+ Racismo contra Vinicius Junior: veja tudo sobre o caso

Os repetidos episódioscassino dinheiro gratisracismo contra Vinicius Junior no Campeonato Espanhol levantaram a discussão sobre por que agressões do tipo foram toleradas ou, na melhor das hipóteses, combatidas com penas brandas.

"O racismo é o normal na La Liga", escreveu Vinicius, após sofrer na pele no último domingo.

Para entender por que isso é normal, é preciso analisar como o problema é enxergado na sociedade espanhola. Ou, como apontam alguns especialistas, como ele não é enxergado.

+ LaLiga lança canaiscassino dinheiro gratiscomunicação para denúncias

O professor Javier Duran González, titular da Universidade Politécnicacassino dinheiro gratisMadri, com vasta pesquisa nos aspectos sociológicos e éticos do esporte, considera que o debatido sobre o racismo na Espanha não é novo.

Ele também não acredita que o racismo é maior no futebol do país do que no resto da sociedade. Emcassino dinheiro gratisvisão, não se dava importância aos gritoscassino dinheiro gratis"macaco" porque estes viraram delitos mais recentemente. Antes era considerado um insulto como outros nos estádios.

+ Veja outros casoscassino dinheiro gratisracismo no futebol espanhol

— Há quase 20 anos houve o caso com o Samuel Eto'o, que teve um impacto muito grande. Mas os efeitos vão se perdendo, e as instituições esquecem do problema. Devemos ser muito mais constantes nas ações. O futebol é um reflexo da sociedade, o que acontece é que o efeito do que acontece nele é grande, tem impacto social enorme — analisou.

Para González, o crescimentocassino dinheiro gratismovimentoscassino dinheiro gratisextrema direita no país, com forte oposição à entradacassino dinheiro gratisimigrantes no território, principalmente da África, tem contribuído para mais manifestações racistas e xenófobas. E os clubes foram muito permissivos com a presença desses grupos.

+ Quem são os ultras, as torcidas extremistas que protagonizam manifestaçõescassino dinheiro gratisódio

Os ultras estão na raiz do problema, quando relacionado ao futebol. É o que aponta Esteban Ibarra, presidente da ONG Movimento contra a Intolerância, que atua desde 1991 na Espanha. Em entrevista à Rádio Cadena SER, ele citou que a impunidade contribui para a atuação dos grupos extremistas.

— A impunidade é o principal problema. (...) A Espanha não é um país racista, o futebol não é racista, o que existe é comportamento racista. Muitos desses comportamentos são energizados pelos grupos ultra no futebol, o exemplo é a prisãocassino dinheiro gratisquatro pessoas nesta madrugada. Não é um louco sozinho, é uma coisa organizada. A mesma coisa aconteceu com Vinicius, assim que ele desceu do ônibus os insultos foram orquestrados — disse Esteban.

"O direitocassino dinheiro gratisinsultar não existe. E um insulto racista é um crimecassino dinheiro gratisódio", resume Ibarra.

De acordo com a Lei 19/2007 da Espanha, que regula punições por comportamento racista, a aplicaçãocassino dinheiro gratissanções cabe ao governo e à federaçãocassino dinheiro gratisfutebol local. LaLiga não tem esse poder.

A liga organizadora do Campeonato Espanhol criou ocassino dinheiro gratis2015/16 um departamentocassino dinheiro gratisintegridade e segurança para atender a casos do tipo. Desde então, “maiscassino dinheiro gratisuma dúzia” foram registrados, segundo a própria entidade. O encaminhamento ao Ministério Públicocassino dinheiro gratisÓdio começoucassino dinheiro gratis2018/19, há quatro temporadas portanto.

Durante a entrevista coletivacassino dinheiro gratisque explicou as medidas tomadas por LaLiga para combater o racismo, o presidente Javier Tebas foi questionado pelo ge sobre a tolerância a gritos racistas dentro dos estádios do futebol do país, durante tantos anos. No cargo desde 2013, ele evitou falar sobre o passado.

— Na minha primeira intervenção pública (como presidente da LaLiga) falei sobre racismo, sobre violência, e que precisávamos erradicá-los. Sobre o período anterior eu não quero opinar, aí tem que falar com um sociólogo, perguntar o que havia. Alguns clubes custaram mais a fazer alguma coisa, outros menos.Tínhamos que acabar com isso, era uma vergonha. Não seria presidente da LaLiga se ignorasse esse problema e não o combatesse — afirmou Tebas.

Das 10 denúncias apresentadascassino dinheiro gratisepisódioscassino dinheiro gratisracismo contra Vinicius Junior, três foram arquivados pela Justiça.

+ Promotoriacassino dinheiro gratisValência envia processo para tribunalcassino dinheiro gratisinstrução

Em umacassino dinheiro gratissuas manifestações sobre os insultos no jogo contra o Valencia, no último domingo, Vinicius Junior afirmou que "hoje a Espanha é conhecida como um paíscassino dinheiro gratisracistas". A declaração trouxe à luz a discussão sobre como esse problema é encarado por lá.

A SOS Racismo da Espanha trabalha para aumentar a visibilidade da questão. A organização luta contra o racismo no país desde o final dos anos 1980, e atualmente presta assessoria gratuitacassino dinheiro gratiscasoscassino dinheiro gratisdiscriminação, e divulga relatórios. Para Marita Zambrana Vega, porta-voz da instituição, o tema é "nada" debatido.

— E isso é um grande problema. O racismo se entende aqui como agressões, verbais ou físicas, a nível individual. Não se entende a raiz do racismo como uma estrutura, como um sistema, que permeiacassino dinheiro gratisdistintas maneiras e se expressacassino dinheiro gratisformas diferentes nas pessoas racializadas que vivem aqui na Espanha. Como se não se entende como um problema estrutural, é muito difícil que se aborde dessa maneira.

Um exemplocassino dinheiro gratiscomo o racismo é pouco tratado na Espanha é a ausênciacassino dinheiro gratislei específica contra o problema. O que existe é legislação contra crimecassino dinheiro gratisódio, que ataca expressões muito explícitascassino dinheiro gratisracismo. Ou os casos são enquadrados como crimecassino dinheiro gratisinjúria ou calúnia.

+ Espanha inventou racismo atual e tenta se provar branca, diz conselheiro do governo espanhol

Assim como acontece no Brasil, há na Espanha uma subrepresentação da população negracassino dinheiro gratisespaçoscassino dinheiro gratispoder político e destaque.

O país ultrapassou nesta semana a marcacassino dinheiro gratis48 milhõescassino dinheiro gratishabitantes, sendo 8,3 milhõescassino dinheiro gratisnascidos fora do país. O governo espanhol não recolhe dadoscassino dinheiro gratisacordo com origem étnico-racial, mas por origemcassino dinheiro gratislocalcassino dinheiro gratisnascimento (ou descendência). Portanto, é difícil ter noçãocassino dinheiro gratisquantas pessoas negras há no território, o que, segundo especialistas, impacta no conhecimento sobre os problemas dessa população.

Em 2021, o Ministério da Igualdade divulgou estudo com estimativa da populaçãocassino dinheiro gratisafricanos e afrodescendentes na Espanha: entre 700 mil e 1,3 milhãocassino dinheiro gratispessoas.

— Um ponto determinante no casocassino dinheiro gratisVinicius é que ele reagiu da maneira como todos deveriam reagir: não ficou calado diantecassino dinheiro gratisum ato racista e denunciou que a Espanha é um país racista. A Espanha e os espanhóis se ofendem mais por serem chamadoscassino dinheiro gratisracistas do que seremcassino dinheiro gratisfato. Não há uma revisão por parte da sociedade para tentar fazer uma mudança. Temos muito trabalho para fazer nesta sociedade, que não se reconhece como racista — afirmou Marita Zambrana Vega.