Não é à toa. Os cinco jogadores citados acima são da seleção francesa sub-17. Eles querem seguir os passostrês campeões do mundo que saíram do HAC - clube formado por ingleses que atravessaram o Canal da Mancha, desembarcaram na região da Normandia e criaram um timecores azuis que remetem às tradicionais universidades britânicasOxford e Cambridge.

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Os campeões mundiais revelados pelo HAC: o goleiro Mandanda, jogador do Rennes, Paul Pogba, que retornou a Juventus, e Benjamin Mendy, afastado do Manchester City, envolvidoacusaçãoestrupo - ele foi inocentadoum dos processos que enfrenta na última semana

"O pioneiro" é outra formase referir ao clube mais antigo da França, que completou 150 anosmarço. O Havre - que não leva o artigo "le" da cidadeLe Havre, cidade que fica a 250 kmParis - está na segunda divisão desde 2008. Nos últimos dias vive a euforiaconviver com os craques famosos da seleção brasileirafutebol.

Ao ser o refúgio do Brasil, o Havre ganhoutroca cerca300 entradas para o jogo contra Gana, às 15h30 - horárioBrasília, com transmissão ao vivo da TV Globo, do SporTV e do ge. Vão ao jogo atletastodas as categoriasbase e do profissional, que receberam quatro entradas cada um. Outros mais novos serão gandulas. Um menino14 anos,origens sul-americanas na Guiana Francesa, vai entrar com o estandarte do Brasil para a partida.

O ge conheceu cada pedaço da formação do Havre. Os campos do HAC para a base ficam a pouco mais5 km do centrotreinamento dos profissionais, aquele que o timeTite usou entre segunda e quinta-feira. Fica no altouma colina, próxima da praiaLe Havre, uma cidadepouco mais200 mil habitantes.

No passado sofreu com invasão inglesa, foi portotráficoescravos e também bombardeada e completamente destruída por quase 10 mil toneladasexplosivosataque das forças aliadas contra a AlemanhaHitler que ocupava a vilaLe Havre.

Casa da Seleção por uma semana, Le Havre significa "o refúgio"português

Quase 80 anos depois do massacre - o bombardeio durou maisuma semana no iníciosetembro1944 - que custou a vidadois mil cidadãosLe Havre e deixou 80 mil desabrigados, Le Havre respira o sonhomuitos filhosimigrantes com histórias semelhantes a dos grandes jogadores do futebol francês.

Um deles é o defensor Moise David. Filhoangolanos, o jogador17 anos e 1,83m é um dos meninos que vai ao estádio Oceane para prestigiar a equipe brasileira. Ele cita Neymarprimeira como preferido na Seleção, mas não esqueceoutro que já não veste mais a camisa amarela.

- Gostava muitover o Maicon jogar. Na épocaInterMilão - contou Moise,bom português ao ge. - A gente treina aqui todo dia, estuda aqui ao lado e, claro, temos a referênciaPogba e muitos outros que treinaram aqui.

A atual estrutura da base do Havre, construída1984, vai receber alto investimento2023. Um dos treinadores e coordenadores da base do clube, Mickael Bunel contou que o HAC prepara reforma completa no prédio que fica na rua Cavée Verte ("caverna verde"). Serão investidos 4 milhõeseuros - cercaR$ 20 milhões para melhoriascondições que já são boas para abrigar 40 jogadores - do sub-16 ao sub-20.

Há outro prédio que também recebe as garotas, no crescente futebol feminino francês. São 15 meninas que moram na estrutura para a formaçãojovens jogadoras.

- Eu trabalhei por alguns anos na MLS, a liga americanafutebol. Os jogadores que mais se desenvolvem são os mais inteligentes. Muitas vezes isso diferencia os bons dos melhores. Precisam analisar quando recebem a bola, unir a grande técnica à mentalidade - diz Bunel.

Com essa filosofia, o Havre promove anualmentetodas as categorias espécieprêmiorendimento que une o desempenho na escola e dentrocampo. Cada atleta coloca roupagala para subir ao pódio e ser premiado por professores da escola que fica ao lado do CT. Nas paredes da academia, a mensagem é nesse sentido: "o treino derrota o talento quando o talento não treina".

- Não temos uma grande estrutura, mas somos uma família. Quando a gente traz jogador novo, a gente está muito interessado naqualidade, na mentalidade do jogo. Mas não é só isso. Não é fácil para o jogador novo chegar aqui, deixar a família. A principal preocupação é saber que o jogador está bem - conta François Rodrigues, filhoportugueses que retornou para o Havre recentemente depoistrabalhar na base do PSG.

O principal objetivo a curto prazo do HAC é subirdivisão para seguirbuscanovos talentos. Eles costumam captar por toda a região da Normandia. Pogba, por exemplo, morou dois anos no CT, mas não foi vendido. Nos últimos dias, por ocasião da detenção do irmãoPogba, um ex-presidente do clube lamentava a forma como o astro francês deixou o clube. Considerou uma traição.

- Houve apenas uma indenização180 mil euros pela saída do Pogba. Isso não foi nada. Temos reputaçãotrabalhar bem nas nossas academias, mas os contratos na França não são adaptados para o mundo do futebol. Quando se tem 15 ou 16 o jogador não está protegido. Pogba ficou dois anos aqui. Contrato era frágil. Mas quando a gente quis renovar, não conseguimos rivalizar com os grandes clubes da Europa - recorda Rodrigues.

O casoMahrez, jogador do City, foi diferente. Rodrigues diz que o argelino rendeu muito mais dinheiro ao clubeLe Havre. Ele jogou por dois anos pelo HAC.

- É fundamental subir para poder segurar os melhores jogadores. Se não subirmos, vai ser muito difícil - diz o treinador francês do HAC.