Marinho ficou exposto. Da noite para o dia
virou celebridade no país. Uma entrevista, um vídeo. Era jogador do Ceará e foi contratado pelo Cruzeiro pouco tempo depois. Na Toca da Raposa, centroslots roletatreinamentos do time mineiro,
preferiu se resguardar após a grande exposição. Pretende ser lembrando pelos
gols, pelas jogadasslots roletaefeito, não pela espontaneidade da fala.
Há,
no entanto, uma história por trás do atacante, uma trajetória por trás da entrevista
viral. Antes do Cruzeiro, havia o Ceará. Antes do futebol, havia persistência. E, antes dela, o drama e pedaçosslots roletainfância. O
GloboEsporte.com foi conhecer as origens do boleiro.
Em Alagoas, refez os passos do menino e encontrou um
personagem marcante emslots roletahistória: o pai.
José Carlos Costa,
slots roleta54 anos, tem orgulho do filho. Segura os quadros com fotos
dele como se fossem taçasslots roletaCopa. Fez questãoslots roletavisitar com a reportagem
os campinhos que formaram o atleta. Insistiuslots roletaapresentar as pessoas que assistiram à virada. Não deixou escapar ninguém. Solícito, também não se recusou a narrarslots roletadetalhes um dia
inesquecível para a família. Não são boas memórias. Segundo o pai, uma falta mudouslots roleta
trajetória, entre 1995 e 1996 - ele não se lembra bem. Marinho tinha apenas sete anos.
um dia marcante na infância
Manhãslots roletaPenedo, interiorslots roletaAlagoas. A
mãeslots roletaMarinho precisava sair para o trabalho. Estava um pouco atrasada.
Beijou os dois filhos e fez recomendações a José Carlos para não
descuidar das crianças. Bateu a porta e saiu sem culpa. Passados alguns
minutos, o pai, alcoólatra, não resistiu ao vício. Pegou o menino e a
menina pelo braço, subiu na bicicleta capenga e foi ao bar onde pendurava os fiados. Bebeu por horas e,
cambaleante, decidiu ir para casa. Em péssimas condições, nem sabe
como voltou. Prostrou-se.
A mãe chegou do hospital onde trabalhava e foi logo
olhar os filhos no quarto. Desespero. Marinho e Cristiane não estavam.
Procurou na casa, gritou. Sem respostas, foi para cima do marido. José
não lembrava onde havia deixado as crianças. Saiu. Tentou refazer o
caminho da tarde, e, depoisslots roletamuito esforço, se lembrou. Os filhos ficaram
no bar. Pessoas que moravam perto do estabelecimento não deixaram o pai levar as crianças
da maneira que estava.
- Eu vivia num estadoslots roletaembriaguez constante.
Aquele dia serviu para que eu pudesse começar a me libertar do álcool. Não
tenho vergonhaslots roletadizer a ninguém que fui alcoólatra, mas há 13 anos
estou afastado desse mal - contou José, emocionado.
Irmãslots roletaMarinho, Cristiane fez questãoslots roletaenfatizar que a relação com o pai nunca foi ruim. A família enfrentou dificuldades, mas continuou unida. A faltaslots roletarecursos pesou. No entanto, José Carlos está longeslots roletaser um vilão na história.
- Existem pessoas que teimamslots roletaafirmar que o meu pai batia muitoslots roletamim e
no meu irmão (Marinho), e isso não é verdade. Por várias vezes minha
mãe saiu pra trabalhar e nós ficamos com o meu pai, que também
trabalhava, masslots roletahorário diferente do dela. Somos muito gratos
ao meu pai por tudo o que ele fez e faz até hoje pela gente - defendeu Cristiane.
início no futebol e casa para família
Contratado pelo Cruzeiro, o atacante Marinho contou,slots roletaBelo Horizonte, que a infância foi
difícil. Lembrou dos problemas do pai com o álcool e da mudançaslots roletavida. A magia do futebol transformou aquela
famíliaslots roletaPenedo.
Aos 18 anos, a revelação alagoana foi para o Fluminense - o clube
carioca comprou uma casa melhor para os Costa.
A roda girou. O atacante veloz começou na várzeaslots roletaAlagoas e hoje busca espaço no Cruzeiro. Perdeu a condiçãoslots roletatitular com a saída do técnico Vanderlei Luxemburgo, mas espera uma chanceslots roletaMano Menezes para tentar ser protagonista com a camisa celeste. Segue lutando.
Em Minas eslots roletaAlagoas, o futebol sustenta a família do atacante. O pai trabalha no camposlots roletaque Marinho marcou os primeiros gols. Zelador do Vasco da Gama Esporte Clube, fundadoslots roleta1939,slots roletaPenedo, José Carlos lembra olhando para a grama castigada como foi o início da carreira do jogador.
- Desde pequeno já mostrava o potencial que tem. O Marinho começou aos 10 anos, mais ou menos. Ele gostava muitoslots roletacampo, nasceu com domslots roletajogador. E eu fui um pai que sempre incentivou. Lembro dele garoto. Quando ia jogar chegavaslots roletacasaslots roletadiaslots roletachuva todo sujoslots roletalama. A irmã (Cristiane) brigava muito por ele chegar naquela situação. O Marinho sempre foi para a bola, enquanto a irmã só queria saberslots roletaestudar. Muitas vezes ele chegava no campo, queria jogar com os adultos e o pessoal não queria, mas era para evitar que se machucasse. Daí, ele fazia aquele barulho, implorando para jogar, e o pessoal chegava láslots roletacasa reclamando - lembrou José.
O pai contou que, pouco tempo depois, o desempenho do garoto foi tão bom nas peladas que fizeram questãoslots roletachamá-lo para dividir o campo com jogadores mais velhos. Ainda providenciaram um parslots roletachuteiras para o moleque. Foi a centelha.
- Certo dia, eu vim fazer um serviço aqui no trabalho e trouxe ele comigo. Quando chegamos aqui, tinha uns caras já barbados jogando e chamaram Marinho. Estava descalço, mas foram à procura e conseguiram umas chuteiras para ele. Foi a maior alegria. A partir dali, ele começou a jogar na Ponte Preta (time amadorslots roletaPenedo). Em seguida, foi jogar num projeto da Polícia Militar chamado "Ocupar para não Entregar", que tinha o objetivoslots roletaeducar e disciplinar os jovens. E o Marinho participouslots roletatudo.
O perfilslots roletajogador começava a se desenvolver. As atuaçõesslots roletaMarinho na várzea chamavam atenção e o interesseslots roletabuscar um clube profissional aumentou. Mas, segundo o pai, ainda faltava um detalhe importante para o garoto se desenvolver: obediência.
- Com o tempo, ele me pediu para ir jogar no Sport Club Penedense (time profissional mais antigo do futebol alagoano, onde o paislots roletaMarinho também trabalhou), mas ele era meio rebelde, discutia muitoslots roletacampo e eu disse: "Quando você melhorar o seu comportamento, eu deixo". Pouco tempo depois, quando o Juquinha (Juca Vasconcelos, ex-presidente do clube) fazia parte da diretoria, levamos ele para lá.
Marinho chegou ao Penedense com 14 anos e não demorou para se firmar na equipe. Mesmo com idade inferior, atuou na categoriaslots roletajuniores. Em pouco tempo se transferiu para o Corinthians-AL, referência na negociaçãoslots roletaatletas no estado. O menino se empolgou.
- Se destacou lá, chegando a jogar no time profissional com idadeslots roletajuniores. Mas por uma opção da diretoria do Corinthians, foi dispensado. A gente ficou preocupado como ele reagiria no retorno a Penedo.
Marinho sofreu por algum tempo, mas resistiu. O nome do garoto bomslots roletabola também ganhou força nas divisõesslots roletabase e apareceu uma oportunidade no Santos. Não ficou, mas os testes na Vila fizeram o jogador chamar a atençãoslots roletaum tetracampeão mundial.
- Ele foi para o Santos, passou cercaslots roletaum mês lá, mas não se adaptou bemslots roletaSão Paulo. Mesmo assim, participouslots roletauma competição e despertou o interesse do Branco (ex-lateral-esquerdo da Seleção). Daí, foi levado para o Fluminense, onde se firmou. De lá, já passou por vários clubes até chegar ao Cruzeiro - explicou José Carlos.
saudades do filho famoso
A saídaslots roletacasa para trilhar o futuro no futebol é motivoslots roletamuito
orgulho para os pais. Mas José Carlos e Eliene não
escondem a saudade que sentem do filho.
- Fico muito satisfeito porque a gente, graças a Deus, soube criá-lo. E ele sempre obedeceu. Sou muito grato a Deus e ao Juquinha, que sempre incentivou e apoiou o meu filho. Eu sinto muita falta dele, ele é muito apegado a mim. Quando eu vejo o Marinho na televisão o coração tem que ser forte. Não é fácil, não.
Eliane fala pouco. Tímida, a mãe disse apenas que o jogador não perde o contato com a família.
- A gente conversa sempre, por telefone, e ele ajuda demais. Está sempre preocupado e não deixa faltar nadaslots roletacasa.
Mesmo com a distância, o pai garante que acompanha pela TV todos os jogosslots roletaMarinho e destaca que vibrou muito com o primeiro gol marcado pelo filho com a camisa celeste. Foi justamente na estreia, dia 4slots roletajulho, contra o Atlético-PR, no Mineirão.
- Eu assisto a todos os jogos dele pela televisão. A gente não perde a oportunidade e junta a família toda pra ver ele jogar. Na estreia pelo Cruzeiro, quando ele fez o gol, a gente vibrou tanto que só faltou a casa cair - contou, sorridente.
Perguntado sobre a entrevista famosaslots roletaMarinho (veja no vídeo acima), quando ainda defendia o Ceará, o pai disse que achou interessante e até falou sobre o samba criado para homenagear o atacante. Levou na brincadeira. A mãe não gostou da repercussão.
- A minha esposa ficou meio chateada, achou que não era assim, mas eu disse que é assim mesmo. Inclusive teve até um sambinha e aí arrebentou a vida dele - disse o pai, rindo, enquanto, no carro, apontava para o local da próxima parada .
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José Carlos levou a equipe do GloboEsporte.com para conhecer outros dois personagens importantes na trajetóriaslots roletaMarinho. Um técnico e um dirigente. As orientações deles ajudam, até hoje, o atacante a tocar a carreira.
Nilton Martins, o treinador, fala com gosto do pupilo. Ele comandou Marinho nas categoriasslots roletabase do Penedense e lembrou que o menino chamava a atenção desde cedo.
- O Marinho é um excelente jogador. Apesarslots roletanovo, a gente sempre fez um grande trabalho e ele se destacava no meio da garotada. A mesma coisa que ele está fazendo hoje fazia quando era garoto aqui. A gente sempre falava o quanto ele era habilidoso. Sinto-me orgulhoso e realizado por ter sido professor dele.
O desportista Juca Vasconcelos também é parte importante na carreiraslots roletaMarinho. Responsável pela transferência do jogador para o Corinthians-AL, Juquinha garante que não é surpresa vê-lo atuando no Cruzeiro.
- Eu sempre conversava com os colegas que a obrigaçãoslots roletaum educador, sejaslots roletaqualquer área, é encaminhar. E foi isso que fizemos aqui com o Marinho. Ele chegou ao Penedense com 13, 14 anos e já demonstrava ser um garoto dotado organicamente, aquele garoto que não paravaslots roletacampo. Inclusive, quando ele foi para o Cruzeiro eu falei pra ele: "Volta a ser aquele jogador que tu era aqui no amador, que corria o campo todo, que se esforçava constantemente". E eu acho que ele voltou a ser aquele Marinho, obviamente bem melhor fisicamente, e eu acho que ele tem tudo para crescer mais ainda - declarou Juca.
O paislots roletaMarinho se despediu da equipeslots roletareportagem, mas, antes, fez questãoslots roletatirar uma foto para guardar o momento. Ao fundo, um rio especial na vidaslots roletatodos na cidade. Não faltam referências a ele por onde se anda na histórica Penedo.
Na infância, o jogador sempre brincou perto do rio famoso. Lavou a bola suja na pelada com a água do São Francisco, pescou sem camisa e nadou com a molecada. O tempo passou e hoje o rio e o menino não são mais os mesmos. Há, no entanto, uma clara ligação entre eles. O rio que corta a cidadeslots roletaMarinho nasce nas Gerais, na Serra da Canastra. As águas do Velho Chico e agora o futebol do atacante diminuem a distância entre Alagoas e Minas, com a bênção do santo e a proteção especial das carrancas.