Por Rafael Lopes

Comentaristatimemania 1809automobilismo do Grupo Globo

O som do silêncio na Bélgica

Morte do francês Anthoine Huberttimemania 1809Spa-Francorchamps deixou o automobilismo consternado

Voando Baixo — Riotimemania 1809Janeiro


Poucos esportes oferecem uma experiência sensorial tão ampla quanto o automobilismo. O cheirotimemania 1809gasolina. O som dos carros. O ventotimemania 1809quando os carros passam. A vibração da torcida nas arquibancadas. Mas poucas sensaçõestimemania 1809um autódromo são mais impactantes que o som do silêncio. Locais que recebem corridas são, por essência, barulhentos. Uma variedade quase infinitatimemania 1809sons e ruídos. Mas é a gravidade do silêncio que impressiona. É quase que automático. Depoistimemania 1809um acidente forte, é impressionante como todos se calam. É sinaltimemania 1809respeito,timemania 1809apreensão,timemania 1809que algo grave aconteceu. Spa-Francorchamps, neste sábado, experimentou o silêncio ao cair da tarde.

Era a segunda volta da corrida longa da Fórmula 2. Os carros passavam pelo trecho mais rápido da pista, o complexo Eau Rouge-Raidillon. O francês Giuliano Alesi perdeu o controle do carro no meio do trecho (possivelmente por um furotimemania 1809pneu) e rodou para o lado interno da pista. Sem controle, seu carro acabou no meio do traçado. Pegotimemania 1809surpresa, o compatriota Anthoine Hubert desviou, tocou no adversário e bateu forte nos pneus. Na volta, acabou atingido pelo americano Juan Manuel Correa. Assim que os carros pararam, um enorme silêncio se abateu sobre Spa-Francorchamps. Era claro que o acidente era grave.

O acidentetimemania 1809Anthoine Huberttimemania 1809Spa-Francorchamps

Aqui no Brasil, eu estava na cabinetimemania 1809transmissão, ao ladotimemania 1809Guto Nejaim. Estávamos gravando ao vivo o VT inédito que iria ao ar no SporTV 2 neste sábado. Começávamos a situar a corrida quando tomamos um susto. O corte da imagem na transmissão. O som da pancada. O silêncio. Fiquei arrepiado. Comecei a procurar sinais positivos naquelas imagens. Qualquer movimento, qualquer esperança. Nada. Apenas os movimentos desesperadostimemania 1809Juan Manuel Correa no cockpit. Coberto por uma placa após o choque com os pneus, não dava para ver o que restou do carrotimemania 1809Anthoine Hubert. Se já não bastassem as imagens, minutos depois chegou o aviso do cancelamento da corrida. Era quase que uma confirmaçãotimemania 1809que algo terrível havia acontecido.

Na Fórmula 1 etimemania 1809suas categorias, o show não pode parar. Quando para, é porque algo sério aconteceu. Levou pouco maistimemania 1809uma hora para a notícia ser confirmada. Aos 22 anos, Hubert não havia resistido aos ferimentos. Mais silêncio. Você trabalha no automático. É quando é necessário ser o mais profissional possível. Buscar informações, imagens, preparar matérias. É quase que uma proteção. Uma tentativatimemania 1809não deixar a ficha cair. Tarefa inócua. Invariavelmente ela cai. Não tem jeito. Uma hora você desliga. É aquele momentotimemania 1809que um abraçotimemania 1809sua esposa etimemania 1809sua filha significam um enorme alento.

Anthoine Hubert comemorando a vitória na segunda corrida da Fórmula 2timemania 1809Paul Ricard, na França — Foto: Joe Portlock/FIA F2

Tenho 14 anostimemania 1809carreira. E vivi essa situação três vezes desde que comecei a trabalhar com automobilismo,timemania 1809posições distintas. A primeira delas foi a mais impactante. Em 2007, estavatimemania 1809Interlagos para cobrir a decisão da Stock Car. A corrida já tinha terminado, o trabalho quase encerrado. Assistíamos à corrida da Light na salatimemania 1809imprensa quando aconteceu o acidente que matou Rafael Sperafico. Lembro como se fosse hoje: quando desci ao pit lane para correr atrástimemania 1809mais informações. Um silêncio ensurdecedor. Não se ouvia nada. Todos se olhavam, meio que tentando entender o que havia acontecido. Doloroso.

Na segunda vez, comentava na transmissão do GP do Japãotimemania 18092014 pela Rádio Globo, quando aconteceu o acidentetimemania 1809Jules Bianchi. A terceira vez foi neste sábado. Em comumtimemania 1809todas elas? O silêncio. Por outro lado, é a hora que todos os envolvidos com o automobilismo se sentem muito próximos. Quase que como uma grande família. É como perder um ente querido. Barreiras, rivalidades, brigas? Ficam pra depois. Pra outro dia. É horatimemania 1809dar força. De confortar. De quebrar o silêncio.

Anthoine Huberttimemania 1809ensaio apóstimemania 1809vitória na etapatimemania 1809Paul Ricard da Fórmula 2 — Foto: Joe Portlock/FIA F2

É hora tambémtimemania 1809lembrar aquela frase que estampa toda credencialtimemania 1809eventostimemania 1809esportes a motor: "Motorsport is dangerous". Esportes a motor são perigosos. Cada vez menos, é verdade. Mas acelerar a 300 km/h dentrotimemania 1809um carro tem um risco inerente. Não tem jeito. Nunca haverá 100%timemania 1809segurança neste tipotimemania 1809esporte. Todo mundo que vive no meio, trabalha ou é apaixonado por velocidade sabe disso.

O que não diminui a dortimemania 1809ouvir o som do silêncio.

Anthoine Hubert nos treinos para a etapatimemania 1809Spa-Francorchamps da Fórmula 2 — Foto: Gareth Harford/FIA F2
Perfiltimemania 1809Rafael Lopes no Blog Voando Baixo — Foto: Infoesporte