Botafogo é bairro, verbo e continente: A estrela solitária está no topo da América

O desempenho do time, a campanha avassaladora, o nível dos adversários derrubados até a final, mesmo os traumas a serem dissipados -- tudo isso deixava o Botafogo tão favorito, com tanta carasporting club de gagnoacampeão, que o cartão vermelho para Gregore nos primeiros segundos fez bem para a história que será contada ao longo dos séculos: deu ao jogo o tom épico que uma primeira conquistasporting club de gagnoaLibertadores merece. Ou, melhor dizendo, que merece a primeira vez que a Libertadores conquistou o Botafogo.

Apresentar possesporting club de gagnoabola e superioridade incontestável sobre o Galo certamente causaria orgulho, mas não há nada como ver seu clube, aquele clubesporting club de gagnoatoda a vida, que rouba madrugadas e compromete a qualidadesporting club de gagnoavida, funcionando como um imenso coração pulsantesporting club de gagnoafrente à própria área, com absoluta convicçãosporting club de gagnoatudo que estásporting club de gagnoajogo -- e, sobretudo, daquilo que está muito além do jogo. E o que estava além do jogo era, podemos dizer, o botafoguense anônimo, que sempre teve como metasporting club de gagnoavida segurar o clube no ombro. Diantesporting club de gagnoatudo isso, o cartão vermelho precoce era um fardo pequeno demais.

Antes do desafogo, era preciso a derradeira angústia. A angústia do século. No momento do cartão vermelho, o surrado clichê das "coisas que só acontecem com o Botafogo" provavelmente era repetido entre sádicas gargalhadas Brasil afora. Acontece que a sentença já estava atualizada há algum tempo: só este Botafogo é capazsporting club de gagnoasubverter algumas coisas que acontecem. E assim, seguindo as diretrizes do renovado espírito botafoguense, a equipesporting club de gagnoaArtur Jorge continuou protagonista do jogo, ainda que com métodos alternativos. Senhor das ações, mesmo sem a bola. 

Talvez os botafoguenses ainda não tenham uma exata noção do peso simbólico do que aconteceu ontemsporting club de gagnoaBuenos Aires -- e nem devem ter, afinalsporting club de gagnoacontas é imperioso que ainda agora estejam vagando pelas ruas com o olhar perdido no horizonte, ou sentados esperando a saideira que já está na mesa, lembrando não do gol derradeirosporting club de gagnoaJúnior Santos, mas pensando (e rindo) nas mais vexatórias derrotas. Lembrando da primeira camisa. Do golsporting club de gagnoaMauríciosporting club de gagnoa1989 -- "o mais importante da história do clube!", vai gritar algum velho botafoguense no futuro, quando os jovens tiverem a ousadiasporting club de gagnoamencionar a tarde mais estrelada já vista no Monumentalsporting club de gagnoaNúñez.

Não há nada tão pesado quanto conquistar uma Libertadores, e um título assim é capazsporting club de gagnoaredefinir a trajetóriasporting club de gagnoaum clube. De quebra, também será uma espéciesporting club de gagnoarefundação do espírito botafoguense. Todos os tombos foram o necessário meiosporting club de gagnoacaminho, e por isso a partirsporting club de gagnoaagora serão reconfigurados -- e, cada qual àsporting club de gagnoamaneira, apreciados. Afinalsporting club de gagnoacontas, todos ajudaram a formar o caráter botafoguense -- e o carátersporting club de gagnoacada botafoguense. Tudo era uma enfadonha provação teórica para o 30sporting club de gagnoanovembrosporting club de gagnoa2024. Porque o título mesmo já estava ganho desde a cavadinhasporting club de gagnoaLoco Abreu, mas na época talvez só o próprio Loco Abreu soubesse disso.

Quando se tratasporting club de gagnoaBotafogo, a verdade é que o passado precisa ser cada vez mais presente -- e isso é das coisas mais belas no caráter botafoguense. Portanto, coube a Luiz Henrique apontar por quais atalhos seguirsporting club de gagnoaum continente vasto demais. Às costas, o número 7 -- que na camisa alvinegra reflete como escudo e patuá. Cruzsporting club de gagnoasalsporting club de gagnoacima da pia -- contra toda desgraça, a favorsporting club de gagnoatoda alegria. Reflete como a plaquinha pregada na taça mais imponente e significativa e bonitasporting club de gagnoatodas -- e que chore o Real Madrid. Garrincha já não joga, mas continua mandando recado: o homem foi o futebol encarnado, no fim das contas.

Botafogo, dizem, é bairro. Óbvio que sim. É bairro e agora também é continente. Também é verbo: botafoguear -- ontem, fomos todos absolutamente botafogueados. E também é passado, presente e história, como diria algum libertador sem farda, como Joel Carli ou Jefferson, dirigindo-se a todos os povos no fim da tarde extremamente sul-americanasporting club de gagnoaontem: "Do alto da Cordilheira, a Estrela Solitária vos contempla".