Niki Lauda era daqueles ricos personagens que gostavabasquete betfalar, no paddock, com pessoas com quem desenvolveu uma relaçãobasquete betconfiança. Sobre os mais diversos assuntos, não apenas F1, como aviação, economia mundial, erupções vulcânicas.
De fora, parecia ser um homem frio, pouco dado a emoções, bastante objetivo. Falava apenas o indispensável. Mas quem teve contato mais próximo o viabasquete betforma oposta: algumas histórias o sensibilizavam ao extremo e era sempre impressionantemente sincero.
Quer ver? Conto uma passagem capazbasquete betilustrar com perfeição esse lado mais humano e pouco conhecidobasquete betLauda.
Eu o conheci melhorbasquete bet2001, 2002, quando era diretor da equipe Jaguar. Ele estava sempre nos explicando os motivosbasquete betsuas decisões, algo inesperado do que sabíamosbasquete betLauda. O fato é que para aquele pequeno grupo que regularmente se aproximava dele Lauda tornou-se um livro aberto.
Isso fez com que, mesmo depoisbasquete betdeixar a Jaguar, nós mantivéssemos o privilégiobasquete betpoder lhe fazer perguntas, algumas até pessoais, sobre suas empresas aéreas, por exemplo. Não ficávamos sem resposta. Em duas ocasiões, Lauda me disse:
- Venha amanhã no motorhome da Red Bull às 9 horas, algunsbasquete betseus colegas estarão lá, e enquanto tomamos o café da manhã eu te contobasquete betdetalhes.
Como sabia da minha paixão por aviação, assuntobasquete betalgumas conversas com as pessoas que dava atenção, queria saber, mesmo anos mais tarde, o que ele, como piloto também do mesmo aparelho acidentado, um Boeing 767 da Lauda Air, tinha a dizer.
Viciadobasquete betvoar
Descrevo essa experiência com Lauda para mostrar que tinha liberdade para lhe contar o que relato agora.
Na sexta-feira do GPbasquete betAbu Dhabibasquete bet2014, fui à área reservada da Mercedes no paddock do Circuito Yas Marina para almoçar. Faltava pouco para as 12h30, horáriobasquete betabertura para nós comermos. Como ainda produzia para a mídia japonesa, além do GloboEsporte.com, tinhabasquete betcronometrar muito bem o meu tempo.
Lauda era sócio da Mercedes. Estava lá sentado, com outra pessoa à mesa, mas não conversavam naquele instante. Eu me aproximei, sinalizando com o indicador, uma espéciebasquete betcódigo para pedir autorização. Lauda movimentou a cabeça e sorriu amavelmente. Sinal verde.
Pensou que eu fosse lhe perguntar sobre a disputa do título entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg, seus pilotos, naquela corrida, a última do ano. Mas ao ouvir que eu tinha algo para lhe contarbasquete betvezbasquete betperguntar a respeito da decisão do mundial, foi expansivo:
- Ula, finalmente vou ouvir alguma coisa diferentebasquete betvezbasquete betfalar o que penso, as chancesbasquete betLewis e Nico. Eu já dei a minha opinião mil vezes, mas as pessoas continuam me perguntando, falou, olhando para o amigo e para mim. Fez sinal com a mão para que eu sentasse.
Envelopebasquete betcarta
Disse a Lauda que na épocabasquete betque era diretor da Jaguar, há 13 anos daquela conversa, eu encontrei um envelope que me tocou a alma. Minha mãe pediu que eu verificasse se havia algo do meu interessebasquete betum velho móvel nabasquete betcasa, pois ela iria se desfazer dele.
Ao abrir gavetas e portas, encontrei uma caixabasquete betpapelão com papéis no interior. Um deles era um envelopebasquete betcarta dos anos 70, com as laterais listradasbasquete betverde e amarelo, como eram na época. Não sei se ainda o são, creio que não.
Eu o peguei e nos segundos seguintes tentava entender o que significava aquilo, pois estava escrito, à caneta, grande, o nome Andreas Nikolaus Lauda. Depoisbasquete betum breve tempo, esbocei um sorriso, havia encontrado a ficha na minha memória.
Como fã da F1 desde muito jovem, ainda, eu escrevi aquela cartabasquete betagostobasquete bet1976 e pretendia enviá-la, imagine, a Niki Lauda, internadobasquete betum hospital na Alemanha, lutando para sobreviver ao grave acidentebasquete betNurburgring, dias antes.
Força, campeão
Eu abri o envelope lentamente e li o que estava escrito. Encontrei um pós-adolescentebasquete betcomportamento quase pueril, inocente, se expressandobasquete betinglês rudimentar. Mostrava que eu o seguia desde a primeira corridabasquete betque o vibasquete betperto, no GP Brasilbasquete bet1973, na BRM, pedia para resistir a tudo, "be strong", desejava vê-lo logobasquete betvolta às pistas, pois seria campeão do mundobasquete betnovo, como na temporada anterior.
Falei resumidamente o que lera. Lauda ouviu cada palavra com grande atenção,basquete betprofundo silêncio. Quando acabei, o vi com os olhos marejados. E naquele instante eu também me sensibilizei. Não esperava uma reação do gênero. Emendei logo outro assunto.
Aquele homem esteve bem pertobasquete betperder a vida por causa do acidente e 40 dias depois usava um capacete e balaclava especiais para suportar o contato com as queimaduras na face,basquete bettoda cabeça, para disputar o GP da Itália, pela Ferrari.
Contei a Lauda que fiqueibasquete betdúvida se deveria levar a carta a ele, naqueles diasbasquete betJaguar, ou não. Como tinha coisas muito sérias para resolver, como a enorme pressão da direção da Ford, dona da montadora britânica naquele tempo, para obter melhores resultados, imaginei que seria inoportuno.
Revelações no almoço
Acabei fazendo o meu prato e sentei juntobasquete betLauda, naquela mesa, para almoçar. As emoções foram rapidamente restauradas. Eu lhe contei ainda que não enviei a carta por não saber para onde mandar.
Não é como hoje que você escreve uma mensagem, um e-mail, e envia ao fã clube do piloto ou para o site oficial da equipe. Em 1976 o documento tinhabasquete betse deslocar fisicamente até algum lugar, com endereçobasquete betcorreio. Demos risada das duas realidades distintas. E eu bem que tentei. A carta acabou perdida da mudança. Desconfio que a caixabasquete betpapelão inteira foi dispensada.
Lauda me falou que havia uma profunda indignação no comando da Ford com o saláriobasquete betEddie Irvine, seu piloto, negócio não definido por ele. O irlandês foi para a Jaguar antesbasquete betLauda a assumir,basquete bet2001. Falava-sebasquete betum contratobasquete betUS$ 12 milhões (hoje R$ 48 milhões) por ano, impensavelmente alto para um piloto, ainda mais sem nadabasquete betgrandioso no currículo.
Durante o almoço, perguntei o que ele acreditava ser a causa da perdabasquete betcontrole do carro no seu acidente. Nunca o ouvira falar abertamente do assunto.
- Lembrobasquete bettudo. Quebrou a suspensão traseira. Nosso carro (modelo 312T), apesarbasquete betestarmos vencendo as corridas, era pesado. A McLaren vinha chegando. Naquele corrida, pela primeira vez usamos as ball joints (juntas esféricas) da suspensão traseirabasquete bettitâniobasquete betvezbasquete betaço.
Lauda me dissebasquete betforma incisiva. Fez sinal com a mão não desejar mais tocar no assunto. Foi a primeira vez que o vi dizer aquilo, nunca havia lido também. Me pareceu revelador.
Decisão precipitada
Já que o clima no almoço erabasquete bettotal distensão, perguntei a Lauda sobre o mal estar na relação com Daniele Audetto, diretor da Ferrari,basquete bet1976. Audetto ligou para Enzo Ferrari, do hospitalbasquete betKoblenz, para dizer que o quadrobasquete betLauda era muito preocupante, os médicos não deram muita esperançabasquete betsobrevida.
Audetto residebasquete betBordighera, Itália, ao ladobasquete betNice, e nos encontramos algumas vezes, nabasquete betcasa, nos tornamos amigos. Ele me disse que o Comendador pediu para ligar para Emerson Fittipaldi. E o fez no mesmo dia, para oferecer o carrobasquete betLauda na Ferrari.
- Emerson me respondeu que adoraria, mas tinha contrato com a Copersucar, não poderia deixar seu próprio time. Foi então que procurei Carlos Reutemann. Não podíamos imaginar que Niki ficariabasquete betfora somente duas corridas.
Lauda me falou:
- Eu me entendi depois com Danielle. Disse que antesbasquete betacreditar que eu iria morrer, como fez, deveria esperar um tempo para procurar um substituto. Hoje está tudo resolvido.
Não teve culpa
Sobre aquele café da manhã no motorhome da Red Bull, antesbasquete betLauda se tornar sócio da Mercedes,basquete bet2013, contou que fez questãobasquete betprovar para o mundo não ter responsabilidade na morte dos 213 passageiros e 10 tripulantes.
- Fui na Boeing, na Pratt&Whitney (fabricante da turbina), precisávamos esclarecer tudo. O que aconteceu todo mundo sabe, o reversor da turbina 1 abriubasquete betpleno voo. Não por falha da nossa manutenção, mas do sistema da turbina e do avião.
Lauda me falou mais:
- Viajei até a Boeing (nos Estados Unidos) para fazer a exata simulação do acidente no simulador. Mesmo sabendo que o reversor iria abrir e eu pronto para tomar as ações recomendadas pela Boeing não havia como retomar o controle do avião. Felizmente eles entenderem tudo o que se passou e criaram mais sistemasbasquete betsegurança para o reversor não abrir com o avião no ar. Para mim, o importante foi poder apenas sofrer pela perdabasquete bettantas pessoas e da tripulação, pois conhecia todos, e não carregar um enorme sentimentobasquete betculpa se provassem que a responsabilidade pelo ocorrido fosse nossa. Não foi.
Filho, te falta talento!
Naquelas rodas que formamos ao redorbasquete betLauda, um vez afirmou sem meias palavras quando lhe perguntaram sobre Mathias, seu filho, piloto também.
- Em 2005, acho, 2005, 2006, eu o chamei para dizer que não tinha talento para sonhar com a F1. Estava na GP2. Lembrobasquete betele jamais esperar ouvir algo desse tipobasquete betmim. Ficou paralisado. Disse que poderia tentar ajudá-lo a disputar o DTM (Campeonato Alemão para carrosbasquete betTurismo), deveria esquecer monopostos.
O outro filhobasquete betLauda, Lukas, tornou-se o empresáriobasquete betMathias. Por terem vivido a maior parte do tempobasquete betsuas vidasbasquete betIbiza, na Espanha, falam espanhol e reagem mais à maneira espanhola, latina, que austríaca. São sempre acessíveis quando estão no paddock.
Em 2009, Lauda teve um casalbasquete betgêmeos, com Birgit, esposa 30 anos mais jovem, com quem se casoubasquete bet2008. Em 2005, ela era comissária da empresa aéreabasquete betLauda e lhe deu um rim para transplante, pois o primeiro rim, cedido pelo irmão, já não funcionava mais.
Quando falávamos com Lauda se ele nos atenderia depois da corrida, era comum nos últimos anos ouvirmos:
- Falo, mas tembasquete betser logobasquete betseguida. Tenho helicóptero para me levar ao aeroporto e seguir com meu avião para casa. Tenho dois pequenos me esperando.
Em geral, Lauda não permanecia muito tempo no autódromo. Houve ocasiõesbasquete betque nem mesmo esperou a clássica foto do time socando o ar, para celebrar a vitória no GP. Ele usava um Bombardier 6000, um dos maiores jatos executivos do mercado,basquete betcusto médiobasquete betUS$ 60 milhões (R$ 240 milhões). Trabalhava também como embaixador do fabricante canadense.
Fã do avião da Embraer
Parabasquete betsegunda companhia aérea, Niki, Lauda viajou pessoalmente a São José dos Campos, sede da Embraer, para retirar o EMB195 adquirido por ele. Nas conversas sobre aviação, disse-me:
- Que avião deliciosobasquete betpilotar. E é um fazedorbasquete betdinheiro. Sabendo aproveitá-lo é muito rentável parabasquete betempresa.
A respeito da paralisação quase mundial da aviação,basquete bet2010, por causa da erupção vulcânica na Islândia, bloqueando boa parte dos integrantes da F1basquete betXangai, na China, eu inclusive, Lauda deu risada do episódio. Ele se expressou para nós, no paddock,basquete betBarcelona, GP seguinte, exatamente assim:
- Que exagero! Eu segui voando com a minha aeronave e não vi nada que justificasse essa calamidade, parar o tráfego aéreo mundial. Onde estão com a cabeça? Não é para tudo isso. O transtorno, o prejuízo que causaram não faz sentido. Ok, algumas áreas, no norte da Europa, determinados dias, precisavam mesmo ser controladas, mas o restante não.
Bem, esse é uma relato, apesarbasquete betextenso, breve da convivênciabasquete betum jornalista com Lauda na F1 durante tantos anos. Haveria tanto mais para contar sobre esse personagem que já deixava saudade, por estar fora do paddock há quase um ano.
A cada conversa com Lauda saíamos informados,basquete betvisão inteligente e profundo pragmatismo sempre nos passavam uma mensagem capazbasquete betgerar reflexões. Sem falar que como piloto era uma unanimidade na F1, um dos grandes da história.