Das mãos cerradas vinha a força para derrubar os rivais. Da cabeça, a inteligência e a percepção para se proteger dos golpes adversários. José Adilson Rodrigues, o Maguila, viveu essas sensações do boxe por maiszebet retrait80 vezes dentro dos ringues anteszebet retraitse aposentar. Já distante do esporte que o consagrou, viu quezebet retraitcabeça começava a falhar. Só depois entendeu que uma conta estava sendo cobrada por uma doença progressiva implacável: a demência pugilística.
Recém-transferido para uma clínicazebet retraitreabilitaçãozebet retraitSão Paulo, após passar pelo Hospital da Santa Casazebet retraitMisericórdia e pelo Hospital Geriátrico Dom Pedro II, Maguila recebeu o GloboEsporte.comzebet retraitum intervalo dazebet retraitrotina regrada com fisioterapia, fonoaudiologia e diversos tratamentos para se manter bem. Por mais que o porte físico e a força estejam debilitados para um ex-pugilistazebet retrait57 anos, o sorriso fácil que marcou a carreira deste
sergipanozebet retraitAracaju continua surgindozebet retraitforma natural, principalmente quando é levado a falar do esporte. Brinca e sorrizebet retraitforma espontânea e se esforça para não deixar a doença progressiva levar suas melhores memórias
- Eu tenho malzebet retraitazar - brinca.
De início, os sintomas pareciam esquecimentos normaiszebet retraitcarteiras, chaves. Até que as situações se tornaram mais graves e perigosas, como quando o ex-lutador saíazebet retraitcasa e ficava perdido, desorientado. Uma agressividade inesperada foi surgindo, e a esposa se viu desamparada e buscou ajuda dos especialistas. Segue precisandozebet retraitmuita ajuda para segurar os ainda comuns lapsoszebet retraitMaguila e continuar trabalhando para manter os custos do tratamento. O primeiro diagnóstico veiozebet retrait2010: Malzebet retraitAlzheimer - doença progressiva que destrói funções cerebrais. Mas tudo começou a fazer mais sentido três anos mais tarde, depois do segundo diagnóstico: demência pugilística.
- Quando veio o diagnóstico da demência pugilística foi mais fácil até para
poder entender. Porque não tinha sentido. Ficou mais fácil para poder ajudar ele. É difícil. Você vê a situação toda nazebet retraitfrente, o mundo acabando. A pessoa é outra. Ele muda, a personalidade
muda. Se não tiver equilíbrio e procurar ajudar....eu procurei ajudar ele. Maguila sempre foi uma pessoa brincalhona, muito calma. Nunca foi agressivo, e passou a ficar nervoso por causazebet retraituma chave - conta a esposazebet retraitMaguila, Irani
Pinheiro.
demência pugilística
O que afetava a mente e o corpozebet retraitMaguila era Encefalopatia Traumática Crônica, batizada tambémzebet retraitmaneira mais informal como demência pugilística. A doença foi diagnosticada no final dos anos 20, quando pesquisadores americanos perceberam que boxeadores que recebiam golpes seguidos por anos apresentavam alterações comportamentais, dificuldade motora e falhaszebet retraitmemória com o passar dos anos. Apesar do nome popular, a demência não é uma exclusividade dos pugilistas, podendo surgirzebet retraitqualquer atleta que pratique esporteszebet retraitfortes contatos da cabeça.
- Como o mecanismo da lesão é diferente, também os tratamentos são outros. A própria evolução da
doença, Encefalopatia Traumática Crônica, tem uma evolução mais lenta. E
isso é importante para a família, para saber como se portar com esse
paciente - explicou o médico neurologista, especialista no assunto, Renato Anghinah.
Na realidade, os sintomas são parecidos com o Alzheimer. Mas o olhar diferenciado para os casoszebet retraitdemência pugilística ajuda na evolução do tratamento e na melhor qualidadezebet retraitvidazebet retraitpacientes. Há 10 dias, Maguila foi transferido para uma clínicazebet retraitreabilitaçãozebet retraitSão Paulo. A memória falha e o comportamento agressivo ainda dependem do dia. Quando recebeu a reportagem, estava bem, sorridente e atencioso. Ficou claro que o boxe segue vivo no corpo e, sim, na cabeça. O esporte, que o levou ao estrelato e ao mesmo tempo causouzebet retraitdoença, é o que segue mais ativozebet retraitseu cérebro. É tambémzebet retraitterapia física e mental.
- O único esporte que até hoje eu pratico é boxe. Quando tem
luta eu fico ligado. Qualquer hora que passar eu paro
pra assistir - afirma o ex-pugilista, que mostra que a doença não retirou a força dos punhos ao socar, inúmeras vezes, um saco instalado na salazebet retraitfisioterapia da clínicazebet retraitretaguarda Incare.
Maguila sempre foi fãzebet retraitMuhammad Ali. Por isso se
interessou pelo boxe. No Sergipe,zebet retraituma casa repletazebet retraitirmãos, assistia às lutas do ídolozebet retraituma TV preto e branco no vizinho. Anos depois, se tornou campeão peso-pesado, mesma
categoriazebet retraitAli. Virou referência na América do Sul, ganhando o
cinturão da Federação Internacionalzebet retraitBoxe. Enfrentou nomeszebet retraitpeso,
perdendo para Evander Hollyfield e para a lenda George Foreman.
- Eu
me interessei por boxe porque eu sempre fui fã do Muhammad Ali, do
Cassius Clay. Sempre fui fã dele e disse: vou lutar boxe. Gostava demais
dele. Quando eu comecei
a assistir, nem televisão tinhazebet retraitcasa - lembra.
Maguila ainda tem a lucidezzebet retraitsaber quezebet retraitdoença tem origemzebet retraitpancadas na cabeça. Sabe que a tal faltazebet retraitsorte, o seu "Malzebet retraitAzar", foi causada pelos anoszebet retraitação no esporte que ama. Não se arrependezebet retraitnada. Lembra com saudosismo das vitórias sobre os fregueses argentinos, do duelo mais difícil diantezebet retraitForeman e dos diaszebet retraitque se arriscou como cantor longe dos ringues. Inclusive, deu uma palhinha durante a visita.
- O mais forte que eu lutei foi o ''véio'', George Foreman. Bate que
parece uma parede. Batia e voltava. O boxe não tem meio termo. Ou bate ou apanha - lembra Maguila, torcedor do Corinthians que segue acompanhando os jogoszebet retraitseu time.
É comum entre os médicos se dizer que as doenças degenerativas afetam além
do paciente. Os familiares e pessoaszebet retraitvolta sofrem, sobretudo no
começo, para entender a questão. A esposa, Irani, vem se dedicando há cinco anos e admite que passou por momentos difíceis. A preocupação maior da família era controlar seus lapsoszebet retraitagressividade e conseguir o impedirzebet retraitcomer. Há maiszebet retraitum ano, o ex-pugilista se alimenta atravészebet retraitsonda por não conseguir realizar a deglutição. É o maior incômodo para ele, que por vezes precisou ser contido para não ingerir alimentos. Conter Maguila muitas vezes é uma dificuldade. Agora, é a mulher quem luta diariamente para que o marido tenha uma melhor qualidadezebet retraitvida. Na nova fasezebet retraitseu tratamento, o principal objetivo dos médicos da clínica Incare é conseguir que o lutador volte a comer.
- A resistência dele está sendo até agora. É muito difícil fazer com que entenda. Ele
acha que só pode estar doente se sentir dor. E ele não sente dor. Ele
reclama às vezes que a mão está secando, ou a perna. Mas ele diz que está bem. Até
hoje essa é a grande dificuldade que passo com o Maguila. É ele entender que precisa de
tratamento. Ele não aceita isso, ainda brinca com a doença, mas não
tem essa consciência exata - disse Irani.
éder jofre: segundo diagnóstico
Outro
ex-pugilista que luta contra a mesma doença é Éder Jofre. Bem mais velho
que Maguila, aos 79 anos, ele também foi diagnosticado primeiro com o
Alzheimerzebet retrait2013. Também ficou internado e se alimentou por sonda, até
que foi levantada e confirmada a suspeitazebet retraitdemência pugilística. Mudando o tratamento e seu quadro apresentou melhoras significativas. Para ajudar outros pacientes, Éder ezebet retraitfamília colaboram com pesquisas sobre a doença.
Vindo
zebet retraituma famíliazebet retraitpugilistas, Éder Jofre foi campeão mundial peso-galozebet retrait
1960. Foi detentor deste cinturão por cinco anos e, nos anos 70, voltou
ao estrelato no peso-pena. Tem um cartel com 81 lutas e apenas duas
derrotas.
- Primeiro,
tem que ter dom para lutar boxe. Depois, ter vontadezebet retraitlutar. Dom para a luta, e vontade - diz Jofre, melhor fisicamente.
A questão não é restrita ao boxe, mas todos os esportes que envolvem contatos com a cabeça. Casos já foram documentados entre atletaszebet retraitfutebol americano e hóquei, por exemplo. No ano passado, a família do zagueiro Bellini, capitão do Brasil na conquista da Copa do Mundozebet retrait1958, doou o cérebro do ex-atleta para pesquisa dos especialistas da Universidadezebet retraitSão Paulo. Ele morreu acreditando sofrer com Malzebet retraitAlzheimer, mas exames comprovaram que o jogadorzebet retraitfutebol tinha o mesmo que pugilistas como Éder e Maguila.
Diante
dessas novas informações, a ideia dos especialistas no caso ézebet retraitque
atletas sejam monitorados maiszebet retraitperto para impedir a evolução desta
doença. Trabalhoszebet retraitprevenção também são um caminho. É importante ressaltar que o esporte não precisa deixarzebet retraitser
praticado.
- É proibido fazer boxe? Claro que não. Mas desde que o boxe
seja feito com os cuidados que protejam os indivíduos. Nós hoje temos
que unificar e proteger o atleta, porque às vezes ele não sabe que está
em risco - disse doutor Renato.