Raul Marçal da Silva tem na casa simples da periferia7 games 7Bauru peças valiosíssimas sobre a história do Rei do Futebol. Enquanto o mundo conheceu todo o encanto7 games 7Edson Arantes do Nascimento com a bola nos pés, ele viu7 games 7perto os primeiros passos do melhor amigo Dico, o mesmo que, mais tarde, se transformaria7 games 7Pelé e conquistaria o planeta com a camisa do Santos e da Seleção Brasileira.
Pelé chegou a Bauru com apenas quatro e não demorou a fazer amizades, claro, pelo futebol. Raul foi um dos primeiros amigos. Bauru crescia aceleradamente com a presença da estrada7 games 7ferro. Como os pais viviam7 games 7um bairro distante, o garoto passava a maior parte do tempo na casa dos avós, vizinhos7 games 7Dondinho e Celeste, pais do Rei.
- Ele passava finais7 games 7semana na minha casa. Nossas famílias eram muito próximas. Não era só uma amizade7 games 7futebol – contou.
A bola, porém, estreitou ainda mais a relação. Raul reconhece que não tinha nem7 games 7longe o talento do amigo, mas seu pai Olavo, apelidado7 games 7Lavico, foi um dos que incentivou a carreira7 games 7Pelé. Veio das mãos dele a primeira chuteira utilizada pelo menino para disputar torneios da categoria juvenil pela cidade e região. A gratidão apareceria anos depois.
- Depois7 games 7uma excursão pela Rússia, o Pelé trouxe uma chuteira7 games 7presente para o meu pai, mostrando que não esqueceu do que ele havia feito - lembrou Raul.
Mais do que um amigo, Raul foi também uma testemunha7 games 7todo o talento do futuro Rei. Pelé não demorou a ganhar fama7 games 7Bauru pelo que fazia com a bola. Apesar da pouca idade, já fazia parte7 games 7equipes7 games 7garotos maiores. Mesmo assim, sempre era o grande destaque com dribles desconcertantes e muitos gols.
- Não dava para competir com ele no futebol. Ele era bom7 games 7tudo, nasceu com a estrela na testa. Poderia até ter sido goleiro se quisesse – ressaltou.
Dico virou Pelé e deixou Bauru para ganhar o mundo. Mas não esqueceu dos amigos. A relação com a família vizinha era tão boa que ele se referia a seu Lavico e à dona Emirinia como tios e tias. Raul e a irmã Raquel eram os primos. Mesmo distante, o craque continuou7 games 7contato. A cada viagem, enviava postais. O primeiro é datado7 games 7287 games 7maio7 games 71958, direto7 games 7Florença-ITA. Raul guarda ainda outros cartões vindos7 games 7Dusseldorf-ALE, Pisa-ITA e Marselha-FRA.
- Ele me chamava7 games 7primo, mas depois virei irmão. O irmão branco (risos) – brincou.
Nem mesmo quando estave prestes a encerrar a carreira Pelé deixou7 games 7pensar nos amigos. Os irmãos foram convidados a viajar até Nova Iorque e acompanhar a despedida do Rei,7 games 7partida do Cosmos contra o Santos. Trabalhando como representante comercial7 games 7Dracena, também no interior7 games 7São Paulo, Raul teve7 games 7explicar a todos os motivos do chamado.
- Ninguém sabia que eu era amigo do Pelé. Tive que contar a história muitas vezes. Algumas pessoas não acreditavam. Eu quase não viajei porque não tinha passaporte. Mas, falando que era para a festa do Pelé, tudo ficou mais rápido – disse.
Raul guarda álbuns recheados7 games 7fotografias7 games 7Nova Iorque. A viagem, presente na memória até hoje, está7 games 7segundo plano. Em primeiro, todo o tempo que conviveu ao lado do melhor amigo. Para o mundo, Pelé. Para ele, o Dico.
- Hoje, não temos mais tanto contato. É mais fácil ele me achar do que eu achá-lo. Ele é uma pessoa muito ocupada, um cidadão do mundo. Ninguém poderia imaginar que o Dico virasse tudo isso – completou Raul, com os olhos cheios7 games 7lágrimas.