Alan Patrick compara assistência a gol e revela que perda da mãe virou a chave na carreira

Camisa 10 do Internacional deixa para trás altos e baixos, se candidata à Seleção e conta trajetória do meia clássico que não tem medorótulos no futebol: "Importante é você pensar na frente"

Por Bruno Ravazzolli, Mateus Trindade e Raphael Zarko — Porto Alegre, RS


Nascido na Cidade Feitiço, apelido da pequena Catanduva (SP), o camisa 10 do Internacional tem magia. Aos 32 anos, Alan Patrick é o cérebro do Colorado. E abriu o coração para explicar como a perda da mãe o transformou e virou combustível para o meio-campista que sonha com a Seleção.

Abre Aspas: Alan Patrick comemora boa fase, relembra origens e se emociona ao falar da mãe

Revelado pelo Santos ao ladoNeymar e Ganso, Alan Patrick saiucasa aos 12 anos para morar na Vila Belmiro. Distante do pai Márcio e da mãe Crislaine, cresceu e foi campeão da Libertadores2011 pelo Peixe. Morou na Ucrânia e saiu do país quando estourou a guerra com a Rússia.

No domingo, às 18h, o Inter recebe o Grêmio no primeiro Grenal do ano. O ge e o Premiere transmitem. O jogo é válido pela 10ª rodada do Gauchão

Alan Patrick, meia do Inter, Abre Aspas — Foto: Bruno Ravazzolli

Confira o Abre Aspas com Alan Patrick

  • Nome completo: Alan Patrick Lourenço
  • Nascimento: Catanduva (SP),13maio1991
  • Carreira: Santos, Shakthar Donetsk, Internacional, Palmeiras e Flamengo
  • Principais títulos: bicampeão paulista (2010 e 2011), da Copa do Brasil (2010) e da Libertadores (2011) pelo Santos. No Shakthar, campeão da liga ucraniana 2011-2012, 2012-2013, 2016-2017, 2018-2019 e 2019-2020. Pelo Palmeiras, foi campeão da Copa do Brasil2015. No Inter, foi campeão gaúcho2014. Pela Seleção sub-20, foi campeão sul-americano e mundial2011.

ge: Como era a vida do pequeno AlanCatanduva?

— A minha infância, como a maioria dos atletas, era uma infância simples. Meu pai e minha mãe trabalhavam numa fábricaventilador e a gente tinha condição bem, bem humilde. Eu comecei jogando na escolinha da minha cidade,Catanduva. Meu pai chegou a jogar amador, era maismarcação, um primeiro volante, chegou a bater na trave do profissional. Mas pelas circunstânciasnecessidade familiar, ele começou a trabalhar e tudo mais. Mas ele me pegava nas horas vagas e fazia os fundamentos.

Você é filho único?

— Filho único.

Então era a única ficha do seu pai?

— É (risos). Era a única.

Alan e o pai Márcio: companheirofutebolCatanduva — Foto: Arquivo pessoal

Ele que te levava para a escolinha,mãe também ou ela era contra?

— Minha mãe era o pilar da casa, dando suporte. Mas eram os dois ali. Com 9 anos eu recebi convite para jogarSão José do Rio Preto, no Derac, e ali eu tive que já, com aquela idade, começar a pegar ônibusCatanduva para Rio Preto para poder treinar. Eu ia duas, três vezes por semana jogarRio Preto no campo eCatanduva, no futsal.

Iaexcursão num ônibus?

— Não, eu ia sozinho. Era tipo um circular que iauma cidade para a outra. Uns 40, 50 minutos. Tinha 10 anos, meu pai me colocava ali e eu ia. Aí um representante da escolinha me pegava, eu descia na rodovia, atravessava porque era bem do lado da rodovia já o campo e ali já começou meu processoandar sozinho,caminhar. Nem sempre o pai e a mãe conseguiam estar juntos, acompanhando os torneios. Às vezes dormia na casaalgum dos meninoslá. Uma trajetória que foi importante para mim, para o meu crescimento. Desde novo tive que já aprender a me virar.

Isso te remete mais a um sacrifício da infância ou te dá saudade?

— Na época, a gente não tem essa maturidadeentender, mas eu ia pela paixão. Eu amava jogar futebol e eu ia porque eu gostava. Aquela época você não sabe se você vai virar ou não. Você está naquele sonhocriança. Então não foi um sacrifício. E pegando gancho disso, era uma decisão difícil até para os pais. Filho único e você colocar seu filho com 9, 10 anos no ônibus. Sozinho para pegar, descer no meiouma estrada. Então você olha para trás e é interessante (respira e pausa a conversa). Chega e me emociona...

Você está com 32 anos. Isso tudo aconteceu há mais ou menos 20 anos. Fora o futebol, como é que era a tua vida ali na tua cidade?

— Eram essas casasCohab (nota da redação: refere-se à Companhia MetropolitanaHabitaçãoSão Paulo) simples, não chegava a ser uma comunidade. Mas era um bairro simples. E a gente vivia na rua ali, tinha umas áreasterra, um pasto que a gente ia e jogava bolinhagude, soltar pipa, jogar taco. Tinha um colégio que eu ia e meus pais sempre na luta, trabalhando. Era da maneira que dava e a gente ia se adaptando. Tinha minha avó também que cuidavamim nesses períodos, às vezes, durante o diaque o pai e a mãe estavam trabalhando. Mas foi infância muito boa, muito feliz.

Com café e alma, Alan Patrick, camisa 10 do Inter, é o convidado do Abre Aspas — Foto: Bruno Ravazzolli

Você vai para o Santos com quantos anos?

— Fui com 12. A escolinhaCatanduva que eu jogava, quando completavam ano, convidavam um time grande para um torneio. E nessa época foi o Santos. Joguei contra o Santos e me destaquei. Engraçado dessa história porque foi um menino do sub-17 que pegou meu contato, que era muito próximo do diretor do Santos, o Beto, que era o cara responsável que levava e ele não estava. E eu continuei treinando, jogando lá (em Catanduva). Passou uns seis meses até ter um retorno do Beto e organizar ida minha para Santos. Fui, fiz uns dois treinos lá no futsal, eles gostaram e queriam que eu ficasse. Só que na época o Santos não tinha campo nessa idade. Só tinha a partir do sub-15. Meu pai comentou com o Beto: "pô, seria ideal, o Alan tinha que ir para jogar no campo". E no meio disso, junto com a escolinha do Derac, aquelaSão José do Rio Preto, nós fomos fazer uma excursão para fazer uns amistosos contra o São Paulo,Cotia. Fizemos um ou dois amistosos e eu fui bem, me destaquei. Aí surgiu o interesse do São Paulo também na época pelo Derac.

Alan Patrick (à esquerda) com Beto, no meio, antigo funcionário da base do Santos que o levou para a Vila — Foto: Arquivo pessoal

Você teve que escolher então entre Santos e São Paulo?

— Aconteceu que um dia o Beto entroucontato com o meu pai falando que eles tinham planocriar as categoriascampo sub-12, 13, 14. O Santos estava muito na ascensão dos meninos da Vila, com Robinho e Diego. E isso mexia né. Eu queria ir para o Santos. Curioso é que eles criaram a categoria o sub-12 e eles pegaram como um modelo, na época, o Neymar, porque, se não me engano, ele jogava na Portuguesa Santista. Ele (Neymar) começou com a 12, eu na 13, porque eu sou um ano mais velho e um outro menino, que era o Serginho,modelo na sub-14. E nesse período eu fiquei alternando entre campo e futsal. Com 15 anos fiquei só no campo.

Você foi campeão da Libertadores com o Santos muito novo. Recebem o troféu das mãos do Pelé. Você lembraalgum momento especial ali daquele dia?

— Ali na comemoração era muita gente, muita correria. Não teve nenhum momento assim que consegui chegar perto dele. Lembro que ele estavavermelho. Mas o Pelé sempre estave bastante presente no dia a dia no CT. Ele fazia umas visitas, também encontrei ele na Vilaoutros momentos, direto assistindo aos jogos também.

E para quem nasceu para o futebol na Vila, a morte do Pelé é mais significativa?

— Acho que fomos privilegiadoster crescido,ter sido projetado ao futebol pelo Santos, que é o clube do Rei. E às vezes quando você está lá, talvez você não tenha nem a noção do que é isso. Via com mais frequência e tudo mais, mas, cara, era o Rei, sempre que ele chegava parava tudo. Era o Rei! Foi um privilégio ter crescido no Santos, ter participadouma geração também muito ricatalento,futebol. Eu vejo dessa maneira, eu sou muito grato ao Santos, aprendi muito, colaborou muito para que hoje pudesse ser o Alanhoje.

O jovem camisa 8 Alan Patrick na base santista — Foto: Arquivo pessoal

Você vai para a Ucrânia muito cedo. Com 20 anos, era um pouco imaturo, provavelmente, e sofreu todos os efeitosadaptação. Foi casado já?

— Eu namorava, mas aí nessa ida para lá foi quando casei e passei a viver junto da minha esposa. Lembro que o que me motivou a ir para o Shakhtar foi a legiãobrasileiros. Pensava: "deve ser um clube muito bom para acolher". A adaptação é muitocada um. Não é fácil, claro que não é, porque é uma cultura diferente, tem o idioma, a alimentação, o futebol. Mas tinha o Fernandinho, William, Ilsinho, esses eram os caras mais experientes. Facilitava. Mas a minha primeira passagem, e claro que eu não era o jogador que eu sou hoje,termosmaturidade,experiência, lógico, era um menino ainda, porém... Eu acho que (não funcionou) por característica do treinador também.

Era o romeno Mircea Lucescu?

— Isso. Naquela época talvez não entregasse o que ele desejava. Ele gostavajogadores mais explosivos e que arrastavam e que jogavam no contra-ataque e eu não tinha essa característica. Não tive a oportunidadeaprender da maneira que eu aprendi na minha segunda passagem, quanto ao futebol, quanto a alguns detalhesjogo. Pego uma outra escola, com o Paulo Fonseca e o Luis Castro, portugueses. Eu sempre falo isso,detalhes do jogo,orientaçãocorpo para receber a bola. Aquela coisa toda que a gente sabe a diferença que faz no futebol atual. Mas na primeira passagem tive dificuldade, passei dois anos nesse processo sem jogar, ia para os jogos, era cortado. Ia, não jogava, aí jogava no sub-20, descia para jogar.

— Eu tento tirar como um aprendizado tudo o que eu vivi lá. Foi quando eu decidi e falei com meu empresário, eu falei: "cara, eu quero jogar, voltar para o Brasil, qualquer lugar, quero jogar". Não dava para ficar do jeito que estava. E aí foi quando teve a minha volta para o Brasil2013. Jogo no Inter, Palmeiras e Flamengo.

Naprimeira passagem pelo Inter, Abel te colocava mais pela esquerda. Como se moldou esse camisa 10, pegando essaformação no Santos, a passagem pela Ucrânia e seus outros clubes?

— Eu sempre me enxerguei como meio armador, como um 10. No Santos, as minhas participações sempre foram como meia armador, como 10. A minha primeira passagem no Inter, tive que me adaptar ali, joguei um pouco mais aberto. Por mais que às vezes a característica individual não te favorece para tal posição, eu tentei me adaptar da maneira que pude. Jogávamos um 4-3-3, com uma trinca no meio, e aí jogava o D´alessandro, que era o 10, eu, com o Rafael Moura na frente. A gente até brincava que bola no pé a gente tinha, só não tinha muita profundidade. Mas era time super técnico ebola no pé.

No Shakthar você atuououtras maneiras também.

— Jogueisegundo volante. O Paulo Fonseca,alguns momentos, me trouxe para participar mais da construção do jogo, principalmente no campeonato ucraniano. Ele tirava o volantemaismarcação e me botava no meio para participar mais das construções. Eu sempre procurei ajudar o time da melhor maneira, sempre tentei ser o melhormim. Tive essas experiências jogando foraposição que eu acho que foi super valioso para minha carreira, para entender o que essas funções também fazem. Porquealgum momento você precisa ajudar o time, o treinador pode contar com você ali e você entender da função. Na volta para o Brasil, agora no Inter, fiquei mais caracterizado assim como 10. É a posição que eu me identifico. Mas o futebol atual exige você entenderuma, duas, três funções porque o esporte evoluiu.

Jogadores como você, Ganso, jogam menos hoje? Falta espaço por causa da correria da partida, falta boa vontade do treinador para às vezes ter mais paciência?

— Eu percebi isso na minha primeira passagem no Shakhtar. Pela característica do treinador e a forma como o time jogava também. Se é um time que joga muito atrás para contra-ataque, às vezes requer esse caraexplosão,puxar contra-ataqueforça e velocidade.

O passe te dá tanto prazer quanto um gol?

— Muito. Muito, muito (prazer). Eu peguei agora o Roberto De Zerbi (italiano), que foi o último treinador no Shakhtar, ele me encheu o saco, porque eu não chutava para o gol. Ele me enchia o saco! Mas eu gostoparticipar da armação da jogada, da criação. Às vezes uma assistência me dá o mesmo prazer do que um gol.

Abre Aspas: Alan Patrick fala sobre funçãocamisa 10

De cabeça erguida, Alan Patric conduz a bola para levar o Inter ao gol — Foto: Ricardo Duarte/Divulgação, Internacional

Quais assistências que te vêm à mente e foram especiais?

— Teve uma no Shakthar pela Champions contra um time da Croácia, o Dínamo Zagreb,casa, num 2 a 2. Eu faço uma jogada individual e dou assistência para o Dodô, brasileiro que está na Fiorentina. Foi uma assistência bonita. Uma recente agora, aqui pelo Inter, contra o Vasco, aquela do Maurício por elevação. Fora as que não viram gol né (risos).

Você gostabasquete, tem tatuagem do Jordan. Te encanta a figura do armador?

— Eu gosto do cara que é criativo, que assume a criação, a armação. Que coloca o companheirocondiçãojá concluirgol, que simplifica. Eu me amarro nessa etapa da jogada. Eu sempre gosteiver os grandes meias jogarem. Cito o Alex, um craque, Riquelme. Esses jogadores mais clássicos. Djalminha, o próprio Zidane.

As pessoas confundem o meia clássico com lentidãocampo?

— Pode parecer dentrocampo, para quem está assistindo. Mas esses caras compensam com a velocidade, com rapidezraciocínio. Importante é você pensar na frente. Às vezes, não é o correr, é fazer a bola andar, dar sequência na jogada, mas, na maioria das vezes, o meia é o cara que cadencia o jogo, sabe quando acelerar as jogadas, quando ficar com a bola. O cara que é entendedorfutebol consegue ter essa percepção. Pode parecerfora que é lento e, realmente, por característica, (ele) não é explosivo, mas compensa da maneirapensar, jogarum toque, fazer o jogo fluir.

Entende que falta a característica do camisa 10 no futebol brasileiro, na Seleção Brasileira?

— O futebol hoje tem exigênciareagir, pensar, executar muito rápido, porque se tem menos espaço. Fisicamente, hoje, é muito mais evoluído. Mas eu costumo dizer que jogadoresnível, inteligentes, quanto mais juntos melhor, se entendem. Claro que o time precisaum equilíbrio. Não dá para jogar com 10 Alan Patrick, 10 volantes, 10 zagueiros. O esporte coletivo precisaum equilíbrio, esse é o papel do treinador, entender dentro do que ele acredita, da ideiajogo, para adaptar as peças.

"Seleção é o meu sonho", diz Alan Patrick

Você trabalhou com o Dorival e recentemente ele disse que vai convocar mais jogadores que atuam no Brasil. Alimenta mais o sonho?

— Eu alimento, porém,forma muito natural. Procuro ser um Alan Patrick ainda melhor e trabalhar para, se possível, conseguir uma convocação. É o começoum ano, temos nossos objetivos e a convocação depende muito do que vamos fazer no nosso clube e do que você conquista. A gente sabe da importânciarepresentar essa instituição, essa camisa, da grandeza do Inter, da importânciaganhar títulos e, consequentemente,ficar na vitrine.

— Trabalhei com o Dorival no Santos logo no meu começo2010. Mas não vou ser convocado porque o Dorival trabalhou comigo lá no Santos. É um baita profissional, com todas suas qualidades está no comando da nossa seleção.

Em 2023, foram 62 jogos, 16 gols, 10 assistências. Aos 32 anos, foi a melhor temporada da tua carreira?

— Foi um ano muito especialtermosnúmeros e participaçõesjogos, atuações. Sem dúvida, um dos melhores anos da minha carreira. Nos últimos cinco ou seis anos, eu venho numa crescente boa a cada ano. Mesmo no Shakthar, embora no Brasil não se acompanhe muito. Acho que se dá muito pelo cuidado que os jogadores precisam ter, profissionalismo. Você falou da idade e hoje isso mudou muito. Antigamente, com 30 anos era velho. Era contratorisco. Mudou muito por conta desse processoum atleta profissional. No Brasil, o calendário é muito pesado, se joga a cada três dias. Em certos momentos chega a ser desumano. Lembro que no ano passado tivemos uma sequênciaoito ou nove jogos, antes da última Data Fifa. Fizemos o último jogo contra o Palmeiras e a gente estava esgotado. É impossível produzir. Você vai e não está no melhor nível, mas a cobrança é igual, você vai ser avaliado pelo que apresenta.

— A gente procura se cuidar, fazer as recuperações da melhor maneira, para que a gente esteja pronto para o próximo jogo. Esse ano foi muito especial também porque não tive nenhuma interrupçãolesão, que me fizesse parar. Administramos ao longo da temporada, um jogo ou outro descansa. Lesão atrapalha, você perde todo ritmo até pegar sequência novamente.

Você falou desse períodocinco, seis anosque mudou. O que mudou nesse Alan?

— A gente fica mais velho, mais experiente. No ano2018, eu tive uma viradachave importante na minha cabeça que fez com que eu focasse mais, priorizasse melhor o meu trabalho e consequentemente isso foi acontecendo. Não é coincidência, mas o trabalho, assim como toda profissão, você foca, deposita energia, coloca como prioridade, ele te devolve. Comigo foi acontecendo isso. Quando eu falo que nos últimos cinco ou seis anos, a cada ano fui evoluindo, foi depois da viradachave. Antes, tive bons momentos, mas ficava nos altos e baixos, joga bem, não joga tão bem. Essa reflexão que eu faço se dá por conta disso.

Isso aconteceu por contauma conversa tua com alguém? O que houve?

— Foi coisa minha. Depois do falecimento da minha mãe. Foi uma virada que fez eu mudar algumas coisas, sabe, no caminho...

O pai, Alan e a camisa especial para a mãe — Foto: Arquivo pessoal

Era uma pessoa que te cobrava?

— (Emocionado) Não, era uma relação tranquila como mãe, que queria sempre ver o filho bem, fazendo as coisasmaneira correta, da maneira que eles nos ensinaram os valores, princípios.

Hoje sente que faz por ela?

— Sim, é bem isso. Essa viradachave foi por isso, pensando nessa linha,fazer por ela, algumas coisas que, enquanto ela vivia, a gente desagradava com alguns comportamentos e depois teve a viradachave. Eu tento fazer por ela. Faz parte. Nossa vida tem que seguir. Hoje tenho minha família, meus filhos e, mais uma vez, um aprendizado da nossa vida pessoal, foracampo, dentrocampo, hoje nós temos nossos herdeiroscasa, sabemos da responsabilidade que como pai, somos espelho para eles, estão nos olhando o tempo todo.

Márcio, Alan e a mãe Crislaine — Foto: Arquivo pessoal

Vemos você falando bastantetática. Você faz que nem o Messi, aquela leitura visual da partidapoucos segundos antesreceber a bola?

— Eu particularmente gostotática. Gostofazer a leitura do jogo. Gostoassistir jogo também e ver grandes jogadores como se comportamcampo, se posicionam, anteveem a jogada. Procuro observar os detalhes. A gentecampo tem tomadadecisão o tempo todo, tem fraçãosegundo pra decidir a jogada. Tem importânciamapear, ter a leitura, conseguir enxergar na frente, ter vantagem dentro do jogo. É o que eu procuro fazer quando estoucampo. O meio-campista joga numa área muito congestionada. É gente vindotodo o lado, é pouco tempo realmente para pensar e tomar a decisão. Procuro olhar os grandes jogadores como referência para ver como eles fazem.

É um caminho virar treinador?

— Não está tão claro na minha cabeça ainda. Tem um tempo para me preparar e amadurecer isso. Dois ou três treinadores já me falaram que eu vou ser treinador quando parar. Eu gostotrocar ideia, se tenho oportunidade eu gostofalarfutebol, entender como que pensa, é uma parada que me dá prazer. O próprio Chacho e o Roberto De Zerbi (ex-Shakthar, hoje no Brighton) que chegaram a brincar: "Pô, você vai ser treinador quando parar". Vamos ver.

Abre Aspas: Alan Patrick relembra como lidou com começoguerra na Ucrânia

Você viveu o início da guerra na Ucrânia. Como foi aquele momento? Sua família estava lá?

— Minha família estava programada para ir para a Ucrânia. Nós estávamos voltandopré-temporada naTurquia. O campeonato estava previsto para começar no fimsemana e as notícias já circulavam sobre possível invasão. Chegamos domingo, segunda eu tinha viagem programada para Alemanha para ir num especialista. Eu não consegui fazer a pré-temporada por dor, suspeitahérnia. Eu começava a treinar e me incomodava. Fui para a Alemanha, na terça operei, ocorreu tudo bem.

— De terça para quarta, na madrugada, foi quando estourou (a guerra). Eu acordei, vi a reação dele (do médico ucraniano), não sabia o que fazer. Dei um abraço nele, a família estava na Ucrânia. Eu pedi para minha família segurar, não sabia o que ia acontecer, eles ficaram no Brasil. A gente na Alemanha, aí passou mais uns dias e peguei o aviãovolta ao Brasil. Ele (o médico) fez um trajetodescer na Polônia e entrar pela fronteiracarro. Mas foi um livramento. Vocês acompanharam nossos amigos, meus companheiros, inclusive De Pena e Vitão, estavam naquele hotel. Graças a Deus conseguiram sair bem.

Alan Patrick comemora gol na Supercopa da Ucrânia — Foto: Divulgação

Esse assunto sempre esteve presente, o Shakthar chegou a mudarcidade. Como era viver com essa possibilidade?

— A gente convivia com isso, às vezes passava e via um tanqueguerra na rua, os militares. Na minha primeira passagem, foi tranquilo. Eu volto ao Brasil no meio2013. No ano2014, deu uma confusão na regiãoDonetsk. Depois dali foi quando o Shakthar se mudou pra Kiev, o clube mudou para capital. Eu estava no Brasil no período e não cheguei a pegar. Quando volto para o Shakthar2017, já na capital, era diferente. Na região do Donbas tinha os conflitos que a gente ficava sabendoamigos ucranianos. Uma mulher que trabalhava com a gente na nossa casa, a família dela eralá, tinhamos as informações. Foi um início mais regional, só naquela região. Num segundo momento, foi um ataque pelo país todo, que já impactou mais.

Para finalizar, vimos que se encontrou com o Neymar nas férias. Hoje, a gente discute como o Neymar pode voltar, como ele lida com o futebol. O que podemos esperar do Neymar?

— Não chegamos a falar sobre isso. Vejo que ele está com a equipe dele, focadorecuperar bem. A gente sabe que é uma lesão muito complexa que ele teve, requer força mental muito grande. Processo difícil, período muito granderecuperação até voltar a atuar. Eu vejo que ele tem esse desejovoltar forte. Conhecendo um pouco é um desafio para ele e com certeza vai voltar como todos que tiveram a lesão e voltaram. Ele dispensa comentários.

Alan e Neymar no alojamento do Santos. Os garotos "inauguraram" novos times sub-12 e sub-13 na base do Peixe — Foto: Arquivo pessoal