Prêmio eSports Brasil: Gaules falabetnacional o que éprivilégios, preconceito e inclusão

Ganhadorbetnacional o que édois prêmios, streamer reconhece: "Se eu fosse uma mulher, homossexual e preta, com a mesma história que tenho hoje, eu não estaria onde estou hoje"

Por Luiz Queiroga — São Paulo


Principal streamer do país, Alexandre “Gaules” se destacou ao longo deste ano também por entender seu papel como influenciador. Além dos recordes quebrados na Twitch, ele passou a se posicionar sobre questões sociais. Em 2020, Gaules já conversou com seu público sobre, por exemplo, a importânciabetnacional o que éinvestirbetnacional o que écenários femininos e, mais recentemente, sobre como o Free Fire consegue ser a portabetnacional o que éentrada para muitas pessoas que vivem na periferia e que são,betnacional o que émaioria, negras. Não à toa, ele foi eleito o Melhor Streamer e também a Personalidade do Ano no Prêmio Esports Brasil 2020.

A históriabetnacional o que ésuperaçãobetnacional o que éGaules na luta contra a depressão é conhecida por todos. E, desde então, o streamer sempre se dedicou a falar sobre a importânciabetnacional o que ése esforçar para conseguir os seus objetivos. Ainda assim, esportes eletrônicos e streaming contam com diversas barreiras invisíveis que comprometem a caminhadabetnacional o que émuita gente que, socialmente, estábetnacional o que ésituação desigual dos muitos que hoje estão no topo dos eSports como Gaules. No fim, não é apenas sobre méritos. E Gaules compreende isso.

- Eu tenho a consciênciabetnacional o que éque sou um privilegiado por ser uma pessoa que, dentro dessa sociedade, ela é vistabetnacional o que éoutra forma - dissebetnacional o que éconversa exclusiva ao ge.

- Sei muito bem que se eu fosse uma mulher, homossexual e preta, com a mesma história que eu tenho hoje, eu não estaria onde estou hoje.

Reflexão necessária: Gaules reconhece privilégios, condena preconceito e quer mais inclusão nos eSports — Foto: Prêmio eSports Brasil/Saymon Sampaio

Foi quando Gaules questionou o que hoje é chamadobetnacional o que é“lacração”, que é sobre alguma situação ser problematizada e já acharem que é apenas “mimimi”.

- Então uma pessoa pergunta: "Pô, por que que não tem pessoas pretas jogando muito Counter-Strike?" Aí alguém no chat chega e fala que é "lacreiro", eu tenho que ensinar: "Cara, você está confundindo as coisas”.

- Às vezes é um menino, uma pessoa preta, que não está se vendo ali...

- Você não consegue explicar para a pessoa que você precisa fazer issobetnacional o que ése colocarbetnacional o que éum lugar que pode ser o exemplo que for.

- Se a pessoa não está se vendo ali, ela vai se questionar e falar: "Pô, será então que eu não posso estar ali?" E você tem que explicar que, neste momento, não existe acessibilidade.

Alexandre "Gaules" vence na categoria Melhor Streamer do Prêmio eSports Brasil 2020

Para Gaules, o preconceito é combatido nos esportes eletrônicos “a partir do momentobetnacional o que éque você consegue entender isso e passar para as outras pessoasbetnacional o que éuma forma que não é muito fácilbetnacional o que épassar”. É sobre tornar as barreiras invisíveis bem visíveis aos olhosbetnacional o que équem tem uma vida descolada da realidadebetnacional o que éum país tão desigual como o Brasil. Questões sobre machismo, racismo e homofobia, ou então desigualdade social, não são abordadas no dia a dia desse Brasileirinho.

- Pra mim é muito importante saber e passar para as pessoas que, apesar delas acharem que isso [preconceito e discursobetnacional o que éódio] não existe, existe todos os dias.

- A importância é você saber que muitas vezes as pessoas que estão lá com você [na stream] elas não escutam os pais, os professores, não escutam outras pessoas que querem ensinar ou colocar algumas informações diferentes do mundo do dia a dia delabetnacional o que éentretenimento. Tem muita gente que entra ali pelo entretenimento e que você pode auxiliarbetnacional o que éalguma forma.

- Hoje, um papel, uma ferramenta e uma coisa muito principal que tenho que levar comigo é eu abertamente explicar e conversar assim: "Cara, você pode não saber que você é uma pessoa preconceituosa, que você é uma pessoa homofóbica, que você é uma pessoa racista. É um trabalho diário”.

betnacional o que é OUVIR ANTES DE FALAR

O discursobetnacional o que éGaules só se dá assim hoje porque ele passou a ouvir quem sofre na pele com os mais diferentes tiposbetnacional o que édiscriminação. Por estarbetnacional o que éuma condição privilegiada, ele entende que não será atacado por ser quem ele é. Ao passo que negros sofrem racismo só por serem negros, como foi o caso do streamer Daniel “Buero” que foi atacado apenas por fazer live sem o seu boné - e, portanto, deixando os cabelos crespos à mostra, o que motivou insultos. Assim como mulheres se veem obrigadas a jogar com nicknames neutros ou masculinos e até mesmo a não usar o chatbetnacional o que évoz para não sofrerem machismo durante uma partida online.

Não foram preocupações que Gaules precisou lidar para chegar até o topo.

- Consegui aprender muito e evoluir muito atravésbetnacional o que éestar todos os dias conversando, trocando assunto, trocando conhecimento. Entendendo pontosbetnacional o que évista diferentes porque tinha muito pontobetnacional o que évista que eu não conseguia entender.

- Eu olhava, pensavabetnacional o que éum jeito e falava: "Cara, não consigo entender esse pontobetnacional o que évista".

Melhor Streamer e Personalidade do Ano, Gaules sabe do poder que tembetnacional o que émãos — Foto: Prêmio eSports Brasil/Saymon Sampaio

- O que consegui aprenderbetnacional o que étodos esses momentosbetnacional o que é2018 pra cá é essa relação humana. Você ser streamer se tratabetnacional o que éinteração. É você criar uma comunidade, alimentar e também ser alimentado por ela.

- Nessa trocabetnacional o que éexperiências com pessoas dos mais diversos tipos e lugares do país,betnacional o que éclasses sociais diferentes, sabe, vivências diferentes, eu fui conseguindo absorver um pouco e entender pontosbetnacional o que évistas que antes eu não conseguia achar nem me colocar, e hoje eu consigo. Um pouco.

E dentro dabetnacional o que érealidade, Gaules usou como exemplo a luta contra a depressão e a forma como ele encarou isso publicamente.

- Dentro do universo das streams, existia, ou pelo menos ainda existe mas acho que hoje já quebrou uma barreira muito grandebetnacional o que étabus,betnacional o que éque eu começava a falar sobre um assunto que o primeiro era depressão, e as pessoas: "Pô, mas você não pode falar sobre isso", "Você não pode fazer stream estando mal", "Você não pode falar sobre tal coisa". Mas cara, por que eu não posso falar? Por que eu não posso trazer isso? Por que se não estoubetnacional o que éum dia bom e eu não fizer live, quando é que vou fazer live então? Sóbetnacional o que édia bom?

betnacional o que é MAIS DO QUE DISCURSO, AÇÃO

Até mesmo pelo patamar que atingiubetnacional o que é2020 não só como streamer, mas também como empresário, Gaules sabe também que só palavras não ajudam. Ao longo dos últimos tempos, ele ficou marcado por promover ações e doações para ajudar pessoas dentro da bolhabetnacional o que égames e streaming, assim como também causas.

A Personalidade do Ano entende que esportes eletrônicos e streaming ainda estão bem distantes da realidade do brasileiro.

- No esporte eletrônico, a única acessibilidade quebetnacional o que émais dessas duas décadas que eu tô aqui eu vi foi o Free Fire com o celular. É uma coisa que equilibra pela primeira vez a balança.

- Você sabe que no Brasil muita gente tem celular, alguém que tábetnacional o que éuma família carente, num lugar onde tem uma infraestrutura muito difícil. E essa pessoa, com um celular, entra num jogo pra competirbetnacional o que écondições ainda muito menores do que as outras pessoas, mas ela consegue ser tão boa quanto. E aí é que você vê essas pessoas chegando.

- Quando você olha para o Free Fire, você vê lá a diversidade que nos outros esportes eletrônicos não tembetnacional o que éjeito nenhum e nunca, desse jeito que a gente lida hoje, vai ter.

- É esse trabalho que a gente precisa ter para mudar isso para que no futuro eu veja mais pessoas jogando Counter-Strike, League of Legends e os outros jogos com uma acessibilidade que hoje a gente não vê.

Nobru e Gaules no Prêmio eSports Brasil — Foto: Saymon

Ou seja, é deixarbetnacional o que éter o Free Fire como a muletabetnacional o que éinclusão nos esportes eletrônicos. Com a força da Tribo, Gaules quer diminuir cada vez mais essas barreiras sociais que excluem muitas pessoasbetnacional o que éentrarem no meio. Em 2021, o streamer e empresário tem planos para combater ainda mais o preconceito e conseguir tornar a bolha gamer mais inclusiva. Quanto mais diversidade, melhor.

- O que a gente conseguiu fazer, aos poucos, é estruturar. Hoje, não sou mais eu, o Brexe (brand manager e seu “braço direito”) e algumas pessoas auxiliando. Hoje a marca Gaules é uma empresa, que é uma sociedade com Omelete. Então tem toda uma estruturabetnacional o que érelação a isso e, agora, o que a gente já está organizando é esse braçobetnacional o que éveia social. Da gente conseguir fazer o que a gente já faz, mas com ainda mais estrutura e organização.

- É o que eu falo: a gente não consegue abraçar o mundo, mas,betnacional o que épouquinhobetnacional o que épouquinho, a gente vai estruturando e abraçando os projetos interessantes e trazer essa estrutura. Tem muita pessoa que quer ajudar. Então essa infraestruturabetnacional o que évocê conseguir dividir com as pessoas e fazer melhorar isso, é o caminho. É o futuro.

- É um projeto que já está andando este ano, inclusive, agora, no dia 14, a gente vai fazer um projeto da Tribo para ajudar um streamer que veio da rua e que ele tem um projeto que é para os moradoresbetnacional o que érua que estavam na rua com ele. A gente vai arrecadar pra ela. E a gente tem mais projetos aí vindo com uma estrutura, agora, mais robusta.

Ser minoria nos esportes eletrônicos é realmente se ver como um gaulês nos contosbetnacional o que éAsterix, obra que marcou a vidabetnacional o que éAlexandre "Gaules". Ser preto, mulher, pessoa com deficiência e todo tipobetnacional o que édiversidade possível é se sentirbetnacional o que éuma aldeia irredutível, cercada por inimigos que farãobetnacional o que étudo para te silenciar. Existir é resistir. E quantos mais aliados realmente conscientesbetnacional o que éseus privilégios e motivados a ajudar nessa batalha, melhor. Hoje, Gaules está disposto a ser esse aliado. O discurso é prova. A ver com as ações.

Prêmio eSports Brasil consagra programer PVDDR e streamer Gaules