Neymar e o desafiobets 160 comadiar as recompensas

Não é estranha ao Brasil a sensaçãobets 160 comver craques saírem do auge antes do previsto


Alex e Pedro Moreno falam sobre a frustração pelo cortebets 160 comNeymar

Grandes craques têm o dombets 160 comnos surpreender: não costuma ser seguro apostar contra eles. Ainda assim, não é possível saber, hoje, quanto tempo levará para que Neymar volte a se aproximar da elite do jogo, ou mesmo se o fará.

Difícil mesmo é acompanhar a natureza do noticiário que o cerca e não lembrar do seu iníciobets 160 comcarreira. O cenário do futebol brasileiro à época conduz ao que talvez seja a reflexão mais rica sobre o momento do atacante.

Com 22 anos, coube a Neymar ser o centro das atenções, das expectativas e esperançasbets 160 comuma seleção brasileira que jogava a Copa do Mundobets 160 comcasa. Um posto que já assumira quatro anos antes, no início do ciclo para aquele Mundial, após os precoces afastamentosbets 160 comjogadores como Ronaldinho Gaúcho ou Adriano do melhor nível técnico e físico.

Neymar aquece para duelo entre Corinthians x Santos — Foto: Marcos Ribolli

Não é pouco familiar, no futebol brasileiro, a sensaçãobets 160 comque grandes estrelas se afastaram da elitebets 160 comforma prematura. Cada um com suas particularidades, lesões, dramas pessoais ou escolhasbets 160 comvida, não são raros os casosbets 160 comastros que aparentam uma espéciebets 160 comsaciedade precoce, como se decidissem, mais cedo do que os avanços da ciência permitem, que já não valia mais a pena pagar o preço para se manter no mais alto nível. Bem resolvidos financeiramente, decidem tentar conciliar os prazeres da vida com as obrigações do esporte altamente competitivo.

Romário voltou ao Brasil como o melhor do mundo, dias antesbets 160 comcompletar 29 anos. Aqui, numa épocabets 160 comque seis meses do ano eram ocupados por Estaduais, curtiu a vida, fez gols e se machucoubets 160 comdoses industriais. Ronaldinho Gaúcho exerceu,bets 160 comseus 10 últimos anosbets 160 comcarreira, a capacidadebets 160 commanter o mundo do futebolbets 160 cometerna expectativa pela voltabets 160 comseu auge, vivido aos 26 anos. No Brasil, teve sequências razoavelmente curtasbets 160 combrilhobets 160 commeio a épicas celebrações forabets 160 comcampo e, claro, períodosbets 160 comdesempenho frustrante. Adriano viveu, aos 27 anos, um Campeonato Brasileiro marcante no Flamengo. Mas, àquela altura, tudo já parecia uma sobrevidabets 160 comum jogador distante da potênciabets 160 comoutros tempos. Foibets 160 comúltima dança. Ronaldo talvez seja um exemplo um tanto impreciso: é verdade que já se apresentava acima do peso aos 29 anos, na Copabets 160 com2006, mas não é simples ignorar o sacrifício que vivera para ser campeão do mundo após ter o fimbets 160 comsua carreira dado como certo.

É possível argumentar que todos os nomes acima sentiram a tal saciedade já campeões do mundo. Também é justo admitir que a históriabets 160 comNeymar ainda não terminoubets 160 comser escrita, e que ele diz sonhar com uma Copa do Mundo, algo que promete realizar. O debate aqui não é exatamente esse, mas sobre uma questão humana e, por que não?, social ao redor do jogador brasileiro.

A realidade brasileira impõe a enorme parcela dos craques aqui revelados infâncias cercadas por privações. A opção pelo futebol como caminhobets 160 comascensão deles, da família ebets 160 commuitos agregados radicaliza a sensaçãobets 160 comrenúncia: com 13 ou 14 anos, já identificados como fenômenos, os prazeres estão distantes deles não mais pela simples faltabets 160 comdinheiro, mas pelos compromissos que antecipam a força a entrada na fase adulta. Enquanto os amigos estãobets 160 comfestas, os futuros atletas estão concentrados,bets 160 commeio a torneios e mais torneios, restrições alimentares, treinos...

A entrada no futebol quase sempre lhes apresenta um ambiente extrativista, que quer tirar deles todo o futebol possível, com mínimas preocupações com o ser humano que está dentro dos uniformes e das chuteiras. Desde cedo, convivem com a ameaçabets 160 comserem descartados, como jogadores e como gente, se não jogarem o que deles se espera. Vivem o eterno pesadelobets 160 comque uma lesão interrompa o sonho, inviabilize a salvação.

Tudo isso para que, subitamente, uma nova realidade se apresente aos que passam pelo funil quase intransponível: da noite para o dia, as privações dão lugar a contratos vultosos, somasbets 160 comdinheiro difíceis atébets 160 comcontar, a seduçãobets 160 comse ver entre celebridades globais, as portas se abrindo por todos os lados. O grande desafio passa a ser outro: quem estará disposto a adiar as recompensas?

Claro que o futebol atual tem exemplosbets 160 comlongevidade,bets 160 comum compromisso inabalável com o corpo e com a carreira. O futebol atual tem Messi, tem Cristiano Ronaldo com seus músculos que insistembets 160 comnão recuar aos 40 anos. Mas as pessoas são diferentes na essência, é absolutamente humano que o caminho entre a privação e o superpoder seja tortuoso, durobets 160 comadministrar. Não é simples, na plenitudebets 160 comseu físico,bets 160 comseus hormônios ebets 160 comsua juventude perceber que se passou das portas fechadas às tentações, e ainda assim resistir a elas.

No fundo, é a capacidadebets 160 comadiar as recompensas que decidirá o tempobets 160 compermanência na elite. Ainda que com 33 anos, Neymar ainda pode traçar uma arrancada rumo a uma Copa do Mundo consagradora. Mas há motivos para se preocupar.

É desagradável que o noticiáriobets 160 comtorno do maior craque brasileiro das últimas décadas tenha, numa semana, um cruzeiro patrocinado pelo jogador recém-operado; depois o que se debate é a duração espantosabets 160 comsuas festas; mais adiante, as denúnciasbets 160 cominfidelidade criando crises conjugais... Em seguida vem a Sapucaí após um “desconforto” muscular, até o diabets 160 comque uma jovem que diz ter sido contratada para mais uma festa decide ir à TV dar detalhes íntimosbets 160 comum evento que só teria terminado ao raiar do dia. Horas depois, Neymar é cortado da seleção e o que era desconforto, subitamente, vira lesão.

Ainda que se concorde que é um direitobets 160 comNeymar escolher a que dedicará seu tempo fora do futebol, é claro que escolhas pessoais têm reflexos esportivos.

Não temos todos os elementos para decretar que o ritmobets 160 comvidabets 160 comNeymar sacrificou a recuperaçãobets 160 comuma lesão que, a esta altura da vida e da carreira, exige imensas dosesbets 160 comsacrifício. Masbets 160 compermanente exposição dá a sensaçãobets 160 comque algo importante Neymar parece estar perdendo: a crença do mundo do futebol. É como se, a cada dia, dos clubesbets 160 comelite aos fãs, menos gente tivesse a certezabets 160 comque Neymar quer voltar a brilhar tanto quanto desejam aqueles que se lembram do seu auge.

Neymar ainda pode dar a volta por cima, seja adiando recompensas ou vivendo àbets 160 comforma. O caso é que, se o fizer, irá surpreender cada vez mais gente.