Adriano passa a limpo uma carreira sem arrependimentos: "Fiz o que tinha que fazer"

Imperador se declara ao Fla, define passagens por Inter e Seleção e lembra questionamentos a si próprio: "Tinha cinco carros na garagem, eu olhava e pensava: "Por que isso?""

Por Cahê Mota e Richard Souza — Riodeposito bet7kJaneiro


"A batalha final". É dessa maneira que Adriano tem chamadodeposito bet7kpartidadeposito bet7kdespedida do futebol, neste domingo, às 17h (de Brasília), no Maracanã.

O amistoso entre Flamengo e Amigos da Itália, com a presençadeposito bet7kex-companheiros, é uma espéciedeposito bet7kcarimbo final para uma das trajetórias mais impressionantes e contraditórias do futebol brasileiro. "A batalha final" nos gramados é o ponto finaldeposito bet7kuma história onde o Imperador teve que vencer batalhas que foram além das bolas nos pés - muitas vezes contra si mesmo. (clique aqui e veja preços e outras informações sobre vendadeposito bet7kingressos).

Adriano sorrideposito bet7kentrevista ao ge sobre despedida — Foto: Cahê Mota / ge

Ídolodeposito bet7kFlamengo, Interdeposito bet7kMilão e Seleção Brasileira, o ex-atacante dividiu holofotes entre os feitos protagonizados pela potente perna esquerda e as decisõesdeposito bet7krecuar por contadeposito bet7kproblemas que o afligiam mentalmente. Entre idas e vindas, Adriano consolida a aposentadoria com a convicçãodeposito bet7kque foi até um limite que teve o capítulo final com a camisa do Miami United,deposito bet7k2016, mas que já dava sinaisdeposito bet7kfim nos temposdeposito bet7kCorinthians,deposito bet7k2011.

"Eu fiz o que tinha que fazer. Não sinto falta. Acho que fiz até onde eu puder fazer... Se as coisas não estão dando certo, tem que ser homem para recuar, para se afastar do que não te faz mais bem"

- Não é uma coisa que era mais igual a quando eu era pequeno, quando comecei, com a autoestima ládeposito bet7kcima, querendo conquistar as coisas... Não era mais a mesma coisa.

Depois que deixou o Corinthians, no iníciodeposito bet7k2012, foram poucas aparições como jogador profissional. Adriano disputou quatro partidas pelo Athletico-PR e marcou um goldeposito bet7k2014 e depois fez um jogo amistoso solitário pelo time dos Estados Unidosdeposito bet7kmaiodeposito bet7k2016. Ao todo, foram 427 partidas, 201 gols marcados e 15 títulos conquistados na carreira.

Pedro encontra Adriano antes da despedida do ídolo do Flamengo

História que garantiu a Adriano o postodeposito bet7kImperador do futebol mundial, mas também mexeu com a cabeçadeposito bet7kquem viu o mundo girar a medida que marcava gols. Aos 42 anos, o ex-atacante olha para trás e reflete:

"A responsabilidade veio muito cedo e isso para um garoto que não tinha nada e do nada tem um montedeposito bet7kcoisa, é chamadodeposito bet7kImperador, a cabeça fica pirada. A gente deixa subir para cabeça, o que é normal. Às vezes, tinha cinco carros na garagem, eu olhava e pensava: "Por que que eu estou fazendo isso?""

- Mas é tanta coisa na cabeça que você vai vivendo, vai vivendo e mais para frente que minha mãe falou "não faça isso, toma cuidado". Quando eu voltei para Inter, nos dois, três últimos anos, que eu comecei a ver que não precisava daquilo.

Adriano Imperador por muitas vezes se confundiu ao longo dos anos com o Didico. E esse ele não abre mãodeposito bet7kser sejadeposito bet7kMilão ou no próximo domingo, no Maracanã.

- Eu sempre falei que gostodeposito bet7kir para a minha comunidade, fazer meu churrasquinho, e o pessoal também se identifica com isso. Eu jamais fiz isso para mostrar as pessoas algo que eu não sou. Não fiz para mostrar que sou humilde... Não, não, não. Isso é meu desde pequeno, criaçãodeposito bet7kpai edeposito bet7kmãe. As pessoas vêm também que é puro, não é forçado. O carinho que eles têm por mim deve ser mais por isso.

Adriano terá a companhiadeposito bet7kZico, Ronaldo e Romário na despedida — Foto: Reprodução

Adriano recebeu o ge emdeposito bet7kcasa no Riodeposito bet7kJaneiro para falar da expectativa para a festadeposito bet7kdespedida que contará com nomes como Ronaldo, Romário e Zico. Confira abaixo a íntegra do bate-papodeposito bet7kquase uma hora com o Imperador:

Quando foi que você decidiu que realmente não iria mais jogar futebol? Foi depois dadeposito bet7kexperiência nos Estados Unidos?

Ali, dinheiro para mim não importava. Era só para jogar e ter uma experiência, mas logo depois vi que não era mais para mim. Eu não estava mais preparado para aturar tudodeposito bet7knovo. Então, resolvi voltar para o Brasil e rescindir contrato.

Você chega a conversar com alguém, se abre com alguém para expordeposito bet7kdecisão?

Não. Não falei, não. Até porque, minha mãe, minha família já estava sentindo isso. Ali (nos EUA), era mais um divertimento do que jogar sério. Era quarta divisão, as pessoas trabalhavam para depoisdeposito bet7ktreinar na quarta-feira para jogar na sexta. Não tinha aquela responsabilidade realmentedeposito bet7kum campeonato sério, respeitando o clube, mas não era a mesma coisa. Fui para sair um pouco do Brasil e aproveitar os Estados Unidos, conhecer Miami, Los Angeles, Las Vegas... Aproveitei também a viagem e depoisdeposito bet7kum jogodeposito bet7kLas Vegas, que o Ronaldinho também jogou, retornei ao Brasil e não voltei mais. Liguei para o presidente e falei que não dava mais para mim.

Adrianodeposito bet7kentrevista ao ge antesdeposito bet7kdespedida — Foto: Cahê Mota / ge

Quando que deu o momento que "já deu", que não tinha prazer mais?

Foi quando eu operei o tendão (no Corinthians) e já comecei a desanimar muito. Eu saí do Corinthians, tentei voltar ao Flamengo na época que o Zinho era dirigente e o Doutor Runco me disse: "Adriano, você vai ter que operardeposito bet7knovo". Ali, foi a gota d´água. Mais sete meses parado e alguma coisa me dizia que eu tinha que me afastar e viver minha vida do ladodeposito bet7kfora.

O fim foi muito também pelo corpo chegar ao limite?

Eu sou alto, sou muito grande. De repente, se eu fosse um pouco menor, não seria tão difícil até questãodeposito bet7kpeso,deposito bet7ktudo. Isso me atrapalhou muito. Você tem que se adaptar a jogardeposito bet7kuma maneira diferente da que está na cabeça. Você está mancando e não tem mais a agilidadedeposito bet7kpegar e girar dentrodeposito bet7kcampo.

Aquele gol contra o Corinthians foi seu último grande momento. Como superou as limitações físicas para acabar sendo importante naquele título?

Foi importante, né? Apesardeposito bet7kter sido só aquele gol, foi importante para mim. No primeiro treino no Corinthians, eu machuquei e fiquei fora dos jogos. Depois, foi muita luta. Me colocaram na concentração para treinar a parte, para recuperar mais rápido e comecei a melhorar, mas não era a mesma coisa. Um poucodeposito bet7kespaço que eu tinha perto do gol era aquilo. Pegar a bola e arrancar como era antes, não tinha como. Eu manco até hoje e não tinha força no pé. O arranca era curto, cinco, seis metros na rapidez. Depois, eu perdia porque o tendão não acompanhava. Você pode ver que o gol foi um arranque curto. Foi um gol importante, sim. Ganhar um título pelo Corinthians, um clube que todo mundo é apaixonado.

Adriano, Flamengo x Grêmio 2009 — Foto: André Durão / GloboEsporte.com

Tanto tempo depois, você olha para trás e sente alguma falta da rotina como atleta profissional?

Não. Graças a Deus, eu fiz o que tinha que fazer. Não sinto falta. Acho que fiz até onde eu puder fazer... Se as coisas não estão dando certo, tem que ser homem para recuar, para se afastar do que não te faz mais bem. Não é uma coisa que era mais igual a quando eu era pequeno, quando comecei, com a autoestima ládeposito bet7kcima, querendo conquistar as coisas... Não era mais a mesma coisa.

Conversando com ex-companheiros, é impressionante o carinho com que todos se referem a você...

Sempre respeitei a todos os meus companheiros. Independentemente do que eu fiz foradeposito bet7kcampo, eu sempre respeitei e amei a todos. Sempre fui o Didico, vamos falar assim. Brincalhão, que sacaneia, gostadeposito bet7kbrincar, e isso fica gravado por eles. Eu sinto muita falta, falo com alguns até hoje para lembrar como era, e isso dá uma satisfação por realmente sentir o carinho desses jogadores que fizeram parte da minha vida. É um dever cumprido. Eu se não gostar da pessoa, já saiodeposito bet7kperto na mesma hoje, mas se gostar vou brincar, abraçar. E é muito difícil eu não gostardeposito bet7kalguém. Tanto que quase não tive problema na minha carreira, só discussão normaldeposito bet7kcampo. O carinho que eu tenho por eles é o que ele tem por mim.

Todos falam também que você foi um dos talentos mais impressionantes que já viram como atacante pela força física, capacidadedeposito bet7kdecisão, habilidade... Você acredita que fez temporadasdeposito bet7kmelhor do mundo?

Cheguei perto. Não é querer falar, não. Não é me gabar, mas cheguei perto porque mereci. Perdi para o Shevchenko na época e fiquei chateado. Não por ele, que é um craque também, mas eu ganhei mais títulos do que ele. Não sei se é porque eu ainda era muito novo, mas Deus sabe o que faz e não guardo mágoa. Pude fazer muita coisa boadeposito bet7kcampo. Já sou grandão, desajeitado e tinha muita força. Aprendi muito com o Prandelli no Parma a fazer gol. Tive uma experiência muito rápida como atacante no Flamengo, subi muito cedo e cheguei na Inter sem estar preparado realmente. O Prandelli viu essa deficiênciadeposito bet7kmim e sempre treinava comigodeposito bet7kfrente para o goleiro, explicando e conseguiu me aperfeiçoar. Eu chegava na frente e chutava forte, não sabia colocar a bola no canto, tirar do goleiro, e ele foi muito importante para mim.

Adriano Imperador fala sobre episódio mais marcantedeposito bet7ksua carreira

E você tinha consciência dadeposito bet7krelevância no futebol europeu?

Quando você chega a um momento bem mentalmente, feliz, eu só tinha 7%deposito bet7kgordura no corpo... Era muito forte, era só músculo, não era igual agora que estou com a barriguinha (risos). Então, quando você acredita maisdeposito bet7kvocê mesmo, o futebol melhora muito mais.

Dá para perceber pelas redes sociais o quanto o torcedor brasileiro te ama e dá carinho. Depois que você parou, essa relação ficou ainda mais afetuosa? Você acha que nos temposdeposito bet7kjogador ainda tinha muito julgamento pelo seu comportamento?

Eu acho que sim. Na boa, quando eu jogava, meu Deus do céu. Mas até hoje eu não acredito no tantodeposito bet7kcarinho que as pessoas têm por mim. Eles percebem que eu sou eu mesmo, falo das minhas polêmicas, da minha felicidade. Não soudeposito bet7kpassar para as pessoas algo que não sou. Isso conta muito. Hojedeposito bet7kdia, tem criancinha que nunca me viu jogar e quando me vê começa a chorar e eu não entendo. São os pais falando que eu fiz muita coisa pela Seleção, pelos times...

Acha que adeposito bet7kespontaneidade, o lado humano, é o que fez com que você se aproximasse tanto dos torcedores?

Com certeza! Eu sempre falei que gostodeposito bet7kir para a minha comunidade, fazer meu churrasquinho, e o pessoal também se identifica com isso. Eu jamais fiz isso para mostrar as pessoas algo que eu não sou. Não fiz para mostrar que sou humilde... Não, não, não. Isso é meu desde pequeno, criaçãodeposito bet7kpai edeposito bet7kmãe. As pessoas vêm também que é puro, não é forçado. O carinho que eles têm por mim deve ser mais por isso.

Adriano COpa America 2004 Brasil x Argentina — Foto: AFP

Depois que você paroudeposito bet7kjogar, a vida ficou mais leve?

Mais ou menos, cara (risos). No começo, as pessoas ficam no seu pé. Mas com o passar do tempo você fica mais tranquilo, mais leve, sim, para poder viver. Eu pareideposito bet7kjogar, mas ainda faço as minhas coisas que eu tenho que me acostumar.

Como foi conviver tanto tempo com a pressãodeposito bet7kjogar futebol? Era algo que te afligia?

No começo, eu não sabia muito entender, não. Com o passar do tempo, com a experiência, passei a lidar melhor com isso. Eu fui muito novo para Itália. A responsabilidade veio muito cedo e isso para um garoto que não tinha nada e do nada tem um montedeposito bet7kcoisa, é chamadodeposito bet7kImperador, a cabeça fica pirada. A gente deixa subir para cabeça, o que é normal. Às vezes, tinha cinco carros na garagem, eu olhava e pensava: "Por que que eu estou fazendo isso?". Mas é tanta coisa na cabeça que você vai vivendo, vai vivendo e mais para frente que minha mãe falou "não faça isso, toma cuidado". Quando eu voltei para Inter, nos dois, três últimos anos, que eu comecei a ver que não precisava daquilo. Eu sempre gosteideposito bet7kcarro, mas foi uma coisadeposito bet7kmomento mesmo que toda pessoa passa e nos anos finais eu consegui me adaptar.

O que é o Flamengo nadeposito bet7kvida?

É tudo, cara. É criação, infância... Comecei muito cedo no Flamengo, com sete anos no futeboldeposito bet7ksalão, e foi a base para minha vida. Eu subi com 17 anos e com 18 já era convocado para a Seleção com a camisa do Flamengo. Foi a basedeposito bet7ktudo, onde eu consegui conquistar uma condição profissional e com 19 para 20 anos já estava na Itália. As coisas aconteceram muito rápido.

Como você saiu muito cedo, 2009 era uma coisa necessária para quedeposito bet7kcarreira ficasse completa?

Claro! Quando eu saí da Inter, estava com depressão, voltei e tinha aquela coisadeposito bet7kvoltar para a Itália. Mas o Mourinho mesmo falava: "O dia que você for convocado para um jogo da Seleção no Brasil, já sei que não vai voltar (risos)". E eu não voltei mais porque realmente não estava com cabeça e não ia ficar roubando o Moratti. Eu ganhava muito bem, tinha mais quatro anos e com o salário aumentando a cada ano. Meu pai e minha mãe não me criaram assim, eu não estava com cabeça. Ele me ligou e eu disse que não estava mais com cabeça e coração para continuar. Na mesma hora, eu fui discutir para pagar a multa, que era muito cara, mas ele mandou eu liberar e não paguei nada. Não sei se é porque ele tinha gratidão por não ter ido para o Chelsea. Era um carinho e respeito. Aí, fiquei um tempo no Rio, quase dois meses sem jogar, já tinha falado que ia dar tempo. O Jorginho foi falar comigo da Seleção e eu disse que não queria saberdeposito bet7kfutebol, que precisava curtir minha vida e voltar a ser o Adrianodeposito bet7kantes. Aí, teve a oportunidadedeposito bet7kvoltar ao Flamengo e eu aceitei. Quando fui ver, já estava assinando com o Flamengo e foi aquela festa toda. Não tem como esquecer e no final ainda fomos campeões do Brasileiro depoisdeposito bet7k17 anos. Deus tira uma coisa aqui e te dá outra lá na frente. Arrepia!

Foi o título mais importante dadeposito bet7kvida?

Ah, sim. Esse, a Copa América e a Copa das Confederações... Já ganhei muitos títulos pela Inter, mas esses são especiais.

Vieri e Adriano, nos temposdeposito bet7kInterdeposito bet7kMilão: "Bola ficava oval", diz italiano, sobre chute do Imperador — Foto: Alessandro Sabattini/Getty Images

Como você definedeposito bet7krelação com a torcida do Flamengo?

Não tem explicação. É um carinho muito grande. Até hoje, quando eu vou na rua, eles me idolatram. Quando o Flamengo perde também, eles falam: "Poxa, Adriano, brincadeira". Mas eu não estou nem jogando mais (risos). Para você ver como eles se identificam e esse sentimento é eterno.

E a Seleção, qual o tamanho daquelas conquistas da Copa Américadeposito bet7k2004 e da Copa das Confederaçõesdeposito bet7k2005 para você?

Eu não tinha jogado muito no Brasil, se você for parar e pensar. Eu joguei pouco tempo no Brasil e fui para a Itália. A Copa Américadeposito bet7k2004 abriu as portas para o torcedor brasileiro saber quem eu sou. Foi uma grande oportunidade da vida.

Por fim, a Interdeposito bet7kMilão. É o clube onde você jogou mais, que acreditoudeposito bet7kvocê e que te batizou como Imperador. Como você definiriadeposito bet7krelação com o torcedor italiano?

Até hoje, realmente não acredito. Só Deus mesmo, não tem jeito. Quando eles começaram a cantar a música do Imperador, eu não entendia. Tinha feito um gol e eles começaram a cantar, até que depois do jogo o chefe da torcida falou que eu seria o Imperador deles dalideposito bet7kdiante. Quando vou à Itália, o pessoal me ama. Não só o torcedor da Inter.