A favela venceu: Du Queiroz superou dispensa, dias sem almoço e lutou por chance no Corinthians

Meio-campista começou o ano encostado no sub-23, mas hoje é titular entre estrelas; pai conta como família encarou dificuldades para garoto chegar ao profissional

Por Marcelo Braga — São Paulo


Craque do jogo, Du Queiroz agradece: "A gente sabe o quanto é difícil um favelado chegar até aqui"

A favela venceu quando Du Queiroz foi eleito o "Craque do Jogo" na vitória por 1 a 0 diante do Athletico-PR, no último domingo. Titular do Corinthians nos últimos três jogos, o meio-campistagoogle jogo online21 anos fez questãogoogle jogo onlinevalorizar suas origens no momento mais especialgoogle jogo onlinesua ainda curta carreira.

– Para nós, que somos nascidos e criados na comunidade, é difícil chegar até aqui. É difícil para um favelado chegar até aqui. Não tenho nem palavras para descrever o que é isso – declarou o atleta.

Du cresceu na zona oestegoogle jogo onlineSão Paulo, no Butantã, numa comunidade chamada bairro BNH. Pai do jogador, Paulo Queiroz,google jogo online40 anos, é motoboy e conta que o jovem teve uma infância difícil por conta da pouca idade que ele e a esposa, Tatiane dos Santos, tinhamgoogle jogo online2000, quando ele nasceu.

Du Queiroz, ainda criança, com uniforme do Corinthians — Foto: Arquivo Pessoal

– Minha esposa ficou grávida aos 16 anos, e eu tinha 17. Ela morava num barraco na Favela do Sapé e não tinha como a gente morar lá, era muito pequeno. Minha mãe nos acolheu na casa dela. Num quartinho dormia eu, minha esposa, o Du, minha mãe e mais um primo. Quando ela engravidou, teve que largar os estudos e eu também. Quando Du nasceu, eu tinha 18 anos – relembra o pai.

– Não tínhamos estudo e nem suporte para arranjar emprego. Fiz vários bicos para comprar fralda e mantimentos. Quando consegui comprar uma moto, virei motoboy. Depois, ela trabalhou como caixagoogle jogo onlinesupermercado,google jogo onlinepostogoogle jogo onlinegasolina... – disse ele, que mantém o emprego.

Du Queirozgoogle jogo onlinetreino do Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians

Du aos poucos foi se destacando no futsal. Aos sete anos, ganhou uma bolsa para jogar na escolinhagoogle jogo onlinefutebol do São Paulo. Na época, fez vários testes para a base, avançavagoogle jogo onlinefase, mas era sempre recusado. Levado para jogar na Ligagoogle jogo onlineFutsalgoogle jogo onlineOsasco, foi ganhando destaque.

– No salão, ele jogava como pivô ou ala. Era o matador do time. Dava caneta, elástico, fazia muitos gols pelo Pacífico. Na época, o Antony (hoje no Ajax, da Holanda), chamava a atenção no Velozinho. Os dois jogavam muito bonito, eram sensação no campeonato – recordou-se o pai orgulhoso.

O garoto chegou ao CFAgoogle jogo onlineCotia aos oito anos,google jogo online2008. Lá ficou até os 13 anos, quando o telefone tocou e interrompeu um sonho que parecia promissor.

Du Queiroz, do Corinthians, ainda criança — Foto: Arquivo Pessoal

– Ele chegou no São Paulo como atacante, virou meia, virou volante e depois lateral-direito. Aos 13 anos, a gente sabia como funcionava: se o São Paulo não ligasse nas férias, era para se reapresentar. Se ligasse, ele seria dispensado. O Geraldogoogle jogo onlineOliveira (ex-gerente da base do São Paulo, já falecido) ligou e explicou que ele não tinha atingido as metas. E assim ele saiu do São Paulo – contou.

Du disputou um Paulista Sub-13 pelo ECO (Esporte Clube Osasco) até ter uma chancegoogle jogo onlinefazer um teste no Corinthians, ainda como atacante. Aprovado, tevegoogle jogo onlineencarar um novo desafio: o deslocamento da Zona Oeste para a Leste.

– Nosso sonho era vê-lo jogar no Corinthians, nossa família é corintiana roxa, e pelo estilo aguerrido dele sabíamos que daria certo. Mas era muito longe. Ir da Zona Oeste para a Zona Leste era complicado, o treino era à tarde, a gente trabalhava, não tinha como levar e buscar. Aos 13 anos, ele teve que aprender a pegar metrô sozinho, fazer baldeação e chegar no Parque São Jorge. Como saía da escola direto, muitos dias ele nem almoçava antes do treino, que era às 13h. Não era fácil.

Du Queiroz, do Corinthians, segurando troféu — Foto: Arquivo Pessoal

Campeão paulista sub-13 com Vitinho, Du foi mudandogoogle jogo onlineposição, passando a jogar como volante e, no sub-15,google jogo onlinelateral-direito. Fez uma boa Copa São Paulogoogle jogo online2018, com o técnico Eduardo Barroca, como primeiro volante. No fim do sub-20, achou que subiria ao profissional, mas ficou no sub-23.

– Ele ficou triste. A intenção era já chegar no profissional junto com os outros garotos, mas não deixou a peteca cair, trabalhou e deu a vida por uma oportunidade. Danilo (técnico) e Alex (ex-coordenador e hoje auxiliargoogle jogo onlineSylvinho) viram qualidade nele e a chance veio. Ele estava buscando isso – disse Paulo, que hoje é pai tambémgoogle jogo onlineduas meninas, umagoogle jogo online14 e umagoogle jogo online1 ano e oito meses.

Aos 21 anos, Du Queiroz segue morando no mesmo local da infância. O terreno da avó hoje abriga várias casas da mesma família. Emocionados, todos choram pela vitória do menino da favela.

Du Queiroz, do Corinthians, com os pais — Foto: Arquivo Pessoal

– Vários moleques bons conhecidos nossos, que jogavam junto com o Du e que iam nos camposgoogle jogo onlinecomunidade, não tiveram a mesma oportunidade e sorte que ele, escolheram outro caminho, o mundo do crime, o mundo da droga, do tráfico, um mundo que eles pensam que é o mais fácil para ter alguma coisa. Graças a Deus fui blindando ele sobre essas questões do dia a dia da periferia, da nossa comunidade. Muitos amigos que a gente conhecia hoje nem estão mais no nosso convívio, ou estão atrás das grades ou estão até mortos. Graças a Deus, ao empenho dele e aos conselhos do pai e da mãe, ele não virou mais uma estatística para o Governo.

Desde que estreou, Du fez 13 partidas pelo Timão na temporada. Neste ano, renovou o seu contrato até o fimgoogle jogo online2024.

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— Foto: Divulgação