Carille dispensa sushi e tradutor e realiza sonho na Série B do Japão

Em entrevista ao ge, técnico explica que desejava viver no país desde jovem e revela pedidos da mulher para seguir na Ásia. Ele admite atrito com Edu Dracena e diz que saiu triste do Santos

Por Bruno Cassucci — São Paulo


Quando deixou o Brasil para trabalhar no exterior pela primeira vez,bet365 02018, Fábio Carille não escondeu quebet365 0motivação era financeira. Convencido por "dois caminhõesbet365 0dinheiro", o técnico trocou o Corinthians pela Arábia Saudita, país no qual teve duas passagens: primeiro no Al-Wehda, depois no Al-Ittihad.

Carille realiza sonho no Japão e avisa: “Não pensobet365 0sair daquibet365 0jeito nenhum”

Agora, no Japão, a situação é bem diferente. Embora Carille enfatize que a multa para rescindir o contrato dele é "muito alta mesmo", são outros os motivos que o fazem nem cogitar sair do país.

– É um projetobet365 0vida! – disse o técnico,bet365 0entrevista exclusiva ao ge.

Carille começou a sonhar com a Terra do Sol Nascente ainda jovem, quando jogava no XVbet365 0Jaú. Na décadabet365 01980, o clube do interiorbet365 0São Paulo tinha uma parceria com o Shimizu, a principal escolabet365 0futebol do Japão na época, e realizava um intercâmbiobet365 0jogadores.

Carille ouviu ótimas referências dos atletas que visitaram o país, mas naquele momento não teve oportunidadebet365 0cruzar o oceano, o que só foi acontecerbet365 02012, quando ele viajou com o Corinthians à Ásia para a disputa do Mundialbet365 0Clubes. A experiênciabet365 0quase duas semanas o deixou com ainda mais vontadebet365 0voltar, mas dessa vez para morar.

– Estou vivendo aquilo que eu já tinha escutado, que já imaginava, o que vi naqueles 12 dias que passei aqui com o Corinthians no Mundial. Está sendo muito legal – relata.

Fábio Carille é técnico do V-Varen Nagasaki, da segunda divisão do Japão — Foto: Reprodução / Instagram

Para realizar o sonho, o técnico aceitou comandar um time da segunda divisão do Japão: o V-Varen,bet365 0Nagasaki. A cidade fica na costa oeste do país, a 1h40bet365 0avião da capital Tóquio.

Com a temperatura mais quente do quebet365 0outras regiões do país, Nagasaki atrai pessoas mais velhas, que buscam sossego e clima mais ameno para os anosbet365 0aposentadoria.

Carille, que se diz uma pessoa "do mato", se encantou pelo estilobet365 0vida simples e tranquilo do lugar. A mulher dele costuma se locomover pela cidadebet365 0bicicleta. Já o técnico às vezes vai a pé para o centrobet365 0treinamento, que fica a 15 minutos caminhando da casa dele.

– Estoubet365 0um bairro muito tradicionalbet365 0que escolhi morar, muito japonês, casinha sem muros nem nada, questão da segurança é muito legal. Agora os campeonatos do Oriente estão acabando ebet365 0vezbet365 0quando liga um empresário ou alguém perguntando se tem interesse. Minha esposa quando está do lado e escuta isso já começa a ter desespero: “Pelo amorbet365 0Deus, não vai inventarbet365 0sair daqui” – comentou o treinador.

Fábio Carillebet365 0jantar com funcionários do V-Varen Nagasaki — Foto: Reprodução/Instagram

– A gente fica feliz quando surge o nome aqui ou lá, quando alguém liga, é reconhecimento do trabalho, mas no momento não pensobet365 0sair daquibet365 0jeito nenhum.

bet365 0 Lamentação e sondagem

Uma dessas vezesbet365 0que "surge o nome aqui ou lá" foi na semana passada. Após demitir Odair Hellmann, o Santos procurou Carille, mas não avançou na negociação e acabou fechando com Paulo Turra.

O Peixe trás lembranças amargas para o técnico, que passou pela Vila Belmiro entre setembrobet365 02021 e fevereirobet365 02022. Logo no início, o técnico teve êxito na luta contra o rebaixamento no Brasileirão, mas depois não conseguiu manter uma regularidade no Campeonato Paulista. O desempenhobet365 0campo, porém, não foi o maior problema.

– Foi o lugar que saí mais triste, achei que poderiam ter acontecido muito mais coisas. Minha saída não foi por resultados, eu estava muito desgastado ali dentro por algumas situações. Liguei para o presidente numa sexta-feirabet365 0manhã e falei: “Não consigo trabalhar assim, o senhor me desculpa" – relembra Carille.

– Com jogadores e funcionários foi muito legal, saí triste porque achava que poderia ter feito algo maior dentro do que o Santos pensava, estava feliz com o trabalho, estávamos dentro da zonabet365 0classificação do Campeonato Paulista... Mas não me acertei com o (ex-executivobet365 0futebol) Edu Dracena. A gente não se entendeu, foi quando procurei o presidente para sair.

Carille relembra atrito com Edu Dracena no Santos: “Foi o lugar que saí mais triste”

Depois do Santos, Carille ainda fez um trabalho relâmpago no Athletico, com duraçãobet365 021 dias. Pouco maisbet365 0um mês após ser demitido, ele estava prestes a voltar para o Oriente Médio, dessa vez para o Catar, mas não pensou duas vezes quando apareceu a oferta do Japão.

bet365 0 Sem sushi e tradutor

Em pouco tempo, o técnico notou as diferenças do futebol brasileiro para o japonês. Mesmo sem conseguir levar o V-Varen para a primeira divisão - terminou o campeonato na 11ª colocação - Carille teve o contrato renovado com o timebet365 0Nagasaki.

– Ninguém da imprensa briga comigo aqui, eu também não brigo com ninguém (risos). Você sai do jogo derrotado e sai aplaudido. Eles entendem e respeitam muito o trabalho que você faz no dia a dia, não se apegam tanto ao resultado. É claro que existe cobrança, mas eles veem muito o trabalho, o dia a dia, a conduta no clube.

Fábio Carille está desde 2022 no V-Varen Nagasaki, do Japão — Foto: Divulgação

Melhor adaptado e conseguindo implementar algumas melhorias no clube, Carille atualmente briga pelo acesso à elite do futebol japonês. O V-Varen ocupa a quarta posição, sendo que os dois melhores colocados sobem direto e há uma terceira vaga decidida num playoff.

A maioria do elencobet365 0Carille é formada por japoneses, mas o técnico conta com seis jogadores brasileiros: os zagueiros Valdo e Kaique Mafaldo; o meia Caio César; e os atacantes Clayson, Cristiano e Edigar Junio. Há também um sérvio e um espanhol no grupo.

No centrobet365 0treinamento e durante os jogos, o treinador tem o auxíliobet365 0tradutores. Eles têm papel importantebet365 0preleções e até para passar orientações nos intervalos das partidas. Porém, fora do clube Carille prefere ficar por conta.

– Só nos primeiros dias um tradutor me acompanhou fora do clube. Depois eu mesmo quis sair sozinho, porque você acaba aprendendo melhor. E o celular ajuda bastante também – afirma o técnico, que tem feito aulasbet365 0japonês, mas admite a dificuldadebet365 0aprender o idioma.

– Aqui é muito mais fácil do que o árabe, onde trabalhei por maisbet365 0dois anos. Aqui tem muitas palavras que são usadasbet365 0inglês, na Arábia, não. Aqui você consegue pegar algumas coisas e, após um ano, vai entendendo. É difícil falar, mas ouve mais fácil – explica.

Fábio Carille durante eventobet365 0canoagembet365 0seu clube no Japão — Foto: Reprodução/Instagram

Assim como o idioma, a gastronomia não é um problema para ele. Carille dispensa os sushis, mas aproveita várias outras iguarias locais:

– Coisas cruas não me pegam, sou do mato. Gostobet365 0coisas assadas, cozidas. Mas é claro que tem outras opções. Os restaurantes japoneses aqui são muito diferentes dos do Brasil, é outra pegada. Quando chega nesses lugares, já vem tudo do jeito que gosto. Inclusive, também tem japoneses que não gostambet365 0comida crua, é servidobet365 0acordo com o gosto do cliente.

Com a reabertura do Japão após a pandemia, Carille tem aproveitado as folgasbet365 02023 para visitar outras regiões alémbet365 0Nagasaki. Recentemente, ele também vivenciou outra experiência diferente, ao participar da aberturabet365 0uma partidabet365 0beisebol entre Yomiuri Giants e Yokohama Baystars.

Fabio Carille, ex-Corinthians, atacabet365 0jogadorbet365 0baseball no Japão

– Não sabia a grandeza que era esse evento. Lotaram o estádio, eu entrei antes do jogo para fazer aquilo, e o que me espantou depois foi quebet365 0qualquer lugar que vou,bet365 0Tóquio e tal, me veem no aeroporto e fazem o sinalbet365 0arremesso da bola. Hoje já está normal, mas logo depois do jogo isso me assustou, porque na rua aqui do bairro imitavam o gesto do arremesso. Essas coisas acabam encantando. Mesmo sem ganhar nenhum título, fui convidado para um evento desse, um clássicobet365 0que todos estavam assistindo. Isso acaba emocionando e até deixando a gente feliz com tudo isso.

Atualmente com 49 anos, Carille sabe que ainda tem uma carreira longa pela frente e se prepara para o futuro. No começo desse ano, ele esteve na Inglaterra conhecendobet365 0perto o trabalho do Arsenal, que abriu as portas a ele graças ao diretor Edu Gaspar.

Edu Gaspar, dirigente do Arsenal, e o técnico Fábio Carille — Foto: Reprodução / Instagram

Apesar da diferençabet365 0fuso-horário, o técnico também não tira o olho do futebol brasileiro e faz elogios ao Fluminense,bet365 0Fernando Diniz, ao Grêmio,bet365 0Renato Gaúcho, ao São Paulo,bet365 0Dorival Jr, e ao Palmeiras,bet365 0Abel Ferreira.

Entretanto, voltar para casa não está no horizonte nesse momento:

– Profissionalmente, não pensobet365 0outra coisa a não ser o acesso.