A torcida da Lusa deixou o estádio do Canindé neste sábado com uma sensação diferenteduas semanas atrás, apesaro clube ter construído vantagens idênticas. Antes, 1 a 0 sobre o XVPiracicaba. Agora, 1 a 0 diante do Votuporanguense.
Naquele jogoida das quartasfinal, a impressão que ficou eraque dava para ter marcado pelo menos mais um gol e conquistado uma vantagem um pouco maior. Nesse jogoida da semifinal, a percepção quase geral foiuma vantagem preciosa.
Cenário,parte, justificado pela própria trajetória da Portuguesa na Copa Paulista. Afinal, nas duas fases anterioresmata-mata mostrou sabedoria, concentração e disciplina para fazer valer as pequenas vantagens que foi conquistando.
Isso começou nas oitavasfinal, quando a Lusa eliminou o São Bento no Canindé nos pênaltis, após dois empates sem gols. E se reforçouPiracicaba, quando “soube sofrer”, sem se limitar à retranca após o 1 a 0, jogando e vencendonovo, por 2 a 1.
Além disso, conta para essa sensaçãovantagem preciosa o que se viu do adversário dessa semifinal. O Votuporanguense não veio à capital paulista apenas para se defender e buscar o contragolpe, como o São Bento, e mostrou ter bem mais organização e qualidade técnica, podendo ser bem mais perigoso que o XVPiracicaba.
Para esse confronto, a Portuguesa acertou tanto na escalação, que não mudoucomparação às partidas passadas, quanto na postura,buscar construir uma vantagemcasa sem atacarforma irresponsável e deixar a defesa exposta ou aberta.
O principal desfalque rubro-verde nesse jogoida era o técnico Alan Dotti. Expulso ainda na fasegrupos, foi punido pelo TribunalJustiçaSão Paulo com quatro partidassuspensão. Chegou a cumprir duas, mas a Lusa recorreu duas vezes.
O recurso foi negado no TJD, mas parcialmente acolhido na instância acima, o Superior TribunalJustiça Desportiva. O clube conseguiu reduzir a puniçãoquatro para três jogos. Faltava, portanto, um. Justo esse primeiro embate com o Votuporanguense.
O auxiliar Cesar Michelon ficou à beira do gramado, comandando um time titularRafael Pascoal no gol; Ben-Hur na lateral direita e Pedro Henrique na esquerda; Glauco e Maurício no miolozaga; Ferreira, Elvis e Cristiano no meio-campo; Maceióuma beirada, Carlos Henriqueoutra, e Anderson Magrão centralizado no ataque.
Em poucos minutosbola rolando, o Votuporanguense mostrou por que só havia perdido três jogos33 disputados nesta temporada. Uma trajetória construída, além desta Copa Paulista,uma campanhaacesso e título na Série A3 estadual.
O técnico Rogério Corrêa, unanimidadeVotuporanga, levou ao gramado do Canindé uma equipe que, ao contráriotantas outras, buscou jogar. Dentro dos padrões técnicos da Copa Paulista, que fique claro, o adversário luso mais qualificado até aqui.
Um time que raramente se desorganiza no setor defensivo, mesmo quando desce ao ataque, e que se esforça para não recorrer ao chutão ou à ligação direta para chegar ao gol adversário. É raro ver no torneio triangulações como as alvinegras.
Não a toa, os melhores momentos da Portuguesa na partida foram aquelesque adiantou as linhas defensivas, encurtou os espaços no meio-campo e fatiou as bolas trabalhadas pelas beiradas. Os piores, claro, foram aquelesque marcou a distância.
Quando isso aconteceu, a Lusa assistiu ao Votuporanguense trabalhar e tocar a bola até entrar na área. E, não fosse a faltapontaria dos atacantes, até poderia ter aberto o marcador. Sejaparte do primeiro tempo, seja na reta final do confronto.
Como vem sendo a tônica do elenco desde o início da competição, vontade e empenho jamais faltaram à Portuguesa. Esses elementos, aliás, foram fundamentais sobretudo no primeiro tempo, quando algumas das peças principais deixaram um pouco a desejar.
O começo da etapa final mostrou que a conversa no intervalo funcionou. Foi usando o recurso que mais deu certo até aqui, as descidas pelas beiradas, que a Lusa conseguiu balançar a redes, marcar um gol valioso e largar na frente nesta semifinal.
Aos nove minutos, Maceió desceu pela direita, se livroudois marcadores e soltou para Ben-Hur que,velocidade, entrou na área já tocando para o meio. Carlos Henrique chegava e, com a visão congestionada, identificou Cristiano se aproximando pela esquerda. O camisa 10 dominou e tinha duas opções: chutar ou tocar para Maceió. Cristiano chutou. A bola desviou no zagueiro Léo Paraíso e matou o goleiro João Paulo.
Quis o destino que, assim como nas quartasfinal, a vantagem saísse dos pésCristiano. Após sofrer o gol, o técnico Rogério Corrêa colocou o Votuporanguense ainda mais para cima da Portuguesa. Foi aí que a equipe rubro-verde tevecompensar até mesmo o cansaço e a faltaperna com a sabedoria, concentração e disciplina.
Ao apito final já foi perceptível a sensação na arquibancada rubro-verde: ater conseguido uma vantagem preciosa. Assim como foiPiracicaba, a Lusa terá“saber sofrer”, sem se limitar à retranca, jogando com inteligência e foco a 200%.
Se alguém ainda duvidava, o jogoida não deixou dúvidasque o Votuporanguense é um adversário perigoso. Jogar no interior paulista não será simples, mas a receita está na trajetória que a própria Portuguesa percorreu até aqui na Copa Paulista.
A semana será não sótrabalho duro no CT eviagem longa para Votuporanga. Seráexpectativa para a situação do zagueiro Glauco, que saiu machucado. Serávolta do técnico Alan Dotti à beira do gramado. Temsermuito foco.
O grande desafio da Portuguesa é se manter nesse trilhopés no chão e cabeça no lugar, fazendo valer cada vantagem mínima que conquista na competição. Em linhas gerais,transformar Votuporangauma Piracicaba, para assim chegar à final.
*Luiz Nascimento, 32, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 14 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site.