Respeitar a cultura do Catar não inclui normalizar a opressão e a violaçãopixbet linkdireitos humanos

Infantino não tem lugarpixbet linkfala para dizer que se "sente como um trabalhador imigrante". É constrangedor


A guinada do governo local, ampliando as restrições à vendapixbet linkcerveja durante a Copa do Mundo é,pixbet linklonge, o menos importante dos debates envolvendo a realização do torneio numa ditadura que promove perseguições religiosas, restringe a liberdade das mulheres e criminaliza a homossexualidade. Tudo isso sem contar a mortepixbet linkmilharespixbet linktrabalhadores imigrantes que,pixbet linkacordo com órgãos ligados à defesapixbet linkdireitos humanos, foram submetidos a condições por vezes análogas à escravidão para que a estrutura do Mundial fosse postapixbet linkpé. Neste cenáriopixbet linkdesumanidade, ao menos a controvérsia sobre a cerveja ajuda a colocar as coisaspixbet linkperspectiva.

Pouco antespixbet linkembarcar para Doha, o goleiro Lloris, capitão da França, disse que não pretendia aderir ao movimentopixbet linkalguns colegaspixbet linkoutras seleções. Referia-se ao uso da braçadeirapixbet linkcapitão com as cores do arco-íris, símbolo do movimento pelos direitos da comunidade LGBTQIA+. A justificativa tropeçou no velho pecado da falsa simetria. Lloris disse que “na França, quando recebemos estrangeiros, muitas vezes os queremos respeitando nossas regras, nossa cultura. E farei o mesmo quando eu for ao Catar”. Não há como nivelar respeito a traços culturais e o silêncio, a conivência diante da opressão a grupos minoritários.

Gianni Infantino presidente da Fifa — Foto: Reuters

Lloris até poderia ter tratado a decisão do governo do Catarpixbet linkfazer valer as leis nacionais e manter a proibição da vendapixbet linkbebida alcóolica como um respeito às regras do país. Ao criar obstáculos para que um visitante beba uma cerveja, o Catar não fere qualquer direito fundamentalpixbet linkum ser humano. O problema é que este é um dos poucos momentospixbet linkque não o faz.

O silênciopixbet linkrelação à estratégia do Catarpixbet linkusar o futebol para polir uma imagem marcada pelo desrespeito a direitos essenciais é um pecado que a comunidade do futebol não conseguirá mais reverter. Afinal, faz 12 anos que o Mundial foi dado ao país, donopixbet linkalgumas das maiores reservaspixbet linkpetróleo e gás natural do mundo, numa escolha cercada por escândalos e controvérsias que,pixbet linkacordo com o Departamentopixbet linkJustiça dos Estados Unidos, envolveram milhõespixbet linkpropinas.

Agora, às vésperas do pontapé inicial da Copa, com os olhos do mundo voltados para o pequeno país do Oriente Médio, tudo o que o futebol não deveria fazer é reforçar a sensaçãopixbet linkapatia,pixbet linknormalização da desumanidadepixbet linknomepixbet linkuma disputa esportiva. É possível jogar futebol, celebrar a maior competição do planeta, sem perder o senso crítico. E usar o jogo como plataformapixbet linkluta por um ideal. Calar-se diante da repressão às mulheres, da perseguição religiosa, dos abusos contra trabalhadores e da criminalizaçãopixbet linkidentidadespixbet linkgênero não é respeito a uma cultura. É conivência com a barbárie. Aceitar que um regime negue a existência do outropixbet linkacordo compixbet linkorientação sexual não é respeitar uma cultura.

O esforço para normalizar o indefensável tem momentos constrangedores. A coletivapixbet linkdirigentes da Fifa neste sábado beirou o cinismo. Primeiro, Gianni Infantino, presidente da entidade, disse que se sentia catari, que se sentia gay, que se sentia como um trabalhador imigrante. Em seguida, Brian Swanson, diretorpixbet linkrelações com a mídia, afirmou que, como um homem gay, sentia-se livre no Catar.

Ora, Infantino jamais foi colocado para trabalhar sob 50 graus, jamais dormiupixbet linkinstalações insalubres, jamais se submeteu à Kafala, um sistemapixbet linkcontrataçãopixbet linktrabalhadores imigrantes que permitiu inúmeros abusos. O patrão é uma espéciepixbet linkpatrocinador do trabalhador, e este só pode mudarpixbet linktrabalho ou voltar ao seu país com a permissãopixbet linkseu chefe. O sistema conduziu a regimes análogos à escravidão. Após pressões da comunidade internacional, houve revisões no modelo. No entanto, relatórios da Anistia Internacional indicam que os abusos persistem.

Quando a Swanson, vale lembrar que ele está no Catar como representantepixbet linkuma entidade que vai organizar a competição que servirápixbet linkplataforma para limpar a imagem do país. Não é difícil imaginar por que se sente bem tratado. Nem ele, nem Infantino têm o chamado lugarpixbet linkfala.

Claro que é possível, e até necessário, refletir se fomos menos rigorosos com a falsa democracia russa, com a política militar e armamentista dos Estados Unidos, com a escandalosa corrupção nas obras para fazer estádios caríssimos num país desigual como o Brasil. A rigor, a busca por uma nação dona do monopólio das virtudes talvez inviabilizasse, para sempre, uma Copa do Mundo. E talvez seja preciso ouvir quem argumenta que o ocidente deveria olhar mais para si mesmo. O caso é que nunca o futebol serviupixbet linkplataforma para violações deste porte. O sportswashing, termo criado para designar o uso do esporte como plataforma para limpar a imagempixbet linkregimes sanguinários, mudapixbet linkpatamar com a Copa no Catar.

A partir deste domingo, a Fifa colocará na casapixbet linkbilhõespixbet linkpessoas lindas imagenspixbet linkum país ensolarado, do deserto,pixbet linkestádios monumentais, com instalações luxuosas e gramados impecáveis. Neles pisarão muitos dos maiores craques do mundo, certamente promovendo lances admiráveis algumas vezes ao dia. Tudo será muito sedutor.

A imprensa irá transmitir e analisar os jogos, vai celebrar os ganhadores, contará grandes históriaspixbet linkvencedores e vencidos. Afinal, o torneiopixbet linkfutebol mais importante do mundo será jogado e é parte do trabalhopixbet linkjornalistas contá-lo ao mundo. Mas é possível fazer tudo isso sem perder o olhar crítico. Lembrar que cada estádio suntuoso custou milharespixbet linkvidas, que torcedores homossexuais relutaram ou desistirampixbet linkviajar, que uma ditadura estará tentando, através dos jogos, vender ao mundo uma imagem palatável.

É injusto colocar nas costas dos jogadorespixbet linkfutebol a soluçãopixbet linkum problema que eles não criaram. A autoria é toda da estrutura políticapixbet linkum esporte tratado como atividade privada. Mas não há ferramentapixbet linkcomunicação mais poderosa do que os grandes ídolos. Se durante o próximo mês eles conseguirem, mais do que gols, alertar o mundo para o lado mais obscuro da Copa no Catar, o futebol poderá ao menos ter dado um passo para compensar 12 anospixbet linkapatia.