Seleção e Olodum: como relação vai além do futebol e vira arma na luta por igualdade racial

Entenda como visibilidade fez grupo lutar contra violência e carregar bandeira contra o preconceito pelo mundo. Em entrevista ao ge, Galvão Bueno se declara após anosaposta esportiva do vale os 90 minutosparceria

Por Tiago Lemos — Salvador


Galvão Bueno se declara ao Olodum após anosaposta esportiva do vale os 90 minutosparceriaaposta esportiva do vale os 90 minutostransmissões da Seleção

Futebol e música se combinam. E isso é indiscutível. É só experimentar o silêncioaposta esportiva do vale os 90 minutosum estádio para saber que uma partida sem aquela gritaria unida ao ritmo dos tambores nas arquibancadas não tem a mesma graça. E, no Brasil, nada simboliza tanto essa união que diaaposta esportiva do vale os 90 minutosjogo da seleção brasileira e o som do Olodum no Pelourinho. Parceria que vai muito além do lúdico e significa resistência ✊🏿🟩🟨✊🏿.

E quis o destino que o último jogo da Seleçãoaposta esportiva do vale os 90 minutos2024 fosse disputadoaposta esportiva do vale os 90 minutosSalvador, capital mais negra do país, na véspera do Dia da Consciência Negra. Nas raízes do Olodum, que teve na construção da relação com a seleção brasileira a oportunidadeaposta esportiva do vale os 90 minutosse notabilizar no meio musical e deixaraposta esportiva do vale os 90 minutosser visto como um grupo marginalizado.

Mudou muito o respeito das pessoas com o Olodum. A parceria foi na hora que a gente mais precisava. Alguns músicos do Olodum estavam sofrendo violência".
— Lazinho, cantor do Olodum

— Deu uma visibilidade maior, dentro do tamanho que a gente queria que o Olodum fosse. Para que nossa reivindicação chegasse nos ouvidos das pessoas que nos interessavam. Para poder parar com a violência no Centro Histórico. Bastava você estaraposta esportiva do vale os 90 minutospéaposta esportiva do vale os 90 minutosuma esquina que o policial achava que você era vadio. Tinha uma coisa chamada vadiagem, que você era preso — completa o cantor.

Lazinho explica relação do Olodum com a seleção brasileira

Tudo começou na Copa do Mundoaposta esportiva do vale os 90 minutos1990, quando o então vice-presidente do grupo, Petronilio Alvesaposta esportiva do vale os 90 minutosJesus Filho, o Petu, teve a ideiaaposta esportiva do vale os 90 minutostocar no Pelourinho nos diasaposta esportiva do vale os 90 minutosjogos da Seleção Brasileira. A partir daquele ano, o Olodum passou a se apresentar nos jogos da Seleção no Centro Históricoaposta esportiva do vale os 90 minutosSalvador.

A mistura entre futebol, samba reggae e alegria chegou ao ápice na tela da TVaposta esportiva do vale os 90 minutos2002, momento que foi figura certa nas partidas da seleção brasileira. Quem lembra bem das participações do Olodum nas transmissões daquela Copa do Mundo é Galvão Bueno. A voz do pentacampeonato da Seleção falou com exclusividade ao ge.

— Tudo começou no primeiro jogo, Brasil e Turquia, na Copaaposta esportiva do vale os 90 minutos2002. No pentacampeonato. Acabou o primeiro tempo 1 a 0 para os turcos contra a Seleção. E aí me disseram: “Galvão, escolhe aí. Você tem um restaurante turco, não sei o que, e tem o Olodum lá no Pelourinho”. Eu falei: “Não tem nem o que pensar, me dá o Olodum no Pelourinho. Axé para nós. Para virar esse jogo no segundo tempo” — lembra Galvão.

— Aí entrou o Olodum, falamos sobre isso, o Brasil virou o jogo, fomos campeõesaposta esportiva do vale os 90 minutossete jogos. Eles entraram antes dos jogos, no meio dos jogos, depois dos jogos. Depois foram seis Copas do Mundo com o Olodum como nosso símbolo — completou a voz do Penta.

Galvão Bueno convoca o Olodum durante a Copa da Rússia — Foto: Reprodução/TV Globo

O "Chama o Olodum" na voz marcanteaposta esportiva do vale os 90 minutosGalvão Bueno levava o ritmo para a tela da TV e despertava a atençãoaposta esportiva do vale os 90 minutosmilhõesaposta esportiva do vale os 90 minutosbrasileiros. E a conquista do Penta aumentou a visibilidade do grupo, que passou a ser visto como "talismã" da seleção brasileira.

"Galvão é uma pessoa única, parceiro nosso e pessoa muito especial. Deu um empurrãozinho nessa história do Olodum. Ele já faz parte da nossa vida", disse Narcizinho, que também é cantor da banda.

Do outro lado da tela, Galvão se derrete ao falar do Olodum. Ele diz que a banda também o ajudou e lembraaposta esportiva do vale os 90 minutosoutros episódiosaposta esportiva do vale os 90 minutosque os tambores baianos fizeram parteaposta esportiva do vale os 90 minutossua vida. Ele cita o diaaposta esportiva do vale os 90 minutosque recebeu o títuloaposta esportiva do vale os 90 minutoscidadão soteropolitano e também um aniversárioaposta esportiva do vale os 90 minutosque foi surpreendido pela bandaaposta esportiva do vale os 90 minutosLondrina.

— Olodum! Meu querido Olodum. Falaraposta esportiva do vale os 90 minutosOlodum me traz emoções fortes. Grandes momentos. O Olodum está diretamenteaposta esportiva do vale os 90 minutosminha vida. Eu já era fã do Olodum, já admirava muito a forma como o Olodum se conduzia. Respeitando e lutando por suas origens, poraposta esportiva do vale os 90 minutosraça, por seu credo, poraposta esportiva do vale os 90 minutoscor. Esse sempre foi o ponto forte do trabalho do Olodum, e continua até hoje. Eles dizem que eu ajudei um pouco, eles me ajudaram muito. Acho que nesses últimos 20 anos acabou que um entrou na vida do outro.

Haja coração! Galvão Bueno faz 70 anos e ganha música do Olodum

— Em 2010 eu recebi com muita honra o títuloaposta esportiva do vale os 90 minutoscidadão soteropolitano. É, eu sou baiano também. Recebi lá com os vereadores no Pelô, família, amigos, gente do esporte, da música, pessoas muito queridas minhas. Eaposta esportiva do vale os 90 minutosrepente entram os tambores do Olodum estourando, os vereadores olhando uns para os outros assustados, acho que nunca imaginaram aquilo. Eu não aguentei, passei a mão na baqueta, peguei o surdo do grande e comecei a batucar. Que noite maravilhosa, espetacular. Eles saíramaposta esportiva do vale os 90 minutosSalvador e foram até Londrina sem eu saber para tocar e fazer a festa do meu aniversário. Então é uma ligação — relembra Galvão.

aposta esportiva do vale os 90 minutos Importante visibilidade

Olodum se apresenta no Centro Históricoaposta esportiva do vale os 90 minutosnoiteaposta esportiva do vale os 90 minutosjogo da Seleção — Foto: Reprodução/TV Bahia

A união com a Seleção fez o Olodum não apenas ganhar visibilidade no Brasil, como se tornar uma grande marca mundo afora.

— Fomos para França, Japão, Estados Unidos, Bélgica. Onde tinha as embaixadas brasileiras a gente ia tocar. Nossa vida praticamente era dentroaposta esportiva do vale os 90 minutosavião nos jogos da Copa do Mundo — lembra o cantor Lazinho.

O professor e historiador Marinho Soares explica que, ao ganhar espaço na TV, o Olodum se notabiliza como marca e ajuda a afastar o preconceito não somente contra o grupo, masaposta esportiva do vale os 90 minutosrelação às pessoas que transitam no Centro Históricoaposta esportiva do vale os 90 minutosSalvador.

— A partir do momento que o Olodum começa a aparecer na Copa, onde há os maiores índicesaposta esportiva do vale os 90 minutosaudiência, isso reverbera positivamente para os músicos, para os locais. Isso acaba afastando a dita marginalidade, acaba afastando o dito preconceitoaposta esportiva do vale os 90 minutosrelação às pessoas que transitam no Pelourinho eaposta esportiva do vale os 90 minutosespecial às pessoas que ali residem. E, consequentemente, passa a dar uma credibilidade porque o Olodum e o Pelourinho passam a ser uma atração turística — explica.

Em relação à "vadiagem" mencionada pelo cantor Lazinho, o professor Marinho Soares explica que o termo ganhou força a partir do fim da escravidão,aposta esportiva do vale os 90 minutos1888, quando quem não tinha um trabalho tradicional era considerado "vadio". Um preconceito que persiste até os dias atuais.

Marinho Soares reforça que, até 1988, era crime fazer um debate público sobre discriminação racial. Por isso, ao aproveitar os novos espaços e carregar a bandeira do fim do preconceito, o Olodum se torna uma importante ferramentaaposta esportiva do vale os 90 minutosluta contra o racismo.

— Até hoje a polícia aborda a pessoa na rua e pede o documento. Isso é tradiçãoaposta esportiva do vale os 90 minutosum resquícioaposta esportiva do vale os 90 minutosoutrora. Antigamente você mostrava aaposta esportiva do vale os 90 minutoscarteiraaposta esportiva do vale os 90 minutostrabalho. Até hoje você levanta a mão e fala que é trabalhador. Isso excluía, afastava dele a possibilidadeaposta esportiva do vale os 90 minutosser vista como um marginal — completa Marinho Soares.

"O Olodum é muito fruto desse protesto, dessa resistência, dessa luta contra a desigualdade racial. Então é natural que as pessoas olhassem o Olodum, os músicos com certa resistência".

Marinho Soares é professor e advogado — Foto: Reprodução/ge

aposta esportiva do vale os 90 minutos Ferramenta educacional

Historiador, professor e idealizador do projeto Experiência Griô, o professor André Carvalho usa o futebol para seduzir os alunos nas aulas sobre racismo. Ele conta que os jogadores negros demoraram a ganhar espaço nos clubesaposta esportiva do vale os 90 minutosfutebol do país e até na Seleção. Alguns chegavam a passar póaposta esportiva do vale os 90 minutosarroz no rostoaposta esportiva do vale os 90 minutosuma tentativaaposta esportiva do vale os 90 minutos"branqueamento".

— Branqueamento para poder ser aceito. Curiosamente a históriaaposta esportiva do vale os 90 minutossucesso da seleção brasileira coincide com a históriaaposta esportiva do vale os 90 minutosinclusão da população preta dentro da Seleção. Quando o Brasil rompe,aposta esportiva do vale os 90 minutoscerta forma, não totalmente, com essa barreira racial e passa a aceitar, entre aspas, homens negros jogando na Seleção, o Brasil passa a ter um outro sucesso, basta a gente perceber que os maiores heróis que a gente constrói no futebol no século 20 é um homem negro retinto, o Pelé — explicou o professor André Carvalho.

André Carvalho é historiador e professor — Foto: Reprodução/ge

De acordo com André Carvalho, a união do Olodum com a seleção brasileira também foi importante para o desenvolvimento do Centro Históricoaposta esportiva do vale os 90 minutosSalvador.

— O Centro Histórico é um outro espaço importantíssimo porque também é um outro espaçoaposta esportiva do vale os 90 minutosresistência. O Olodum está neste espaçoaposta esportiva do vale os 90 minutosresistência. É popularmente chamadoaposta esportiva do vale os 90 minutosPelourinho, e o que é isso? É aquele espaço onde os escravizados eram açoitados, mas é um processoaposta esportiva do vale os 90 minutosressignificação tão grande desse espaço que hoje o Pelourinho, o Centro Histórico, passa a lembrar alegria, festa, conquista, e a Seleção entra nesse contextoaposta esportiva do vale os 90 minutosressignificação desse espaço — explica Carvalho

"O Olodum também é uma outra fonteaposta esportiva do vale os 90 minutosresistência. Representa muito bem o que a gente chamaaposta esportiva do vale os 90 minutosresistência negra a partir do viés da cultura", conclui.

Resistência que estará presente mais uma vez nesta terça-feira. E, desta vez, não da ladeira do Pelourinho, mas ainda mais próximo do espetáculo. Antesaposta esportiva do vale os 90 minutosa bola rolar na Casaaposta esportiva do vale os 90 minutosApostas Arena Fonte Nova, o grupo vai se apresentar na cerimôniaaposta esportiva do vale os 90 minutosprotocoloaposta esportiva do vale os 90 minutosabertura, algo que vai se repetir durante o intervalo. Alguns poucos minutos, é verdade, mas que representam muito para esta rica história.

Olodum virou o talismã do pentaaposta esportiva do vale os 90 minutos2002 — Foto: Reprodução/TV Bahia