. No dia 26bolao quinajunho, um meninobolao quina9 anos, jogador do Heliópolis, usoubolao quinaconta no Instagram para contar que fora vítimabolao quinaracismo na véspera, num jogobolao quinaBarra Mansa.

- Pega esse neguinho, tira esse neguinho da quadra.

Torneios infantisbolao quinafutsal são marcados por violência e ambiente tóxico no Riobolao quinaJaneiro — Foto: matimix

Segundo o pai do menino, foram estas as palavras ditas por uma torcedora da Sociedade Esportiva Real, mandante do jogo. O responsável conta que apenas as crianças ouviram as ofensas racistas e só relataram aos pais ao fim do jogo. Já era tarde para identificar a agressora.

- Meu filho ficou desnorteado. Ele não dormiu à noite e me perguntava: “Pai, por que fazem isso? Por que falaram essas coisas?” – conta o pai do menino.

O árbitro da partida, Marcos Aurélio Moraes, conta que só soube do incidente ao sair do vestiário, após trocarbolao quinaroupa. E disse à reportagem que, por não ter como identificar a autora do ato racista e por não ter presenciado o incidente, preferiu não relatar nada na súmula. O caso sequer chegou ao TJD.

- Na horabolao quinaque soube, achei que seria colocar a palavrabolao quinaum contra a do outro. Nenhum dos quatro integrantes da equipebolao quinaarbitragem ouviu. Hoje, pensando bem, deveria ter relatado que houve a reclamação, para que o tribunal pudesse investigar – admite Marcos.

Ele definebolao quinaforma bem direta o ambientebolao quinaque as crianças começam a vida esportiva.

- Há uma faltabolao quinarespeito enraizada. O mais raro é chegar a um ambiente tranquilo e respeitoso. E quando a gente relata as coisas, fica marcado: “chegou aquele árbitro babaca que gostabolao quinaescrachar no relatório”.

bolao quina HOMOFOBIA E MISOGINIA

Durante a semana, Suelen Ramos trabalha no setorbolao quinaRHbolao quinauma empresa. A atuação na arbitragembolao quinajogosbolao quinafutsal mistura complementobolao quinarenda e o que ela define como amor pelo esporte. Não fosse tal sentimento, talvez não estivesse mais se submetendo a constrangimentos como o que viveu no último dia 27bolao quinamaio,bolao quinaPetrópolis. O ginásio do Correas estava lotadobolao quinafamiliares das criançasbolao quinaaté 8 anos que corriam pela quadra. Naquele sábado, os ataques a Suelen começaram cedo. O estopim foi a expulsãobolao quinaum jogador do Rio Esporte/Colégio logo com um minutobolao quinajogo: dentro da própria área, ele evitara, com a mão, um gol do time da casa.

Se o desrespeito a árbitros, quase sempre praticado por pais, se tornou corriqueirobolao quinapartidas entre crianças, naquele dia Suelen percebeu que a situação saírabolao quinacontrole.

“Filha da puta, piranha, gorda, sapatão... É covardia com uma criançabolao quina8 anos.”

O combobolao quinamisoginia, homofobia e gordofobia retrata o ambiente violentobolao quinaque crianças iniciambolao quinavida esportiva. Mais adiante, Suelen sentiu um puxãobolao quinaseu cabelo, embora não conseguisse distinguir se fora a telabolao quinaproteção da quadra ou a mãobolao quinaum torcedor. Ao se virar para a arquibancada, as demonstraçõesbolao quinaódio aumentarambolao quinavolume.

“Expulsa agora,bolao quinafilha da puta, piranha, gorda, escrota.” Suelen foi obrigada a paralisar a partida.

- Não quero generalizar. Há muitos trabalhos bacanas, famílias apoiando as crianças. Mas há os que colocam suas frustraçõesbolao quinacima da criança, por ignorância. Fazem daquilo uma guerra,bolao quinaque cada um pode dizer o que quiser. Porque vale tudo para ganhar – diz Suelen.

Súmula com relatosbolao quinahomofobia e misoginia — Foto: Reprodução/Site do TJD do Futsal

Nascida e criadabolao quinaPetrópolis, naquela manhãbolao quinasábado ela chegou a ouvirbolao quinaum dos pais ameaçasbolao quinaque seria levada para uma favela local.

- Por vezes, há crianças que ouvem isso e acham que também podem resolver as coisas com xingamentos – afirma a árbitra, que fazbolao quinatrês a nove jogos por fimbolao quinasemana. Cada membro da equipebolao quinaarbitragem recebe R$ 130 por uma rodada tripla, envolvendo partidasbolao quinatrês categorias diferentes.

- A taxabolao quinaarbitragem é paga pelos pais. E a gente tem que ouvir deles: “a gente paga pra você me roubar”. Está se perdendo o limite, a coisa está tomando uma proporção preocupante. E a criança ouve essas ofensas. O pai diz que é covardia eu expulsar uma criança. Mas não é covardia a criança ouvir isso.

Suelen pensoubolao quinadenunciar os pais que a ofenderam. Mas não o fez.

- Você já viu alguém ser preso por homofobia? Ainda que esteja tipificado como crime? No fundo, eu só iria expor ou constranger a criança. Talvez eu tenha tido um cuidado que o pai não teve.

Torneios infantisbolao quinafutsal são marcados por violência e ambiente tóxico no Riobolao quinaJaneiro — Foto: BravissimoS

No TJD, o Rio Esporte/Colégio foi multadobolao quinaR$ 5 mil. Não houve punição individual aos pais por não ter havido identificação dos autores das ofensas.

Tampouco foram identificados os pais responsáveis por ofender Natália Campos Miranda, que atuava como árbitra auxiliar do jogo entre Team Sports, clubebolao quinaVista Alegre, Zona Norte do Rio, e Flamengo. A partida, pelo campeonato sub-11 da federação, era disputada num clube da Marinha, na Vila da Penha, também na Zona Norte da cidade. E parecia controlada até o Flamengo marcar um golbolao quinalance considerado discutível pelos torcedores do Team Sports. A partir daí, uma competição entre criançasbolao quinaaté 11 anos passa a ser pretexto para demonstrações explícitas do machismo e da misoginia tão habituaisbolao quinaestádiosbolao quinafutebol, nos jogos entre adultos.

Na súmula, são listados alguns dos termos dirigidos a Natália: “piranha”, “filha da puta”, “vagabunda”, “vai voltar a brincarbolao quinaboneca”, “cachorra”, “vai lavar uma louça”...

A punição ao Team Sports foi uma multabolao quinaR$ 1 mil.

bolao quina CONSTRANGIMENTOS E MAUS TRATOS A CRIANÇAS

Há ocasiõesbolao quinaque,bolao quinavítimas, os árbitros passam a ser os únicos protetoresbolao quinacrianças expostas aos abusos praticados por pais. Fernanda Irineu foi surpreendida enquanto trabalhava como cronometrista no ginásio do colégio Salesiano,bolao quinaResende. Ali, o Resende Futebol Clube recebia a Liga Mageense pela Série Bronze do futsal carioca. O jogo, para criançasbolao quinaaté 9 anos, precisou ser interrompido antes dos 7 minutos. O motivo: um dos meninos do time visitante fora ameaçadobolao quinaagressão pelo paibolao quinaum jogador do Resende.

- Do nada, o garotinho chegou na mesa soluçando, dizendo que o pai iria bater nele. No início, não entendemos se era o pai dele ou o paibolao quinaoutra criança. Tentei acalmá-lo, para a gente entender o que se passara – conta Fernanda.

O menino, jogador da Liga Mageense, não seria o único a chorar naquela manhã. Ao verem a reação do menino, os pais das criançasbolao quinaMagé entrarambolao quinaquadra e alguns passaram a discutir com a torcida adversária.

- Os pais fizeram as crianças acharem que iria ter briga. Alguns começaram a atravessar a quadra na direção da torcida adversária e as crianças se desesperaram – relembra a árbitra.

A súmulabolao quinaResende x Liga Mageense — Foto: Reprodução/Site do TJD do Futsal

Fernanda conta que o ambiente das partidas exige dos árbitros uma atenção com o psicológico das crianças. Muitas vezes, cabe a eles a primeira atenção a meninos assustados diante do ambiente tóxico, violento. O pai que ameaçara o menino acabou retirado do ginásio.

- A impressão ébolao quinaque, quanto mais novas as crianças, piores são os pais. Estragam muitos jogos.

De fato, quase estragaram o encontro entre LG Irajá e Instituto Mangueira, uma partida para criançasbolao quinaaté 11 anos, no dia 23bolao quinajulho. Segundo a súmula do árbitro Geison Alexander Mendes, o paibolao quinaum dos jogadores do Irajá fez mais do que ofender a arbitragem.

- Pode dar outra porrada nele, filho, pode dar – dizia o pai, orientando o filho a agredir um adversário, outra criança, diga-se.

E embora a imensa maioria dos incidentes violentos tenha pais como protagonistas, há eventos que alertam para o papel dos treinadores. No dia 6bolao quinaagosto, um torcedor do Jacarepaguá Tenis Clube gritava insistentemente com um jogador do próprio time. Não ficou claro se o menino,bolao quina12 anos, era filho do torcedor. Aos palavrões, reprovava a atuação do garoto e provocava fortíssima pressão sobre o menino, que começou a chorarbolao quinaquadra.

Enquanto ofendia os árbitros, o homem foi retirado do ginásio do Olaria após a intervençãobolao quinacoordenadores dos dois times. Mas o problema não terminou ali, conforme relatou na súmula o árbitro assistente Fernando Fernandesbolao quinaSouza. Após seis minutosbolao quinaparalisação do jogo, entroubolao quinacena o técnico do Jacarepaguá, identificado como Antonio Alves. Embora dirija uma equipebolao quinacrianças com até 12 anos, teria defendido o torcedor expulso.

- Você tá tirando quem? O cara não fez nada! Você está brincando – teria dito Antonio, antesbolao quinainiciar uma sériebolao quinaxingamentos aos árbitros e até à comissão técnica adversária. Tudo isso sob o olhar das crianças.

Torneios infantisbolao quinafutsal são marcados por violência e ambiente tóxico no Riobolao quinaJaneiro — Foto: matimix

O exemplobolao quinapais ebolao quinatreinadores, por vezes, molda as atitudesbolao quinacrianças. No dia 2bolao quinaabril, um jogador da equipe sub-13 da Portuguesa foi expulso pelo árbitro Marcos Felipe Vieira após fazer uma falta por trás num adversário.

- Eu quero ver quem vai me tirar daqui. Vocês dois (árbitros) são uma cambadabolao quinafilhos da puta. Vão tomar no cubolao quinavocês. Eu não vou sair daqui – dizia o jovem.

A surpresa maior, no entanto, ocorreu a seguir. Segundo a súmula, no lugarbolao quinaconter seu atleta, o técnico da Portuguesa, José Ricardo Sobreira, apoiou o menino.

- Fica aí mesmo, não sai da quadra, não!

A atitude chamou a atenção dos árbitros do jogo.

- Por vezes, a gente precisa ser um mediador entre pai e atleta. Há técnicos e coordenadores com uma competência absurda para lidar. Outros não. Lembro deste dia, um gol da Portuguesa foi anulado, uma mãe se descontrolou e precisou ser retirada. Aí veio a expulsão do menino, que reagiu dessa forma. A criança morabolao quinaárea carente, tem uma realidade difícilbolao quinacasa. A gente precisa entender o contexto. Mas aí o treinador incentivou a não sair. É uma idade importante, que direciona o futuro – avalia Bruno Maxwell, que era o árbitro auxiliar nessa partida.

Foi preciso que um coordenador do clube interviesse para acalmar o técnico e retirar o atleta.

- Eu nunca tinha visto um comportamento assimbolao quinaum treinador. O coordenador da Portuguesa, que é muito bom, precisou vir para tirar o menino da quadra. E dar uma bronca nele – lembra Marcos Felipe Vieira, árbitro principal do jogo.

A reportagem solicitou à assessoria da Portuguesa um contato com o treinador e os coordenadores da equipe, mas não obteve retorno.

- Pais depositam o que não foram nos seus filhos. Para alguns é saída para situação financeira, mudançabolao quinavida. Enxergam aquilobolao quinaforma errada. Por vezes transferem para o árbitro. Tem homofobia, racismo. Tudo ao contrário do que é sadio para uma criança. Eu já fui ameaçadobolao quinamorte numa quadra – conta Maxwell.

bolao quina AMEAÇAS

E foi mesmo. Um dos episódios a que se refere Maxwell aconteceu no dia 3bolao quinajunho, no jogo sub-13 Instituto Mangueira x Grajaú, disputado na Vila Olímpica da comunidade. E o autor foi um coordenador da equipe local, que por regulamento não poderia ficar no bancobolao quinareservas da equipe. Indignado ao terbolao quinasaída solicitada, o homem identificado como Reginaldo Vicentebolao quinaSant´Anna reagiu com ameaças nem tão veladas assim.

- Quando acabar o jogo, você mete o pé da Mangueira. Tá ouvindo, né? Quando acabar essa porra mete o pé daqui, senão vai dar ruim pra você. Tô te avisando, mete o pé quando acabar!

Não é raro que os xingamentos deem lugar a ameaças graves contra a integridade físicabolao quinaárbitros. Por vezes, envolvendo um traço da sociedade carioca: as comunidades dominadas por organizações criminosas.

No dia 15bolao quinajulho, foi a vezbolao quinaMarcos Felipe Vieira ouvir ameaças contrabolao quinavida. Uma partida sub-10 entre Team Sports e Heliópolis foi interrompida após 20 minutos, para que fosse retirada do ginásio uma mãe que insultava repetidamente o árbitro, com xingamentosbolao quinatodo tipo. Foram três minutosbolao quinaparalisação até que a mulher fosse convencida a sair. No entanto, ela retornou logo após o apito final e entrou na quadra, já tomada por crianças que se aqueciam para um jogo que começaria minutos depois.

- Se você forbolao quinaHeliópolis, eu vou mandar te matar. Você não vai sair vivobolao quinalá – gritava.

Súmula com ameaçasbolao quinamorte num jogo sub-10 — Foto: Reprodução/Site do TJD do Futsal

Vieira conta que o ambiente desse jogo, que reunia criançasbolao quinaaté 10 anos, já exigira uma intervenção.

- Havia torcedores atrás dos gols, debochando dos goleiros do adversário – conta o árbitro. – Precisamos tirá-losbolao quinalá. Aí a torcida do Heliópolis já começou a xingar a gente.

No segundo tempo, o tom das ofensas foi subindo. Vieira pediu a um diretor do Heliópolis que retirasse a torcedora mais exaltada, que retornou após o jogo.

- Ela me xingava e dizia que se eu fosse a Belford Roxo (município da Baixada Fluminense onde fica o bairrobolao quinaHeliópolis) ela ia mandar me matar. Como uma pessoa fala que vai mandar matar a gente? Num jogobolao quinafutebolbolao quinacrianças... A gente vive um momento violento na sociedade. Imagina se amanhã eu tenho uma festa pra ir com a famíliabolao quinaBelford Roxo, você fica pensando: “Eu vou? Vai que essa mulher me vê por lá...”

bolao quina VIOLÊNCIA

Brigas entre pais não são incomunsbolao quinapartidasbolao quinabase. No dia 16bolao quinasetembro, meninosbolao quinaaté 10 anosbolao quinaFluminense e Grajaú tiveram que pararbolao quinajogar por cinco minutos, até que coordenadores das equipes conseguissem retirar do ginásio duas mulheres: cada uma delas era responsável por uma criançabolao quinacada time, e as duas iniciaram uma briga na arquibancada.

Três meses antes,bolao quinaPetrópolis, o jogo sub-11 entre Correas e Helênico foi interrompido após uma mãe atirar uma garrafabolao quinarefrigerantebolao quinadois litros, atingindo o ombrobolao quinaum árbitro. O mesmo jogo teria,bolao quinaseguida, sete minutosbolao quinaparalisação para a retiradabolao quinaum pai que ofendia persistentemente os árbitros. Ele se recusava a deixar o ginásio.