Lembra dele? Campeão brasileiro pelo Santos inicia como técnico na Terceira Divisão do Paranaense

De torneiro mecânico a zagueiro, Ávalos foi técnico nas categoriasbase do FC Cascavel e hoje comanda o time principal do Toledo, na Terceira Divisão do Paranaense

Por Raylane Martins — Curitiba


Campeão brasileiro pelo Santos, Ávalos inicia a carreira como treinador no Toledo

Aos 46 anos, o ex-zagueiro Ávalos dá os primeiros passos como técnico, comandando o Toledo, pela Terceira Divisão do Campeonato Paranaense. Na bagagem como jogador, o títulocampeão brasileiro pelo Santos,2004, alémpassagens pelo Athletico e outros 15 times. Ele pendurou as chuteiras2014, no FC Cascavel, e agora busca novas conquistas.

— Estou onde eu queria estar, dentro do campo, onde me sinto bem. Quero vivenciar um outro sonho agora. Alémser jogador, me tornar um técnico bem-sucedido - disse Ávalosentrevista ao ge.

— Estou terminando a faculdadeeducação física, já fiz os cursos da CBF e hoje estou no Toledo,uma oportunidade que surgiu através do Cascavel. Está sendo extraordinário. Uma experiênciamuito aprendizado - comentou.

Ávalos tem a Licença A para treinadorfutebol da CBF — Foto: Arquivo Pessoal/ CBF

Descoberto no churrasco

Ávalos nasceuCascavel, no Paraná, e foi torneiro mecânico antesencarar o futebol como profissão. Ele não passou pelas categoriasbase, e só foi descoberto graças a um churrasco entre amigos, quando tinha 19 anos.

— Eu erauma família muito humilde e, aos 17 anos, precisava trabalhar. Fui fazer um curso no Senai e lá eu era um dos melhores alunos. Eles me oportunizaram como um emprego, e eu comeceiuma grande empresaCascavel a trabalhar na funçãotorneiro mecânico - lembra Ávalos.

— Eu tinha dois amigos do meu bairro que jogavam no Cascavel. A equipe profissional foi fazer um treino e ia ter churrasco depois. Eles sabiam que eu estavaférias e perguntaram se eu não queria ir. No dia seguinte jogueinovo, e o treinador fez o convite para eu fazer parte do elenco do Cascavel - conta.

— Lembro que eu observava o que os jogadores faziam na televisão e tentava recriar sozinhocasa. Até hoje o pessoal acha que eu sou canhoto, mas eu sou destro. Eu só aprendi a bater na bolaperna esquerda,tanto chutar bola na parede, no muro lácasa. Até tive problema com meu pai por causa disso aí - brinca Ávalos.

Aos 18 anos, Ávalos abandonou o trabalhotorneio mecânico para jogar no Cascavel. Seis meses depois, foi chamado pelo Athletico. Não demorou muito para que Abel Braga desse uma oportunidade ao garoto.

— Ele me viu jogando e quando acabou o treino falou que queria conversar comigo na sala dele. Eu achei que ele ia me mandar embora, eu fui o último a tomar banho e cheguei na sala dele tremendo. Aí ele falou vamos subir no escritório, fiquei com mais medo ainda. Eu era inexperiente, não sabia nem o que era um cartãocrédito ainda. Abel me deu oportunidadeestrear no Athletico e as coisas foram acontecendo - conta o zagueiro.

Ávalos foi um dos jogadores mais regulares do Paraná Clube entre 2002 e 2003, onde diz ter vivido seu auge fisicamente e tecnicamente. O desempenho com a camisa paranista chamou a atenção do Santos.

Ávaloscampo pelo Santos — Foto: Arquivo

— O melhor momento da minha carreira foi no Santos. Sem dúvidas. Eu tive que me adaptar a um outro nívelfutebol, joguei com atletasseleção brasileira.

— Minha melhor lembrança como jogador foi o título brasileiro2004, foi um sonho realizado. Desde criança eu pensavaum grande título nacional e conquistei, não é fácil mas é emocionante, não tem como explicar - revela Ávalos.

Com a camisa do Peixe, Ávalos disputou 115 partidas e marcou apenas quatro gols, mas conquistou o Brasileirão2004 ao ladojogadores como Robinho, o artilheiro Deivid, Preto Casagrande, Elano e outros. Ele também participou das conquistas dos Campeonatos Paulistas2006 e 2007 nos tempos do goleiro Fábio Costa e do volante Maldonado.

Time do Santos que foi campeão paulista2006 — Foto: Arquivo/ Santos FC

Depois do fim

Ávalos ficou pouco maistrês temporadas jogando no Santos. Em agosto2007, o zagueiro rescindiu o contrato e acertou com o São Caetano. Ele passou também por Grêmio Barueri, Itumbiara, Monte Azul, América-RJ, Volta Redonda, São José, Remo, entre outros clubes, antesencerrar a carreira como jogador,2014, pertocompletar 37 anos.

— Quando eu parei, eu tentei sair do futebol. Eu tinha alguns negócios na agropecuária e fui para esse ramo, mas depoisalguns anos fora do futebol, parece que alguma coisa ficava me chamando: "você tem que voltar, tem que voltar". Eu estava feliz com o que fazia, mas apareceu uma oportunidade e eu não pensei duas vezes - explica Ávalos.

— Eu nunca pensei que seria treinador, eu queria fazer parte do pessoal dentro do campo, um auxiliar técnico, talvez um preparador físico, alguém que tivesse bem próximo ali, mas ser treinador principal eu nem tinha pensado. As coisas foram fluindo para isso e fui gostando do que estava fazendo, dos desafios dentro da profissão, isso me motivou - conta.

Ávalos no comando do FC Cascavel — Foto: Arquivo Pessoal/ FC Cascavel

Professor Ávalos

A históriaÁvalos como técnico começa nas categoriasbase do FC Cascavel, mesmo clube onde começou e terminou a carreira como jogador. Ele passou pelo comando do sub-17 e do sub-19 antesassumir o time principal do Toledo, neste ano, na Terceira Divisão do Paranaense.

Ávalos, técnico do Toledo na Terceira Divisão do Paranaense — Foto: Divulgação/ Toledo

— As categoriasbase me deram a oportunidadeescolher jogadores, características, montar minha equipe. Eu ajudei a iniciar as categoriasbase do Cascavel e isso me trouxe muita satisfação, e muito trabalho também. Nesse processo fui aprendendo sobre parte técnica, parte tática, parte psicológica, formando opiniões e encaixando um trabalho - valoriza.

— O mais difícil como técnico é a gestão do grupo, porque você trabalha com 25 ou 30 atletas e mais 10 pessoas da comissão tendo que gerir todas as pessoas e convencê-las a irem para o mesmo caminho, fazer parteum projeto. Só 11 atletas jogam, quase 20 ficamforacada partida, então é complicado administrar - desabafa Ávalos.

De pai para filha

FilhaCristiano Ávalos é atleta no atletismo — Foto: Arquivo Pessoal/ Ávalos

Se antesÁvalos a família dele não tinha conexão com o esporte, depoisÁvalos certamente terá. A filha, Nataly Oliveira Avalos, vai fazer 19 anosdezembro.

— Ela é atleta velocista, foi seis vezes campeã paranaense nos 100 e nos 200 metros. É um orgulho. Hoje faz faculdadefisioterapia, está se encaminhando para ter a vida dela. O que importa é ter uma vida tranquila, honesta, fazer as coisas sempre do jeito certo, sempre trabalhando, mas também curtindo a vida, se divertindo. Não precisamos muito mais do que ter saúde e respeito profissional que é muito importante.

Ávalos e a filha Nataly,18 anos — Foto: Arquivo Pessoal/ Ávalos