Amel Majri estava cercada por câmeras, mas não ouvia nada ao redor. Ignorou o barulho, como se a própria vida dependesse disso. Manteve os braços rígidos, firmou os pés no chão e sentiu o coração queimar por dentro, enquanto assistia ali a única cena que importa. Era Maryam,sportingbet demora a pagarfilha, com um pequeno uniforme azul e levando nas costas a palavra que a deixará marcada na história: "Maman".
Foi assim, na cumplicidade entre mãe e filha, que Amel Majri se tornou a primeira jogadora da história da França a se apresentar com uma criança pequena na seleção.
Conheça as jogadoras mães da Copa do Mundo Feminina
Presente na delegação da Copa, Amel virou mãe no dia 5sportingbet demora a pagarjulho do ano passado e voltou ao futebolsportingbet demora a pagardezembro, cinco meses após o nascimento da filha. Ali, poderia parecer impossível o retorno a tempo do Mundial, mas a história mudou - ou pelo menos tem mudado. Às vésperas do torneio, a França chegou ao CTsportingbet demora a pagarClairefontaine com dezenassportingbet demora a pagaratletas. Entre elas, Amel e a filha.
O centrosportingbet demora a pagartreinamento francês passou por adaptações para acomodar atletas com crianças pequenas e assim tem sido também na Copa. Somente o primeiro passo, mas que o técnico Hervé Renard incentiva para acompanhar um movimento ainda maior.
— É preciso ter uma estrutura organizada, com babás. Não vai afetar o time, e psicologicamente importa. Para ela ter paz e performar bem, as duas coisas precisam estar associadas. Há progresso sendo feitosportingbet demora a pagartermossportingbet demora a pagarsuporte e nós vamos alcançar o que elas têm nos Estados Unidos. Talvez um dia terminaremos com quatro ou cinco crianças entre nós, e não será um problema — diz Renard.
Mulheres atletas ainda enfrentam resistência dos clubes, exigências do alto rendimento e dificuldades para a adaptaçãosportingbet demora a pagarparceiros ou parceiras com o início da maternidade, mas aos poucos a história começa a mudar.
Amel Majri, aliás, está longesportingbet demora a pagarser a única neste Mundial. Seis seleções participantes procuraram e receberam auxílio da Fifa para viajar com crianças na Copasportingbet demora a pagar2023, enquanto outras dezenassportingbet demora a pagarmulheres organizaram viagens por conta própria.
Em contato com a reportagem, a Fifa diz ainda que também trabalhousportingbet demora a pagarcontato com as seleções para:
- Identificar instalações nos estádios para que as mães pudessem amamentar;
- Garantir a disponibilizaçãosportingbet demora a pagarcadeirassportingbet demora a pagarcriança para os carros;
- Organizar transportes especiais para crianças na chegada;
- Trabalhar com as equipes para encontrar as famílias e amigos após os jogos.
Tamires lembra gravidez e volta ao futebol: "Queria também viver o meu sonho"
Ao longo das últimas semanas, Alex Morgan, Chrystal Dunn e Julie Ertz estiveramsportingbet demora a pagarviagem com a seleção dos Estados Unidos, preenchendo corredores com carrinhossportingbet demora a pagarbebê durante a Copa.
Áine O'Gorman, da Irlanda, carrega James, que fez um anosportingbet demora a pagaridade. Ivana Andrés, da Espanha, tem uma recém-nascida, e Zhang Xin, da China, um meninosportingbet demora a pagarseis. São mães no Mundial, assim como Melanie Leupolz, da Alemanha, Konya Plummer e Chayne Matthews, da Jamaica, que tem três.
Elas são mulheres que forçam mudanças nos bastidores do futebol feminino, seis anos após a FIFPro — Federação Internacionalsportingbet demora a pagarJogadores — expor a realidade: atletas abandonam o futebol cedo demais, antes mesmosportingbet demora a pagaratingir o ápice da carreira. Os principais motivos? Mau pagamento dos salários e o desejosportingbet demora a pagariniciar uma família, visto como incompatível com a vidasportingbet demora a pagaratleta.
Naquela época, apenas 61 das 3.600 atletas entrevistadas tinham filhos, e 61% delas não receberam apoio durante a gravidez. Só 8% delas, porsportingbet demora a pagarvez, receberam pagamentosportingbet demora a pagarclubes e/ou da federação nacional no período.
- 61% das atletas disseram que não receberam suporte para o cuidado da criança.
- Só 8% receberam pagamentossportingbet demora a pagarclubes ou federações durante a gravidez.
- Só 3% dos clubes forneceram suporte.
- 14,5% das atletas com filhos tiveram apoio fornecido pelo governo.
- Ninguém confirmou se a federação nacional forneceu suporte.
No Brasil, Tamires é exemplo deste cenário. Referência na defesa da seleção para o Mundial, a lateral-esquerda chegou a abandonar o futebol por três anos - ainda no início da carreira — quando engravidou do filho Bernardo. Tinha 21 anos e chorou por dias, sem conseguir vislumbrar futuro no próprio sonho.
Nos Estados Unidos, a mudança tem sido constante. A campeã olímpica Alex Morgan, por exemplo, recebeu apoio da seleção quando engravidou da filha, Charlie — com a garantiasportingbet demora a pagarlicença maternidade e o pagamentosportingbet demora a pagaruma babá para acompanhá-la nos treinos e viagens. Morgan apareceu como referência porsportingbet demora a pagarhistória, mas faz questãosportingbet demora a pagarmostrar que as conquistas vêmsportingbet demora a pagarantes até.
— Christy Rampone, Amy Rodriguez, Shannon Box, Mark Graph abriram o caminho para ajudar as jogadoras atuais a terem mais apoio e melhores recursos para serem mães e continuarem jogando.
À medida que o futebol feminino cresce —sportingbet demora a pagarinteresse, qualidade e investimento —, outros países procuram seguir os mesmos passos.
Na Espanha, a Associaçãosportingbet demora a pagarAtletas consultou a FIFProsportingbet demora a pagar2019, quando iniciou as negociações para regulamentar o tema no país. Ali, a entidade convocou uma equipe multidisciplinar para desenvolver o FIFPro Parental Policy — documento baseado na convenção da Organização Internacional do Trabalho e utilizado como guia para a Fifa e outras organizações que propõem a regulamentação da maternidade.
Quatro anos depois, a Federação da Espanha assinou um acordo para articular a idasportingbet demora a pagarfamiliares e filhos das jogadoras da Seleção ao Mundial na Austrália e Nova Zelândia, investindo 15 mil euros (R$ 80,4 mil) por atleta,sportingbet demora a pagaracordo com o jornal AS, da Espanha, para levá-los com a delegação.
O movimento expandiu-se pelo mundo somente há dois anos,sportingbet demora a pagar2021, quando a Fifa estabeleceu padrões mínimos trabalhistas para serem seguidos no futebol feminino. Foram cinco mudanças no Regulamentosportingbet demora a pagarStatus e Transferênciasportingbet demora a pagarJogadores e, entre elas, a implementaçãosportingbet demora a pagardireitos ligados à gravidez e à maternidade no futebol. As regras determinam:
- Licença maternidade mínimasportingbet demora a pagar14 semanas com remuneração, com pelo menos oito semanas a serem tiradas após o nascimento do bebê.
- A validade do contrato não pode estar sujeita à gravidez ou ao fato da atleta exercer os direitossportingbet demora a pagarmaternidadesportingbet demora a pagaruma forma geral.
- A jogadora grávida pode escolher continuar a prestar serviços desportivossportingbet demora a pagarforma alternativa, assim como determinar a datasportingbet demora a pagariníciosportingbet demora a pagarsua licença maternidade e o retorno à atividade após o término da licença.
- Os clubes têm obrigaçãosportingbet demora a pagarfornecer instalações adequadas para uma jogadora amamentar e/ou ordenhar o leite materno após o retorno da licença maternidade.
O Artigo 6 também prevê a possibilidadesportingbet demora a pagarregistrar uma jogadora fora da janelasportingbet demora a pagartransferências, seja para substituir uma atletasportingbet demora a pagarlicença ou para reintegrar uma que a completou. No Brasil, a janela nacional não se aplica no feminino, mas o Cruzeiro se respaldou na regrasportingbet demora a pagar2022 para inscrever a atacante Fernanda Tipa, do Famalicão,sportingbet demora a pagarPortugal, após o encerramento da janela internacional.
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Antes disso, as regras foram testadas pela primeira vezsportingbet demora a pagar2021, quando a islandesa Sara Bjork Gunnarsdottir tirou licença maternidade, e o Lyon - seu clube - se recusou a pagá-la com o salário completo. Sob o auxílio da FIFPro, Sara acionou a equipe na Fifa e venceu o julgamento, sendo o time condenado a pagar 82 mil euros, referente à diferença entre os salários devidos e o que foi pago.
— Esse caso foi muito importante porque foi o primeiro (e até agora o único) teste dos regulamentos da Fifa, e a conclusão foisportingbet demora a pagarque eles são aplicados mesmosportingbet demora a pagarquestões reguladas a nível nacional. Deixou claro que as jogadoras têm direito ao salário completo durante a gravidez, mesmo que não joguem — diz a representante legal da FIFPro, Alexandra Gomez Bruinewoud,sportingbet demora a pagarexclusiva ao ge.
No Brasil, somentesportingbet demora a pagarjunho deste ano as mulheres atletas passaram a ter os direitos maternos regulamentados — através da Lei Geral do Esporte.
- § 10. Os contratos celebrados com atletas mulheres, ainda quesportingbet demora a pagarnatureza cível, não poderão ter qualquer tiposportingbet demora a pagarcondicionante relativo a gravidez, a licença-maternidade ou a questões referentes à maternidadesportingbet demora a pagargeral.
O Regulamento Nacionalsportingbet demora a pagarRegistro e Transferênciasportingbet demora a pagarAtletas, formulado pela CBF, menciona esta mesma regra, válida para jogadoras e também técnicas mulheres. Os contratossportingbet demora a pagarambas, portanto, não estão sujeitos ao fatosportingbet demora a pagarestarem grávidas, a engravidarem ou estaremsportingbet demora a pagarlicença maternidade.
Jessicasportingbet demora a pagarLima diz como é conciliar a maternidade com o comando da Ferroviária
Alex Morgan, por exemplo, transformou-sesportingbet demora a pagaruma dessas jogadoras. Preenchida pelo amor da filha Charlie, tornou-se voz ativa na luta por direitos, pressionando por maior apoio às mulheres no futebol. No início do ano, durante a açãosportingbet demora a pagarSara Bjork Gunnarsdottir contra o Lyon, a americana compartilhou medidas básicas que considera como necessárias para apoiar atletas com filhos e filhas.
- Fornecer um quarto individualsportingbet demora a pagarhotel nas viagens;
- Fornecer um quartosportingbet demora a pagarhotel para a babá;
- Fornecer assentos no avião para o bebê e a babá;
- Fornecer refeições na viagem para o bebê e a babá;
- Fornecer um espaço privado no jogo para o bebê e a babá.
Em três décadassportingbet demora a pagarfutebol feminino, os maiores avanços ocorreram somente nos últimos três anos.
São mudanças comemoradas, mas carentessportingbet demora a pagarevolução. E as entidades sabem disso. A FIFPro, por exemplo, defende que as regras sejam aplicadas para seleções nacionais, e aponta a necessidadesportingbet demora a pagarlicença para pais e mães não grávidas - no casosportingbet demora a pagarcasais homossexuais —, além da faltasportingbet demora a pagarregulamentação para casossportingbet demora a pagaradoção ousportingbet demora a pagaraborto.
— Na minha visão, o aborto espontâneo poderia ser regulamentado com um período mínimosportingbet demora a pagardescanso antessportingbet demora a pagarretomar as atividades, assim como apoio psicológico. O aborto induzido, devido asportingbet demora a pagarnatureza controversa, é algo que talvez seja melhor deixar para ser resolvido a nível nacional, dependendo da lei aplicada — diz Alexandra Gomez Bruinewoud.
A Fifa informa,sportingbet demora a pagarcontato com a reportagem, que o Conselho da entidade,sportingbet demora a pagarmarço deste ano, autorizou a administração a explorar possíveis novas medidas regulatórias.
Enquanto barreiras são derrubadas, as mães se multiplicam. Veem direitos começarem a enfim virar realidade. Entre elas, na concentração da Jamaica, Konya Plummer prende os olhos no filho Zid. Abre um sorriso e comemora, durante a Copa do Mundo, o aniversáriosportingbet demora a pagarum ano do filho. Lembrasportingbet demora a pagarquando pensou que tudo havia acabado para si, mas descobriu: era só o começo da história.