Angelina celebra boa fase e vê Orlando Pride pronto para os playoffs nos EUA: "Pés no chão"

Em entrevista exclusiva ao ge, volante da seleção conta como é jogar ao ladoMarta e relembra campanha da prata olímpica: "A gente cresceuforma incrível"

Por Allan Caldas — Orlando, EUA


Angelina vê Marta "feliz e à vontade" nos jogos do Orlando Pride

Semana passada, o Orlando Pride conquistou pela primeira vez emhistória o Shield, troféu dado ao melhor time da temporada regular da NWSL, a liga feminina dos Estados Unidos. A taça, alcançada com três rodadasantecedência, confirmou a ótima campanha da equipe, que quebrou o recordeinvencibilidade da NWSL (23 partidas). Titular absoluta do Pride, a volante brasileira Angelina vê o time pronto para buscar o título este ano nos playoffs,novembro.

- Nossa vitória no Shield provou isso, a gente está conseguindo bater recordes, mas também estamos com os pés no chão, porque o nosso objetivo é muito maior. Acredito que o time tem uma cabeça muito boa, a gente sabe que o Shield era uma coisa, e agora o foco é nos playoffs - afirmou Angelinaentrevista ao ge por videoconferência.

Angelina comemora seu gol na vitória do Orlando Pride sobre o Houston Dash — Foto: Russell Lansford-Imagn Images/Reuters

Fundado2015, o Orlando Pride só disputou os playoffs da NWSL uma vez,2017, primeiro ano da camisa 10 Marta no clube. Classificadoterceiro lugar, o time da Flórida parou nas semifinais. Depoisficar a uma posição da classificação ano passado, o Pride resolveu reforçar o elenco, e Angelina, ex-OL Reign, foi uma das novidades.

Angelina se juntou a Marta, Adriana, Rafaelle, que já estavam no elenco. Ao ladoLuana, outra contratada para esta temporada, elas fizeram do Pride o time "mais brasileiro"uma NWSL cada vez mais verde-amarela. Das 15 jogadoras do país que disputam a liga, 12 já estão garantidas nos playoffs, distribuídascinco equipes.

- Fico muito feliz pelo protagonismo das brasileiras na liga. Isso tem crescido cada vez mais, acho que ano que vem ainda vão ter mais brasileiras vindo. Isso mostra a nossa força, né? A gente vem com uma geração muito boa, com potencial enorme para conseguir grandes coisas, e eu fico felizestar participando desse cenário.

LEIA TAMBÉM:

Seguindo os passosMarta

Angelina,24 anos, nasceuNova Jersey, nos Estados Unidos, filhapais brasileiros. A família decidiu voltar ao Brasil e se mudou para o RioJaneiro quando ela tinha cinco anos. Aos 12, Angelina entrou na escolinha do Vasco, e descobriu que uma tal Marta também começou a carreira por lá.

- Eu passei no teste, comecei a jogar no Vasco da Gama e ouvi que ela passou por lá também. Comecei a assistir mais aos jogos da seleção, ver um pouquinho mais a história dela, então acho que foi ali no Vasco que começou minha admiração pela Marta - afirmou a volante quefã virou colegatime.

- Não esperava que um dia eu poderia jogar com a Marta na Seleção e, imagina, no clube também. Conviver com ela no dia a dia é um sonho realizado. Quando olho para a Angelina12 anos, eu não tinha nem noção do que estaria vivendo hoje, então fico muito feliz pelas coisas que tenho vivenciado até agora.

Alémjogar ao ladoMarta, Angelina está vendoperto a camisa 10 ser protagonista da campanha do Orlando Pride, como vice-artilheira do time, com oito gols, a segunda melhor temporada da brasileiraoito anos na equipe.

- Eu vejo a Marta feliz, e quando você está feliz dentro e foracampo a coisas fluem. Talvez, com a chegadamais brasileiras, isso também dá uma mexida, você se sente mais à vontade. A Marta usando aquilo que ela temmais especial, que é essa magia dela, isso favorece o time todo - comentou.

Dois gols na temporada

No esquema ofensivo do técnico Seb Hines, Angelina descobriu seu lado "artilheiro". Com poucos gols na carreira, a volante talentosa já balançou as redes duas vezes nesta temporada, com direito a um golaçofora da área na vitória por 3 a 1 sobre o Houston Dash,setembro.

- O esquema tático facilita para que eu chegue um pouquinho mais perto da área. Mas eu também tenho que me dar crédito, porque eu tenho trabalhado isso (as finalizações), para que eu tenha mais impacto no jogo, e esse ano tem provado isso. Estou me sentindo um pouquinho mais à vontade - disse ela.

Depoisgarantir o Shield, o Orlando Pride perdeu a invencibilidade na última rodada, quando poupou algumas titulares e foi derrotado por 2 a 0 pelo Portland Thorns, foracasa. Os últimos adversários na temporada regular serão o Gotham FC, campeão da NWSL ano passado e atualmenteterceiro lugar, e o Seattle Reign, já sem chanceclassificação.

Os playoffs começam no dia 8novembro, com as quartasfinal. As semifinais serão dia 15, e a decisão está marcada para o dia 23. Em 2022, Angelina ganhou o Shield com o OL Reign, mas viu o timemelhor campanha cair na semifinal. Agora, acredita que o Pride não vai cair na armadilha do favoritismo.

- Sabemos das dificuldades dos playoffs, que são um torneio totalmente diferente, é apenas um jogo só, não tem ida e volta. Eu espero muito que a gente consiga fazer algo histórico nessa temporada, porque o time vem merecendo. A gente está com a cabeça muito boa e vai fazer o nosso melhor para chegar à final - observou Angelina.

Angelina diz que Brasil aprendeu com os erros para chegar à prata nas Olimpíadas

Medalhaprata nos JogosParis

A volantehabilidade e boa visãojogo chegou à seleção brasileira2021, e no ano seguinte foi titular na conquista da Copa América. Só que uma rupturaLCA na decisão contra a Colômbia afastou Angelina nove meses dos gramados.

Voltou a tempodisputar a Copa do Mundo2023, mas a faltaritmo a deixou no bancoreservas. Este ano, conquistou a medalhaprata nas OlimpíadasParis,uma campanha marcada pela recuperação do Brasil, que se classificou no sufoco mas depois passou por França, nas quartas, e Espanha, na semifinal. Na decisão, derrota por 1 a 0 para os EUA.

- É até complicado definirpalavras o que aconteceu. Tivemos momentos que não foram tão favoráveis, mas mesmo assim a gente manteve o nosso foco, a gente sabia quealguma forma a gente ia se classificar. A gente cresceuforma incrível na competição, aprendemos com os resultados negativos e colocou tudo isso para trás. Essa viradachave foi fundamental para a gente ter esse sucesso incrível nas Olimpíadas - relembrou ela.

- Faziam 16 anos que o Brasil não disputava o ouro. Ficamos ali muito pertoconseguir essa medalhaouro inédita para o Brasil, mas isso só mostrou que a gente está no caminho certo, basta acreditar. A gente tem uma seleção muito forte.