Dezenasax pokertorcedores do Peñarol foram detidos após provocar baderna, no Rio
A goleada histórica do Botafogo na semifinal da Conmebol Libertadores foi manchada pelo caos promovido horas antes por torcedores do Peñarol no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rioax pokerJaneiro. Uma torcida reconhecida por seguir o time a todo canto da América do Sul, que vive hoje disputas internas emax pokerbarra brava, e autodenomia o clube como o "Capo del Continente" — O Chefão do Continente.
O Peñarol é um dos clubes mais tradicionais da América do Sul. Trata-se do maior campeão do Campeonato Uruguaio, com 51 títulos. Possui cinco troféus da Libertadores e três da Copa Intercontinental (antigo Mundialax pokerClubes, disputado somente entre europeus e sul-americanos).
Esse sucessoax pokerdécadas fez o time formar a maior torcida do país. Pesquisaax poker2013 da consultoria CIFRA apontou que os torcedores do Peñarol representavam 46% dos entrevistados. O Uruguai tem quase 3,5 milhõesax pokerhabitantes.
Confusão na torcida do Peñarol após jogo contra o Botafogo na Libertadores
Como todo grande no continente, o Peñarol conta com movimentosax pokertorcedores mais assíduos, que costumam ficar atrás do gol e se diferenciam pelos cânticos, faixas, bandeirões, instrumentos e outros itens. Só que as chamadas barras bravas são diferentes das torcidas organizadas no Brasil. Elas não são corpo "externo" aos clubes, até com CNPJ diferente: são compostas por torcedores e sócios.
O perfil dos torcedores do Peñarol que vieram ao Rioax pokerJaneiro é, no geral, semelhante aoax pokerqualquer barra sul-americana e torcidas organizadas brasileiras: majoritariamente homens, classe socioeconômica baixa ou média.
A principal organizada - ou barra brava - do Peñarol é a chamada "Barra Amsterdam". Ela leva esse nome porque ocupa a tribuna Amsterdam no Estádio Centenário,ax pokerMontevidéu. Uma referência à cidade onde a seleção do Uruguai conquistou o ouro no futebol das Olimpíadasax poker1928.
A Barra Amsterdam não permite o surgimentoax pokeroutras facções, mas existem disputas internas por poder, com declínio e ascensãoax pokergerações. Liderar uma barra significa tocar um negócio: verba para transporte, hospedagem, e até extorsão ao clube — por mais que as agremiações neguem a prática.
— Em 2016, houve o "Clásicoax pokerla Garrafa",ax pokerque um botijãoax pokergás foi arremessado da Tribuna Amsterdamax pokerdireção à polícia. Depois da pandemia, tivemos a volta do público ao futebol do Uruguai, e muitos conflitos aconteceram. A barra é influente na política interna do clube — lembrou Matias Pinto, historiador e podcaster na Central3, especializadoax pokerfutebol sul-americano. Porém, ele não acredita que a maioria dos torcedores que vieram ao Rio faz parte da Barra Amsterdam.
As disputas na barra do Peñarol aumentaram nos últimos anos após a prisãoax pokerErwin “Coco” Parentini, ex-líder do grupo. Ele foi condenadoax poker2020 pelo assassinatoax pokerum torcedor do rival Nacional, eax poker2021 por ser o autor intelectualax pokerum ataque a tiros contra torcedores do Flamengo, após a final da Libertadores contra o Palmeiras.
O Peñarol teve gestões que tentaram diminuir a influência da Barra Amsterdam, como por exemplo aax pokerJuan Pedro Damiani (2009-2017), através do corteax pokeringressos. Mas a barra voltou a ter força sob a atual presidênciaax pokerIgnacio Ruglio, segundo a imprensa uruguaia.
A Barra Amsterdam divulgou uma mensagem horas antes do jogo contra o Botafogoax pokerque alertava seus torcedores para não irem sozinhos ao Estádio Nilton Santos. Também afirmava que "Sempre é Copa Libertadores. Turismo é para os turistas".
A federaçãoax pokerfutebol do Uruguai (AUF) possui uma lista com maisax poker1500 torcedores proibidosax pokerentrarax pokerestádios.
A geografia do Uruguai faz com que o futebolax pokerlá não sofra tanto com grandes deslocamentos para os torcedores. Isso permite às torcidas ter maior capacidadeax pokermobilização para jogos no exterior. Misturado com a economia local e o sucesso histórico do Peñarol, tudo leva o time a contar com muito apoio foraax pokercasa.
Mas atosax pokerviolência não são exclusividade dos torcedores do Peñarol. O mesmo acontece com barras do Nacional e do Cerro, no futebol uruguaio — que não é o pior do continente neste assunto —, e com torcidas organizadasax pokervários clubes do Brasil.
As animosidades escalaram por aqui após a morte do rubro-negro Roberto Vieiraax pokerAlmeida. Ele foi agredido antes do jogo contra o Peñarol, pela Libertadoresax poker2019, e ficou internado por 10 meses no hospital Miguel Couto. Esse episódio marcou não só a torcida do Flamengo, como asax pokeroutros clubes do Rio e até as forçasax pokersegurança.
Torcedor do Peñarol imita macaco na direção da torcida do Botafogo; veja
— Os episódios são a somaax pokerduas partes. Há a predisposiçãoax pokerparte da torcida do Peñarol para o combate, até orgulho disso, dessa cultura. E também o ressentimento da sociedade brasileira, torcidas e polícia,ax pokerrelação aos estrangeiro que vêm ao Brasil,ax pokerespecial ao Rioax pokerJaneiro, seguir seus times — comentou Matias Pinto.
O Observatório Social do Futebol, da UERJ, produz o Mapa das Violências no Futebol do Rioax pokerJaneiro, plataforma que apresenta todos os casosax pokerviolência física ligados ao futebol profissional. Os dadosax poker2023 serão consolidadosax pokerrelatório a ser publicadoax pokernovembro. O Rioax pokerJaneiro é o estado com mais ocorrências registradas.
A iniciativa acadêmica também constatou que esses conflitos estão se espalhando pelo Rio. Antes mais frequentes na Zona Norte, as brigas com torcidasax pokertimes sul-americanos com brasileiros ou forçasax pokerseguranças aumentaram na orla da cidade.
— Não é fora do comum o que aconteceu. Há muitos conflitos e brigas onde normalmente os torcedores chegam, se hospedam, fazem o pré do jogo. Há emboscadas também. Para qualquer torcida da América do Sul, o Rioax pokerJaneiro não é fácil. Mas para a torcida do Peñarol, vira mais hostil ainda. Isso não tira a responsabilidade dos próprios torcedores do time. O que aconteceu era previsível — afirmou o pesquisador Nicolas Cabrera, membro fundador do Observatório.
O pesquisador destaca também o aumento da visibilidade dos episódiosax pokerviolência relacionados ao futebol, o que pode dar a sensaçãoax pokerpiora do problema.
— Existe a cultura da briga, da masculinidade violenta e agressiva,ax pokertoda a América Latina. As forçasax pokersegurança não ajudam muito, com o perfil repressivo que é facilmente sentido. Essas agressões que as torcidas recebem no Brasil deixa uma promessaax pokervingança: no mundo das torcidas, se você foi atacado ou agredido, tem a obrigação moralax pokerresponder a esse ataque. Estamos entrando numa espiralax pokermuita violênciaax pokertorcidas sul-americanas.