Cada degrauroleta personalizadaconcreto lascado, cada losango enferrujado do alambrado, foi testemunharoleta personalizadaumas dessas histórias que tornam o futebol este troço que tem... sabe-se lá o quê.
O lindo pôr do sol que emoldura estádio e rio da Prata no mesmo quadro, praticamente não se mostrou naquela fria tarderoleta personalizadainverno. Era julhoroleta personalizada1976, e dezoito mil pessoas se acotovelavam esperançosas para darem fé do inédito.
Durante quase quarenta e cinco anosroleta personalizadaprofissionalismo no Uruguai, o futebol foi propriedaderoleta personalizadaapenas dois campeõesroleta personalizadaalternância: ou dava Peñarol, ou dava Nacional. Não existia se, não existia porém e não existia pero.
Era así nomá.
Do Centenario para a fuga
Assim também era a vida no Uruguai. O país vivia sob uma cruel ditadura. O terrorismoroleta personalizadaEstado escalava níveis absurdos com cadáveres que apareciam e se acumulavam às margens do Rio da Prata. As vítimas dos tenebrosos voos da morte instaurados pelos regimes uruguaio e argentino não deixavam dúvidasroleta personalizadaanos pesados.
José Ricardo De León havia retornado do México depoisroleta personalizadauma passagem exitosa pelo Toluca. Voltou para dirigir o seu querido Defensor no campeonatoroleta personalizada1976. Orador eficaz e motivadorroleta personalizadatempo integral, o treinador era um artífice das relações humanas. E também era um comunista confesso, ex-membro do partido e, por isso mesmo, alguém que precisava ser vigiado.
A própria AUF (Asociación Uruguayaroleta personalizadaFútbol) era comanda por militares naquele tempo. Algo que Julio Filippini, grata surpresaroleta personalizadaapenas 19 anos que despontava nas inferiores do Defensor, entenderia o significado.
Apostando no talento do prodigioso atacante, De León decidiu escalar o garoto para um dos jogos mais importantes do primeiro turno: contra o Nacional, pela quarta rodada, no estádio Centenario.
E Flippini foi bem. Muito bem, aliás. Ajudou marcando um gol e sofrendo o pênalti no empate por 2 a 2. A tarde sonhada do estreante merecia ser contada por quem cobria a partida. Victor Hugo Morales, tradicional jornalista uruguaio, e que à época trabalhava para a rádio Oriental, pediu ao jovem uma dedicatória no gol daquele dia.
- Dedico ao meu irmão e a todos os companheiros da penitenciáriaroleta personalizadaLibertad.
Dentro da cela, Eduardo Filippini, irmão do jogador e guerrilheiro Tupamaro, escutou o saludo do garoto. No mesmo instante soube que Julio estavaroleta personalizadaproblemas.
“Os militares chegaram na rádio com um desses gravadores. Colocaramroleta personalizadacima da mesa e me disseram: ‘Você já vai entender’. Acho que era um major. Ele apertou o play e surgiu este áudioroleta personalizadaque o jovem mandava um recado ao irmão preso. O militar virou e me disse: ‘Cartão amarelo’. Isso explica um pouco porque eu vim para Argentina”, contou Victor Hugo Morales, anos depois, ao programa Fuimos Heroes.
Julio Filippini sequer voltou para casa depois da tarde sonhada no Centenario. Ele precisou se esconder com medo da provável represália dos militares que rondavam àroleta personalizadaprocura.
Promessa, Julio estreou e encerrou a carreira no mesmo dia.
O último jogo
O Defensor recebia o Rentistas na última rodada do campeonato. Precisava da vitória porque o Peñarol estava derrotando o Sud America por 3 a 1. Se não ganhasse, os dois times empatariamroleta personalizadapontos e uma final única contra o gigante uruguaio serviria como desempate para o título. Este era o pior dos cenários. Todos sabiam que a chance estava ali, naquele dia e naquele jogo. A oportunidade única para acabar com a hegemonia dos dois grandes.
Além do mais, um triunfo do Defensor dentro daquele contexto político e social também passava um outro recado. Deixava no ar essa sensação únicaroleta personalizadaque os poderosos também caem. E muita gente acreditava no simbolismo daquela campanha, na história que La Viola estava escrevendo. Somente isso pode explicar o grande público no dia do jogo contra o Rentistas.
Eles viram o Defensor abrir 2 a 0 no placar com relativa tranquilidade. O ambiente parecia controlado, naquela calmaria que precede a tempestade. Foi o gol do Rentistas, já no segundo tempo do jogo, o responsável pelo tomroleta personalizadasuspense digno dos acontecimentos reservados à grandeza. A pressão que fazia o rival encurralar o Defensorroleta personalizadaseu camporoleta personalizadadefesa mantinha todo o estádio aflito. O golroleta personalizadaempate significava um indesejável encontro com o Peñarolroleta personalizadaoutras circunstâncias,roleta personalizadaoutra partida e com as chances drasticamente reduzidas. Faltando cinco minutos o jogo estava completamente aberto.
De repente, o técnico Ricardo De León levantou-se no bancoroleta personalizadareservas. Não deu qualquer instrução aos seus jogadores e nem disse nada para os rostos aflitos que buscavam qualquer alento que fosse. O time estava a poucos instantes da glória eterna ou a um golroleta personalizadauma tragédia quase anunciada. De maneira calma, como era seu costume, o treinador caminhouroleta personalizadadireção ao vestiário. Quem estava nas arquibancadas, quem estava nas tribunasroleta personalizadaimprensa, quem estava atrás dos gols e, principalmente, quem estava dentroroleta personalizadacampo: todos perderam a concentração no que faziam ao observar aquele homem sereno indo embora.
Foi só depois do apito final que De León confessou os motivos para essa atitude. Ele queria passar um recado aos jogadores contrários: o jogo estava terminado. E também queria passar outro recado para os seus: nadaroleta personalizadaimportante aconteceria naqueles últimos minutos. O título improvável fora conquistado.
Defensor, o primeiro clube chico a conquistar o campeonato uruguaio!
No sentido do relógio
“Começa a volta olímpica no sentido das agulhas do relógio. Está dando a volta olímpica ao contrário do que se faz. E tem razão o Defensor! Esta é uma volta olímpica ao contrário. Ao contrário da história, ao contrárioroleta personalizadaum mandato que durou quase meio século futebolístico”
Assim, emocionado, o narrador Victor Hugo Morales, que depois ficaria eternamente conhecido pelo relato no segundo golroleta personalizadaMaradona contra a Inglaterra na Coparoleta personalizada86, foi o primeiroroleta personalizadaperceber que os jogadores do Defensor realizavam o típico gesto festivo no sentido contrário ao que estavam todos habituados.
Muitos interpretaram um sinalroleta personalizadaresistência ali. Porém, não há garantiasroleta personalizadaque essa volta olímpica realizada ao contrário tenha sido previamente planejada.
Segundo o jornalista uruguaio Santiago Díaz, autorroleta personalizadaum livro que abordaroleta personalizadadetalhes a campanharoleta personalizada76 (Una vuelta a la historia: Defensor del 76), no dia anterior, ainda na concentração, o técnico De León se aproximouroleta personalizadaum gruporoleta personalizadajogadores e pediu: “Já que vamos ser campeões, precisamos festejarroleta personalizadauma forma diferente. Porque esse é um campeonato diferente. Pensemroleta personalizadacomo manifestarroleta personalizadaforma diferente porque o povo está morto, ninguém protesta mais, não há resistência... Pensemroleta personalizadaalgo.”
Resulta curioso pensar que a volta olímpica, inventada pelos próprios uruguaios na conquista da medalharoleta personalizadaouro nos Jogosroleta personalizadaParisroleta personalizada1924, tenham se permitido fazer uma releitura autoral.
Maisroleta personalizada@leo_lepri