Mães da Copa: Mundial avança nos direitos sobre maternidade no futebol

Fifa estabelece regras trabalhistassportingbet demora a pagar2021, e torneio na Austrália e Nova Zelândia mostra mudanças para mulheres; no Brasil, há regras na Lei Geral do Esporte e no regulamento da CBF

Por Camila Alves — Recife


Amel Majri estava cercada por câmeras, mas não ouvia nada ao redor. Ignorou o barulho, como se a própria vida dependesse disso. Manteve os braços rígidos, firmou os pés no chão e sentiu o coração queimar por dentro, enquanto assistia ali a única cena que importa. Era Maryam,sportingbet demora a pagarfilha, com um pequeno uniforme azul e levando nas costas a palavra que a deixará marcada na história: "Maman".

Foi assim, na cumplicidade entre mãe e filha, que Amel Majri se tornou a primeira jogadora da história da França a se apresentar com uma criança pequena na seleção.

Ela esteve comigo o tempo todo. Eu pude levar minha filha para os treinos da seleção.
— conta a atleta, com um sorriso no rosto, como se não acreditasse ser possível viver algo assim.

Conheça as jogadoras mães da Copa do Mundo Feminina

Presente na delegação da Copa, Amel virou mãe no dia 5sportingbet demora a pagarjulho do ano passado e voltou ao futebolsportingbet demora a pagardezembro, cinco meses após o nascimento da filha. Ali, poderia parecer impossível o retorno a tempo do Mundial, mas a história mudou - ou pelo menos tem mudado. Às vésperas do torneio, a França chegou ao CTsportingbet demora a pagarClairefontaine com dezenassportingbet demora a pagaratletas. Entre elas, Amel e a filha.

É como estarsportingbet demora a pagarcasa, enquanto eu treino, ela está bem cuidada.
— contou a jogadora,sportingbet demora a pagarentrevista coletiva na época.
Amel Majri com a filha, Maryam, nos braços, durante sessãosportingbet demora a pagarfotos da seleção da França para a Copa Feminina — Foto: Divulgação / Seleção da França

O centrosportingbet demora a pagartreinamento francês passou por adaptações para acomodar atletas com crianças pequenas e assim tem sido também na Copa. Somente o primeiro passo, mas que o técnico Hervé Renard incentiva para acompanhar um movimento ainda maior.

É preciso ter uma estrutura organizada, com babás. Não vai afetar o time, e psicologicamente importa. Para ela ter paz e performar bem, as duas coisas precisam estar associadas. Há progresso sendo feitosportingbet demora a pagartermossportingbet demora a pagarsuporte e nós vamos alcançar o que elas têm nos Estados Unidos. Talvez um dia terminaremos com quatro ou cinco crianças entre nós, e não será um problema — diz Renard.

Mulheres atletas ainda enfrentam resistência dos clubes, exigências do alto rendimento e dificuldades para a adaptaçãosportingbet demora a pagarparceiros ou parceiras com o início da maternidade, mas aos poucos a história começa a mudar.

Maryam nos braços das jogadoras da França, enquanto Amel, na ponta direita, observa a cena — Foto: Divulgação / Seleção da França

Amel Majri, aliás, está longesportingbet demora a pagarser a única neste Mundial. Seis seleções participantes procuraram e receberam auxílio da Fifa para viajar com crianças na Copasportingbet demora a pagar2023, enquanto outras dezenassportingbet demora a pagarmulheres organizaram viagens por conta própria.

Em contato com a reportagem, a Fifa diz ainda que também trabalhousportingbet demora a pagarcontato com as seleções para:

  1. Identificar instalações nos estádios para que as mães pudessem amamentar;
  2. Garantir a disponibilizaçãosportingbet demora a pagarcadeirassportingbet demora a pagarcriança para os carros;
  3. Organizar transportes especiais para crianças na chegada;
  4. Trabalhar com as equipes para encontrar as famílias e amigos após os jogos.

Tamires lembra gravidez e volta ao futebol: "Queria também viver o meu sonho"

Ao longo das últimas semanas, Alex Morgan, Chrystal Dunn e Julie Ertz estiveramsportingbet demora a pagarviagem com a seleção dos Estados Unidos, preenchendo corredores com carrinhossportingbet demora a pagarbebê durante a Copa.

Áine O'Gorman, da Irlanda, carrega James, que fez um anosportingbet demora a pagaridade. Ivana Andrés, da Espanha, tem uma recém-nascida, e Zhang Xin, da China, um meninosportingbet demora a pagarseis. São mães no Mundial, assim como Melanie Leupolz, da Alemanha, Konya Plummer e Chayne Matthews, da Jamaica, que tem três.

sportingbet demora a pagar Mulheres abandonam o futebol

Elas são mulheres que forçam mudanças nos bastidores do futebol feminino, seis anos após a FIFPro — Federação Internacionalsportingbet demora a pagarJogadores — expor a realidade: atletas abandonam o futebol cedo demais, antes mesmosportingbet demora a pagaratingir o ápice da carreira. Os principais motivos? Mau pagamento dos salários e o desejosportingbet demora a pagariniciar uma família, visto como incompatível com a vidasportingbet demora a pagaratleta.

Não acho que essa seria uma decisão que elas precisam tomar.
— disse Ali Riley, da Austrália, quando entrevistada para o relatório,sportingbet demora a pagar2017.
Chrystal Dunn, atleta da seleção dos Estados Unidos, com o filho — Foto: Arquivo Pessoal

Naquela época, apenas 61 das 3.600 atletas entrevistadas tinham filhos, e 61% delas não receberam apoio durante a gravidez. Só 8% delas, porsportingbet demora a pagarvez, receberam pagamentosportingbet demora a pagarclubes e/ou da federação nacional no período.

  • 61% das atletas disseram que não receberam suporte para o cuidado da criança.
  • 8% receberam pagamentossportingbet demora a pagarclubes ou federações durante a gravidez.
  • 3% dos clubes forneceram suporte.
  • 14,5% das atletas com filhos tiveram apoio fornecido pelo governo.
  • Ninguém confirmou se a federação nacional forneceu suporte.

No Brasil, Tamires é exemplo deste cenário. Referência na defesa da seleção para o Mundial, a lateral-esquerda chegou a abandonar o futebol por três anos - ainda no início da carreira — quando engravidou do filho Bernardo. Tinha 21 anos e chorou por dias, sem conseguir vislumbrar futuro no próprio sonho.

As pessoas pensaram que eu iria me aposentar e que o futebol não era mais para mim, e por um momento eu mesma acreditei nisso.
— disse a brasileira,sportingbet demora a pagarentrevista à FIFA durante o Mundial.
Tamires e o filho, Bernardo, com a camisa da seleção brasileira — Foto: Vitor Milanez/CBF

Nos Estados Unidos, a mudança tem sido constante. A campeã olímpica Alex Morgan, por exemplo, recebeu apoio da seleção quando engravidou da filha, Charlie — com a garantiasportingbet demora a pagarlicença maternidade e o pagamentosportingbet demora a pagaruma babá para acompanhá-la nos treinos e viagens. Morgan apareceu como referência porsportingbet demora a pagarhistória, mas faz questãosportingbet demora a pagarmostrar que as conquistas vêmsportingbet demora a pagarantes até.

— Christy Rampone, Amy Rodriguez, Shannon Box, Mark Graph abriram o caminho para ajudar as jogadoras atuais a terem mais apoio e melhores recursos para serem mães e continuarem jogando.

Só o fatosportingbet demora a pagartermos o apoio da nossa Federação nos ajudou e nos permitiu voltar ao pontosportingbet demora a pagarque precisávamos voltar depois da gravidez e do parto.
— disse a atacantesportingbet demora a pagarcoletiva na Copa, quando questionada sobre a própria experiência.
Alex Morgan abraça a filha Charlie, quando se reencontraram na Copa — Foto: Arquivo Pessoal

À medida que o futebol feminino cresce —sportingbet demora a pagarinteresse, qualidade e investimento —, outros países procuram seguir os mesmos passos.

Na Espanha, a Associaçãosportingbet demora a pagarAtletas consultou a FIFProsportingbet demora a pagar2019, quando iniciou as negociações para regulamentar o tema no país. Ali, a entidade convocou uma equipe multidisciplinar para desenvolver o FIFPro Parental Policy — documento baseado na convenção da Organização Internacional do Trabalho e utilizado como guia para a Fifa e outras organizações que propõem a regulamentação da maternidade.

Quatro anos depois, a Federação da Espanha assinou um acordo para articular a idasportingbet demora a pagarfamiliares e filhos das jogadoras da Seleção ao Mundial na Austrália e Nova Zelândia, investindo 15 mil euros (R$ 80,4 mil) por atleta,sportingbet demora a pagaracordo com o jornal AS, da Espanha, para levá-los com a delegação.

A Federação Espanhola fez um grande esforço para trazer nossas famílias para perto. No meu caso, como Mateo ainda não tem nem dois anos, ele pôde ficar no hotel comigo.
— conta Irene Paredes, mãe do pequeno Mateo e integrante da Espanha.
Irene Paredes, da seleção da Espanha, carrega nos braços o filho Mateo — Foto: Reprodução / Espanha

sportingbet demora a pagar Há dois anos... as primeiras regras da Fifa

O movimento expandiu-se pelo mundo somente há dois anos,sportingbet demora a pagar2021, quando a Fifa estabeleceu padrões mínimos trabalhistas para serem seguidos no futebol feminino. Foram cinco mudanças no Regulamentosportingbet demora a pagarStatus e Transferênciasportingbet demora a pagarJogadores e, entre elas, a implementaçãosportingbet demora a pagardireitos ligados à gravidez e à maternidade no futebol. As regras determinam:

  • Licença maternidade mínimasportingbet demora a pagar14 semanas com remuneração, com pelo menos oito semanas a serem tiradas após o nascimento do bebê.
  • A validade do contrato não pode estar sujeita à gravidez ou ao fato da atleta exercer os direitossportingbet demora a pagarmaternidadesportingbet demora a pagaruma forma geral.
  • A jogadora grávida pode escolher continuar a prestar serviços desportivossportingbet demora a pagarforma alternativa, assim como determinar a datasportingbet demora a pagariníciosportingbet demora a pagarsua licença maternidade e o retorno à atividade após o término da licença.
  • Os clubes têm obrigaçãosportingbet demora a pagarfornecer instalações adequadas para uma jogadora amamentar e/ou ordenhar o leite materno após o retorno da licença maternidade.

Amel Majri, da seleção da França, com a filha Maryam no embarque para a Copa do Mundo feminina — Foto: Arquivo Pessoal

O Artigo 6 também prevê a possibilidadesportingbet demora a pagarregistrar uma jogadora fora da janelasportingbet demora a pagartransferências, seja para substituir uma atletasportingbet demora a pagarlicença ou para reintegrar uma que a completou. No Brasil, a janela nacional não se aplica no feminino, mas o Cruzeiro se respaldou na regrasportingbet demora a pagar2022 para inscrever a atacante Fernanda Tipa, do Famalicão,sportingbet demora a pagarPortugal, após o encerramento da janela internacional.

Fernanda Tipa foi inscrita pelo Cruzeiro após vitória do clube na FIFA — Foto: Divulgação/Cruzeiro

Antes disso, as regras foram testadas pela primeira vezsportingbet demora a pagar2021, quando a islandesa Sara Bjork Gunnarsdottir tirou licença maternidade, e o Lyon - seu clube - se recusou a pagá-la com o salário completo. Sob o auxílio da FIFPro, Sara acionou a equipe na Fifa e venceu o julgamento, sendo o time condenado a pagar 82 mil euros, referente à diferença entre os salários devidos e o que foi pago.

— Esse caso foi muito importante porque foi o primeiro (e até agora o único) teste dos regulamentos da Fifa, e a conclusão foisportingbet demora a pagarque eles são aplicados mesmosportingbet demora a pagarquestões reguladas a nível nacional. Deixou claro que as jogadoras têm direito ao salário completo durante a gravidez, mesmo que não joguem — diz a representante legal da FIFPro, Alexandra Gomez Bruinewoud,sportingbet demora a pagarexclusiva ao ge.

Foi uma grande jogadora e um grande clube, e a notícia se espalha muito rápido, então o caso nos ajudou a espalhar a informação sobre proteção na maternidade.
— ressalta Alexandra Gomez Bruinewoud ao ge.
Sara Bjork, atleta que defendeu seus direitos como mãesportingbet demora a pagaração contra o Lyon na Fifa — Foto: FIFPro

sportingbet demora a pagar No Brasil... uma história recente

No Brasil, somentesportingbet demora a pagarjunho deste ano as mulheres atletas passaram a ter os direitos maternos regulamentados — através da Lei Geral do Esporte.

  • § 10. Os contratos celebrados com atletas mulheres, ainda quesportingbet demora a pagarnatureza cível, não poderão ter qualquer tiposportingbet demora a pagarcondicionante relativo a gravidez, a licença-maternidade ou a questões referentes à maternidadesportingbet demora a pagargeral.

O Regulamento Nacionalsportingbet demora a pagarRegistro e Transferênciasportingbet demora a pagarAtletas, formulado pela CBF, menciona esta mesma regra, válida para jogadoras e também técnicas mulheres. Os contratossportingbet demora a pagarambas, portanto, não estão sujeitos ao fatosportingbet demora a pagarestarem grávidas, a engravidarem ou estaremsportingbet demora a pagarlicença maternidade.

As jogadoras têm lutado por seus direitos. Discriminaçãosportingbet demora a pagargênero não é mais aceita, então todas as organizações tiveram que se adaptar e precisam continuar se adaptando.
— defende Alexandra Gomez Bruinewoud, representante legal da FIFPro.

Jessicasportingbet demora a pagarLima diz como é conciliar a maternidade com o comando da Ferroviária

sportingbet demora a pagar Seleções, adoção e o futuro

Alex Morgan, por exemplo, transformou-sesportingbet demora a pagaruma dessas jogadoras. Preenchida pelo amor da filha Charlie, tornou-se voz ativa na luta por direitos, pressionando por maior apoio às mulheres no futebol. No início do ano, durante a açãosportingbet demora a pagarSara Bjork Gunnarsdottir contra o Lyon, a americana compartilhou medidas básicas que considera como necessárias para apoiar atletas com filhos e filhas.

  1. Fornecer um quarto individualsportingbet demora a pagarhotel nas viagens;
  2. Fornecer um quartosportingbet demora a pagarhotel para a babá;
  3. Fornecer assentos no avião para o bebê e a babá;
  4. Fornecer refeições na viagem para o bebê e a babá;
  5. Fornecer um espaço privado no jogo para o bebê e a babá.

Em três décadassportingbet demora a pagarfutebol feminino, os maiores avanços ocorreram somente nos últimos três anos.

São mudanças comemoradas, mas carentessportingbet demora a pagarevolução. E as entidades sabem disso. A FIFPro, por exemplo, defende que as regras sejam aplicadas para seleções nacionais, e aponta a necessidadesportingbet demora a pagarlicença para pais e mães não grávidas - no casosportingbet demora a pagarcasais homossexuais —, além da faltasportingbet demora a pagarregulamentação para casossportingbet demora a pagaradoção ousportingbet demora a pagaraborto.

— Na minha visão, o aborto espontâneo poderia ser regulamentado com um período mínimosportingbet demora a pagardescanso antessportingbet demora a pagarretomar as atividades, assim como apoio psicológico. O aborto induzido, devido asportingbet demora a pagarnatureza controversa, é algo que talvez seja melhor deixar para ser resolvido a nível nacional, dependendo da lei aplicada — diz Alexandra Gomez Bruinewoud.

A Fifa informa,sportingbet demora a pagarcontato com a reportagem, que o Conselho da entidade,sportingbet demora a pagarmarço deste ano, autorizou a administração a explorar possíveis novas medidas regulatórias.

Alexandra Gomez Bruinewoud: "Jogadoras merecem o suporte e segurança que foi negado a Sara." — Foto: FIFPRO

Enquanto barreiras são derrubadas, as mães se multiplicam. Veem direitos começarem a enfim virar realidade. Entre elas, na concentração da Jamaica, Konya Plummer prende os olhos no filho Zid. Abre um sorriso e comemora, durante a Copa do Mundo, o aniversáriosportingbet demora a pagarum ano do filho. Lembrasportingbet demora a pagarquando pensou que tudo havia acabado para si, mas descobriu: era só o começo da história.

Quero que meu filho saiba que sou forte, que sigo o que acredito e que amo o que faço.
— Konya Plummer,sportingbet demora a pagarentrevista à Fifa.
Konya Plummer com o filho nos braços enquanto deixa o ônibus da Jamaica — Foto: Divulgação / Jamaica